Um Amor De Natal escrita por Maremaid


Capítulo 1
Tratie - Como Travis roubou o Natal


Notas iniciais do capítulo

Olá! Tudo bem com vocês? Que saudades que eu estava de postar algo aqui no Nyah!
Então, esta é a primeira fic do universo PJO/HDO que eu estou escrevendo e estou bem animada com isso. Eu comecei a planejá-la um tempão atrás e, originalmente, seria um especial de Dia dos Namorados, mas como eu não consegui concluir até junho, resolvi mudar para Natal e acho que ficou muito mais legal assim. Espero que vocês concordem também!

Boa leitura e nos vemos nas notas finais!



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Travis Stoll estava cuidando da loja, sozinho, naquele momento. Por sorte, ainda era cedo, então o movimento estava fraco. Seu irmão mais novo, Connor, havia saído para fazer uma entrega e ainda não havia voltado. Hermes, o pai deles e também o dono, havia viajado no meio da semana para encomendar produtos e deixou a loja sob a responsabilidade deles. A loja da família era especializada em artigos para festas, desde aniversários, fantasias para Halloween, decorações de Natal, entre outras festividades.

Como era dezembro, Hermes costumava colocar um trenó com renas em tamanho real do lado de fora da loja. Já no Halloween, ele botava túmulos, esqueletos e um caldeirão enorme. Não importava a ocasião, sempre tinha algo do lado de fora que fazia as pessoas da região de Nova York, ou até mesmo turistas, passarem por ali para baterem fotos.

Uma garota colocou três rolos de pisca-piscas no balcão do caixa e Travis olhou de relance para ela. Cabelo castanho liso, olhos verde-folha, usava um colete térmico floral por cima do suéter e coturno com pelo nos pés. Katie Gardner. Ela morava naquela casa bonita do bairro, conhecida pelo jardim cheio de flores e árvores frutíferas. Deveria ter 20 anos — assim como o Connor, pois eles estudavam juntos na época da escola —, mas Travis não tinha muita amizade com ela.

— Mais alguma coisa? — Travis perguntou ao passar o último item.

— Não, só isso. — Ela deu o dinheiro para ele. — Ah! Está faltando uma rena lá fora.

Todo mundo perguntava sobre a 9ª rena. Em algumas histórias, o Papai Noel só tinha 8 renas; em outras, eram  9, incluindo Rudolph, a famosa rena do nariz vermelho.

— São apenas 8 renas mesmo. Nós desistimos do Rudolph porque a luz do nariz dele sempre quebrava.

— Não, não é isso. Só tem 7 lá fora.

— Ah, claro. Boa tentativa, mas eu não vou cair nessa — ele riu.

Claro, como se um rena de mentira pudesse ter saído para dar uma voltinha!

— Você está me chamando de mentirosa? — A garota se curvou no caixa e semicerrou os olhos para ele. — Ok, se você não está acreditando em mim, vá lá fora e veja com os seus próprios olhos.

Travis ficou encarando Katie como se quisesse dizer “confesse logo que é uma pegadinha”. Só que a garota parecia tão séria que ele sentiu um gelo na espinha. E se ela estivesse mesmo falando a verdade?

Então ele saiu correndo de trás do balcão, o sino da porta fazendo “plim!” quando passou.  Parou em frente ao trenó com as renas.

— Um, dois, três… — ele apontou para cada uma enquanto contava. — Sete!

— Viu? Eu te disse. — Katie estava ao seu lado com os braços cruzados, parecendo muito satisfeita já que estava certa. 

Travis olhou com atenção para as renas para ver qual delas estava faltando.

— Blitzen! — Ele colocou a mão na cabeça, sentindo-se desesperado.

Travis havia pedido tanto para que o pai deixasse ele e Connor cuidarem da loja e, quando ele finalmente confiou nos filhos a ponto de viajar no meio da semana sem fechar a loja, aconteceu isso! Droga!

— Ei, por que você está aqui fora? — Connor perguntou enquanto estacionava a moto. Travis estava tão concentrado surtando mentalmente que nem viu o irmão chegando.

— Connor! — Travis correu até ele. — Papai vai nos matar!

— Hã?!  Por quê? O que aconteceu? — ele tirou o capacete da cabeça, confuso.

— Roubaram uma rena!

Connor olhou para o irmão por alguns segundos, mas nem a expressão desesperada de Travis o fez acreditar.

— Você acha que pode me enganar? Fala sério, Travis. — Connor riu e ignorou o irmão, indo em direção à entrada da loja. 

— Eu estou falando sério! — Travis argumentou, segurando o braço do irmão. — Ela é testemunha!

Connor parou e olhou para a garota encostada na vitrine da loja, percebendo a presença dela ali só agora.

— E aí, Katie? Então quer dizer que você virou testemunha da cena de um crime, hein? — ele debochou.

— É verdade, Connor — ela revirou os olhos.

Connor ainda não parecia acreditar, então chegou perto das renas e as contou para ter certeza. Ele soltou um palavrão ao terminar.

— Eu te falei! — Travis bateu na cabeça do irmão. — Você tem que acreditar em mim quando eu falo!

— Papai vai nos matar… — Connor nem reclamou do tapa que levou, pois estava ocupado demais se desesperando. — E depois vai nos empalhar e colocar de enfeite na loja!

— Queria entender como vocês não perceberam que estava faltando uma. — Katie riu, se divertindo com o desespero dos irmãos Stoll.

