Indignada escrita por prongslet


Capítulo 1
Indignada, parte um.


Notas iniciais do capítulo

Muitos anos depois: uma fic do OTP supremo ♥ Aos anos que queria escrever algo com este que é o meu casal favorito de todos os tempos ♥ Espero que gostem tanto desta fic como eu gostei de escreve-la ♥
Agora, sem mais delongas, deixo-vos com o primeiro capítulo desta fanfic, escrita para uma das pessoas mais especiais que conheço em toda a minha vida. Esta é toda tua, Sofia ♥



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in·dig·nar – Conjugar. 

Do latim indignor, -ari, desprezar, zangar-se. Verbo transitivo e pronominal.

1. Causar ou sentir indignação. = AGASTAR, INDISPOR;

2. [Por extensão] Irar, revoltar, dedignar-se. 

 

[26 de Outubro de 1982, Quarta-feira, Cabeça de Javali – Quarto número Cinco]

Amassou o pergaminho para longe, furiosa, antes de se levantar da cadeira. Ajeitou os fios negros que insistiam em cair sobre os seus olhos negros e piscou várias vezes, encarando o papel no chão e, não contente, incendiou-o.

— Malditos, malditos, malditos. — Reclamou novamente, sentindo o seu sangue ferver. Sabia que a sua família era conhecida por ter um pavio curto no que tocava à paciência mas aquilo fazia qualquer alma, Black ou não de seu nome, desesperar. —  Como é que se atrevem? —  Esbravejou, sem retirar os olhos negros do monte de cinzas que outrora fora o maldito pergaminho.

Bateu com a mão na mesa, tentando aliviar a raiva que sentia. Estava capaz de matar toda e qualquer criatura que passasse pelas suas mãos e não pode deixar de agradecer por viver sozinha. Afinal, não podia voltar a evocar o sobrenome de que tanto se orgulhava para escapar a Azkaban. Pelo menos, não tão cedo.

Suspirou pesadamente quando se apoiou novamente na poltrona, que outrora fora verde musgo e riu sozinha, fazendo jus à loucura que refletia no interior. Se lhe dissessem que no auge dos seus vinte e dois anos estaria naquele lugar imundo, sozinha e com o nome na lama, ela provavelmente não iria pensar duas vezes em estuporar o pobre infeliz que sequer ousasse pensar em tal coisa.

Mas ali estava ela, a rir desesperadamente do rumo miserável que a sua vida levara. Não pode deixar de agradecer a Morgana pela morte de todos os seus antepassados, pelo menos não tinham sido condenados a assistir aquele inferno na terra.

Tinha de admitir, Azkaban nunca lhe parecera tão agradável como naquele momento.

Desde a queda do seu Lorde em outubro do ano passado que a sua vida e nome tinham sido arrastados com ele. A queda de Riddle era mais do que o fim de uma guerra, era o fim da crença numa sociedade purificada e Bellatrix Black (que um dia quase que se tornara Lestrange) não podia sentir mais nojo em ter de compartilhar o seu ar com gente tão impura. Não conseguia, de todo, compreender como é que o seu primo traidor e companhia limitada davam a sua vida para salvar gente que não hesitaria em fazer o mesmo que o seu Lord queria fazer com eles. Os nojentos dos muggles matavam tudo o que não conseguiam compreender e ela não precisava de ser apoiante do Lord para saber disso, bastava olhar para os pesados livros de história. Eram como animais irracionais.

Suspirou pesadamente, passando a mãos pelos cabelos negros e, sem outra opção, observou a pequena janela do quarto alugado que ocupava. Ao longe, podia ver uma praça pouco movimentada onde estavam apenas meia dúzia de crianças bruxas, que brincavam com a neve. Estavam no fim de outubro, mas o Inverno decidira chegar mais cedo que o esperado, cobrindo toda a Inglaterra com um enorme manto branco. Abanou a cabeça, ainda irritada e levantou-se da poltrona onde estava, andando pelo quarto, enquanto pensava em outras opções.

Pelo amor de Morgana, ela tinha conseguido escapar à maldita prisão de Azkaban (algo que tinha de agradecer ao seu bom e prezado nome) mas não conseguia resolver aquela situação ridícula?

Bateu com a mão na testa enquanto pensava. Certo, ela estava falida e não tinha a quem recorrer. Narcisa estava fora de questão afinal, Malfoy usara boa parte da fortuna para fugir com o hipogrifo à seringa. Além do mais, Bellatrix sabia que, mais cedo ou mais tarde, Malfoy iria exigir algo em troca, os desgraçados dos Malfoy nunca davam ponto sem nó. Andromeda estava fora de questão, primeiro porque trocara o seu bom nome e família por um muggle nojento e depois porque sabia que a irmã estava quase tão lisa quanto ela.  Sobravam-lhe apenas os primos, ou melhor o primo. A ovelha vermelha dos Black nem sequer era uma opção. Preferia mil vezes dar um beijo a um Dementor a pedir algo a Sirius.

