American Boy escrita por dracromalfoy


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Presente de amigo secreto! Espero que goste!



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Dia um.

Lily Evans estava pronta para aquela noite, assim como para todas as outras anteriores daqueles quinze dias de férias na America. Era engraçado pensar, para ela, que estava nos Estados Unidos com suas três melhores amigas, aproveitando todos os tipos de festas e visitando todos os locais que antes apenas vira em filmes e séries.

Era uma sonhadora, sempre fora, mas também era desapegada e gostava de aproveitar cada momento sem muito planejamento. Marlene McKinnon e Emmeline Vance eram como ela, por isso se davam tão bem. Hestia Jones era o total oposto, era quem trazia a consciência para o grupo, quem cuidava para que nada terminasse tão ruim.

— Alguém está preparada para aguentar a Lily bêbada hoje de novo? Porque, sinceramente, não sei se dou conta. — Brincou Emmeline, entrando no carro ao lado de Marlene e, em seguida, Lily e Hestia. — Você por acaso fez uma lista de categorias? Tipo, separando cada estilo de pessoa que quer pegar em uma noite?

— Emmeline! —Lily repreendeu, rindo junto de Marlene. — Eu não aguento mais essa difamação, estou falando de vocês duas!

— Tudo bem, Lily, nós respeitamos o seu estilo de vida. Quer dizer, não prejudicou ninguém até agora, tirando o fato que nós não conseguimos dormir depois, já que você quer fazer um relatório completo de cada...

— Podemos mudar de assunto?

— Falando sério agora, Lily, tente não exagerar demais, sabe? — Disse Hestia com a voz insegura. — Foi muito difícil convencer sua mãe a te ligar em outro horário semana passada, tenho certeza que ela desconfiou que você estava bêbada.

— Hestia, relaxa, pelo menos um dia. — Marlene revirou os olhos. — Nós sabemos que você faz a linha puritana.

— Eu estou tentando ajudar vocês. Lembrem-se que se não fosse por mim, não teríamos mais onde dormir, já que as três irresponsáveis perderam a única chave do hotel que tínhamos. Aliás, vocês me devem duzentos dólares pela chave e pelo trabalho que foi para conseguir outra.

— Claro, Jones, vamos te pagar com bebida, que tal? — Lily riu, Marlene e Emmeline tentaram segurar a risada, mas acabaram cedendo depois. — O que você acha? O primeiro porre no último final de semana em Nova York?

— Eu acho ótimo. — Entusiasmou-se Emmeline, segurando Hestia entre os braços. — Temos dois dias para você soltar as asinhas, Jones.

— Dispenso. — Ela disse, desvencilhando-se de Emme e entregando as entradas para cada uma das amigas. — The Maraunders nos dois dias desse final de semana. — Ela abriu um sorrisinho contido, encarando sua entrada. — Vai ser bacana.

— Maraunders? Isso me parece... Um péssimo nome pra se dar a uma boyband. — Lily riu novamente, encarando o slogan chamativo no ingresso. — É tipo um novo The Wanted? Ou algo assim?

Hestia revirou os olhos.

— Não é uma boyband e, principalmente, não tem nada a ver com The Wanted. É algo mais conceitual, estilo... Não sei! É tipo Lana Del Rey, mas em forma de banda. Eles são bacanas, vocês vão gostar.

— Espera aí, espera aí! — Emmeline parou de andar, fazendo todas as garotas se viraram para ela. — Hestia, quando você disse que tinha encontrado o role perfeito para nós, eu pensei que você falava sério. Lana Del Rey? Sério? Quer dizer, eu amo, obviamente, mas eu pensei que viríamos para uma balada, ou sei lá.

— Hes, você sempre recusava ir aos bares com a gente porque não gostava das bandas que tocavam lá, mudou de ideia?

Lily percebeu sua amiga ficando vermelha e, embora não gostasse da ideia de passar a noite toda ouvindo músicas depressivas de uma pseudo boyband iniciante, ela notou que tinha algo a mais acontecendo ali, então se colocou ao lado de Hestia, com um largo sorriso nos lábios vermelhos.

— Acho que temos uma noite incrível pela frente, vamos conhecer antes de julgar? Muito obrigada.

As quatro garotas seguiram caminho pela porta do bar que não conheciam até alguns minutos atrás, já ouvindo uma melodia suave de guitarra, o clima parecia não muito animado, inicialmente, mas ainda era cedo. Lily queria manter o pensamento positivo.

