Uma tempestade de neve fazia com que aqueles que ainda não estivessem protegidos dos flocos de neves caindo de forma aleatória do lado de fora daquele pequeno café começassem a procurar, então, um lugar para se abrigarem enquanto a neve começava a cair de forma descontrolada. Fora ela que levara James Potter, jornalista de uma revista de jogos online que provavelmente iria fechar as portas se não fosse por ele, até o café do outro lado da rua. No momento em que ele levara sua mão até a maçaneta, uma mão menor se juntou a dele, fazendo com que um choque percorresse por toda a extensão de seu corpo, dos dedinhos dos pés até o último fio de cabelo castanho desarrumado, e então ele lhe deu um pequeno sorriso torto, minutos depois de ficar perdido nos olhos verdes da ruiva desconhecida, quando juntos abriram a porta e então se protegeram do frio que fazia lá fora.

  —  Me desculpe, eu não estava tão absorta nos meus pensamentos sobre não morrer de frio essa noite, que não vi que o senhor já estava com a mão na porta. 

A voz dela disse, como um som melodiosamente gostoso que James desejara poder ouvir mais. De novo um sorriso surgiu nos lábios dele, repuxando os cantos para cima, até ele prestar realmente atenção no que ela estava falando e franzir a testa, unindo suas sobrancelhas grossas.

  —  Senhor? —  perguntou ao notar que provavelmente teria a mesma idade da ruiva sardenta que tirava para da neve que ainda estava em seus ombros, provavelmente ele deveria fazer o mesmo mas a observar era mas... Interessante.

O rosto da mulher, que aparentava ter a mesma idade que ele, fora do tom natural e claro para um rosado forte mostrando que a mesma estava com vergonha no momento em que seus olhos se encontraram. Potter percebeu que estava sendo analisado, então apenas deu os ombros e sorriu outra vez, fazendo com que seus olhos castanho-esverdeados fechassem um por, por debaixo dos óculos.

—  Certo —  a ruiva começou a falar —  Me desculpe, mesmo. Por quase trombar com você e ainda te chamar de senhor. Mas você tem que concordar comigo que essa boina sua é usada apenas por pessoas com mais de sessenta e cinco anos.

As risadas saíram em uníssono e ela o observou por mais um tempo.

—  Lily Evans.

—  James Potter. 

Lily e James pediram dois cafés grandes e se sentaram um de frente para o outro. Conversando sobre trivialidades, como se conhecessem um ao outro há anos. Ela sorria para o , quase, desconhecido com os lábios vermelhos e carnudos e com seus olhos, que de acordo com ele pareciam duas azeitonas. Comentários como esse faziam a ruiva corar e ele rir baixo, falando que ela ficava uma graça corada. Ficaram assim, como se nada mais existisse durante duas horas, o tempo exato que a nevasca durou.

  —  Você sempre vem nesse café? 

A voz de Evans perguntou para ele curiosa, depois de ambos brigarem para saber quem iria pagar a conta. Ela queria dividir, seria mais do que justo, mas James queria pagar tudo sozinho, uma retribuição da companheira maravilhosa que ela havia sido, e assim o fez, deixando a ruiva um tanto quanto sem graça com a reação de Tonks, uma de suas amigas mais antigas que trabalhava ali há quatro meses.

  —  Quando eu consigo   —  o homem respondeu, dando os ombros —  Hoje foi mais uma missão de não-quero-congelar-lá-fora. Do que qualquer outra coisa   —  riu, seguido dela e então fechou os botões da enorme jaqueta que usava —  E você?

—  Todos os dias  —  respondeu prontamente e sorriu ao pegar sua touca preta dentro do bolso da frente do casaco —  Religiosamente nesse horário.

—  Então eu vou saber onde te encontrar?  

—  E você gostaria de me encontrar? —  James havia percebido que Lily perguntara aquilo no mesmo tom  de voz que ele usara em sua própria pergunta: descontraído, porém com uma intenção a mais, uma vontade única.

—  Você não tem ideia do quanto. 

Ambos sorriram um pouco sem graça. Potter com sua própria constatação e Evans por se dar conta de que queria, e muito, que o castanho voltasse outros dias naquele café,  

  — Então eu te vejo no mesmo lugar? 

