Um Amor De Natal escrita por Maremaid


Capítulo 6
Caleo - Como Leo consertou o Natal


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Tudo bem com vocês?

É com uma dorzinha no coração, e também com aquele sentimento de dever cumprido, que trago o último capítulo da fic ~todos dizem "aaaahhhh"~

Enfim, espero que gostem e boa leitura!



P.S.: Este capítulo foi o único que não deu 6K e pouco, mas ok, vou fingir que o TOC não tá batendo hauahua.



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Era véspera de Natal, final de tarde. Leo e Calipso haviam pegado a estrada naquela manhã rumo à casa da família dela, onde passariam o feriado. Mas o que era para ser uma viagem rápida, acabou se tornando um problema que Leo Valdez não podia consertar, literalmente.

— E então? — Calipso, com os braços cruzados, batia com o pé direito incessantemente no asfalto.

Eles estavam no acostamento. Leo estava com a cabeça praticamente dentro do capô do carro, que soltava fumaça.

— Hm, acho que nós estamos ferrados. — Ele deu uma risadinha nervosa.

— O quê?! — Ela alterou o tom de voz.

Leo deu um passo para trás e abaixou o capô, limpando as mãos um pouco sujas na calça jeans.

— Eu não posso fazer nada agora… — ele confessou, sua voz mal saindo, já prevendo o surto da sua namorada que viria a seguir. — Foi mal.

— Isso não é hora para brincar! É claro que você pode, você sempre conserta tudo!

— Eu não estou brincando! Eu realmente não posso consertar, pelo menos não aqui, na beira da estrada!

Calipso riu sem qualquer humor.

— Eu sei o que você está tramando. “Oh, o carro quebrou, não poderemos seguir viagem para visitar o seu pai. Que peninha!”. Corta essa, Valdez! Eu te conheço muito bem!

Era verdade que Atlas, o pai de Calipso, lhe dava um pouco de medo. Eles haviam se visto apenas algumas vezes, mas Leo tinha certeza que o sogrinho não ia muito com a cara dele. Porém, quem realmente botava medo em Leo naquela casa era Zöe, a irmã mais velha de Calipso. Ela lembrava as meninas que costumavam ignorá-lo nos tempos de escola. Mas é claro que ele nunca admitiria isso em voz alta, era meio vergonhoso, ele preferia que Calipso continuasse pensando que era por causa de Atlas.

Ele deu um suspiro longo.

— Estou falando sério!

— Não, não está! Você mesmo disse que ia fazer uma revisão no carro antes de viajarmos. Como é que ele quebrou agora? Isso é muita coincidência!

— Bem, sobre isso… — ele coçou a nuca.

— Ai, Deuses! — ela exclamou, colocando as mãos na cabeça.  

— É que eu estava um pouco ocupado com os preparativos da viagem, então pedi para o Beckendorf olhar para mim… — Leo explicou. — Acho que ele deve ter se esquecido.  

Charles Beckendorf era o irmão mais velho de Leo. Após o pai deles, Hefesto, resolver se aposentar e aproveitar a vida viajando, os dois decidiram assumir o negócio da família: a oficina Bunker 9.

Calipso esfregou as têmporas, tentando se controlar.

— É muito ruim? — ela perguntou, sua voz estava quase normal agora. Isso era bom.

— É um problema razoavelmente simples, mas agora eu nem tenho ferramentas para consertar isso.

— Você sempre leva a sua caixa de ferramentas no porta-malas.  Por que você tirou de lá justo hoje? — ela ergueu uma sobrancelha, achando isso tudo muito suspeito.

— Para dar mais espaço para as suas malas.

— Ah, então você está dizendo que a culpa de estarmos nesta situação é minha? — sua voz começou a se levar novamente. Oh, oh!

— Não, claro que não! — Ele respondeu rapidamente e colocou a mão no peito. — A culpa é toda minha!

Leo conhecia muito bem a namorada para saber que não deveria contrariá-la quando estava brava. Calipso deu um suspiro frustrado e olhou em volta. Desde o tempo em que eles estavam parados ali, não havia passado sequer um carro.

— Então o que a gente vai fazer agora?

Leo deu um sorriso enorme.

