Lily abriu a porta de casa com um sorriso no rosto, ainda que a conversa da noite passada estivesse passando repetidamente em sua cabeça. Tudo o que foi dito, tudo o que ela viu nos olhos dele. O seu maior desejo naquele momento era correr para os braços de James Potter e beijá-lo de novo e de novo, mas não podia fazer isso, não enquanto ele não entendesse que não podia fazer escolhas por ela.

Ela não o viu no trem para casa, mas encontrou Remus e eles conversaram a respeito da poção polissuco. Para que nenhum deles precisasse passar as férias de Natal na escola, Remus iria até lá por uma das muitas passagens secretas que conhecia e cuidaria para que ela continuasse sendo feita naquele período. Ela também perguntou a ele como James estava naquela manhã e a única coisa que o monitor respondeu foi:

—Quieto. Imagino que vocês não tenham se acertado no baile ontem.

Evans não disse nada, não sabia como explicaria a situação para ele e o motivo de ser tão complicado. Agora ela era recebida em casa por uma mãe sorridente e uma irmã que apenas revirou os olhos ao vê-la entrar, já que naquele dia apenas o pai da ruiva havia ido até a estação. Ela não ligava. Não mais.

—Lily, querida, como eu estava com saudades! -A senhora Evans se levantou, correndo em direção à sua caçula.

—Também estava morrendo de saudades, mamãe.

—Nós íamos buscá-la também, mas precisei ficar para ajudar a Tuney com os últimos detalhes da festa de aniversário.

—Está tudo bem, mãe, eu entendo. -Lily sorriu. -Precisam de ajuda com alguma coisa?

—Por hora nada, querida, ainda estamos terminando os preparativos para a ceia de Natal.

—Me diz o que precisa.

—Você deve estar cansada. Nós assumimos daqui. -O senhor Evans disse, acariciando os cabelos da filha.

—Bobagem, dormi a viagem toda. -Ela se levantou, sorrindo. -Eu quero ajudar.

—Sendo assim, venha. Tenho tanto pra te contar, meu amor, nós finalmente conhecemos o namorado da Tuney.

—Tenho certeza que ele deve ser encantador. -Lily disse sorrindo.

—Realmente, mas nem adianta, ele não gosta de anormais como você. -Petunia retrucou, desviando sua atenção do telefone pela primeira vez naquele dia.

—Petunia! -Jason Evans a censurou, não que isso adiantasse de algo.

—Deixa, pai. -A caçula disse. -Eu não me importo com os comentários dela.

—Ainda sobre a festa da sua irmã, Lily, você pode receber seus amigos aqui também.

—Ah não, mãe, por favor! Eu não quero aqueles esquisitos aqui! Eles vão assustar os meus amigos e o Vernon! Imagina o que o Vernon vai pensar! -Petunia começou. -Eu te ligo depois, Hannah, a minha mãe só pode ter enlouquecido.

—Isso não está aberto a discussões, Petunia. -Violet Evans disse alto.

—Quem sabe a gente se junte pra fazer um número de mágica em sua homenagem? -Lily provocou e Petunia bufou, subindo as escadas resmungando. Ainda que estivessem no primeiro andar foram capazes de ouvir a porta do quarto dela bater no segundo.

—Vem comigo, querida.  -A mãe se levantou, puxando a filha em direção a cozinha. -Além da Lene e do Severus, você pode convidar...

—Não, dessa vez o Severus não vem.

—Ainda não se resolveram?

—Não acho que consigo perdoar ele enquanto ele não me provar que realmente é diferente daqueles idiotas da escola. Eu sei que ele se arrepende, mas isso não faz diferença nenhuma se ele continuar com eles. Quero dizer, se fosse outro nascido trouxa ele também se arrependeria do que disse?

—Eu entendo.

—Mas a Lene vem sim. -Garantiu, sorrindo.

—E o garoto que salvou a sua vida? -Violet perguntou com um sorriso e Lily soltou um resmungo, deitando a cabeça sobre a mesa. -Eu sei que vocês não costumam se dar bem, Lily, mas você poderia ter morrido! Ele poderia ter morrido!

—Eu sei, mãe, mas... -Ela suspirou. -A situação com o James é complicada.

—Porque ele gosta de você?