— Ninguém nunca mexeu nisso! — Connor falou, indignado. — É pesado!

— Sim! E não é como se nós cumprimentássemos todas elas ao chegar à loja para reparar que estava faltando uma! — Travis exclamou.

— Falou o cara que sabe exatamente qual rena sumiu… sendo que elas são todas iguais — ela debochou.

— Elas não são iguais! Veja, a pelagem é diferente entre si e... — Connor tentou argumentar.

— Claro, claro... — Katie o interrompeu com um dar de ombros, como se quisesse dizer que não estava nem aí.

Algumas pessoas que passavam em frente à loja olhavam com curiosidade para aqueles três jovens que pareciam estar brigando. Então a garota entrou novamente na loja, sendo seguida pelos Stolls, e colocou as suas coisas dentro de uma sacola. Travis nem teve tempo de fazer isso antes, pois ele havia saído desesperado apenas alguns minutos antes.

Ela tentou passar por eles.

— Ei, onde você está indo? — Travis parou bem em frente a ela, bloqueando o seu caminho.

— Hm... Embora?! — ela sugeriu como se aquilo fosse óbvio e tentou passar pelo outro lado.

— Você não pode ir! — Connor parou ao lado do irmão, impedindo a passagem dela de novo.

— E por que não? — ela cruzou os braços, ficando visivelmente sem paciência.  

— Você é a nossa testemunha, ué! — Travis disse como se fosse óbvio.

— Testemunha? — ela riu. — Não é como se eu tivesse visto a rena sendo roubada, eu só avisei que estava faltando uma. Qualquer pessoa poderia ter feito isso!

— Poderia, mas foi você. E isso te torna a nossa testemunha, Katie! — Connor explicou.

Ela revirou os olhos.

— Sabe quem seria uma testemunha melhor? Uma câmera de segurança. Eu vi que tem uma lá fora.

A câmera! — Os Stolls falaram em uníssono do mesmo jeito que gêmeos faziam. Bem, com a exceção de que eles não eram gêmeos, Travis era um ano mais velho do que o irmão.

Eles saíram correndo para trás do balcão, se estapeando para ver quem ia mexer no computador, e conferiram as imagens.

— Será que eu posso ir agora? — Katie perguntou.

Não! — eles falaram sem nem olhar para ela.

— Por que eu fui inventar de comprar mais pisca-piscas mesmo? — ela murmurou para si mesma. — Ah, claro… porque eu queria um jardim ainda mais enfeitado!

Como Katie sabia que não conseguiria ir embora, se debruçou no caixa e tentou ver as imagens junto com os garotos.

— Não faço a mínima ideia em que hora a rena foi roubada. Isso pode levar muito tempo! — Connor choramingou.

— Bem, se ninguém deu por falta dela ontem, então o roubo deve ter acontecido depois da loja fechar — ela supôs.

Os irmãos assentiram, pulando para as imagens depois das 10 da noite. Mesmo assistindo o vídeo de forma acelerada, eles estavam demorando um bom tempo para achar algo.

— Ali! — Travis apontou quando algo na tela. — Só pode ser o nosso ladrão! — ele tirou o mouse da mão do irmão e colocou o vídeo em velocidade normal novamente para eles visualizarem melhor.

Segundo o vídeo, eram 3:26 da madrugada. Estava escuro, a única luz vinha do letreiro da loja. A tal figura parecia um homem não muito alto — pois as renas eram maiores do que ele — e meio gordinho. Usava uma boina na cabeça que dificultava ver o seu rosto. O homem chegou perto de uma das renas e acariciou a sua cabeça, parecia estar tendo uma conversa agradável com ela.

 — Esse cara está bêbado ou é louco — Connor riu. — Quem fala com renas? 

— Hm... vocês falam? — Katie lembrou.  

— Não, nós só sabemos qual é qual. É bem diferente. — Travis se defendeu.

Katie revirou os olhos.

— Alguma ideia de quem seja o ladrão?

— A boina na cabeça está dificultando… — Connor coçou o queixo. — Mas ele não parece um pouco familiar?  

O homem do vídeo olhou para os lados, como se alguém fosse aparecer naquele momento e flagrá-lo, pediu silêncio para uma rena e tentou puxar Blitzen que estava na 3ª fileira.

— Espera! — Katie exclamou. — A camiseta que ele está usando por baixo da jaqueta não parece ser de estampa de tigre?

— Hm... — Travis aproximou um pouco a imagem. — Parece mesmo!

— Ok, eu posso estar julgando mal, mas quem mais aqui no nosso bairro adora usar camiseta com estampa de animais e está sempre bebendo? — ela questionou.

Sr. D! — os três falaram ao mesmo tempo.

— Eu não acredito que aquele velhote ranzinza roubou a nossa rena! — Travis bateu com o punho fechado no balcão.

— Hm, pois é...  Será que eu posso ir embora? — Katie perguntou esperançosa.

Não! — Os Stolls exclamaram.

— O que vocês ainda querem de mim? — ele passou a mão pelos cabelos, se sentindo frustrada.

— Nós precisamos da sua ajuda para trazer a rena de volta! Afinal, se não fosse por você, nem teríamos achado o ladrão. — Travis estava muito grato pela ajuda dela. 

— E o que eu ganho com isso?

— O prazer de ajudar dois pobres garotos? — Connor forçou um sorriso enorme e fez cara de inocente.