Regulus seria a sua única e última opção, mas ela não podia, de forma alguma, pedir alguma coisa aquele traidorzinho reles. Bellatrix podia ser muita coisa, mas não era burra nenhuma. Sabia que era ele o responsável pela ‘fuga de informação’ que vitimou o seu Lord. Afinal o velho caquético do Dumbledor não era estúpido, mas estava longe de adivinhar que Riddle tinha separado a sua alma em várias partes, sendo que uma delas estava convenientemente na posse do seu priminho mais novo.

Regulus ainda ia pagar caro por ser um traidor.

Afundou-se novamente na cadeira ao constatar que só lhe restava mais uma opção. Não tinha a quem recorrer ou bem até tinha, sabia que as irmãs sempre a iriam ajudar, tinham um coração demasiado mole para não o fazer, mas o seu orgulho de Black nunca o ia permitir.

Tudo o que podia fazer era visitar o piso dois do Ministério da Magia da Grã-Bertenha e apertar com o desgraçado encarregue pelo seu caso. Já se tinha passado quase um ano desde o infeliz acontecimento, estava na altura de ter uma resposta decente e daquela vez não seria por uma maldita carta.

Colocou a pesada capa negra nos ombros e sem pensar duas vezes, desapareceu com um click.

 

 

[26 de Outubro de 1982, Quarta-feira, Whitehall - Ministério da Magia da Grã-Bertanha]

Bellatrix rolou os olhos enquanto reclamava com a criatura que a tinha empurrado. Andava apressada pelo hall cheio de gente e não se conseguiu conter quando o terceiro desgraçado lhe deu um empurrão. Assim, como boa Black que era, soltou meia dúzia de palavras amargas e seguiu o seu caminho, batendo com os saltos negros no pavimento verde musgo do Ministério.

Teve de se desviar várias vezes até chegar ao elevador e não conseguiu conter o suspiro de alívio quando as portas douradas se abriram. Entrou no compartimento e pressionou o botão número dois, sentindo um puxão quando o mesmo se começou a mover. Não demorou muito tempo a que o aparelho chegasse ao seu destino, murmurando numa voz mecanizada: “Departamento de Execução das Leis da Magia”

Ajeitou os seus cabelos antes de começar a andar pelo corredor negro. Por longos minutos, o som do seu salto negro a bater na madeira era tudo o que conseguia ouvir. Passou por diversas portas e suspirou pesadamente amaldiçoando o bastardo do arquiteto que planeara o Ministério. O malvado do departamento que ela queria tinha de ser o último de todos?

Mas a verdade é que ela não podia esperar mais daquela instituição incompetente, rodeada de idiotas que demoravam quase um ano a resolver um caso tão fácil quanto aquele.

— Bom dia, em que posso ajudá-la? — A voz atrás do balcão perguntou, quando ela finalmente chegou ao seu destino, sem tirar os olhos do papel que tinha na secretária. Bellatrix revirou os olhos, cansada de tanta incompetência junta e disse, mal-humorada:

— Venho conversar com o responsável pelo meu caso. —  Afirmou, dando a sua melhor pose, digna de um Black. A mulher pareceu interessar-se na conversa e levantou os olhos do papel, arregalando-os em seguida. Bellatrix sorriu quando os seus olhos negros encontraram os verdes de Vance.

—  Black. —  Murmurou, antes de abrir a boca várias vezes, sem saber o que dizer. Afinal, não era todos os dias que tinha o desprazer de encontrar uma ex-devoradora de morte. — Como tem passado? —  Perguntou, com uma falsa amabilidade, arrancando um olhar assassino da Black à sua frente.

Como é que aquela imunda se atrevia?

— Vai ficar o dia todo a olhar para mim, querida? Ou vai chamar o responsável pelo meu caso? — Bellatrix cuspiu as palavras, batendo com os dedos no balcão de madeira. Emmeline Vance revirou também ela os olhos e pegou na enorme pilha de pergaminhos que tinha ao seu lado. Demorou alguns minutos a encontrar o nome que queria e assim que o fez não conseguiu controlar o riso.

— Segunda porta à direita. Passa o corredor e corta depois na terceira saída. É o último dos gabinetes. —  Explicou, colocando o pergaminho no lugar. —  E bata a porta antes de entrar, por favor. Vou avisar o auror responsável que está aqui.