— Não se preocupe, baby. O Leozinho aqui vai resolver tudo!

Bem, agora ele só precisava descobrir como resolver isso.

***

Por sorte, a área onde eles estavam não era totalmente deserta. Após alguns minutos de caminhadas, os dois já conseguiram avistar a civilização novamente: uma pequena cidade chamada Olympus, no qual Leo nunca tinha ouvido falar, que parecia atrair muitos turistas nesta época do ano.

Eles facilmente acharam uma oficina na região. Porém, segundo o mecânico, precisaria trocar uma peça do motor e, no momento, ele não a tinha. Sem falar que ele estava muito ocupado com outros concertos para ir atrás disso agora. Típico. Provavelmente cobraria mais devido a “dificuldade para consertar”. Leo queria xingar o cara e dizer que sabia o que ele estava tramando, mas Calipso o deteve, murmurando que seria menos vergonhoso se ele não admitisse que também era mecânico e tinha saído sem suas ferramentas.

Resultado: O carro só ficaria pronto no outro dia.

Então eles foram atrás de um hotel para passarem a noite, mas parecia que todas já estavam lotados! Um senhor, vendo o desespero deles, disse que havia um hotel subindo a colina e era lá em que eles estavam agora.

— Tem certeza que é aqui? — Calipso perguntou quando eles pararam em frente a um pequeno prédio de 2 andares.

— “Hotel Três Irmãs” — Leo leu a placa desbotada na entrada. — Parece que é aqui mesmo. 

— Isso parece mais uma casa assombrada do que um hotel. Leo deu um sorriso enorme.

Leo também achava isso. Lembrava um pouco aquelas casas abandonadas de filmes de terror, já que o prédio parecia ter várias décadas. Mas, no momento, era a última opção deles. Só restava torcer para ainda ter vagas.

— Poderia ser pior… — ele lembrou.

Sério?! — Ela debochou. E então, numerando nos dedos, Calipso continuou: — O carro quebrou, nós estamos presos nesta cidadezinha no fim do mundo, eu estou cansada, meu sapato fez calo nos meus pés e eu preciso urgentemente tomar um banho. Não consigo imaginar uma situação pior do que essa.

— É só por uma noite. — Leo passou a mão no braço dela, tentando tranquilizá-la. — Amanhã o carro já ficará pronto e poderemos seguir viagem.

Só por uma noite... — Ela repetiu, dando um suspiro longo em seguida. — Tem razão, eu acho que posso sobreviver. — E então puxou sua mala de rodinhas em direção à entrada do hotel.

Leo pegou as outras malas e a seguiu.

Às vezes, Calipso era dramática demais. Não tinha nada com que eles precisavam se preocupar. Afinal, o que poderia acontecer de ruim em uma única noite, não é?

Quando eles entraram, o sino da porta bateu. A senhora, que estava no balcão da recepção, desviou os olhos do livro que estava lendo. Ela murmurou algo e o fechou, como se os dois tivessem chegado na melhor parte da história.

Ela deveria ter cerca de 50 anos, tinha cabelos quase grisalhos num coque bem ajeitado por grampos, usava óculos de armação quadrada pendendo no nariz achatado. Uma plaquinha presa no seu suéter de lã dizia que seu nome era “Sra. Dodds”. 

— Olá. Vocês ainda têm quartos disponíveis? — Calipso perguntou.

— Sim, vocês vão querer um? — A senhora deu uma olhada para Leo de cima a baixo. — Ou talvez dois...?  

O que ela quis dizer com isso? Que eles não pareciam um casal? Essa velha não estava achando que eles eram amigos, ou pior, irmãos, não é?! Leo estava pronto para falar que os dois eram namorados quando Calipso botou um sorriso no rosto e disse:

— Apenas um, por favor.

— Certo. — Sra. Dodds pegou uma folha e colocou em cima do balcão. — Preencham isso aqui.

Uau, uma folha! Qual hotel dos dias atuais não usava um computador para fazer o check in?

Leo não disse nada e deixou Calipso fazer as honras, afinal, ela tinha uma letra muito mais bonita do que a dele.

— Então...  — Leo começou, puxando papo —, por que o hotel se chama Três Irmãs? É um negócio de família?