— Que tal um vale compras da loja? — Travis ofereceu num ato de desespero. — 20 dólares!

Ele só podia estar ficando louco, esse dinheiro acabaria saindo do seu próprio bolso! Bem, ele preferia perder 20 dólares a levar uma bronca do pai.

— Hm, deixe-me ver... — Ela colocou a mão no queixo, fazendo cara de pensativa só para deixar os irmãos ansiosos por sua resposta. — Ok, fechado.

— Viva! — os Stolls comemoraram com um high five.

— Ok, agora nós temos que decidir quem fica na loja e quem vai ao resgate junto com a Katie. — Connor disse.

— Sim! — Travis assentiu. — Isso é um caso de vida ou morte. Nós precisamos resolver isso da maneira mais justa e digna possível.

Eles se encararam como se estivessem tendo uma conversa mentalmente e gritaram ao mesmo tempo:

— Pedra, papel, tesoura!

Katie bateu com a mão na própria testa. Tão adultos.

Connor lançou uma tesoura.

— Droga! — reclamou Travis que havia colocado papel. — Melhor de três!

— Nada disso! — Katie exclamou. — Você já perdeu, vamos logo!

— Eu odeio esse jogo. — Travis bufou.

— Eu amo esse jogo. — Connor sorriu e empurrou o irmão em direção à saída da loja. — Me mantenham informados sobre a situação.  Tchauzinho e divirtam-se!

Quando eles saíram, Katie começou a andar para o lado esquerdo.

— Ei, aonde você vai? — Travis perguntou. — É para a direita.

— Preciso deixar isso em casa primeiro — ela apontou para a sacola. — Miranda deve estar me esperando para terminar de arrumar as coisas.

Travis não conhecia nenhuma Miranda na região, mas supôs que deveria ser irmã de Katie, já que ele sabia que o nome da Sra. Gardner era Deméter.

— Mas você mora muito longe!

— Eu corto caminho, não vou demorar.

— Nem pensar! Vamos de moto que é mais rápido então!

— O quê? Eu não vou subir nesse treco com você! — ela olhou para a moto com certa repulsa, como se ele estivesse acabando de convidá-la para pular de um avião sem usar paraquedas. 

— Para a sua informação, eu sou um ótimo motorista — ele a assegurou, colocando um dos capacetes na cabeça e oferecendo o outro a ela.

Katie bufou, provavelmente arrependida de ter dito que ajudaria, mas pegou o capacete e deu suas compras para Travis, que guardou no baú. Ela sentou-se na moto, deixando uma boa distância entre eles.

— Você está com medo de mim? — ele riu. — Eu prometo que não mordo.

— É claro que não! — ela falou com a voz abafada por causa da viseira do capacete abaixada. Então se aproximou apenas mais um pouco dele e agarrou o seu casaco. — Vamos logo!

Travis deu partida na moto. Em questão de poucos minutos, eles já estavam em frente à bela casa da família Gardner.

— Não demore! — ele avisou.

Katie não respondeu, apenas tirou o capacete e saiu correndo em direção à sua casa com a sacola. Ela voltou algum tempo depois junto com outra garota bem parecida com ela — mas aparentava ser um pouco mais nova e seus cabelos eram loiros — que Travis imaginou ser a tal da Miranda. Elas trocaram algumas palavras na frente da porta e Katie acenou, correndo em direção a moto.

— Sua irmã? — Travis perguntou, ligando a moto. Katie apenas assentiu enquanto colocava o capacete de novo. — Você contou a ela o que nós vamos fazer?

— Óbvio que não! Quanto menos gente souber, melhor. Certo? — ela perguntou.

— Certo. — Travis gostava do jeito que ela pensava. — Vamos então.

E então eles saíram pela rua afora em busca da rena roubada. 

***

— Ok, qual é o plano? — Katie perguntou.

Eles estavam parados em frente à casa do Sr. D.

— Chamá-lo e pedir gentilmente que devolva a rena para nós? — Travis sugeriu com um sorrisinho forçado no rosto.

— Isso não vai funcionar — ela respondeu séria.  

— É... eu sei — ele suspirou.

— O Sr. D não tem um filho? Nós podíamos falar com ele primeiro.

— Tem, mas Dakota está morando na Califórnia por causa da faculdade e deve vir para cá só na véspera de Natal. Eu não posso esperar tanto tempo para resgatar a rena, meu pai volta amanhã de viagem.

— Que droga — ela bufou. — Bem, acho que o jeito é enfrentar a fera mesmo.

Ela caminhou em direção à porta e a única coisa que Travis conseguiu fazer foi segui-la. Katie tocou a campainha. Nada. Ela tocou de novo.

Quando ela ia tocar pela terceira vez, a porta foi aberta num solavanco, assustando os dois.

— O que foi?! — Sr. D resmungou. Ele estava usando um roupão felpudo vermelho aberto, revelando o peito cabeludo desnudo, a barriga avantajada e uma cueca samba-canção de oncinha. Estava descalço e os cabelos encaracolados pareciam um ninho de passarinho de tão embolados. Haviam olheiras bem escuras, como se ele não tivesse dormido nada durante a noite. 

— Hm... olá, Sr. D! — Travis deu o melhor sorriso que pôde. — Como vai o senhor?

— Eu pareço bem para você, moleque? — ele perguntou, mas nem deixou Travis responder e prosseguiu: — Claro que não estou! Minha cabeça está me matando e vocês dois ainda tiveram a audácia de vir me atormentar tão cedo em um fim de semana!

