Ele e Eu escrita por Thay Chan


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!!! Então, sumi, eu sei!!! Foram longos meses e foi uma mistura de um monte de coisas: tempo, falta de inspiração, enfim... Foi um capítulo realmente difícil de escrever. Mas espero q vcs gostem. É isso, aproveitem!



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DIZER QUE FIQUEI surpresa quando descobri que a casa da minha mais nova vizinha era a mesma casa que ficava de frente a minha seria um eufemismo. Acho que assustada seria a palavra mais adequada. Mas se alguém me perguntasse o motivo, eu certamente não saberia o que responder. Porque ocasionalmente eu sabia que conheceria alguém que morasse naquela casa. Afinal, as duas portas de entrada ficavam de frente uma para a outra. E, de qualquer forma, não era como se eu já não tivesse visto nenhum deles.

Eu sabia que havia um garoto que parecia ter a minha idade que morava lá, e muito provavelmente, se eu considerasse a taxa dos jovens de 15 ou 16 anos de Illinois que ainda moravam com a família, sabia que ele não estava sozinho. Mas acho que eu não esperava uma aproximação tão direta e, muito menos, tão rápida. A verdade? Era que eu não esperava ter que falar com nenhuma dessas famílias e, menos ainda, ter que me enfiar debaixo do mesmo teto que elas.

Eu me contentaria em apenas, entre um acidente de percurso e outro, avistá-los de cima da janela do meu quarto ou encará-los no encontro da calçada que ficava entre nossas casas. Mas claro, isso era pedir demais e, como todo mundo certamente bem sabe, querer não é poder.

Assim sendo, aqui estava eu, estancada sob a cobertura protetora da minha varanda, observando uma cortina de água cair e embaçar a minha visão e fazer um barulho enorme ao cair sobre as telhas à minha cabeça. Esperando, igualmente aos outros, Mikoto e Katya prepararem a casa lá dentro para nos receber. Estávamos todos encharcados e, com a falta de energia, a locomoção estava quase inviável. Fazia uns cinco minutos que elas estavam lá dentro, mas já dava para ver a iluminação de algumas velas do lado de fora das janelas do primeiro andar.

Haviam seis vizinhos protegidos na varanda da casa verde-limão, outros três empoleirados na cobertura da casa do lado e outros dois empoleirados na casa do lado da minha. Papai estava lá dentro procurando nossos sobretudos de lã grossos, toucas de tricô que cobrissem nossas orelhas e velas para melhorar a iluminação da casa vizinha. Ele havia ficado com a lanterna, portanto eu só tinha acesso ao que as faixas de luz das lanternas dos outros vizinhos iluminavam, que era o bastante para saber que a lua não iria dar às caras tão cedo.

Eu estava tentando não pensar e, no momento, eu estava no décimo primeiro meio de fazer isso que consistia em soletrar alguma coisa referente ao que eu estivesse observando de trás para frente e depois dizer aonde exatamente eu tinha a visto.

A palavra da vez era balaústre. E-R-T-S-U-acento agudo no U-A-L-A-B . E eu estava o vendo nas laterais da escada que levava a porta da casa verde-limão. O mesmo balaústre em que eu teria que me apoiar para subir as escadas para entrar na casa daqui há alguns minutos...

Próxima!

Escuridão.

O-A-til no A…

— Sakura! – senti o toque de papai em meu ombro um segundo depois de ouvi-lo me chamar. Mas precisei de um segundo a mais para me situar, tempo o bastante para ele voltar a me chamar e pressionar um pouco mais o aperto. — Sakura!

Eu olhei para o lado e um clarão momentâneo me cegou. Eu protegi meus olhos com as mãos.

Papai abaixou a lanterna.

— Desculpe, querida. Você está bem? – ele perguntou, analisando meus olhos atentamente. Eu pisquei algumas vezes e quando consegui olhá-lo sem lacrimejar, assenti.

Então ele perguntou de novo:

— Você está bem? – dessa vez ele não estava se referindo ao último acontecimento. Ele estava se referindo ao acontecimento antes desse, quando eu havia parecido totalmente aérea e incomunicável.

Eu olhei para trás dele, olhei para ele novamente e então sorri:

— Sim, papai. Eu só estava distraída com a chuva.