— Sim. — A mulher se limitou a responder.

— E cadê elas? — ele olhou em volta, mas não viu mais nenhum funcionário no saguão.

— Elas estão em um lugar melhor agora. — Sra. Dodds o encarou bem nos olhos ao dizer isso, o que fez Leo sentir um frio na espinha.

Espera... as irmãs dela já haviam falecido?! Não tinha a possibilidade de elas terem morrido aqui, não é? Tipo, em uma das camas do hotel... Esperava não pegar justo este quarto.

Calipso preencheu tudo rapidamente e devolveu a folha. Então a senhora pegou algo na parte debaixo do balcão: uma lata de biscoitos! Ela a abriu e colocou a mão enrugada dentro, retirando ao invés de um gostoso biscoito amanteigado — como informava na embalagem —, uma chave que tinha o número 5 gravado. 

Leo estendeu a mão para pegar a chave, mas a Sra. Dodds pigarreou.

— Metade do pagamento adiantado, o resto quando saírem, meu bem

Ele não gostou do jeito que ela disse “meu bem”, não parecia nada sincero, pelo contrário, parecia bem irônico.  

— Ah, claro... — Ele pegou a carteira no bolso. — Hm, vocês aceitam cartão de crédito?

— E por que nós não aceitaríamos? — ela respondeu com um tom meio zombeteiro.

“Porque parece que este hotel ficou preso no século 19?”, Leo pensou. Ele resolveu guardar o comentário apenas para si e entregou o cartão para a senhora.

— O quarto de vocês é lá em cima. O banheiro fica no final do corredor. — A senhora entregou a chave para Calipso. — Se precisarem de algo é só me chamar, mas espero que não precisem.

— Obrigada — Calipso respondeu. — Tenha uma boa noite.

A senhora nem respondeu e voltou a ler o seu livro, como se eles nem estivessem mais ali. Então eles simplesmente pegaram as suas coisas e foram em direção as escadas que levaram ao segundo andar.  

— O que você achou da sra. Dodds, Cal? — Leo perguntou, enquanto eles subiam os degraus.

— Quem?! — Calipso estava subindo na frente dele e olhou por cima do ombro com o cenho franzido.  

— A senhora que nos atendeu no balcão. O nome dela era sra. Dodds, estava escrito no seu crachá. — Ele explicou. Bem, não que realmente precisasse especificar quem era, afinal, ela foi a única pessoa que eles viram desde que pisaram no hotel.   

— Ah, eu nem tinha reparado no nome dela. Só consigo pensar em tomar um banho e descansar.

— Ah, claro. Mas você não a achou um pouquinho estranha?

— Estranha? Não. Ela parecia uma senhora bem normal para mim.

Normal... claro. — Murmurou.

Definitivamente, Leo e Calipso tinham definições bem diferentes para a palavra “normal”.

***

Quando chegaram ao quarto 05 tiveram uma surpresa: em vez de uma cama de casal, haviam duas camas de solteiro!

— Eu não acredito nisso! Ela deve ter entendido errado quando eu disse um quarto! — Calipso exclamou. — Deveríamos reclamar e pedir outro quarto então?

Mas, no momento, ela estava com caras de poucos amigos. Se descesse agora, era capaz deles serem expulsos do hotel e terem que dormir no relento. E é claro que Leo não desceria e enfrentaria a sra. Dodds sozinho também, aquela mulher realmente o assustava.

— Hm talvez ela acabe cobrando mais por um quarto de casal, vamos ficar com esse mesmo. — Leo justificou. — Basta juntarmos as camas.

— Ok... — Calipso assentiu. Ela deveria estar realmente muito cansada, Leo dificilmente ganhava uma batalha assim tão fácil.

Eles empurraram as camas até elas ficarem grudadas uma na outra. Ok, até que parecia uma cama de casal agora... dava para o gasto.   

— Eu preciso tomar um banho primeiro. — Calipso pegou suas coisas na mala. — Isso vai me acalmar.

— Um bom banho sempre resolve tudo — Leo assentiu e deitou um pouco na cama, encarando a mancha de infiltração no teto.