Bellatrix segurou a vontade de mandar a loira para um sítio não muito simpático, mas conteve-se. Não precisava de mais problemas do que aqueles que já tinha e muito menos problemas que envolvessem gente do ministério.

Andou pelo enorme corredor que mais parecia um labirinto e não pode deixar de conter o sorriso quando passava por um auror no corredor. Era realmente engraçada a cara que faziam quando a viam passar ali.

Parou em frente da enorme porta de madeira e bateu duas vezes na mesma, impaciente. Esperou alguns segundos até ouvir o arrastar de uma cadeira e passos pesados na sua direção. A porta foi aberta e assim que Bellatrix encarou o auror à sua frente, não se incomodou em soltar um belo de um palavrão.

( - )

— Então, deixe-me ver se percebi. —  O homem disse, com um sorriso na cara, antes de se encostar na confortável cadeira. — Quer o acesso ao cofre de volta.

— Não é muito difícil de entender, pois não? — Retrucou, mal-humorada, antes de cruzar os braços sobre o peito. — A incompetência deste departamento já se arrasta a tempo demais, especialmente por algo tão pequeno como isto.

—  Senhora Black, — Ele começou, antes de se aproximar dela. —  como foi notificada hoje cedo, ainda não temos provas suficientes para fechar o seu caso. E até que se prove se é ou não culpada de todas as acusações que lhe são feitas, o acesso à sua conta em Gringotts continuará interdita, por ordem do ministério.  

Bellatrix suspirou pesadamente, tentando manter uma calma que não era dela. Sentiu a sua varinha formigar, presa à saia que usava e teve de contar até dez para não amaldiçoar aquele traidor.

— Mas pode sempre poupar tempo ao ministério e confessar tudo. —  Acrescentou, fazendo-a perder a paciência.

— Este caso está a dar-lhe um gostinho especial, priminho? —  Perguntou, batendo com os punhos na secretária de Sirius, fazendo-o rir. Antes que ele conseguisse responder, Bellatrix levantou o seu dedo indicador, colocando-o perto dos olhos azuis brilhantes de Sirius. — Os seus amiguinhos nunca vão conseguir provar nada, você sabe disso. O desgraçado do Malfoy já foi ilibado de todas as acusações, assim como boa parte dos restantes. Então, priminho, não se iluda. Ambos sabemos que este espetáculo não vai dar em nada.

— Estarei eu sentindo uma pinga de desespero na sua voz? — Sirius perguntou baixinho, antes de se levantar da cadeira, ficando ao nível dela. — Acho que é o que acontece quando a fonte de dinheiro seca. Os Black não são nada sem dinheiro, não é? —  Perguntou debuxado, antes de soltar um riso alto que lembrou a Bellatrix um cão a latir.

— Esquece que é um de nós? —  Respondeu, sentindo o sangue ferver. Sirius era o único que a conseguia deixar assim. — Pode negar quantas vezes quiser, mas nunca vai deixar de ser um Black, nem mesmo com esses seus amiguinhos reles.

—  São os meus amigos que são reles? —  Ele perguntou, segurando o pulso dela com força. —  Não se iluda, prima. Os seus amigos amantes do Riddle é que são reles. Aliás, porque é que não recorre a eles? Dinheiro sujo não deve faltar no clube dos desesperados sem líder. 

Bellatrix soltou-se do aperto de Sirius e suspirou pesadamente, colocando a capa aos ombros. Era inútil falar com aquele desgraçado.

Andou até à porta, abrindo-a com uma força desnecessária.

— Sugiro que arranje um emprego, priminha. O seu caso ainda pode demorar. — Foi tudo o que ela ouviu, antes de bater com a porta do gabinete do auror.

Aquele idiota ia pagar, não fosse ela uma Black.


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Notas finais do capítulo

(1*) - "no auge dos seus vinte e dois anos": nesta fanfic a Bellatrix nasce no mesmo ano do Sirius (1959), por isso no ano de 1982 teria 22 anos.

(2*) - Muggle = trouxa

(3*) - "fugir com o hipógrifo à seringa": é baseado no ditado português "fugir com o rabo à seringa" e significa evitar assumir responsabilidades que lhe competiam.

(4*) - "falar com o auror responsável pelo meu caso": estamos ainda no pós-guerra e a Bellatrix não foi presa porque não existem provas concretas. Eles ainda estão à procura de provas e quem é que as pode encontrar? Os aurores. Daí ter um auror responsável pelo "caso" dela.


***
Prometo que a fic continua em breve - até porque já a estou a terminar - e espero que gostem da reviravolta que vamos ter no próximo capítulo ahahah
Espero por vocês nos comentários, sim? Sim!
Beijoooooooooooooos