— Ótimo lugar pra entrar numa depressão profunda. — Comentou Emmeline sarcasticamente. — Vou beber pra me animar.

A morena saiu devidamente mau humorada, indo em direção ao bar. Marlene, que parecia tão contente quanto, a seguiu.

— Sinto muito se estraguei tudo... Eu só pensei que... — Hestia parecia prestes a chorar.

— Ei, ei! Pare. Sem choro, está ouvindo? — Lily olhou nos olhos de sua amiga e a segurou suavemente pelos ombros. — Emmeline e Marlene podem ser difíceis quando querem, assim como eu, assim como você. Ninguém é de ferro.

— Eu sei, mas... Sei que você também não está contente com isso. Eu deveria ter avisado que não era o tipo de coisa que vocês gostariam de...

— Hes, está tudo bem, vamos? Ok, agora me conte, qual dos quatro?

— Perdão?

— Jones, eu conheço você. Quer dizer, somos amigas desde que tínhamos o que? Quatro anos? Cinco? Eu conheço você, sei que o motivo de estar num bar no subúrbio de Nova York é porque algum dos quatro membros daquela boyband te deixou sem ar, mas você é tímida demais para contar para qualquer uma de nós que está a fim de alguém, então teve a mágica e brilhante ideia de vir até aqui e ficar apenas... Encarando-o, quem quer que seja. Bem, conhecendo você, como eu já disse que conheço, você voltaria para casa triste por não ter feito nada além de encarar. — Lily respirou fundo, Hestia a encarava com os olhos arregalados. — Errei em alguma parte?

— Bem, eles não são uma boyband, como eu já expliquei.

— Hestia.

— Ok! Você está certa, ok? Eu apenas o conheci há alguns dias numa cafeteria, enquanto eu tentava ler, já que você, Marlene e Emmeline não conseguem ficar caladas nem mesmo por cinco minutos. Ele estava lá, viu que eu estava lendo e... Foi falar comigo.

— Hestia! — Lily gritou entusiasmada, fazendo Hestia se encolher ainda mais vermelha. — Continue.

— Bem, nós conversamos algumas horas sobre... Você sabe, livros em geral. Ele me contou que escreve, mas precisa de dinheiro para o contrato da editora e, por isso, está numa banda com seus melhores amigos da faculdade. Eles fazem shows todos finais de semana, pelo que entendi e, bem, ele não me convidou para vir aqui nem nada, apenas mencionou que eles tocariam aqui hoje.

— Basicamente convidou. — Explicou Lily, jogando o cabelo nos ombros. — Se ele mencionou onde iria tocar, então ele convidou, mesmo que indiretamente.

— Certo, então... Eu pensei que seria legal se viéssemos aqui, já que eu... Não conseguiria vir sozinha.

Lily sorriu novamente, entusiasmada de saber que sua amiga que evitava qualquer tipo de relacionamento, atração, sentimento ou o que fosse, estava se arriscando daquela forma. Era engraçado pensar que Hestia Jones havia mesmo planejado aquilo sozinha.

No mesmo momento começou uma música mais agitada, a letra falava sobre uma garota russa que havia partido o coração do garoto quando desapareceu, sem dizer seu nome. Lily soltou uma risada, e puxou Hestia.

— Acho que deveríamos dançar perto do palco, não acha? Precisamos chamar a atenção!

Hestia parecia relutante, mas Lily Evans sabia como convencer alguém, obviamente. Ela também não se deu ao trabalho de perguntar novamente quem era o admirado de Hestia, porque foi fácil descobrir pela forma como ela olhava para o garoto tocando a guitarra, que tinha uma cicatriz no rosto e parecia adorável.

Lily também não esperava — ou talvez sim ­— que iria para o mesmo caminho de sua amiga. Distraidamente, ela olhou para o palco e notou que o vocalista da banca de Hestia a encarava. Ele não olhava apenas para a plateia, a encarava descaradamente num ponto específico, em Lily Evans. Outra pessoa provavelmente desviaria o olhar e fingiria que não era com ela, ou poderia pensar que era apenas uma coincidência, mas Lily não era assim, ela segura o suficiente para encarar de voltar apenas para ver quando ele cederia e desviaria o olhar.