Ele deve ter pegado no sono, pois acordou assustado com a namorada entrando furiosa no quarto.

— Você acredita que a água estava fria? — ela estava com as mãos na cintura e batia o pé direito furiosamente no chão.

— Hm, o chuveiro deve ter queimado. De qualquer forma, eu vou tomar o meu banho então.

Leo não estava muito a fim de tomar um banho gelado agora, mas achou que seria melhor deixar Calipso um pouco sozinha. Com sorte, ela já estaria dormindo quando ele voltasse devido ao cansaço.

O que não aconteceu, é claro. Quando ele voltou, sua namorada ainda estava acordada. Sentada na frente da cômoda, onde tinha um espelho, Calipso estava terminando de secar o cabelo com uma toalha.

— Se eu soubesse que isso ia acontecer, teria trazido o meu secador! Ainda estou com frio. — ela resmungou, passando a toalha de modo nada delicado em seus cabelos longos.

Leo parou atrás dela e passou os braços em volta do seu pescoço.

— Não se preocupe, baby. Eu te esquento — ele deu um beijo na bochecha dela, mas Calipso mexeu os ombros, o afastando.

— Nem pense nisso, Valdez. Eu não estou no clima.

— Eu não disse nada! — ele deu um passo para trás, levantando as mãos em sinal de rendição.

— Mas aposto que pensou.

Sim, ele tinha pensado.

— Certo... — ele mudou de assunto e foi em direção à cama. — Foi um longo dia. Vamos dormir.  

 — O que você pensa que está fazendo? — ela perguntou de braços cruzados.

— Hm, indo para a nossa cama?

— Nossa cama?! — ela deu uma gargalhada debochada e jogou um dos cobertores na direção dele, que pegou por reflexo. — Eu não quero dormir ao seu lado hoje!

Dios mío! — ele exclamou em espanhol, colocando a mão no peito — O que foi que eu fiz?
— Ah, você ainda tem coragem de perguntar? Olhe onde nós estamos! — ela abriu os braços, apontando em volta. — A culpa é toda sua!
Leo não rebateu, pois sabia que tinha uma parcela de culpa. Se ele tivesse checado o carro antes de saírem, eles já poderiam estar na casa da família dela numa hora dessas, dormindo confortavelmente — em quartos separados, claro... Ele não era nem louco de provocar o futuro sogro estando debaixo do teto dele — e Calipso não estaria irritada.

— Você tem toda razão — admitiu. — Só deixe-me separar as camas novamente, assim…
— Nada disso! — ela o cortou. — Eu vou ficar com as duas só para mim. Isso é para você aprender a checar o carro antes de viajar e nunca mais esquecer suas malditas ferramentas em casa!

— E onde eu vou dormir então? — Leo olhou em volta. Não tinha nem mesmo um sofá no quarto. 

— No chão, é claro! — ela jogou o travesseiro na direção dele agora, que bateu bem no seu rosto já que ele ainda segurava o cobertor.

— Ok... — Leo deitou-se no tapete que tinha no chão, puxando o cobertor para cobri-lo até o pescoço. — Mas acho que eu vou ficar com dor nas costas. — comentou, se remexendo na cama improvisada.

— Eu não ligo! — ela rebateu lá do alto.

— E está frio... — resmungou igual uma criança pequena fazendo birra.

— Aqui também está! Nem um aquecedor elétrico esse hotelzinho tem!

— É por isso que deveríamos nos aconchegar um no outro, sabe… Para nos aquecermos.

— Boa tentativa, Valdez. — ela murmurou e virou para o outro lado, pondo fim na conversa deles.

“Não custava nada tentar”, Leo pensou.

Ele fechou os olhos e tentou dormir. Moveu-se para um lado, para o outro, tentando achar uma posição mais confortável. Sem sucesso.  

De repente, ele ouviu um barulho. Abriu os olhos e espiou em volta. O quarto parecia normal. Fechou os olhos de novo. Menos de um minuto depois, ouviu o barulho novamente.

— Cal... — Leo a chamou. Nada. Ele se levantou e contornou a cama, se ajoelhando para ficar na altura dela, e a cutucou levemente no ombro.  — Ei, Cal. Você está acordada?