É claro que a cabeça dele está o matando: ressaca. Devia ter bebido todas na noite passada.

— Senhor, são 3 da tarde. E hoje é terça-feira. — Katie o corrigiu gentilmente.

— Tanto faz! — ele resmungou. — O que vocês querem?

— Hm, é que… — Travis tentou achar as palavras certas, mas era difícil se concentrar quando o Sr. D usava aquele roupão aberto. Eca!

— Na noite passada, houve um pequeno furto na frente da M&G Store. O senhor não sabe de nada sobre isso? — Katie perguntou de maneira inocente.

Por um momento, a expressão do Sr. D mudou para surpresa, mas logo ele voltou a sua cara normal de tédio.

— E por que eu saberia algo sobre isso? Agora me deixem dormir! — Ele tentou fechar a porta, mas Katie foi mais rápida e colocou o pé. 

— Nossa! O senhor realmente não poderia colaborar? — ela continuou com o tom de voz calmo, como se a conversa fosse sobre o clima e não sobre um roubo. — Só queríamos que as coisas fossem resolvidas civilizadamente, sabe?

Sr. D não respondeu, então Katie continuou:

— Mas se as coisas piorarem, nós vamos ser obrigados a chamar a polícia. Que pena... 

Travis puxou a manga do suéter de Katie, chamando a sua atenção e tentou mandar uma mensagem em pensamento para ela. “Nada de polícia!”

Ela revirou os olhos. “Não estrague o plano, seu idiota... Eu sei o que estou fazendo!” Pelo menos foi o que Travis pensou ter entendido.

— Polícia? — Sr. D riu e segurou a barriga do mesmo jeito que Papai Noel fazia quando dizia “hohoho”. Bem, isso se o bom velhinho fosse um coroa mal-humorado e com ressaca. — Vocês acham mesmo que eles vão acreditar na palavra de dois pirralhos que acabaram de sair das fraldas? Vocês não têm provas que eu roubei aquela rena!

— Eu nunca disse que o objeto roubado era uma rena… — Katie sorriu docilmente.

— Ah...! — Sr. D ficou sem palavras. Parecia que a ressaca havia deixado o raciocínio dele mais lento a ponto de se entregar assim facilmente.

Mas Katie também merecia os créditos. Ela foi genial! Travis já era fã dessa garota.

— Será que o senhor pode devolver a rena agora, senhor? — Travis finalmente teve coragem de falar alguma coisa. 

— Eu não sei do que vocês estão falando! Eu não tenho rena alguma! — ele argumentou em vão. 

— Nós vimos nas imagens da câmera de segurança o senhor a roubando! Devolva logo a porcaria dessa rena!  — Katie perdeu a paciência.

— Ei! — Travis reclamou. — O nome dela é Blitzen!

— Cala a boca, Stoll! Isso não é importante agora! — ela lançou um olhar mortal para ele que fez o garoto ficar mudo novamente. E então se voltou novamente para o velho. — Devolva a rena e não vamos envolver a polícia nisso, senhor. 

O Sr. D olhou para Katie, depois para Travis, e olhou novamente para Katie. Então ele fez a coisa que qualquer pessoa faria no seu lugar: fechou a porta na cara deles.

— Ei! Ei! — Katie apertou a campainha descontroladamente.

— Vão embora! — o velho resmungou lá de dentro.

— Devolva a rena! — Katie berrou.

Ele não respondeu. Katie continuou tocando a campainha, mas Travis teve que tirá-la de lá antes que ela quebrasse aquilo e eles ainda tivessem que pagar.

Eles atravessaram a rua e foram até onde a moto estava estacionada.

— Por que você foi mencionar as câmeras? — Travis perguntou. — Não podemos usá-la como prova, mal dá para ver que era ele!

— Eu sei, eu só queria que ele ficasse com medo e a devolvesse, mas não funcionou… — Katie cruzou os braços e olhou para ele. — E agora?

— Bem, acho que só nos resta uma alternativa.

— Voltar para casa e esquecer essa história? — ela perguntou esperançosa.

— Pelo contrário! — ele tinha um ar determinado no rosto.

— O que você quer dizer com isso? Pular o portão dos fundos e procurar? — Katie riu, mas ao ver a expressão de Travis, seu sorriso murchou. — Ah, não... Você não pode estar falando sério!

— Minha querida Katie, eu nunca falei tão sério na minha vida! Vamos lá.

***

— Ok, o que você está vendo?

— Como eu vou conseguir ver algo se você fica me balançando desse jeito? — Katie estava tentando espiar o quintal dos fundos da casa do Sr. D pela cerca branca. Travis estava fazendo pézinho para ela, mas o problema era que a cerca era muito alta.

— Você é pesada! — Travis reclamou.

— Você que é um molenga. — Ela rebateu.

— Ei, eu não tive tempo para malhar ultimamente — ele se defendeu.

— Com “ultimamente” você quer dizer nos últimos 20 anos? — Katie debochou.

— Há-há. Engraçadinha. — Travis riu sem humor, se controlando para não soltá-la no chão de propósito.

— Me levante mais alto! — Katie pediu. Não, pelo tom de sua voz ficava claro que isso era uma ordem. — Eu não consigo enxergar nada!

Ele a levantou mais um pouco.

— Assim, Srta. Mandona?

— Perfeito! Não se mexa.

