Ele e Eu escrita por Thay Chan


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal, capítulo fresquinho! Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/773046/chapter/6

PELO MODO COMO as palmas das minhas mãos estavam suadas, posso dizer que eu estava nervosa. Muito nervosa. Pensar nisso nunca era uma opção, porque, sempre que eu pensava demais em alguma coisa, isso só servia para me deixar mais estressada. Então, eu apenas continuei olhando para os detalhes da sala, que, na verdade, quase não existiam. Era tudo tão sóbrio quanto a recepção. Sem flores, sem cores vibrantes, sem detalhes em madeira. Não era nada com o que eu estava acostumada. Shizune podia não ser a pessoa mais esfuziante do mundo, mas ela ainda gostava de coisas alegres.

— Parece que gostou da decoração – disse o homem sentado em uma poltrona cinza à minha frente. Ele estava com uma perna apoiada sobre a outra, e tinha um olhar interessado no rosto.

Limpei a garganta.

— Hã, sim – menti, porque era a coisa educada a se fazer. Mas eu não fazia ideia o que ele queria dizer com "decoração".

E acho que aquilo deveria ser parte de uma piada interna, porque logo em seguida o homem riu.

— Tenho certeza de que está sendo sincera – disse ele, e minhas bochechas ficaram quentes. Não pareceu como se ele estivesse sendo irônico, mas alguma coisa na forma como falou me fez pensar que ele sabia que eu não estava falando a verdade.

Eu me mexi em meu lugar no sofá de couro preto, constrangida. Havia algo na forma como aquele homem falava que me fazia querer me encolher, como se eu soubesse que tudo que sairia da sua boca seria nada agradável; o que era loucura, porque eu só conhecia o cara há o quê, dois minutos?

— Então, Sakura, certo? – ele disse, mas não como se estivesse checando. Ele parecia muito certo de que esse era o nome, mesmo que não tivesse nenhuma ficha por perto. — Meu nome é Kakashi, mas você certamente já sabe – ele falou, e, embora eu soubesse que estávamos longe o bastante para isso, esperava que ele esticasse a mão para mim. Para apertá-la firmemente, assim como Shizune havia feito há muitos anos atrás. Mas o sr. Hatake apenas se inclinou novamente na poltrona.

Sim, esse era o nome que eu tinha visto na plaquinha dourada na porta quando entrei. Kakashi Hatake. Mas parecia que meu novo médico não gostava de usar o sobrenome. Só que eu sinto muito, jamais o tratarei apenas como Kakashi. Isso era exclusivo para Shizune.

Eu ainda estava pensando nisso, quando ele perguntou:

— Você sabe o que está fazendo aqui, Sakura?

Acho que eu não estava esperando a pergunta, porque minha testa franziu:

— Eu não entendi – eu disse. Porque não havia entendido mesmo.

O sr. Hatake colocou um dedo sob o queixo, e parecia que estava me estudando. Ele disse com toda a serenidade possível novamente:

— Perguntei se você sabe o que está fazendo aqui. Se sabe que tipo de doença você tem. Em que grau ela está.

Minhas mãos se fecharam em punhos sobre meu colo. Eu não sabia como responder. Se eu sabia o que tinha? É claro que sim. Havia passado a minha vida toda ouvindo meu diagnóstico dos médicos, tomando remédios controlados e tendo crises que deixavam papai sem chão. Mas dizer em voz alta, eu nunca fazia isso. Eu simplesmente não me sentia confortável em fazer isso. Eu nunca falava disso abertamente com papai, e não falaria disso abertamente com um estranho. Ele poderia dizer as palavras quantas vezes quisesse, eu não me importava. Mas esperar que eu fizesse o mesmo, isso era esperar muito.

Respondi com um dar de ombros.

O olhar do sr. Hatake ganhou um brilho espirituoso, como se estivesse achando tudo muito engraçado.

— Entendo – ele disse, assentindo com a cabeça, como se tivesse acabado de resolver um dos mais complexos problemas físicos de Stephen Hawking.