—  E no mesmo horário. 

A ruiva lhe deu um sorriso e aproximou seu corpo do de James, não era algo que ela fazia com frequência, ainda mais com desconhecidos, mas ela se colocou nas pontas dos pés e beijou a bochecha dele, embriagando-se com o cheiro de grama recém cortada e café, que saía dos poros de Potter. 

—  Até amanhã então. 

Ele apenas lhe deu um sorriso e concordou com a cabeça, despedindo-se da ruiva logo em seguida, com um beijo curto na bochecha sardenta dela, acenou a mão quando se afastou e então enfrentou a neve para chegar em seu apartamento meia hora depois, xingando-se mentalmente por não ter pego o número de Lily antes de sair. 

Ele era um idiota.  

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Os encontros na cafeteria continuaram acontecendo. Dia sim, dia também. Uma hora e meia por dia o jornalista e a professora, profissão essa que James descobrira no dia seguinte, se viam, conversavam e riam de coisas que haviam ocorrido com ambos ou com alguém que conheciam. No quarto dia ele tomara coragem para pedir o telefone dela, não queria ser impertinente com ela.

  —  Achei que você nunca fosse criar coragem de pedir, Potter, e eu teria que fazer todo o trabalho.

Ele apenas riu e coçou a nuca, de forma vergonhosa momentos antes de terminar seu próprio café e olhar a hora.

Depois de inúmeras idas a cafeteria, eles resolveram numa noite de sexta, por mensagens durante toda a semana, que iriam à um pub novo em Londres. Foi nessa exata noite que James tomara coragem para beijar Lily, quando ela lhe sorriu preguiçosamente depois de tomar o terceiro copo de vodca.

Uma semana depois eles tiveram outro encontro, dessa vez em um restaurante um pouco mais elegante que o pub, era um lugar mais calmo, então conseguiram conversar como se estivessem no café. Mais tarde eles passaram em uma lanchonete, concordaram que o restaurante era bonito demais, mas a comida era pouca e cara, então resolveram encher o estômago com um lanche enorme e dois copos grandes de refrigerante, seguidos de babata frita e um sorvete.

Para Lily Evans, aquele encontro havia entrado na lista de seus melhores encontros. E ficado no topo. Nunca havia rido, confessado seus medos e se divertido, realmente, como aquela noite. Ela gostava de James, e do que ele despertava nela. Naquele fim de noite, ela o chamara para entrar em seu apartamento e então eles se beijaram novamente, no sofá acinzentado da garota, e James conhecera o quarto dela, assim como conhecera cada parte de seu corpo e o efeito que ele lhe causava.

Ficaram por mais um tempo se encontrando todos os dias, vez ou outra saíam para um encontro ou dormiam um na casa do outro. Suas pernas emaranhadas umas nas outras e seus cheiros se misturando, independente de Lily estar nua em cima ou embaixo de James, ou não. 

Quase um ano havia se passado e eles ainda não tinham nomenclatura para o relacionamento que dividiam. Estavam bem do jeito que estavam e a cima de tudo confiavam um no outro, não precisavam ser o controle da situação. Sabiam o que e quem eram, e principalmente que pertenciam juntos.

E meses depois eles resolveram morar juntos, algumas coisas da mulher já estavam em seu apartamento, ela já tinha duas gavetas de sua cômoda e alguns cabides de sua arara de roupas, sabia onde ficavam todos os utensílios e metade das coisas do banheiro era dela. Era fácil, assim eles não precisavam se distanciar por tanto tempo um do outro. E foi assim que James resolveu tomar o próximo passo, e não era a pedir em namoro, já que para ele era um consenso - e sabia que para ela também, haviam conversado sobre isso durante o jantar de aniversário de um ano juntos, e felizes.

Ele não tinha preparado muita coisa, não havia tido tempo por causa do cronograma da revista, que parecia agora decolar - assim como sua vida amorosa. Apenas pediu uma pizza e abriu um vinho assim que a mulher saiu do banheiro, com um pijama limpo e os cabelos úmidos, ela lhe deu um sorriso e beijou seus lábios quando pegou a taça e a levou, de forma preguiçosa, para os lábios, bebericando o líquido. Comeram juntos uma pizza inteira, contando como havia sido o dia. 