— Ok... — Travis bufou. Ele cometeu o erro de olhar só um pouquinho para cima, e a bunda de Katie estava exatamente acima da sua cabeça.

Uau! De repente, não parecia mais tão ruim estar segurando ela. Ele estava tão distraído apreciando a vista que quase deixou Katie cair, o que fez a garota soltar um palavrão nada bonito.     

— Eu disse para você não se mexer, idiota!

— Foi mal! — Ele desviou o olhar rapidamente e fechou os olhos.

Não fique pensando nisso agora! Seu cérebro ralhou com ele. Pense em coisas ruins. O chulé do Connor, o Sr. D de roupão!

— Há um rastro no chão como se algo tivesse sido arrastado, só pode ser a rena... — Katie disse lá do alto.  

— Ótimo. Pule logo então! — respondeu aliviado, pois só queria acabar logo com esse sofrimento. 

— Então me dê um impulso para isso!

Ela colocou as mãos na cerca e Travis a impulsionou para cima. Ele ouviu o som dela aterrissando do outro lado e só então abriu os olhos novamente.

O portão foi aberto logo em seguida e uma Katie com um sorriso enorme no rosto apareceu no seu campo de visão. 

— Vamos! — ela fez sinal para que ele entrasse.

Travis sentiu o seu coração batendo mais rápido do que o normal. Mas isso era por causa do esforço físico, não é? Não podia ter outra razão. Não, claro que não... Ele estava só cansado!  

Eles entraram no quintal. Katie tinha razão, o rastro na neve parecia mesmo com o de uma rena. Eles seguiram o rastro que terminava bem onde tinha a porta para o porão. Por sorte, não estava trancada. Eles abriram e entraram, usando os celulares como lanterna. Estava cheio de tralha e poeira. Katie espirrou e Travis coçou o nariz.

Não foi difícil achar a rena, afinal, ela estava em um lugar bem visível bem no meio do porão. Sr. D nem deve ter tido tempo de guardá-la direito devido a bebedeira.

— Blitzen! Você está bem? — analisou os chifres dela. — Aquele velho malvado te machucou?

Katie não debochou dele dessa vez, ela apenas sorriu. Parecia feliz em finalmente ver a famosa rena perdida com o seu dono.

— Ela está inteira?

— Apenas alguns arranhões, mas nada que um pouco de tinta não resolva.

— Ainda bem. — Katie deu um tapinha de leve na cabeça da rena. — Missão cumprida então.

— Katie. — Travis a chamou, meio sem jeito. — Por hoje... Valeu mesmo.

— Imagina. Até que foi divertido.

— Sério? Que bom. — Ele passou a mão pelo cabelo, se sentindo um pouco sem graça. — Eu estava pensando...

Travis não concluiu sua frase, pois um barulho vindo lá de cima o interrompeu. Pareciam sirenes.

— Você chamou a polícia? — ele perguntou assustado. Katie negou. — Se você não chamou e eu também não chamei, então isso quer dizer que…

Eles se entreolharam, entendendo o que estava acontecendo. Tentaram subir as escadas, cada um segurando em um lado da rena, mas alguém estava bloqueando a saída deles.

Parados, vocês estão presos em flagrante por invasão de domicílio! — o policial exclamou com o seu alto-falante.

***

Ok, talvez invadir a casa de alguém para resgatar algo que lhe foi roubado não tenha sido a melhor ideia que Travis já teve na vida. Mas como ele poderia imaginar que um dos vizinhos ia chamar a polícia?

Agora, Travis Stoll e Katie Gardner estavam na delegacia. E eles haviam virados os ladrões

Claro que Travis tentou argumentar e falou que eles eram as vítimas, que foi o Sr. D quem havia roubado a rena e não queria devolvê-la. Até mesmo contou que era um dos filhos do dono da M&G Store, mas o policial nem acreditou. “Stoll é um sobrenome comum, isso não comprova nada” ele dissera. Até parece! Travis não conhecia mais ninguém com esse sobrenome, além da família dele, naquela região. 

— Cada um tem direito a uma ligação, então escolham sabiamente — o policial apontou para um telefone que ficava na parede. — Pode ir, garoto.

Travis deu uma última olhada para Katie antes de se levantar. Ela estava sentada ao seu lado, em frente à mesa do policial. Ela parecia desolada, provavelmente nunca tinha colocado o pé em uma delegacia antes.

Ele, por sua vez, não podia dizer o mesmo. Quando era criança, que fique bem claro. Ele e Connor se metiam em todos os tipos de confusão pela vizinhança. Seu pai e Luke, irmão mais velho deles, já eram até conhecidos dos policiais da época de tanto que vinham aqui para resolver as coisas e salvá-los. 

Mas essa era a primeira vez que ele vinha aqui após se tornar maior de idade. Agora sim ele poderia ser preso e arranjar uma ficha policial! E ele não queria gastar seu réu primário com “invasão de domicilio e roubo de rena de mentira”.

Ele foi até ao telefone e discou o número de Connor que, por sorte, sabia de cabeça.

Alô? — Connor atendeu no 3º toque.

— Oi, sou eu.

Cara, até que enfim consegui falar com você! Tenho novidades e… Espera, que número é esse que você está me ligando?

O celular de Travis havia sido confiscado, assim como todos os seus outros pertences.

— Hm, eu tive alguns probleminhas... — ele pigarreou, sem saber ao certo como explicar isso ao irmão.

Que seja. Você achou a rena?