Lily estava animada, mais do que achou que ficaria quando entrou naquele bar, com pouca expectativa. Estava sentada numa mesa no canto do lote com sua bebida em mãos, encarava a imagem que vinha em sua direção, com os cabelos totalmente arrepiados de uma forma que ela não imaginou que fosse achar sexy algum dia. Exibiu seu melhor sorriso e arrumou sua postura quando ele sentou na sua frente com sua bebida.

— Então — começou Lily, olhando-o. — Qual a história da garota russa?

O garoto soltou uma risada que fez o corpo de Lily enrijecer. Ele tinha um lindo sorriso e, droga, ela não queria reparar naquilo.

— Longa história.

— Lily.

— James. É um prazer te conhecer, Lily.

Ok, Lily não tinha planos de ir parar no camarim de James Potter, nem mesmo beber tanto lá dentro. Ela era sim uma garota que gostava de se arriscar, mas não fazia a linha que procurava por perigo. Apesar de não achar que Potter representasse qualquer perigo, ele parecia ter um áurea de segurança que a deixava quase encantada.

— Não quero parecer bobo na sua frente te falando sobre outras garotas. — Ele disse entregando-a mais um copo. Com James em pé na sua frente, enquanto ela estava sentada num dos sofás, ela pode encarar seu corpo e, em seguida, repreender a si mesma. — O que eu posso fazer? Sou um romântico incurável.

Lily riu.

— Você tem uma banda, toca sobre garotas estrangeiras. Bem, acho que pode ter sua carteirinha de romântico incurável.

James jogou-se ao lado dela com seu próprio copo e a encarou novamente, estavam brincando com os olhares, isso era inegável. Ele olhou sua boca, o batom vermelho já tinha sumido por causa da bebida, fazendo que seus lábios ficassem apenas mais rosados. James aproximou-se e, novamente, Lily sorriu.

— Vamos fazer assim, primeiro a história, depois o beijo. — Ela piscou, confiante. Lily sabia como deixar um homem intrigado e com vontade, por isso sempre gostava de se arriscar.

— Eu te disse, sou romântico. Ela dançava na boate que íamos tocar, foi embora algumas semanas depois, nunca me disse seu nome.

— Droga! Você sabe meu nome, quer dizer que não ganho uma música?

James gargalhou, tombando a cabeça para trás. Adorável, pensou Lily. Aproximou seu corpo do dele, quando ele a olhou, estavam ainda mais próximas. Ele não perderia aquela oportunidade, por isso, é claro que ele a beijou. Lily sentiu um frio na barriga imediatamente, principalmente quando sentiu as mãos de James por toda parte. Pensou se iria se arrepender disso no dia seguinte, mas a resposta era clara.

Não iria.

Dia dois.

— A margarida acordou! — disse Marlene, jogando um travesseiro em Lily quando ela abriu os olhos. — Pensei que fosse acordar só à noite, já que chegou em casa às seis horas da manhã.

Lily resmungou e virou-se na cama, agarrando o travesseiro que Marlene jogara. Não se lembrava de como havia chegado ao hotel e nem como conseguira achar o quarto. Não fazia ideia de muita coisa, para ser sincera. Pensando rapidamente — sem realmente parar para analisar a noite anterior — sua última lembrança era a de vestir sua roupa e se jogar no sofá ao lado de James.

James. Droga, provavelmente nem o número dele ela pegara.

Imediatamente Lily abrira os olhos, repreendendo a si mesma. Que ideia era aquela de pegar o número? Ela sabia que aquele tipo de atitude não condizia com ela, garotos que se conhece em bares e baladas são garotos que permanecem apenas em bares e baladas. Apenas.

— Vai nos contar o que rolou ontem? — perguntou Emmeline, entrando no quarto com uma caneca provavelmente cheia de café.

— Prefiro guardar para mim essa. — Lily disse sem emoção, indo para o banheiro. Sua cabeça doía e seu corpo parecia ter sido derrubado no chão várias e várias vezes, sem pausa.

— Lily, nós ficamos preocupadas com você. — Emmeline entrou no banheiro, sem se preocupai se sua amiga talvez quisesse privacidade para tomar banho. — Nós te ligamos várias vezes, íamos chamar a polícia se você não aparecesse. Ficamos muito preocupadas.

Lily suspirou fundo, entrando no Box e ligando o chuveiro.