— Não, estou dormindo — ela murmurou.

— É algo sério.

Ela abriu os olhos e o encarou.

— Acho bom ser mesmo. O que foi?

— Eu ouvi um barulho lá fora. Pareciam passos no corredor.

— Deve ser apenas algum hóspede indo ao banheiro no meio da noite... — Ela tentou se virar, mas Leo a segurou. 

— Eu acho que somos os únicos aqui. Você viu algum outro hóspede quando saiu do quarto? Eu não vi. 

— Só porque não vimos não quer dizer que eles não existem.

— O mesmo vale para os fantasmas. — Leo a lembrou, mas Calipso apenas revirou os olhos em resposta. Ele não se levantou, ficou a encarando igual um cachorrinho pedindo por comida.

Calipso bufou, jogando o cobertor para o lado.

— Certo, eu vou olhar o que é. — Ela sentou-se na cama e calçou as pantufas. — Quem sabe assim eu posso tentar dormir em paz. 

— Não vá! — Leo segurou o braço dela, a impedindo. — E se for um assassino com um machado na mão?

Calipso deixou escapar uma risadinha.  

— Você vê filmes demais, Leo. — ela se soltou, pegou o celular para usar como lanterna e foi em direção à porta. 

— Espera, eu vou com você. — Leo se xingou mentalmente enquanto acelerava o passo para alcançá-la. — Não posso deixar um dama ir checar um barulho estranho, durante a noite, sozinha.

— Claro… — Ela murmurou. O olhar dela dizia “Eu sei que você está com medo de ficar sozinho no quarto”, mas Leo apreciou que ela não tenha dito isso em voz alta, por mais que fosse verdade.

Ela abriu a porta devagar. Os dois espiaram com cuidado o corredor. Uma das lâmpadas piscava, mas de resto parecia tudo silencioso. 

O assoalho rangeu. Eles olharam em direção às escadas, vendo uma mulher de roupão azul-bebê subindo os degraus.

— É apenas a Sra. Dodds. — Calipso olhou para Leo. — Será que você pode largar o meu braço agora?

Leo nem havia percebido que estava segurando o braço da namorada com tanta firmeza até ela dizer. Ele deu uma risadinha, se sentindo um pouco constrangido, e a soltou.

Calipso estava prestes a voltar para dentro do quarto quando a porta do banheiro se abriu e outra mulher de roupão azul-bebê saiu de lá.

Leo esfregou os olhos para ter certeza de que estava vendo bem, porque as duas mulheres eram iguais!

A Sra. Dodds da escada andou pelo corredor, e a Sra. Dodds do banheiro também, indo uma ao encontro da outra. Elas pararam ao chegar na frente do quarto deles que ficava praticamente no meio do corredor.

Vocês querem ficar aqui no hotel conosco — as duas Sra. Dodds perguntaram ao mesmo tempo — para sempre, sempre e sempre?!

— Fantasmas! — Leo exclamou.

— Ahh! — Calipso deu um grito estridente.

Alguns segundos depois, a porta do quarto 06, que ficava na frente do quarto deles, se abriu.

— Mas que gritaria é essa? — a mulher apareceu no campo de visão deles.

Quando Leo olhou para a mulher quase desmaiou, porque ela era igualzinha às outras duas! 

— T-três s-sra. D-dodds! — ele gaguejou, apontando para a senhora de roupão vermelho do quarto em frente.

— O quê?! — ela pareceu um pouco confusa por um segundo, até olhar para as outras 2 senhoras, então revirou os olhos e bufou. — Eu já falei para vocês pararem de assustar os hóspedes! É por isso que ninguém nunca volta aqui!

As duas mulheres caíram na gargalhada.

— Isso nunca perde a graça — disse a Sra. Dodds 1.

— Não mesmo — disse a Sra. Dodds 2, enxugando uma lágrima invisível.

— Espera... vocês são trigêmeas? — Calipso perguntou.

— Pelo Tártaro! Não! — disse a Sra. Dodds 3, a de vermelho, parecendo ofendida. — Elas são gêmeas, eu sou mais velha do que elas 1 ano.

