Chatos, ordinários e dramáticos escrita por Kiki


Capítulo 1
O Dia




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O grande dia chegou e não tinha mais escapatória. O garoto abriu seu guarda-roupa e pegou algumas roupas trouxas, pouca coisa, duas calça jeans e algumas camisetas. Todas essas peças foram emboladas e jogadas no malão de couro. Ele voltou para guarda-roupa, e lá estavam suas vestes do uniforme passadas e penduradas nos cabides. Suspirando o menino pegou as vestes e fez o mesmo processo de jogá-las no malão. Não coube, então ele agachou no chão, socou os tecidos até entrarem perfeitamente e depois jogou seus livros didáticos do primeiro ano por cima.

“Confundindo sua mala de Hogwarts com seu guarda-roupa?” Perguntou uma voz no batente da porta.

O menino se virou para encontrar o olhar divertido do pai. Ele fez uma careta e bufou frustrado.

“Qual o problema?” Ron suspirou também “É seu primeiro ano. Deveria estar feliz”

“Feliz?”

Hugo Granger-Weasley se pôs de pé e parou na frente do pai indignado. Para seus 11 anos de idade ele era do tamanho esperado, não era cumprido e desengonçado como seu pai fora. Seus cabelos ruivos, levemente ondulados, caiam sobre um olhar irado. Ron sabia o que estava por vir.

“Como posso estar feliz com Dudu ficando para trás?” Apontou o cachorro que repousava em cima da cama, tristemente, como se soubesse que não veria o menino por meses.

Ron observou Dudu. Ele era um dachshund meio vira-lata que encontraram na rua a cinco anos atrás. Hugo sempre foi apaixonado por cachorros, antes de finalmente conseguir um, ele vivia fazendo amizade com qualquer peludinho que via na rua. A família Granger-Weasley tinha um gatinho chamado Mr.Pubs, adotado por Hermione após a morte de Bichento. O animalzinho arisco deveria pertencer a ambas as crianças, mas Hugo tinha muita dificuldade de interagir com gatos, além de ter alergia, por esse motivo Mr.Pubs acabou se tornando posse exclusiva de Rose. Insatisfeito, desde pequenino, Hugo pedia um cachorro, mas seu pedido tardou ser atendido pelo simples fato de Hermione detestar cachorros. Hermione dizia que cachorros faziam muita sujeira e quebravam as coisas, o que não era mentira. Ron, por outro lado, se interessou pela ideia, para a sorte de Hugo.

Desse modo, bastou um certo filhotinho sem lar, um olhar pidão de um garotinho ruivinho e um dia em que Ron Weasley simplesmente disse “sim” para concordar em levar um cachorro escondido para casa. Hermione surtou, Hugo chorou, houve uma discussão entre os adultos e ninguém foi colocado para fora de casa naquele dia. Com os anos Dudu e Hugo se tornaram amigos inseparáveis.

Ron respirou fundo com a visão do garoto manhoso e o cachorrinho tristonho. Talvez ele tenha mimado demais seus filhos. Sem dúvida ele tinha, Ron sabia disso. Consequência de uma infância difícil ao lados de seus muitos irmãos. Entretanto, Ron não podia simplesmente ignorar a situação diante dele.  

“Você está exagerando, Hugo”

“Ah claro! A Rose pode levar o velho Pubs” Ele resmungou cruzando os braços.

“Gatos são permitidos em Hogwarts”

“Injusto” Acusou torcendo o nariz.

“Eu não fiz as regras” Ron explicou cansado.

Hugo não estava disposto a ceder na discussão, ele estava irritado e triste. Se sentou na cama para que Dudu subisse em seu colo, acariciou as orelhas grandes do cachorrinho e deu um beijo entre os olhos de amêndoa.

“Vamos, Hugo. Nós te compramos uma coruja de estimação” Tentou animá-lo, apontando para a ave enjaulada em cima do criado mudo.

“Eu não gosto de pássaros e o Dudu não é substituível ” Rebateu o garoto.

“Eu sei, mas você podia pelo menos tentar dar um nome para ela.”

“Hum. Ela tem cara de...Coruja. É faz sentido para mim.”

Ron suspirou, olhou seu relógio de pulso. Eles precisavam ir.

“Olha só, quando você voltar nas férias Dudu estará te esperando.”

“Se a mamãe não colocar ele para fora”

“O que?” Ron arregalou os olhos  “Ela nunca faria isso, Hugo.”

“Não sei, ela nem se importa o bastante comigo para estar aqui.” Hugo cutucou o elefante na sala e Ron não soube o que responder de imediato.

Naquele ano Hermione tinha assumido como Ministra da Magia. Ela sempre foi ocupada com seu trabalho, deixando para Ron a maior parte da responsabilidade de cuidar dos filhos. Mas naquele ano, ela tinha ficando cada vez mais distante da família conforme o peso do novo cargo no Ministério exigia.