— Sinto muito. Eu não tinha a intenção de fazer isso, juro. — Ela viu a expressão da amiga pela fresta e revirou os olhos. — Isso já aconteceu antes, Vance? Não, nunca aconteceu, porque não sou de fazer isso, você sabe.

— Eu sei, Lily, mas já conversamos sobre sexo no primeiro encontro, isso é perigoso.

— Emmeline!

— Não estou te julgando! Não acho que seja errado, você sabe que não faço a linha puritana, Evans, mas ainda assim é perigoso. Esses caras de boybands são galinhas, eles transam com todo mundo, você não pode confiar.

— Primeiro, que não é uma boyband, segundo, eu sei me prevenir, Emme, eu sei que você se preocupa, mas nesse caso não é necessário.

Emmeline encostou-se na parede e suspirou fundo, aquele era o indício necessário para que Lily soubesse que estava tudo bem.

— Não vai contar sobre o que aconteceu? Como você voltou embora? E, desculpe tocar nesse assunto de novo, mas tem certeza que está tudo bem, Lily?

— Está tudo bem. — Lily fechou os olhos para pensar melhor, tentar se lembrar de alguns detalhes do que acontecera. — Eu acho que peguei um táxi, ou... Não sei, Emme, não me lembro. Sei que parece irresponsável...

— Isso é irresponsável, sem discussão. Nós todas fizemos loucuras nessa viagem e eu sei como você quer aproveitar o máximo, mas vir pra casa sozinha e bêbada é a pior coisa que alguém pode fazer.

Certo.

Lily saiu do hotel logo depois de tomar banho, sua cabeça doía e ela não tinha o costume de tomar remédios assim como suas amigas, por isso foi para a sua nova cafeteria preferida — sem contar a de Hogsmeade, que ela amava acima de tudo — e aproveitou para conversar com seus pais enquanto tomava um café forte e sem açúcar.

Apesar de não gostar de admitir, Lily sabia que Emmeline estava certa sobre a conversa que tiveram, fora irresponsável naquela noite e aquilo não poderia se repetir nunca mais.

Porém, ela não esperava ficar tão chateada de pensar que James a deixara ir embora sozinha ou se arriscar daquela forma. Era ridículo esperar algo de alguém que acabara de conhecer, mas, depois de esfriar a cabeça e tomar seu café, Lily se lembrou vagamente de como conversaram por horas e de como ele parecia ser diferente. Em seguida, prometeu a si mesma não pensar mais naquilo.

O problema com homens românticos e gentis era que eles te davam perspectiva e desejos inexplorados. Quando se era adolescente as coisas eram diferentes. Garotos são inocentes em sua maioria, você poderia esperar que eles errassem sem saber que estavam errando, mas homens crescidos... Eles são perversos e, em sua maioria, saberiam como te iludir mais facilmente. Por isso Lily sempre preferiu os que eram diretos, os que deixavam claro que não queriam nada além daquilo, não precisavam te fazer dar risada ou se sentir incríveis apenas faziam o que tinha que fazer e iam embora, sem nem esperar que você vestisse sua roupa.

Ela soltou a caneca de café e fechou o notebook, perplexa. James Potter entrava na cafeteria e ia a sua direção, com o rosto neutro. Lily tentava pensar “droga droga droga”, mas só conseguia pensar em como ele era ainda mais lindo na luz do dia.

— Lily Evans. — Seu nome saiu dos seus lábios de forma quase cômica. — Bom te ver.

— James Potter, você está me seguindo? — Ela perguntou sem deixar nenhuma emoção transparecer.

— Hum, não. Na verdade, eu estava passando e vi uma garota ruiva sentada aqui dentro, raro em Nova York. Uma grande coincidência. — Ele sorriu para ela, divertido.

— Bem, James, eu não acredito muito em coincidências.

Ele sentou-se na cadeira a sua frente, colocando seu celular e carteira em cima da mesa. Seu sorriso ainda intacto.

— Tem razão, não foi uma coincidência. Eu gostaria muito que você não me olhasse como se eu fosse um lunático.

— Então pare de agir como um. — Lily riu, fazendo James sorrir para ela, por ela, talvez. Ela encostou-se na cadeira e cruzou os braços. — Então, o que te trouxe aqui hoje?

— Bem, eu precisava encontrar você, então fui até o hotel perguntar...