Olhando com calma agora, Leo percebeu que as duas não eram exatamente iguais a senhora de vermelho, apenas bem parecidas. Só que eram mais feias.

— Hm, então elas não estão mortas? — Leo perguntou, apenas para ter certeza.

— De onde você tirou isso, garoto? Claro que não! — disse a Sra. Dodds 3.

— Mas a senhora disse que elas estavam em um lugar melhor agora! — ele a lembrou.

— E estavam: foram fazer compras. Muito melhor do que ficar aqui no hotel que quase não tem movimento.

Bem, isso fazia sentido. E também era melhor do que a morte de duas senhoras no hotel.

— Ah… — foi tudo que Leo conseguiu dizer.

— Bem, parece que tudo foi resolvido agora. Por que vocês dois não voltam para o quarto? — Sra. Dodds de vermelho curvou a boca para cima, em uma tentaria falha de dar um bom sorriso.

— Claro. Boa noite, senhora… quer dizer, senhoras — Calipso deu um sorriso fraco e puxou Leo para dentro do quarto, trancando a porta em seguida.

Os dois ficaram em silêncio por um instante tentando processar o que tinha acontecido. Até que Calipso começou a rir de repente. 

— Pensei que você ia mijar nas calças de tanto medo! — ela colocou a mão na barriga.

— Olha quem fala! Aquele grito que você deu não foi nada corajoso. — Leo rebateu.

— Como é que eu não ia me apavorar?! — ela questionou. — Gêmeas, vestindo roupa azul-bebê, em um corredor. Isso foi tão “O Iluminado”!

— Esse filme é assustador! — Leo concordou.

— Como você sabe? Nunca viu!

— Justamente por isso. Eu não gosto de coisas assustadoras.

— Não me diga? Oh! Eu nem tinha percebido — ela ironizou. — Enfim, vamos dormir logo.

Leo foi em direção ao seu tapete-cama. Do jeito que ele estava se sentindo esgotado, provavelmente só daria tempo de deitar e já pegaria no sono.

— Ok, suba. — Ela deu duas batidinhas de leve no lugar ao lado dela na cama.

— Você está falando sério? — ele perguntou, um pouco desconfiado. — Não está esperando eu deitar apenas para me dar um pontapé e me jogar no chão, não é?

— Hm, eu nem tinha pensando nisso... — ela sorriu, parecendo gostar da ideia —, mas não. Estou falando sério.

— Já sei: Você está com medo de dormir sozinha, não é? — ele a provocou.

— Deite-se logo antes que eu mude de ideia.

Leo abriu um sorriso enorme e pegou suas coisas no chão.

— Ok! — ele exclamou. Estava prestes a abraçá-la para eles dormirem agarradinhos, quando Calipso, de costas para ele, avisou:

Sem gracinhas.

— Mas eu não ia fazer nada! — ele se defendeu, afastando as mãos.

— Aham, sei.

— Cal, você é toda mal-humorada e mandona, sabia? Mas eu ainda gosto de você. — Ele confessou.

Ela se virou, ficando de frente para ele.

— E você é o cara mais medroso que eu já conheci na minha vida inteirinha... Mas eu ainda gosto de você também. — ela deu um sorriso fraco. — Boa noite, Leo.

— Boa noite, Cal. — Ele sorriu de volta.

***

No outro dia, Leo acordou bem cedinho, deixando Calipso dormir. Ele tomou um café rápido no hotel — e descobriu que havia mesmo outros hóspedes além deles, ainda bem — e saiu para explorar a cidade.

Havia nevado durante a madrugada e estava tudo coberto de neve. Ele resolveu ir até a fábrica de chocolates, que parecia ser o maior ponto turístico da região. Como ainda era cedo, não tinha muita fila e ele logo conseguiu entrar. Comprou vários tipos de chocolates, alguns com sabores nada comuns, mas que pareciam deliciosos.

Leo pensou que Silena, sua cunhada, iria adorar aqueles chocolates exóticos. Ela estava grávida e provavelmente já tinha comido mais doces nesses últimos 7 meses do que na vida inteira. Ele estava muito contente porque seria tio pela primeira vez. Sabia que o irmão seria um ótimo pai para essa criança, Beckendolf já estava todo bobo, contando para todos os funcionários que iam à oficina que teria um filho e, sempre que saía, voltava com algum brinquedo ou roupinha em mãos. A grande maioria das roupinhas era na cor amarela, pois eles ainda não sabiam o sexo, decidiram esperar o bebê nascer e então escolher um nome na hora. Estranhos.