— Achei.

Ótimo! Onde você está agora? Voltando para casa?

 — Não, na delegacia.

 Ah, para fazer o B.O?

Boletim de Ocorrência... Quem dera esse fosse o real motivo dele estar na delegacia naquele momento.

— Na verdade, não…

Como assim? Por qual outro motivo você estaria em uma delegacia? Não é como se... — Connor se interrompeu e bufou. — Travis, o que foi que você fez?

— Eu não fiz nada! — Travis exclamou um pouco mais alto do que deveria, chamando a atenção dos outros na sala. Ele baixou o tom de voz ao continuar: — Hm, é que nós tivemos um pequeno probleminha… Eles acham que nós somos os ladrões. Isso não é engraçado?!

Connor soltou um palavrão do outro lado da linha. 

Se eu soubesse que você se meteria em confusão, eu mesmo teria ido!

— Você vem me soltar ou não? — ele mudou de assunto.

Eu vou, é claro! Não quero ser conhecido como o irmão de um criminoso!

— Não demore!

Você não está no direito de exigir nada, mano. Até mais — ele desligou o telefone.

Travis xingou o irmão mentalmente e voltou para o seu lugar. Enquanto Katie andava em direção ao telefone, ele ficou pensando para quem ela ira ligar. Será que era para a garota loira que ele viu mais cedo naquele dia? Katie disse que não havia contado nada para ela... Connor sabia de tudo, mas como a irmã dela reagiria ao saber que ela estava presa?

— E aí? — ele sussurrou assim que Katie sentou-se novamente ao seu lado, movendo o corpo um pouco na direção dela para que eles não fossem ouvidos.

— Liguei para a Miranda, mas o celular dela só dá caixa postal. E eu não posso ligar para mais ninguém neste momento.

— Ok, fique tranquila. — ele disse com convicção. — Connor vai nos tirar dessa!

— E como ele fará isso?

— Não faço a mínima ideia... — Travis confessou, Katie deu um longo suspiro. — Mas ele vai dar um jeito!

Pelo menos era isso que Travis esperava.

— Agora, vocês vão esperar na cela até que os seus advogados, ou quem quer seja, apareçam. — O policial anunciou. — Andem logo!

Como a delegacia era pequena, havia apenas uma cela. Então os dois foram trancados lá juntos. Katie desmoronou no banco e colocou a cabeça entre as mãos. Travis sentou-se ao seu lado e ficou encarando o chão.

— Me desculpe. — Ele disse após alguns minutos de silêncio.

 Katie levantou o rosto e olhou para ele.

— Por que você está se desculpando? Por nós estarmos aqui?

— Por tudo. Eu não queria que as coisas tivessem terminado desse jeito.

— Ninguém queria, apenas aconteceu. Você não precisa se sentir culpado.

Outro silêncio.

Tudo ocorreu bem, Katie o perdoou. Foi muito mais fácil do que ele pensara. Mas por que será que isso ainda incomodava Travis?

— Por que você está agindo assim? — ele perguntou, olhando para ela agora.

— Hã?! — ela parecia confusa.

— Legal. Você está sendo legal.

— Você está querendo dizer que eu não sou legal normalmente? — Katie ergueu uma sobrancelha. 

 — Não é isso! É que… Tendo em vista tudo o que nós passamos hoje, eu realmente estava esperando que você fosse me xingar ou me bater.

— Você está decepcionado por eu não ter feito isso?

— Um pouco — ele confessou.

Ela riu.

— Uau! Travis Stoll, você é realmente um cara intrigante!

Era a primeira vez que Katie o chamava pelo nome. Isso fez com que Travis sentisse um arrepio. Seu nome sempre foi assim tão bonito? Ou era a forma como Katie o pronunciava que o deixava assim?

Ele pigarreou.

— Então você não está mesmo brava comigo? — perguntou mais uma vez, só para ter certeza.

— Não. Eu me meti nisso porque eu quis. Você não me obrigou a nada. Relaxa.  

— Hm... certo. — Travis desviou o olhar de novo.

***

Travis olhou pela pequena janela, no alto da cela, cercada por ferros. Dava para ver que já estava escurecendo lá fora. Connor estava demorando, provavelmente de propósito, aproveitando o doce gosto de estar livre.

Ao seu lado, Katie estava cochilando. Ele ficou com medo que ela caísse do banco e se machucasse — já que a sua cabeça ficava pendendo para os lados —, então se aproximou mais e ajeitou a cabeça dela em seu ombro, servindo de apoio.

Ele aproveitou o momento para observá-la com atenção. A pele bronzeada — mesmo sendo inverno —, os cílios longos, o nariz pequeno e empinado, os lábios carnudos entreabertos.

“Ela é tão linda”, Travis pensou, sem conseguir deixar escapar um sorrisinho involuntário do seu rosto.

Eles estavam tão perto um do outro que, só agora, Travis sentiu o seu perfume. Um cheiro doce que ele não conseguia saber ao certo do que era.

Ela se remexeu e abriu os olhos, piscando com força por causa da luz.

— Oi, Bela Adormecida — ele disse.

Ela tirou a cabeça do ombro dele e passou a mão nos cabelos desarrumados.

— Desculpa — Katie murmurou, constrangida. 

— Tudo bem. Você parecia cansada.

— Ah, um pouco... — confessou.  