 

Papai estava me esperando no sofá azul-escuro da recepção, com o livro que ele tinha trazido consigo para ajudar a passar o tempo – do jeito que ele sempre fazia –, quando saí do consultório do sr. Hatake. Ele estava concentrado, mas logo quando notou a minha presença, ele fechou o livro e se levantou. E acho que ele viu alguma coisa na minha expressão, porque caminhou até mim com uma expressão séria.

— Está tudo bem, querida? – ele perguntou, colocando uma mão sobre meu ombro.

Se havia algo que eu não fazia ideia naquele momento, era se estava tudo bem. Mas a julgar pelo peso nas minhas costas e pela cara de papai, deveria estar nada bem. Eu não sabia qual era o problema; a sessão havia sido diferente do que eu estava acostumada. Provavelmente porque não era com Shizune, e ela e o sr. Hatake eram muito diferentes.

Tinha certeza de que, quando todo o estranhamento inicial passasse, eu me adaptaria. Era apenas uma questão de adaptação.

Eu olhei para papai, e lhe dei um sorriso fraco.

— Claro, papai – eu disse. — Podemos ir?

Papai me olhou por mais alguns segundos, como se estivesse determinado a descobrir o que eu tinha. Mas como ele poderia saber, se nem mesmo eu sabia? Por fim, ele apenas abaixou a mão, e disse:

— Claro, mas eu preciso falar um minuto com Kakashi. Você pode esperar aqui?

Que opção eu tinha? Eu assenti, e desabei no sofá.

Papai olhou para a recepcionista bonita atrás do balcão, e perguntou educadamente:

— Posso falar com o sr. Hatake?

A recepcionista pediu um segundo, e apertando um botão do telefone, perguntou ao sr. Hatake no outro lado da linha, se poderia deixar papai entrar. Então, para o fone, ela disse "Sim, sr. Hatake", e para papai: "Pode entrar, sr. Haruno".

Papai agradeceu, e, se virando para mim, disse que já voltava.

Eu fiquei olhando para a tevê, sem realmente vê-la. Ao longe, eu conseguia ouvir a voz da recepcionista falando ao telefone com os outros pacientes do sr. Hatake. Eu estava pensando em Shizune. Em como ela me deixava à vontade. Sem nunca forçar nada. Sem nunca fazer perguntas indiscretas como "Você sabe que doença tem?".

— Está tudo bem, meu anjo?

Eu me virei. Não era papai, era a recepcionista bonita. Ela estava me olhando como se eu estivesse prestes a chorar; daquele jeito penoso e simpático que eu odiava ver nos olhos das pessoas.

Eu assenti, e me virei para a televisão, rezando para que ela não puxasse conversa. Tudo o que eu não precisava agora era de alguém se intrometendo na minha vida.

Mas ela não puxou. Ela apenas voltou ao seu trabalho e aos seus telefonemas, mas, uma vez ou outra, eu sentia os olhos dela em mim. Tentei manter meus olhos no programa de TV. Perguntei-me quantos pacientes do sr. Hatake ela via chorando por dia, e se ela teria caixas de lenços de papel por perto. E, foi aí, que papai chegou. 

Eu me levantei e segui em frente, ouvindo papai se despedir da recepcionista bonita.

 

Quando chegamos em casa, disse à papai que estava cansada para fazer qualquer coisa, mas que iria arrumar o meu quarto. Pelo menos arrumar o armário, eu falei. Mas a verdade era que queria ficar um pouco sozinha. Ainda estava com muitas saudades de casa, de Shizune, do antes. Parecia que se tornara oficial, a nossa mudança de vida. Acho que, quando éramos só papai e eu, desde que chegamos, eu conseguia pensar na nossa vida como quase a mesma. Só mudamos de lar, eu havia pensado. Só que agora, com o sr. Hatake, tudo parecia real.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Me digam o que acharam?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ele e Eu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.