LEVANTO DA CAMA ANIMADA NO dia seguinte. Não paro de cantarolar, estou feliz e quero que o mundo saiba disso. Não sei o motivo, mas meu palpite é que Sasuke tem a ver com isso. E não, não há nada de romântico entre nós, eu não estou apaixonada, que é o que qualquer um pensaria. Eu tenho um amigo! Isso é tudo o que preciso dizer.

Na noite passada, ele me pediu para o mandar uma mensagem contando o que papai e eu achamos da torta de frango, e é exatamente o que faço sentada à mesa de café da manhã. Papai está a minha frente e parece que está ouvindo anjos tocando arpas e cantando com vozes angelicais. Perdi a conta de quantas fatias já comeu. Sorrio. Mikoto ficará feliz de saber que a receita de família, que provavelmente passou de geração a geração, foi novamente aprovada.

Dou um gole no chocolate quente enquanto espero a resposta de Sasuke. Ele está na escola, na aula de Cálculo, com um professor com cerca de sessenta anos calvo, que usa ternos marrons antigos com cheiro de naftalina.

— Diga à ele, que estou completamente tomado pela sensação deliciosa que é comer essa torta – diz papai com a boca cheia. Gargalho, e passo a mensagem, exatamente como me foi dita, a Sasuke.

Cinco minutos depois, Sasuke responde a mensagem anterior e a última com emojis sorridentes.

diz a ele q sei exatamente o que ele está sentindo :P!!!

como está Limites?

Sabe como é, você tem q saber os seus próprios limites, minha mãe sempre me disse isso

Eu sorrio.

estou falando de cálculo

ah, sim, está tudo bem com ela tbm. Sabe como é, só nos conhecemos agora, mas é só subida ;)

fico feliz em saber, mais um admirador dessa matéria particularmente incrível

não exagera, não sou tão fã assim (nem tão bom)

caso precise de ajuda no futuro, e se ainda formos amigos, podemos estudar juntos

Meu sorriso some. Sasuke para de digitar, depois de alguns minutos sua mensagem aparece na tela do meu celular.

por que não seríamos mais amigos?

Eu tento ser engraçada, tento disfarçar a tristeza que surgiu.

ah, você sabe, e se vc descobrir que não sou daqui. q na vdd, sou um alien

Emojis de risada. Minhas e dele.

eu ainda iria qrer ser seu amigo

Isso me deixa menos tensa, ainda que provavelmente seja mentira (o que nem ele deveria saber). Por que, afinal, quem iria querer ser amigo de alguém tão estranho? Por experiência própria, sei com 100% de certeza: ninguém.

Mas o que eu respondo são carinhas de sorriso, aquelas com todos os dentes.

boa aula então, sr Limites Próprios

kkkkkk, obrigada, sra Cálculo é Incrível :)

Gargalho.

rá ;D

Se hoje fosse meu último dia de vida, posso apostar que estaria mais feliz. Mas, ao invés disso, hoje é dia de História Americana. Dia de lidar com o Sarutobi. Eu não odiava essa matéria até conhecê-lo.

Enquanto estou tentando ler a página do livro que me pediu a mais de uma hora, tento manter a calma. Ele não parou de falar. Começou com histórias da juventude popular entre as gatinhas no seu Opala 69 verde-escuro, e agora está ruminando sobre a vida dos jovens nos dias atuais que, segundo ele, deve ser ainda melhor do que há 50 anos atrás.

— Hoje em dia vocês tem de tudo! Está aí os computadores que não me deixam mentir! – ele diz, empolgado, batendo as palmas das mãos nas pernas magrelas e cobertas pela calça vermelha. — É tudo tão mais fácil, amizades, festas, novidades! Eu queria ter a sua idade!

Que bom que ele queria ter a minha idade e não ser eu, por que ele iria acabar descobrindo que, na verdade, ser eu e ser jovem são duas coisas bem diferentes.

— Eu ainda não entendo por que você prefere ficar em casa ao invés de ir para a escola, Sakura! – ele fala com indignação clara. Ele produz outro som surdo, mas dessa vez bateu com a palma da mão na mesa. — Você iria gostar tanto! Iria se divertir do jeito que garotos merecem! Eu não entendo, você é jovem e saudável. Não há nenhum motivo para não... – então é aí que eu o corto, por que estou cansada dessa mesma ladainha chata, e falar a verdade é melhor do que continuar a ouvindo.

— Eu sou esquizofrênica. Tomo medicação – eu falo, e desisto de ler a página 43 do livro de História que estávamos usando.

Eu olho para o Sr. Sarutobi, e ele não está olhando para mim e sim para um ponto qualquer da sala de estar, e diferente do que eu imaginava, não há pena ou tristeza em seu olhar. Ele só parece pensativo, até que enfim me olha, e quando faz isso não vejo mais o velho alcoólatra e sem noção que costumo ver. De alguma forma, ele parece diferente.

— Eu não vejo qual é o problema, você ainda parece bastante capaz para mim.

Fico surpresa, mas não consigo evitar dizer:

— Se você está falando fisicamente, então sim, sou capaz.

— Estou falando física e intelectualmente. Você é inteligente e pode cuidar de si mesma. Não vejo motivo para não ir a escola ou fazer qualquer coisa que uma jovem da sua idade deveria estar fazendo.

Após isso, não sei o que falar. Eu só consigo pensar que ele não entende. Mas eu não consegui não pensar em como seria minha vida vivendo-a como uma adolescente normal. Se eu voltasse a frequentar a escola, será que poderia mesmo ser divertido?

Cinquenta minutos depois, estou sentada no banco da janela do meu quarto fazendo o dever de física do professor Miller, um homem de aproximadamente 30 anos que também dá aula na parte da manhã na escola secundária de Toms River. É um assunto interessante que eu particularmente domino. Leis de Newton. Mas ainda sinto minha atenção dividida entre o estudo e a conversa com o Sarutobi. Até que finalmente esqueço e me sinto sugada para dentro das páginas didáticas do livro grosso. Quando vejo, já são 07:32 P.M, e felizmente estou no último item da lista de exercícios.

Estou concentrada quando um carro vermelho buzina lá embaixo ao parar. Olho, curiosa, e Sasuke, o garoto loiro que tinha visto uma vez e uma garota ruiva saem. Eles param na frente da casa verde-limão e conversam entre si. Então o garoto loiro finalmente entra na casa, e Sasuke e a garota parecem começar a discutir até que alguns minutos depois ela toca o rosto dele, buscando acalmá-lo, e o beija.