Ela poderia ter se afastado dele, afinal, tinha lugar de sobra no banco, mas não fez isso. Os braços deles continuavam roçando um no outro. Eles ficaram alguns segundos torturantes em silêncio. 

— Morangos. — Travis disse do nada.

— O quê?! — Katie perguntou confusa.

— Você tem cheiro de morangos — ele explicou, finalmente descobrindo qual era a fragrância que havia sentido antes.

Ah. É muito enjoativo? — ela tocou em uma mecha do cabelo.

Travis balançou a cabeça.

— É um cheiro bom. Combina com você.

— Hm, bem, obrigada…

Eles ficaram se encarando por um longo tempo.

— Katie — ele começou. — Eu…

Alguém pigarreou, fazendo os dois se afastarem rapidamente como se tivessem sido pegos no flagra fazendo algo errado.

— Vocês estão liberados. — O policial disse, abrindo a porta da cela. — Peço perdão pelo mal-entendido. Mas, da próxima vez, façam um B.O se algo for roubado em vez de invadir a casa de alguém.   

Travis levantou-se eufórico e foi até a grade. 

—Viu? Eu disse que nós éramos as vítimas!

— Pode deixar, nós aprendemos a lição. Não é? — Katie apareceu ao seu lado e beliscou o braço dele sutilmente.

— Claro. — Ele se esforçou para não fazer uma careta e sorriu para o policial.

Eles pegaram as suas coisas e saíram da delegacia, encontrando Connor no lado de fora. Ele estava ao lado da rena que já tinha sido devolvida.

 — Connor, você demorou! Eu queria te bater, mas estou tão feliz em te ver de novo que vou deixar passar — Travis abraçou o irmão.

— Também estou feliz em te ver — Connor o afastou com dificuldade.

— Como você conseguiu nos soltar? — perguntou Katie.

— Eu achei novas provas, foi isso que eu queria te contar, mas você não atendia ao telefone. — ele explicou, olhando para o irmão. — Eu queria arrumar um plano B caso vocês não conseguissem pegar a rena da maneira fácil, então resolvi olhar novamente as imagens da câmera de segurança. Nós não vimos a gravação toda, paramos assim que o reconhecemos, porém tinha mais coisa. O Sr. D tirou a boina e colocou na Blitzen antes de levá-la, e também olhou na direção da câmera e acenou, provavelmente achando que estava quebrada. Nesse momento, deu para ver claramente que era ele.

— Então o Sr. D está encrencado? — Travis perguntou.

— Muito! Um dos policiais saiu de viatura em direção à casa dele. — Connor riu. Finalmente aquele velhote bêbado iria receber o castigo que merecia.

— Fico feliz que tudo tenha se resolvido — Katie sorriu para os Stolls e deu um passo para trás. — Bem, então eu estou indo…

 — Ei, espera! Travis te dá uma carona! — Connor disse. — Não é?

Espera! Será que seu irmão havia reparado em alguma coisa...?

 — Hm, mas e a Bitzen? — Travis tentou ganhar tempo. — Você veio a pé. Eu vim de moto, talvez dê para colocá-la na garupa...

— Não precisa! — Connor o interrompeu, dando lhe um olhar que claramente dizia “idiota, estou tentando te ajudar aqui! Apenas colabore!” — Leve Katie para casa em segurança, eu me viro para voltar.

— Ok, certo — ele achou melhor não insistir mais no assunto e então se virou para a garota. — Vamos?

— Sim. 

***

O caminho até a casa de Katie pareceu demorar uma eternidade, mesmo não sendo tão longe assim da delegacia. Isso porque ela havia passado o braço em volta da sua cintura dessa vez, deixando Travis um pouco desnorteado com a aproximação. Ele teve que andar mais devagar e se concentrar muito mais na estrada por causa disso.

Ele estacionou em frente à casa dos Gardners.

— Pronto, está entregue.

— Obrigada pela carona — ela devolveu o capacete para ele. — Não precisava.

— Imagina, era o mínimo que eu poderia fazer depois de toda a sua ajuda.

— Da próxima vez que algo da loja for roubado, você já sabe a quem recorrer — ela deu uma piscadinha, brincando.  

— Espero sinceramente que não tenha uma próxima vez.

— Verdade... — ela riu e acenou.  — Bem, então a gente se vê por aí. Tchau, Stoll.

— Tchau, Gardner — ele acenou de volta.

Travis a viu se afastando e sentiu um aperto no coração. Sabia que se arrependeria profundamente se deixasse essa oportunidade passar. Ele deveria ao menos tentar, certo? Afinal, o “não” ele já tinha mesmo!

— Katie! — Ele desceu da moto e correu na direção dela. — Espere! Espere!

Ela parou no meio da calçada e olhou para ele.

— Sim?

— Eu acho que fui roubado de novo — ele disse respirando com dificuldade. — Você é a ladra.

— Eu?! — ela apontou para si mesma, confusa.

— Sim. Eu acho que você roubou o meu coração.

Era algo brega de se falar para uma garota? Muito. Mas era exatamente assim que Travis se sentia naquele momento.

Ele ficou esperando Katie dar uma tapa nele, chamá-lo de idiota ou rir da sua cara, mas ela não fez nada disso. Apenas ficou o encarando com aquele grandes olhos verde-folha indecifráveis.

— Isso é algum tipo de pegadinha? — ela finalmente perguntou. Pela sua expressão, Travis não conseguia saber se ela estava feliz ou não com a "confissão".