Quando ele voltou para o hotel, Calipso já estava acordada. Ela ziguezagueava os canais na televisão, sem achar nada muito interessante para ver.

— Onde você foi tão cedo? — ela perguntou.

— Na fábrica de chocolates. — ele tirou o casaco e colocou no cabideiro do quarto.

— E nem me esperou?

Ops.

— Hm, eu nem sabia que tinha uma fábrica aqui, apenas passei na frente e resolvi entrar porque estava quase vazio. — Ele tirou um bombom da sacola e ofereceu para a namorada. — Quer um?

— Claro que eu quero. — Calipso pegou o bombom rapidamente, como se temesse que ele fosse mudar de ideia, dando uma mordida generosa. — Hm, bom! Você passou na oficina também?

— Sim, mas ainda estava fechada.

Calipso bufou em resposta, parecendo mais triste do que brava.

Leo sabia como animar a namorada! Ele foi até a mala e pegou um embrulho, escondendo nas costas.

— Ei, tenho algo para você.

— O que é? — ela olhou para ele, curiosa.

— Feche os olhos e erga as mãos.

— Se for mais uma das suas brincadeirinhas idiotas... Eu te mato, Valdez — ela avisou.

— Fique tranquila — ele a assegurou, colocando o presente na mão dela. — Prontinho!

— Um presente?!

— Bem, já é Natal, então achei melhor não esperar até chegarmos à casa do seu pai. Vamos, abra.

— Ok... — Ela abriu o presente com cuidado para não rasgar o papel. Leo não tinha paciência com isso, ele simplesmente rasgava tudo para saber logo o que tinha dentro. — Um carrossel?

— Sim, mas é um carrossel/caixinha de música. Eu achei em uma loja de antiguidades e reformei. Eram cavalos comuns e eu transformei em renas, coloquei o papai-noel e os duendes montados nelas para dar um ar mais natalino. — Ele explicou conforme apontava os detalhes. — Ah! Dê corda. Eu troquei a música também.

Calipso girou a chavezinha que tinha embaixo. Ela arregalou os olhos ao reconhecer a melodia.

All I Want For Christmas Is You da Mariah Carey!

— Claro, é um clássico! E sei que você gosta dela. Então, o que você achou?

— Oh, Leo! — Ela levantou e deu um beijo nele. Depois, o abraçou com força. — Muito obrigada, eu amei!  

— Que bom que você gostou — ele sorriu, mexendo no cabelo dela, ainda abraçados.

— Queria dar o seu presente agora, mas eu não sei em qual das malas botei… — ela olhou de relance para as malas no canto do quarto e soltou um suspiro. — Sinto muito

— Tudo bem, você pode dar o meu presente depois.

— Não é isso. Sinto muito por ter te tratado mal ontem, eu sei que você não quebrou o carro de propósito. Eu só fiquei chateada por não estar em casa. Passar o Natal com a minha família era uma tradição, sabe?

— Eu entendo, baby. Este também é o primeiro Natal que eu passo longe do meu irmão. Só que este também é o nosso primeiro Natal juntos. Talvez essa seja possa ser a nossa nova tradição.

Na verdade, Leo havia conhecido Calipso nesta mesma época, um ano atrás, quando foi à joalheria onde ela trabalha, ajudar Silena a comprar um relógio para o seu irmão. Ele se encantou por ela logo de cara, mas a garota não deu bola para ele tão facilmente, é claro. Só um mês e meio depois é que ela finalmente cedeu aos charmes do latino e aceitou ir a um encontro com ele. Porém, oficialmente namorados, este era o primeiro Natal deles.

— É, talvez... — ela sorriu e o abraçou novamente — Feliz Natal, Leo.

— Feliz Natal, Cal. — Ele a abraçou com força.

***

Depois do almoço, o cara da oficina ligou para Leo e avisou que o carro estava pronto. Agora, eles estavam arrumando as coisas para irem embora.