“Ela não conseguiu desmarcar a reunião, você sabe disso” Ron tentou.

“Sei…” Hugo não parecia entender nenhum pouco.

O silêncio se instalou entre eles. Ron checou as horas outra vez.

“Terminou suas malas? Precisamos ir, ainda temos que pegar Fred e Roxy.”

“Terminei” Hugo fechou o zíper do malão com um zipe alto“ Tchau Dudu. Pode ficar com minha cama até eu voltar” Beijou e deu um abraço forte no cachorrinho. Pegou a gaiola da coruja e encarou ela por uns segundos “Você é muito feia, Coruja”

O bicho piou ofendido.

****

Rose esperava o pai e o irmão no andar de baixo com suas malas que foram feitas no dia anterior.

“Por acaso você está querendo perder o trem?” Ela cruzou os braços na frente do corpo e olhou feio para o irmão quando ele chegou no último degrau da escada.

Rose era uma garota de gênio forte, o que contrastava com seu rosto angelical adornado por cachos que se estendiam até o meio das costas. Hugo encarou as feições debochada da irmã e abriu a boca em um perfeito “O” em uma surpresa fingida.

“Essa não! Roselina Holmes descobriu o meu plano maligno” O menino levou as mãos para cada lado do rosto, intensificando sua interpretação ruim.

“Não me chame assim!” Rose brandiu começando a ficar vermelha.

Hugo sorriu travesso, puxou ar e começou repetir incessantemente “Roselina, Roselina, Roselina” com a voz mais irritante que conseguia fazer.

“Uau! Como você é infantil” Rose revirou os olhos tentando fingindo que ele não a irritava. “PARE COM ISSO!” Por fim ela perdeu a paciência gritando.

Ron procurava as chaves do carro nas gavetas da sala. Ele possuía o grande dom de ignorar as discussões infantis dos filhos. Seu nome do meio poderia ser “paciência” quando se tratava de Rose e Hugo brigando, discutindo e implicando um com o outro.

“Achei!” Ron suspirou aliviado ao encontrar as chaves na gaveta do aparador “Vamos, vamos.”

Ron ajudou os filhos a levarem as malas até a porta de casa e trancou bem o portão da frente. Eles moravam na Vila do Acanto, uma vizinhança bruxa perto do Beco Diagonal. As casinhas da Vila do Acanto foram construídas de forma circular de modo que todas ficassem de frente para um pátio de pedras. No centro de tudo havia uma fonte muito bem trabalhada com pedras de brilhantes e do lado dela um parquinho de madeira  que foi construído para as crianças.

Ron, seguido de seus filhos, atravessaram o pátio até uma viela, desceram alguns lances de degraus até outra viela, viraram aqui e ali e finalmente saíram na rua principal do Beco Diagonal. Andaram mais um pouco até a loja Gemialidades Weasley, deram a volta em um bloco e saíram na parte de trás da loja que dava para uma vizinhança de casas parecido com a Vila do Acanto.

As costas da loja dos Weasley tinha a aparência normal de uma casa estreita de 3 andares. Era aquele local que George e Angelina Weasley chamavam de lar e nele criavam seus filhos.

Um grupo de quatro pessoas estava plantado na porta da casa. Sendo ele formado por: um homem alto, de cabelos ruivos um tanto grisalhos e uma orelha faltando, George; Uma mulher de pele escura, cabelos cacheados presos em uma trança e olhos afiados, Angelina; Um adolescente de ar despreocupado, pele bronze, cabelos escuros e olhos vibrantes que brilhavam na luz do sol, Fred; E por fim, uma menininha caloura em Hogwarts, quase uma cópia de Angelina, porém um pouco mais Weasley, Roxy.

Hugo acenou para a prima que segurava suas malas alegremente, ela acenou de volta.

“Tudo pronto?” Ron indagou para o grupo parando na frente dele.

“Que demora! Se perderam no caminho?” George perguntou ironicamente.

“Hugo nos atrasou. A culpa é toda dele” Rose acusou o irmão e o olhou pelo canto dos olhos. Hugo lhe mostrou a língua.

“Vamos indo?” Ron se dirigiu aos sobrinhos.

Fred pegou suas malas pronto para ir, mas Roxy precisou se virar e dar mais um abraço na mãe e depois no pai. George retribuiu o abraço com tanta intensidade que parecia não querer soltar a menina nunca mais. Ron olhava para o relógio impaciente.

“Não se preocupe, Roxy, papai vai ficar bem” Disse Fred rindo e trocando um olhar divertido com Ange que riu também.

“Tchau, pai” A menina empurrou o pai levemente para que ele a soltasse.

“Tchau, Estrelinha! Não se esqueça do que eu te ensinei caso alguém tente mexer com você” George sorriu para ela.