Papai pareceu aliviado e preocupado ao mesmo tempo. Ele provavelmente estava pensando no conflito interior em que sempre me encontrava em dias chuvosos. E mesmo que esse não fosse mais o único motivo, ele não estava errado. Eu já conseguia sentir o desânimo se arrastando pelos meus ossos como hera venenosa.

Mesmo assim, continuei sorrindo:

— O sr. conseguiu pegar tudo? – eu perguntei, apontando para as coisas que ele trazia penduradas em seu ombro.

Papai olhou para o ombro, como se só então tivesse percebido que elas estavam ali.

— Ah, sim – ele disse, entregando-me meu sobretudo verde-grama de lã e minha touca de listras violetas e azuis. Só então percebi a sacola escura pendurada em seu antebraço.

— São as velas?

Papai olhou para a sacola também.

— Bem, sim. Consegui achar algumas delas naquela caixa BUGIGANGAS QUE NÃO PODEMOS JOGAR FORA, MAS QUE CERTAMENTE PERTENCERÃO AO PORÃO. E olha o que eu achei também – papai se contorceu para explorar o interior da sacola e ao mesmo tempo não deixar os objetos em seu ombro cair – A lamparina do seu avô! – eu olhei para o aparelho que era um pouco maior que um palmo, feito de vidro e cobre. — Só precisamos de um pouco de querosene.

Eu a peguei cuidadosamente da mão de papai.

— Pensei que tivéssemos a perdido – eu disse, enquanto analisava o interior do vidro, onde ficava o foco de luz.

— Eu também – papai disse. — Pensei que não a veria nunca mais… – seu estado de ânimo estava começando a mudar lentamente. Vovô havia morrido quando papai tinha cinco anos.

Não, eu não queria vê-lo triste.

— Então! – eu disse, um pouco alto e alegre demais. — Está tudo aqui! Acho que já podemos ir!

Papai me olhou como se tivesse nascido um terceiro olho na minha testa.

— Fico feliz que você esteja animada – disse ele, parecendo realmente acreditar no que estava dizendo.

Sim, um eterno otimista, certamente.

— É, acho que estou – eu disse, tentando convencer não só a ele, como a mim também.

Isso pareceu distraí-lo. Ele colocou a lamparina na sacola escura.

— Coloca seu sobretudo sob o casaco. Vai esquentá-la o bastante e, como o casaco é revestido, você não se molhará. Quando chegarmos à casa de Mikoto, o colocamos para secar – ele disse, apontando a lanterna para mim delicadamente, tomando o cuidado para não me cegar de novo.

— Parece uma boa ideia – disse, enquanto tirava o casaco, colocava o sobretudo de lã e recolocava o casaco. Para só então colocar a touca. — Sua vez – peguei a sacola e a lanterna da mão dele, e o esperei fazer o mesmo.

Quando terminou, papai retomou os pertences e perguntou:

— Pronta?

Discretamente, engoli em seco.

— Com certeza.

 

Todos já haviam entrado na casa. Mikoto e Katya haviam colocado tapetes grossos na entrada da casa para que quando entrássemos batessemos a água da sola; ganchos de madeira do lado de fora da porta para que pendurássemos nossos casacos e capas molhadas; e velas por todos os lugares possíveis, que davam à casa um ar de capela em dia de missa, mas que ao mesmo tempo parecia elegante e íntimo como num encontro de amigos de longa data, o que, no meu caso e no de papai, estava longe de ser a verdade.

Enquanto entramos, papai e eu olhamos em volta. A casa era grande, com uma sala maior que a nossa. Toda feita de madeira escura e refinada. Com um assoalho tão bem encerado que sequer precisava de luz para brilhar, um sofá gigantesco que cabiam oito dos treze vizinhos e uma tevê tão grande que cobria quase que uma parede inteira. Não dava para ver a cor das paredes, mas eu poderia apostar todas as minhas fichas que deveria combinar com a cor da fachada da casa. Talvez um abóbora ou vermelho coral.

— Nossa… – ouvi papai dizer ao meu lado e, sem precisar checar, sabia que ele estava boquiaberto. O que me fez me perguntar se eu também estava. Cerrei a mandíbula, por segurança. — É a casa mais bonita que eu já vi.