— Como você sabe onde eu estou hospedada? — Lily perguntou mais alto do que deveria, sentindo-se envergonhada em seguida, pois atraiu alguns olhares curiosos para os dois.

— Eu te levei embora hoje de manhã, você me passou seu endereço. — Ele se explicou, confuso. — Uau, você não se lembra disso? — E soltou uma risada. — Lily, eu não sou nenhum stalker, ok? Bem, eu fui até lá há alguns minutos, sua amiga Em...

— Emmeline.

— Isso. Emmeline. Ela me disse que não iria me dizer onde você estava e que era para eu superar. Foi bem rude, na verdade. O ponto é que... Bem, sua amiga His...

— Hestia. É Hestia.

— Certo, Hestia é uma amiga de Remus, então ela me disse que você poderia estar na cafeteria aqui perto, pois você costuma vir muito aqui. Foi assim que te encontrei. Nenhum grampo, GPS, ou qualquer outra coisa esquisita que você possa ter pensado.

— Amiga de Remus? — Lily abriu um sorriso contente. Então esse era o nome do guitarrista que Hestia estava obcecada. — Interessante. Certo. Escute, eu não te acho um stalker, na verdade só estava brincando e, bem, eu fiquei pensando que você tinha me deixado ir embora sozinha, bêbada, e enfim, coisas da minha cabeça.

Lily logo se arrependeu de ter dito aquilo, não queria soar tão sentimental ou chateada, mas James não pareceu se importar com isso, pois apenas relaxou os ombros relaxado e sorriu para ela.

— Você não estava exatamente bêbada, só sonolenta.

— Tanto faz.

Ele riu, balançando a cabeça e, de novo, adorável.

James pediu outro café para Lily, um para ele e alguns pãezinhos esquisitos que apenas Lily conhecia da Inglaterra e insistiu para que ele provasse.

— Você não pode ficar comendo bacon toda manhã e esperar viver mais do que trinta anos. — Ela o repreendeu, oferecendo um dos pães que pareciam ruins demais para o gosto dele. — É integral e bom para quem tem problemas com colesterol, o que você provavelmente tem.

— Já são duas da tarde, Lily, não é mais um café da manhã. E não, não tenho problemas com colesterol.

— Futuros problemas, então. — Ela esperou-o morder o pão e dar sua avaliação. Pela sua expressão, provou o que Lily já sabia: Era muito bom. — Eu avisei, Potter. Sua vida de superstar não deve ser nada saudável.

— Não sou um superstar. — Corrigiu ele, comendo outro dos pães. — Preciso de uma musa para me inspirar.

Contra sua vontade, Lily sentiu suas bochechas corarem, então apenas desviou o olhar, com um sorriso contido.

— Quem vou ser, sua garota britânica?

— É um nome não muito original.

— Claro, é difícil estar entre as últimas.

James fingiu-se de ofendido, rindo em seguida.

— Você realmente acha que foram tantas assim?

Lily não respondeu, apenas deu de ombros enquanto se levantava junto de James para saírem.

Não tinham exatamente um local para ir, apenas andavam aleatoriamente pelas ruas agitadas de Nova York. Lily sentia-se num daqueles filmes de romance ruins que apenas Hestia e Marlene gostavam de assistir. A sensação de estar ali era muito melhor do que a de sentar no sofá com pipoca apenas para acompanhar de fora.

Obviamente, ela tinha que se lembrar a todo segundo que aquilo não era um filme de romance, porque não tinha romance. James era apenas alguém que conhecera, passara a noite e que depois que ela fosse embora — no dia seguinte — nunca mais iria vê-lo. Lily tinha planos grandiosos para sua vida, iria para a faculdade, de novo, nos próximos meses, mas ainda que fosse uma coisa que a deixasse animada, ainda era a única perspectiva de futuro que tinha, por isso sentia-se bem estando com James ali, sabendo que não iria vê-lo depois, gostava de boas lembranças que terminavam bem.

— Então, o que você veio fazer em Nova York? Estudar? Passear? — James perguntou, entregando o casaco de Lily para ela e vestindo o seu.

— Passear. Viemos ficar quinze dias e, bem, tem sido uma experiência... Intensa.

James riu.

— É Nova York, você não pode esperar menos do que isso. — Ele fez uma pausa e a olhou em seguida. — Até quando vai ficar?