—E eu também gosto dele. -A ruiva confessou e a mãe arregalou os olhos, sorrindo com empolgação. -Nem se anima, a gente brigou ontem.

—O que aconteceu? Pode me contar tudinho, mocinha. Como não mencionou isso nas cartas? Esse é o tipo de coisa que a sua mãe quer saber! -Violet disse e Lily riu.

—Eu disse que fomos a Hogsmeade juntos.

—Você e todos os amigos dele, isso não é nada. Pode ir contando.

E ela contou. Lily falou sobre a maneira como estavam se aproximando nos últimos meses e como se afastaram logo depois, mas ela tomou todo o cuidado do mundo para mascarar o que realmente havia separado os dois e o verdadeiro motivo da briga. No fim, Violet Evans a aconselhou a convidá-lo mesmo assim, dessa forma eles poderiam conversar melhor sobre o que aconteceu, mas ela ainda não sabia se era a melhor opção.

—Além disso, eu não posso convidá-lo se não for pra chamar pelo menos o Sirius e a Tuney vai odiar se eu encher a festa dela com os meus amigos.

—Tuney vai estar tão ocupada com os convidados que nem ao menos vai notar.

—É claro que vai. -Lily disse. -Todo o aniversário dela é a mesma coisa "eu não convido os meus amigos para o seu aniversário".

—Se você estivesse em casa durante o seu aniversário, ela poderia convidar todos os amigos dela.

—Tenta dizer isso pra ela.

...

A casa não era a mesma quando Sirius não estava lá. Ele era seu irmão, passar o Natal sem ele parecia errado, mas ele entendia que ele ainda tinha obrigações com a sua verdadeira família. James comia biscoitos sozinho na cozinha enquanto pensava no que Walburga realmente queria com aquela carta. Ele não a conhecia pessoalmente, mas nunca ouviu boas histórias a respeito dela e Orion. Tudo o que podia fazer naquele momento era torcer para que aquela realmente fosse uma tentativa de reaproximação da mulher com o filho. Embora Sirius nunca fosse admitir, ele sabia o quanto aquilo deixaria o amigo feliz. 

James estava tão perdido em pensamentos que nem notou quando a mãe adentrou a cozinha, notando sua presença apenas quando Euphemia Potter sentou-se ao lado dele, passando as mãos pelos cabelos bagunçados do filho.

—Eu sei, não é a mesma coisa sem ele. -Murmurou. -Mas você pode escrever.

—Eu não acho que seja uma boa ideia. -Respondeu, soltando o ar cansado. A última coisa que queria era que Walburga Black brigasse com ele por isso - e sabia que ela brigaria.

—Sirius passou tanto tempo conosco que às vezes me esqueço que ele não é realmente meu. -A mulher confessou, suspirando. -Mas fico feliz que a senhora Black queira se aproximar dele. É um garoto maravilhoso.

—Sim, ele é.

—Essa é a única coisa incomodando você? -Perguntou, olhando bem nos olhos de James. Ele não disse nada. Sabia que não precisava, aquela mulher o conhecia melhor do que ninguém.

—Fui um idiota com a Lily.

—Quer falar sobre isso? Talvez eu posso ajudar.

—É que… -Se ficarmos juntos, ela morre e eu não quero que isso aconteça. Mas ao mesmo tempo não sei se aguento ficar longe dela. Eu tentei, não deu certo. Despejou mentalmente. -Eu tomei decisões importantes sobre nós sem perguntar como ela realmente se sentia em relação a isso e ela não gostou nada.

—Vou precisar de mais que isso, James. -Ela disse com um sorriso.

—Eu acho que seria perigoso se ficássemos juntos. Acho não, tenho certeza que seria perigoso e eu não quero que ela se machuque, então ao mesmo tempo que uma parte de mim quer ficar com ela mais do que tudo, a outra parte insiste pra eu dar as costas e nunca mais voltar. Assim quem sabe ela tenha uma chance de ser feliz com outra pessoa, sei lá.

—Querido, a possibilidade de um coração partido sempre vai existir…

—Eu não estou falando de coração partido, mãe, tá mais pra vida e morte.

—Ah… -Euphemia parou por um momento, pensando bem no que diria ao filho. -Ela é nascida-trouxa? -Ele balançou a cabeça assentindo. -James, eu sei que a situação atual no mundo bruxo é complicada e você estaria correndo perigo caso escolhesse ficar com…

—Eu não me importo com o que acontece comigo. Estou preocupado com ela. -Interrompeu.