Eu não podia discordar de papai. Apesar de ter muito pouco com o que comparar. Afinal, eu só havia visitado a casa de Shizune algumas vezes e a de Anko uma única vez.

Tirei minhas galochas e coloquei ao lado do rodapé, onde os outros haviam colocado os seus sapatos, ficando só de meias, exatamente como papai. Eu não gostava da sensação, mas imaginava que seria falta de educação ser a única a não tirar os sapatos justo quando todos haviam tirado, principalmente se estes estivessem molhados.

— Fico feliz que vocês tenham vindo – ouvi Mikoto dizer atrás de mim, enquanto me levantava. Papai estava apertando a mão dela quando me virei.

— Obrigada pelo convite, Mikoto – agradeceu papai.

— Oh, que isso – Mikoto sorriu um sorriso perfeito, com dentes super brancos e alinhados. — Falei sério quando disse que agora vocês faziam parte da família – disse ela, e então, como se de repente tivesse se dado conta de que ainda não tinha se dirigido diretamente a mim, se virou na minha direção e perguntou: — Desculpe pela minha falta de jeito, minha linda jovem. Como se chama?

Olhei para ela. E assim fiquei. Depois do que pareceu uma eternidade, mas que nesse plano deveria ter sido uns cinco segundos, papai limpou a garganta disfarçadamente, e tomou a palavra:

— Essa é a minha garota. Sakura.

Mikoto sorriu quase que instataneamente, como se sequer tivesse havido uma situação constrangedora. O que fazia-me pensar se realmente havia acontecido.

— Oh, que belo nome. Tão bonito quanto a dona – ela comentou, ainda sorrindo.

Continuei a olhando.

— Mikoto, trouxe algumas velas para ajudar – disse papai, estendendo a sacola escura para ela. — Ah, e também uma lamparina antiga. Você por acaso teria querosene?

Mikoto olhou para ele e pegou a sacola.

— Por acaso, tenho sim – disse ela. — Venha, vamos buscá-la. Está na área de serviço.

Papai me olhou, provavelmente pensando se seria mesmo uma boa ideia me deixar sozinha. Eu assenti minimamente para ele, indicando que ele poderia ir. Se eu sabia o que estava fazendo? Era claro que não.

Papai beijou o topo da minha cabeça.

— Já volto.

— Pode sentar ali, Sakura – disse Mikoto, apontando para alguns puffs que estavam ao lado do sofá.

Eu olhei para as pessoas que estavam ao redor dos puffs. E continuei no mesmo lugar. Papai notou minha hesitação, se aproximou discretamente de mim e falou baixinho:

— Quer que eu fique?

Eu queria dizer que sim. Mas eu tinha prometido para mim mesma que hoje a noite seria de papai. E isso incluia deixá-lo livre para fazer o que quisesse.

Neguei com a cabeça.

— Certeza? – ele perguntou de novo.

Assenti.

— Ok. Voltarei logo.

Assenti novamente e, para deixá-lo menos preocupado, me dirigi lentamente para os puffs sem sequer olhar para os lados, porque senão perderia a coragem. Quando cheguei próxima o bastante deles, papai já não estava mais a vista. Suspirei, me virei e me sentei.

Retomando: Escuridão. O-A-til no A…

— Oi – ouvi uma voz familiar dizer.

Olhei para cima. Era Katya. Ela estendeu a mão.

— Prazer, eu sou Katya Davidson.

Eu olhei para a mão dela sem saber o que fazer. Seus olhos enormes me encaravam esperando alguma reação.

Meu corpo endureceu. Eu olhei para o outro lado. Aos poucos, Katya foi retirando a mão.

— Hã, você quer beber alguma coisa? — ela perguntou, ainda calorosamente. Eu continuei imóvel. — Hã, se quiser, temos suco, Coca-Cola e água – não respondi.

— Katya – eu não precisava olhar para saber quem estava a chamando. Reconheci a voz amistosa de John. — Anny está precisando de mais velas para colocar no banheiro, pois Ethan está quase mijando nas calças.

— Estou indo – Katya respondeu e então senti seu olhar em mim. — Qualquer coisa é só pedir, hum… qual é mesmo o seu nome? – ela perguntou.