— Leo. — Calipso o chamou.

— Hm? — ele não olhou para ela, estava muito ocupado tentando fechar o zíper da sua mala que havia escolhido justo aquele momento para travar.

— É que eu fiquei pensando… — ela falou, enquanto guardava suas coisas em um bolsa pequena. — Bem, você não vai morar o resto da sua vida junto com seu irmão agora que ele tem uma família, não é?

Leo, Beckendorf e Silena moravam juntos na parte de cima da oficina. Em breve, eles seriam quatro com a chegada do bebê. No começo, era só Leo e o irmão, mas então ele se casou e eles continuaram morando ali. A casa era pequena e logo, logo começaria a ficar ainda mais apertada. Leo sabia que seria melhor se ele se mudasse e deixasse o seu quarto para o bebê, mas ainda não sabia exatamente para onde ir. Precisava ser perto por causa do trabalho na oficina e também porque ele queria acompanhar o futuro sobrinho ou sobrinha crescendo.

— Claro que não. Eu não quero ser um incômodo para eles agora que terão um bebê. — Leo respondeu, finalmente fechando a mala. Ele deu um soco no ar, em comemoração.

Leo 1 X 0 Mala.

— Então nós deveríamos morar juntos? — Calipso sugeriu.

— O-o quê?! — ele soltou a mala, a deixando cair no seu pé esquerdo. — Ay, caramba!

— Pelos Deuses! — ela parou o que estava fazendo e foi na direção dele. — Você está bem, amor?

— Sim, sim, estou. — Ele a tranquilizou, a dor era a menor das suas preocupações agora. — O que foi que você disse mesmo?

— Para morarmos juntos… — ela repetiu, mas Leo não disse nada, apenas ficou olhando para ela como se estivesse em transe. — Oh, eu estou sendo muito precipitada?

— Sim! — ele exclamou. Então percebeu o erro e se corrigiu: — Quer dizer, não, não está! Eu quero! Mas precisamos juntar dinheiro primeiro, então talvez daqui há uns 6 meses?! — chutou.

— Na verdade, minha colega de quarto disse que vai se mudar, então eu pensei em ficarmos no meu apartamento, apenas por enquanto. É um bairro seguro e também não fica muito longe da oficina. O que você acha?

— Eu adorei!

— É sério? — ela perguntou com os olhos brilhando. Leo assentiu. — Ótimo!

Os dois se abraçaram por um tempo. Mas, de repente, Leo lembrou-se de algo e se afastou um pouco dela, o suficiente para ver o seu rosto.

— Espera, você vai contar isso para a sua família que horas? Porque, sabe, eu gostaria de conseguir comer a sobremesa.

— Engraçadinho. — Calipo riu e deu um soquinho de leve no ombro dele. — Talvez seja um pouco cedo ainda, vamos resolver tudo primeiro e depois a gente conta para eles.

— Excelente ideia. Assim eu vivo por mais um tempinho.

— Não seja exagerado, meu pai não vai te matar quando descobrir! — ela riu.

“Não, mas Zöe talvez me mate”, Leo pensou, mas preferiu não dizer isso em voz alta.

— Claro — ele assentiu. — Ok, vamos pagar o resto da diária e botar o pé na estrada!

— Vamos! — ela concordou, animada.

Eles pegaram as malas e saíram do quarto.

Este Natal acabou sendo totalmente diferente do qual Leo havia previsto, mas tudo bem porque acabou se tornando muito melhor, no fim das contas!   

E se acontecesse mais algum problema… Bem, Leo Valdez sempre poderia tentar consertar. 


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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

* Olympus é uma cidade fictícia. Eu a inventei.

E aí, o acharam? Curtiram?

Então... Chegamos ao final da fic! Espero que tenha gostado de lê-la, assim como eu gostei de escrevê-la. Muito obrigada a todos que leram (e ainda vão ler), aos leitores que deixaram comentários e também aos fantasminhas (a propósito, ainda dá tempo de vocês se manifestarem, hein rs).

Ok, acho que era isso... Tchau e (talvez para alguns) até breve em novos projetos.

Xoxo,
Mari.