—Mesmo? Porque eu entendo que toda essa perseguição pode ser assustadora.

—Eu só quero que ela fique segura.

—Posso ser sincera com você?

—Deve.

—Enquanto Você-Sabe-Quem estiver por aí nenhum nascido-trouxa estará seguro. Não importa o que você faça.

—Eu sei, mas… -Merlin, era tão difícil escolher as palavras certas!—E se o fato de estarmos juntos tornar tudo ainda mais perigoso pra ela?

—Eu não acho que deveria se manter longe dela por causa do que pode ou não acontecer.

Não é uma possibilidade. Vai acontecer.

—Mas supondo que vai acontecer.

—Então ela precisa decidir se vale a pena correr o risco.

—E se a resposta dela for que sim? Eu não quero que ela acabe morrendo por minha causa.

—Por que acha que seria por sua causa?

—Quem você acha que seria mais provável de irritar Você-Sabe-Quem? Eu ou Lily Evans? Eu sei que ela é nascida-trouxa e ele tem um problema com eles, mas ainda sim tenho mais chances. -Ele perguntou e ela deu uma leve risada.

—Faz sentido. Ainda sim a escolha é dela.

—E se ela escolher a opção perigosa? Eu simplesmente devo aceitar que ela acabe se machucando ou até coisa pior?

—Eu sei que não é uma posição agradável, mas é a vida dela, portanto são as escolhas dela. -Ele bateu a cabeça na mesa, resmungando.

—Eu odeio isso.

—Eu sei, é horrível. -Respondeu. -Agora por que não me ajuda com o jardim? Ficar pensando em coisas horríveis não vai ser nada bom pra você.

James olhou para a mãe em concordância e ela lhe deu um beijo no rosto. Naquele momento Fleamont Potter adentrou a cozinha com a correspondência do dia, uma das cartas, no entanto parecia mais importante do que as outras. A com o selo do Ministério da Magia.

—O que é isso? -O mais novo perguntou.

—Por algum motivo estamos sendo convidados para um baile do Ministério.

—Por quê? -Euphemia disse, lendo o pergaminho que ele lhe entregava.

—Não faço ideia. -Fleamont respondeu. -Por que não convida sua namorada, James? Uma garota tão adorável, finalmente entendi por que todo aquele fuzuê.

James revirou os olhos, rindo da escolha de palavras do pai.

—Ela meio que me odeia agora, mas quem sabe na próxima. -Respondeu, se levantando quando seu pai abraçou sua mãe, beijando-lhe o rosto e fazendo com que ela sorrisse. -Te espero no jardim.

…

Sirius estava trancado em seu quarto ainda sem entender o que estava acontecendo, já que Regulus não havia dito absolutamente nada. Ele observou os pôsteres da Grifinória espalhados por todo o quarto um tanto entediado e começou a considerar pegar sua moto e ir até a mansão dos Potter, mas uma batida na porta mandou todas aquelas ideias pra longe. 

Fazia muito tempo desde a última vez que passou o feriado em casa.

Walburga Black abriu a porta, entrando naquele cômodo com sua postura imponente e seus olhos rapidamente encontraram os do filho mais velho. Ela não sorria, mas o típico ódio que geralmente era dirigido a ele havia dado lugar a um olhar diferente. Era como se ela estivesse analisando todas as ações de Sirius.

—É melhor se arrumar, nós temos visitas.

—Visitas? -Questionou um tanto preocupado.

—Seus primos e tios estão aqui. O jantar está quase pronto. -Ele balançou a cabeça assentindo e ela deu as costas, mas parou antes de sair como se estivesse se lembrando de algo. -O que eu disse sobre portas fechadas?

—Que você não quer.

—E o que vai acontecer se você fizer de novo?

—Você vai derrubá-la.

—Considere-se avisado. -Ele balançou a cabeça e ela se virou para encará-lo. -Que fique claro que nós só estamos tendo essa conversa porque você trouxe aquela mestiça imunda para baixo do meu teto.

—Não fala dela assim.

—Você que não devia estar falando comigo assim. Devia me obedecer, Sirius. Caso não tenha ficado claro, essa é sua última chance de provar que é um verdadeiro membro dessa família e você não vai querer jogar fora.