Não respondi.

— Ok. Volto daqui a pouco, querida – disse ela, gentilmente. Então John e ela se afastaram e eu finalmente soltei a respiração que estava prendendo.

Escuridão. O-A-til no A-D-I-R…

— Você é a nova moradora da antiga casa dos Hayden, não é?

Olhei para a minha direita.

Um garoto que parecia um pouco mais velho que eu, cerca de 22 anos, sentou no puff azul-marinho ao meu lado.

— Prazer. Sou Itachi Uchiha – ele estendeu a mão para que eu a apertasse, do mesmo jeito que Katya havia feito. Olhei para a mão dele e outra vez para ele e me encolhi. — Ok. Sem problema. Você parece ser timída. E eu sou do tipo que falo por um multidão inteira. Espero que não estejamos a assustando demais. Essa rua só tem gente maluca. Bom, espero de verdade que você ainda não tenha conhecido o bom e velho Bill – ele apontou preguiçosamente para onde Billy estava, conversando com outros dois homens, rindo alto e com um copo de bebida na mão, provavelmente com o que deveria ser cerveja. — Porque se você o conheceu é certeza de já estar assustada – ele falou tudo isso com o mesmo sorriso impecavelmente branco e perfeito que eu vira em outra pessoa a alguns momentos atrás. Fora o cabelo e olhos muito escuros, pele muito pálida e simpatia desmedida.

Olhei para um ponto do assoalho a minha frente.

…R-U-C…

— Ok. Você realmente não é de falar. Mas posso te apresentar alguns dos nossos vizinhos – …C-S… — Ben, Tony – ele chamou e eu senti vontade de mandá-lo calar a boca e me deixar em paz. …S-E. Escuri…

— Fala aí – disse um menino enquanto cumprimentava Itachi. — Cara, que saco a energia ter acabado logo quando a gente estava zerando o jogo.

— Nem fala. Vamos ter que passar mais duas horas para voltar aonde paramos – disse um outro menino.

— Quem mandou o Itachi ser lesado. Eu falei para ele que era melhor ter salvo a fase. – disse o primeiro menino.

— Nem vem, Tony. Dizer isso depois que a energia acaba é a mesma coisa que nada – respondeu Itachi.

— Eu também disse uns dez minutos antes, mas acho que você estava ocupado demais levando uma surra dos Lobos Gigantes – retrucou Tony.

— Chega disso – disse Itachi. — Quero apresentar uma amiga. Essa é… a nova moradora do 156, a antiga casa dos Hayden.

Eu ainda não queria olhar para eles. E nem iria. Não iria.

— Olá – disse o outro garoto que não era Tony. Tinha quase certeza que ele acenou levemente a cabeça. — Sou Ben. Moro no fim da rua.

Não respondi.

— E eu sou Tony – disse Tony. — Moro no início da rua.

Era impressão minha ou as paredes estavam se fechando ao meu redor? Olhei em volta, porque o ar parecia estar tão pesado, quase como se fosse tangível? Minha respiração ficou pesada. Tentei mantê-la controlada.

— Hey, você está bem? – um dos meninos, que não consegui identificar, perguntou.

Comecei a respirar com dificuldade. Tentei inspirar e expirar devagar, mas tudo o que eu conseguia era sentir meu pulmão doer com o esforço.

— O que aconteceu?

— Não sei, a gente estava conversando com ela e do nada ela começou a ficar pálida.

Alguém veio correndo.

— O que aconteceu?

— Sakura?

Alguém se agachou na minha frente.

— Fica calma. Eu estou aqui – era papai. — Vamos: inspira, conta até três. Expira. Preste atenção na minha voz, querida. Inspira. Um, dois, três. Expira.

Tentei me concentrar na voz dele. Inspira. 1, 2, 3. Expira. Inspira. 1, 2, 3. Expira. Continuei o mantra até minha respiração se acalmar. Agora tente não pensar em nada, Shizune diria. Escuridão. Vejo ela em todo lugar.

Senti papai me pegar no colo e me erguer. Depois disso, só continuei pensando É tudo o que eu vejo até cansar e dormir.

 

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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Espero que tenham gostado. E claro, se quiserem, me deixem saber se gostaram. É isso, bjs e até a próxima!



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