“Pai! Eu não vou dar bala de peido pra ninguém” Roxy sussurrou revirando os olhos.

“Não se esqueça!” George depositou um beijo na testa da menina e deixou ela pegar suas malas para ir.

“Não esqueçam de escrever!” Angelina gritou quando seus filhos afastaram com Ron.

“Tá bom!” Roxy gritou de volta.

“Ouviu, Fred?” Angelina insistiu quando não obteve resposta do mais velho.

“Tá” Ele respondeu e se limitou a acenar impaciente com uma mão.

Eles saíram do Beco Diagonal por uma passagem. Em uma espécie de estacionamento abandonado e protegido com magia, ficava o carro trouxa da família Granger-Weasley. Ron colocou as malas das crianças na traseira do carro e fez com que todos se acomodaram nos bancos. Fred na frente e os menores atrás. Partiram em direção a estação King Cross.

“E aí Rox, está animada?” Ron perguntou descontraído.

“Bastante, tio” Respondeu sorridente. ”Não vejo a hora de chegar em Hogwarts! Minha mãe disse que os dormitórios da Grifinória tem uma vista bonita de toda a escola”

“Tem mesmo” Rose respondeu “Fica em uma das torre, então dá pra ver o lago e parte da floresta”

“Ai! Deve ser lindo” Roxy se agitou animada.

“Por que tem tanta certeza que vai pra Grifinória?” Hugo soltou de repente para a surpresa de todos. O clima de ansiedade se quebrou como uma fina camada de gelo em um rio.

Roxy olhou pra ele fechou e abriu a boca incerta de como responder.

“Ué...eu...” Ela começou

“Porque todo Weasley é da Grifinória” Respondeu Fred com simplicidade.

“Não é verdade...Lucy e Albus são da Sonserina”

“Lucy e Albus?” Fred riu alto “Certo, então vou me corrigir, Weasleys de verdade são da Grifinória”

“E se eu não for da Grifinória, não sou de verdade?” Hugo indagou completamente ferido pela lógica de Fred.

“Bem...” Antes que Fred completasse sua frase Ron o interrompeu.

“Do que você está falando, Hugo?” O homem perguntou um tanto assustado.

“Não liga, pai, ele só quer contrariar” Interveio Rose.

“Não intromete, Roselina”

“Ora, por acaso não é isso?” Ela sorriu maldosa.

“Não, eu só não quero ser da Grifinória”

“O que?!” Ron soltou exaltado quase fazendo o carro dançar na pista.

Ele estava acostumado com Hugo se rebelando um garoto completamente diferente do que ele esperava, como por exemplo: não dar bola para Quadribol. Mas não querer ser da Grifinória, era um susto e tanto. Não querer ser da Sonserina era normal, mas Grifinória?!

“Não seja bobo, Hugo” Roxy estava de olhos arregalados.

“Então de que casa você quer ser?” Perguntou Fred.

“Qualquer outra” Deu de ombros “Melhor seria se pudesse ser nenhuma”

“Como assim?” Fred começou a gargalhar sem se conter “Você é louco, Beethovinho” E continuou rindo.

Hugo bufou com a invocação daquele apelido idiota que Fred havia lhe dado quando seus pais o colocaram para fazer aulas de piano.

“Não precisa ficar nervoso, Hugo. É normal se sentir assim, mas vai dar tudo certo, você é um bom garoto e o Chapéu Seletor vai saber o que é melhor para você” Disse Ron tentando apaziguar a situação, claro que mais para si mesmo do que para o menino.

“Saber? Com base em quê o Chapéu vai saber?” Desafiou o pai.

“Na sua personalidade,ora. Ele vai estar na sua cabeça”

“Mas minha personalidade não está totalmente formada, tenho apenas 11 anos. Posso mudar muito.”

“Mas o Chapéu avalia suas características” Insistiu Ron.

“Oh sim, até porque apenas grifinórios tem coragem. Ninguém mais em Hogwarts tem essa característica. São todos medrosos.” Ironizou. Hugo sabia que estava exagerando, mas não se importava.

“Não! É de acordo com sua característica principal.“ Ron rebateu com um tom que indicava que aquela conversa deveria terminar naquele momento.

“Aham!” Hugo cruzou os braços e fechou a cara, olhando pela janela.

O clima ficou pesado pelos próximos metros percorridos. Ninguém ousou rebater Hugo, para que assim, ele não continuasse falando aquelas baboseiras.

“Então…” Ron pigarreou “Fred, fiquei sabendo que entrou para time de quadribol.”

Pelo resto do caminho o assunto entre Rose, Ron e Fred foi o esporte. Falaram dos times escolares, dos times nacionais, dos internacionais, sobre a última copa mundial… Foi tanto, que quando desceram em King Cross Hugo não aguentava mais ouvir as palavras: pomo de ouro e balaços.

 


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Notas finais do capítulo

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