— Não! Claro que não! — ele exclamou. — Eu não sei como explicar isso sem parecer um doido, mas eu senti um tipo de conexão entre nós hoje e...

Travis foi interrompido por Katie, que o puxou pela jaqueta e o beijou. Na boca!

E então Travis sentiu o gosto de morangos. Na verdade, tudo em Katie cheirava a morangos. Seu perfume, seus lábios e até mesmo os seus cabelos. Aquele era definitivamente a fruta favorita dele agora. Nunca mais ele conseguiria ver morangos e não pensar naquela garota.

Infelizmente, o beijo não durou tanto Travis gostaria, pois Katie se afastou logo depois.  Ela deu um pequeno sorriso e desviou o olhar. Espera, o rosto dela estava corando?! 

— Ok, eu não estava esperando por essa! — ele anunciou, ainda um pouco perplexo.

— Bem, eu tive que tomar a iniciativa já que você fala mais do que age.

— Você queria que eu te beijasse? — Travis ainda estava em choque. — Por quê?

— Bem, porque eu entrei nessa loucura por você. Eu pensei “ele é tão bonitinho e está desesperado, por que não fazer uma boa ação neste Natal e, ainda por cima, unir o útil ao agradável?” — ela deu um sorriso enigmático.

— Ei. Mas você disse que topou pelo vale compras! 

— Para ser sincera, isso foi só uma desculpa. — Katie confessou, dando de ombros. — Foi mal.

— E se o Connor tivesse ganhado? Você topou ajudar antes de saber que seria eu. — Travis lembrava muito bem disso. —

— Eu teria dado uma desculpa esfarrapada e ido embora. Por que você acha que eu não te deixei jogar “pedra, papel, tesoura” de novo? Fiquei com receio de você acabar ficando na loja.

— Uau, então você está mesmo muito a fim de mim! — ele deu um sorrisinho egocêntrico em resposta.

— Não se ache tanto, Stoll. Eu só disse que você é bonito e queria que me beijasse, não que eu te amo.

Ainda — ele lembrou.

Ela semicerrou os olhos para ele, o que Travis entendeu como um bom momento para trocar de assunto.

— Então você não vai querer mesmo o vale compras? — quis saber. O que foi? Eram 20 dólares!

— Não. Mas se você quiser me pagar de outra forma… Bem, eu não acharia ruim.

— Assim? — ele roubou um beijo dela. Em resposta, Katie deu um soco no ombro dele. — Ai! 

Caramba, como essa garota podia ser tão pequena e tão forte?

— Eu quis dizer em um encontro.  

— Ah. Bem, um encontro não parece nada mal também. — Travis respondeu, mal conseguindo conter a felicidade em sua voz. Afinal, um encontro poderia render não apenas um beijo, mas vários. — Me passe seu número para a gente marcar então.

Ele pegou o celular no bolso e deu para Katie, ela gravou o número e o devolveu. Travis deu uma olhada na direção da casa e viu um vulto loiro na janela da sala.

— Acho que nós estamos sendo espionados.

Katie olhou para trás e cerrou os dentes.

Miranda. Melhor eu entrar e enfrentar o interrogatório.

— Claro. Eu te vejo depois então.

Travis ficou sem jeito, não sabendo se a beijava, a abraçava, ou simplesmente dava tchau. Ele era bom em fazer pegadinhas, mas não no quesito amoroso.

Katie resolveu o dilema, ficando na ponta dos pés e dando um beijo no rosto dele por mais tempo do que o normal.

— Tchau — ela sussurrou.  

— Tchau. — ele respondeu com um sorriso idiota estampado no rosto.

Ela sorriu e andou na direção da casa. Ele foi em direção à moto, olhando para a tela do celular sem ainda acreditar no que havia acabado de acontecer. Isso foi mesmo real? Então ele resolveu ligar para o tal número.

Katie ia abrir a porta, mas parou e pegou o celular no bolso.

— Alô?

— Só queria ter certeza que você tinha me dado o número certo.

Ela olhou para trás, encontrando os olhos dele.

Fazer pegadinhas parece mais a sua especialidade, não a minha. — ela estava sorrindo. — Eu realmente preciso entrar agora. Tchau, Travis.

— Ok. Tchau, Katie — ele desligou.    

Ela acenou e entrou em casa.

Travis sentou-se na moto, colocou o capacete e encarou o número de Katie em seu celular. Então editou o contato e substituiu o nome dela por “Moranguinho”, salvando-o. Ele sorriu e guardou o celular no bolso, dando partida na moto.

O que começou sendo um dos piores natais da sua vida devido ao roubo de Blitzen, acabou se tornando o melhor de todos por causa de uma garota que tinha cheiro de morangos.

Travis Stoll nunca pensou que diria isso, mas: muito obrigado, Sr. D, por roubar uma rena de mentira!


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Deixem um comentário falando a opinião de vocês!
Observações:
* Este foi o primeiro título que eu pensei e eu acabei criando o plot baseado nele (Ao contrário de todos os outros capítulos que eu só decidi o título no final rs);
* Todos os capítulos vão ter o título seguindo o mesmo estilo desse. Ou seja "Como Fulano (...) o Natal"
* Como eu disse lá no disclaimer, os capítulos são interligados entre si. Então algum personagem deste capítulo pode aparecer novamente em outro... será que vocês conseguem adivinhar quem?

Ok, por enquanto é isso.
Até breve com mais um capítulo!

Xoxo,
Mari.



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