Lily engoliu em seco, olhando para o outro lado da rua.

— Amanhã.

Ela tentou parecer entusiasmada ou indiferente. Droga, o que estava acontecendo?

— Ah. — James abriu a boca várias vezes na intenção de falar algo a mais, de mudar de assunto, ou qualquer coisa, mas nada saía.

 O que ele esperava? Que a garota britânica fosse uma história diferente? James gostava de música e, obviamente, gostava de pensar nas pessoas como se fossem melodias, como se fossem músicas a serem escritas. Era assim que arrumava inspiração para compor. Lily ainda não era uma música completa, James ainda não conseguia pensar num final para ela. Não queria pensar. Como ele dissera: era um romântico incurável.

Lily entrou num beco e puxou James junto de si, que a acompanhou sem questionar.

— Gostei de conhecer você, James Potter. É muito gentil, muito mais do que eu esperava de um superstar.

James sorriu, tentando não deixar transparecer que estava decepcionado de saber que ela iria embora tão logo.

— Também gostei de conhecer você, Lírio. — Lily sorriu, mordendo o lábio inferior. — Homens costumam temer mulheres independentes, eu costumo temê-las. — Ele a olhou nos olhos, aqueles olhos verdes vibrantes. — Você me impressiona.

Lily tocou o rosto de James suavemente, sentindo-o deliberadamente, estudando-o. Gostava da sensação de tê-lo perto dela, havia provado tão pouco dele, conhecido tão pouco de quem era, mas gostava do pouco que vira, James era diferente.

Ela tocou os lábios dele com os dela, devagar, conectando-os antes beijá-lo de verdade, trazendo-o para mais perto de si. James suspirou e agarrou seu pescoço, guiando-a. Droga, por que tinha que ser tão bom?

Podiam achar que James, por fazer parte de uma banda que toca em bares aleatórios, era um mulherengo, mas estavam errados a respeito disso. James esteve com poucas mulheres ao longo da sua vida, e, por Deus, nunca desejou tanto que aquela fosse a última.

Último dia.

 

James buscou Lily no hotel por volta das oito horas da manhã, ela iria embora no voo das sete, então teriam um tempo juntos antes de se despedirem. Ela parecia melhor depois de dormir a noite toda, ainda que estivesse um pouco desanimada.

— Queria ficar mais tempo aqui. Eu gostei demais de... Tudo. Digo, eu moro numa cidade pequena perto de Londres, onde nada acontece, todo mundo se conhece, sabem meu nome, conhecem meus pais, conhecem minha história. Conheço cada pessoa daquela cidade, provavelmente já falei com a maioria em algum momento. Isso é... Estranho. — Ela fez uma pausa, caminhando cabisbaixa ao lado de James, que a ouvia atentamente. — Quando você cria uma reputação numa cidade como aquela, ela é definitiva e qualquer pessoa que você converse, vai ter aquela visão de você... Você nunca conhece pessoas novas e todas as que sabem quem você é te julgam.

— Não consigo pensar num cenário em que as pessoas não te achem incrivelmente adorável. — James falou sorrindo. Lily não conseguiu sorrir, apenas balançou a cabeça. — Qualquer outra cenário é inviável, Lily.

— Inventaram... Histórias sobre mim. Não o tipo de história que você compõe, James, o tipo de história que você não quer que contem.

— Sinto muito.

— Está tudo bem, já faz alguns anos, mas ainda é estranho, ainda falam sobre isso. Eu nem sei porque estou te dizendo essas coisas.

— Deixe-me ver, talvez você esteja pensando “nunca mais vou vê-lo mesmo”. — Lily riu. — Você ainda tem muitas surpresas para ver, Lily, você estar lá não significa que vá ficar a vida toda. O mundo é imenso, Nova York não é nem o começo dele.

— Eu sei, gostaria de poder ficar aqui, e depois ir para outro lugar, e outro e outro.

James parou no meio do caminho segurando as mãos de Lily.

— Aqui é apenas o começo. — E piscou.

Ele era diferente.

James beijou Lily uma vez e depois outra. Em seguida, mais uma vez. Não cansava de beijá-la. Ponderava se era capaz de memorizar seus lábios para sempre, guardá-los na memória, lembrar-se pra sempre da sensação e ter aqueles lábios contra os seus. Queria memorizar seu rosto, por isso não cansava de olhá-la enquanto estavam deitados no lençol no meio do Central Park, observando o céu cinzento, pronto para derrubar a chuva.