James estava mais ansioso que o habitual, e isso não passou despercebido pelos olhos verdes, como azeitona, de Lily.

  —  O que você está escondendo, Jay? —  perguntou suavemente depois de lavarem os pratos e jogarem a caixa de pizza no lixo, ao parar no batente da porta da cozinha quando ele abriu outro vinho —  Além de querer me embebedar em uma quinta-feira, o que você está aprontando? —  concluiu, aceitando a taça de vinho que lhe fora oferecia, com um sorriso preocupado dele estampado em seus lábios.

—  Eu... Você sabe que não sou bom com palavras, certo?

—  Se você não dissesse, meu amor, eu nunca teria percebido.

Potter soltou um resmungo no minuto seguinte a risada de Evans, que lhe beijou rapidamente e entrelaçou seus dedos aos dele, indo até o sofá com o homem.

—  Vai, me diz.

—  Eu amo você, Lily Evans.

Ela abriu a boca para responder, mas o castanho fora mais rápido e levou seu dedão até os lábios dela, acenando a cabeça de um jeito negativo, para que ela ficasse quieta. 

—  Sei que as coisas entre nós dois não são do jeito que a sociedade impõe... Para um relacionamento perfeito. Mas também sei que não há nada nesse mundo que eu não faria por você, por nós   — lhe deu um sorriso e então retirou o óculos do rosto, colocando-o na mesa central pouco a frente do sofá — Eu não esperava te conhecer naquele dia e muito menos me apaixonar por você de forma tão gradativa e doce. Você, Lily Evans, faz com que meus dias sejam melhores e mais felizes, e não sei realmente reagir quando você não está ou quando não posso te contar na hora quando algo estranho aconteceu na revista. Sei que você me escolheu, e me escolhe todos os dias desde que nos metemos nessa aventura juntos, e eu quero saber se você me escolheria mais um vez, para passar o resto dos seus dias nessa aventura com um egocêntrico arrogante como eu. 

Dito isso, Potter levantou o corpo do sofá e se dirigiu até o lado do aparelho de televisão, pegando uma caixinha dentro da gaveta no raque, que guardava seus jogos de videogame, voltou para Lily, ajoelhando-se em frente ao corpo dela no sofá e lhe deu um sorriso íntimo quando as mãos dela foram até a boca.

  —  Eu não lhe pedi em namoro porque não vi necessidade em colocar nome no que tínhamos, e de verdade... Ainda não vejo. Nós funcionamos juntos, com ou sem alianças, mas eu... Eu vi seu olhar durante o casamento de Sirius e Marlene,  e eu... Eu quero ter isso com você, um casamento, uma lua de mel. Poder te chamar de minha mulher, minha esposa   —  um sorriso tomou os lábios dele e o castanho abriu a caixinha, revelando uma aliança com um diamante em cima, pequeno. Segurou a mão de Lily e suspirou —  Lily Evans, eu te amo mais do que qualquer outro ser humano pode amar alguém nesse mundo ou em outro, não há nada que eu não faria por você, por nós. Eu, James Potter, pertenço junto à você e te escolho, também, todos os dias do horário que acordo até quando vou dormir. Amo cada detalhe seu. E mesmo que isso soe egocêntrico sei que você me ama também —  riu baixo e mordeu o canto do lábio inferior antes de olhar no fundo dos olhos verdes da mulher  ruiva sentada á sua frente —  Aceita se casar comigo? 

E pela primeira vez era ela que ficara em palavras, apenas concordou com a cabeça e percebeu que tremia quando ele, todo atrapalhado colocou a aliança delicada em seu dedo.

  —  Eu amo você. Eu aceitaria me casar com você de todas as formas possíveis. 

James riu quando sentiu o corpo dela contra o seu, deitando-se no tapete preto com a ruiva que tanto amava.

—  Acho que agora você está ligada à mim para sempre.

—  Até o fim dos meus dias, Potter.

—  Seus olhos sempre me fazem voltar pra casa, Evans, futura Potter. 

O sorriso surgiu em ambos os lábios. Um sorriso único, feliz e cúmplice. E então eles se beijaram e se amaram naquele tapete felpudo, diversas vezes.