Lily tampouco se importa se tinha uma chuva vindo, estava absorta naquele momento mágico que pensava que jamais teria novamente. Com ninguém. Ou seria possível?

Lily estivera apaixonada uma vez na vida, pelo garoto que destruíra sua reputação, destruíra quem era aos dezessete anos. Com vinte e três, ela ainda sentia medo de qualquer pessoa que se aproximasse, sentia medo de qualquer indício de que iria acabar mal. Então, por Deus, não sentia isso com James? O cara que cantava num bar sobre outra mulher, que a levou para seu camarim e dormiu com ela, o cara que tinha tudo para fazê-la ter medo de como aquilo acabaria... Lily não sabia explicar, apenas gostava da sensação de estar com alguém que não sabia de boatos, que não sabia de fotos ou vídeos, ou de histórias que foram inventadas por um ex-namorado com o coração partido.

James não conhecia essa Lily inventada por terceiros, mas ela sentia que, mesmo se conhecesse, ele não a julgaria.

Você me impressiona, ele dissera.

— Não acredito que está me trazendo até o aeroporto. — Lily riu mais uma vez, vendo a cara de Emmeline observando os dois. — Emmeline está tão descontente.

— Sim, ela está. Uma pena. — Ele apertou a mão de Lily, sorrindo para ela. — Pensei que fosse ficar devastado te vendo ir embora.

— Ainda não estou indo embora, faltam alguns minutos.

— Eu sei, mas esperava que fosse ser... Pior.

— Tenho uma coisa pra você. — Lily disse, parando no caminho para mexer em sua bolsa. — Eu descobri recentemente que gosto de escrever, não te contei porque não gosto muito de falar sobre isso. Por isso, quero que me prometa que só vai abrir quando eu estiver dentro daquele avião.

— Lily...

— Por favor.

— Certo, eu prometo.

Lily entregou a ele um envelope com seu nome escrito numa caligrafia perfeita, ele queria abrir naquele momento para saber quais segredos Lily guardava, mas apenas o colocou no bolso do casaco e voltou a segurar suas mãos, até finalmente ter que soltá-las. Hora de partir.

— Não seja tão sentimental.

— O que?

— Estou falando comigo mesma. — Ela suspirou e ele riu da sua expressão. — Eu te mando um e-mail quando chegar.

— Você tem meu número, Lily.

— Sim, eu sei, mas quero te mandar um e-mail, sabe? Menos... Casual. — Ele riu novamente, abraçando-a. — Te vejo algum dia, sei lá, numa turnê mundial? Quando você estiver rico e com várias fãs doidas por você?

— Sim, sim, por aí. Talvez no meu camarim, certo? Vai ser um pouco maior, já que vou seu um superstar.

— Excelente. Nos vemos então.

Lily virou-se para ir com suas amigas, sem abraços, sem beijos, apenas um casual “nos vemos então”. Ela era assim, afinal de contas.

James, antes de ler o que escrevi a seguir, preciso que saiba algumas coisas sobre mim, coisas que não tem contei. Gosto de pensar que não sei tudo sobre você e você não sabe quase nada sobre mim, é mais fácil assim. Gosto de saber que você inventou uma versão de mim para gostar, para conhecer.

Aprendi a tocar violão quando tinha 13 anos, sou boa nisso, apesar de não gostar nada de tocar.

Escrevo poemas, não porque acho que tenho talento, mas porque gosto de colocar um pouco do sinto no papel.

Escrevia algo sobre você, roubei sua ideia de escrever sobre pessoas e, bem, saiu algo.

Apesar de ter roubado sua ideia, eu a fiz diferente. Não seria legal fazê-la da mesma forma que você, então fiz algumas mudanças.

Você pode pensar que essa música é sobre você, mas ela não tem nada a ver com o James que conheci, e nada a ver com a Lily que você conheceu, somos apenas personagens.. Consegue pensar nisso?

Espero que sim.

 

“Eu o encontrei enquanto estava em Nova York

Ele estava tocando numa banda e ela estava dançando no palco

Ele diz que sou a escolhida

Mas foi ele quem a deixou escapar

E ele nunca soube seu verdadeiro nome.”

 


 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado, beijos ♥