Te Pego Na Saída escrita por Vênus


Capítulo 1
— It's Friday, I'm In Love.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ♥



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Meu Deus. Meu Deus. Meu Deus.

Nunca tive ele tão próximo de mim.

Meu Deus.

A respiração dele tão próxima... Tão...

Meu Deus!

Matthew não tinha mais controle nenhum sobre seus pensamentos. Quaisquer das pessoas que estivessem ali observando a cena deveriam perceber que ele estava em prece naquele exato momento enquanto Leonard o segurava ali, pelo pescoço. Contra armários aleatórios.

— Leonard... Por favor... — murmurou, com a respiração ofegante. Leonard não chegava a apertá-lo com tanta força para que ele sufocasse, mas era extremamente desconfortável.

Principalmente por ele estar tão próximo.

O outro, por sua vez, olhava-o sem nenhuma piedade.

Leonard tinha os olhos cor de avelã, mas naquele instante estavam completamente escuros. Para Matthew era, claramente, a raiva que estava sentindo dele. Sequer imaginava quais eram os reais motivos para que os olhos estivessem escuros daquela forma; as pupilas tão dilatadas, gritantes devido à luz do corredor. O cabelo — desgrenhado, como sempre. Os fios castanhos quase encostando na testa de Matthew, tão próximo estava dele. Leonard respirou fundo, tentando controlar seus sentimentos desenfreados.

— Você conhece mais palavras além dessas, idiota? — perguntou, fazendo Matt se encolher diante dele.

— Desculpa... — ofegou novamente, sentindo-se corar diante do olhar de Leo e percebendo que mais uma vez pedira desculpas. — Eu... Eu realmente não sei o que está acontecendo, não fiz nada ‘pra te prejudicar, Leon... Leonard. — Terminou de falar com exasperação. Mal acreditara que o tinha chamado...

— Desculpa o caralho! — exclamou, ainda mais rude que antes. — Além de pegar detenção, meus pais foram chamados aqui. Tudo culpa sua.

— Não, eu juro que... — Matt começou mais uma vez, interrompendo-se agora por uma tosse.

Leonard afrouxou rapidamente o aperto do pescoço e percebeu o silêncio que estava ao redor, o quanto as pessoas controlavam até a própria respiração para escutá-los.

Sorriu maliciosamente, o que fez Matt olhar para ele com pavor.

— Jura o quê? Que é um perdedor e que acha que tudo isso que ‘tá fazendo vai fazer você me superar, de alguma forma? Ser mais popular que eu? — perguntou ironicamente, dando uma risada de deboche logo em seguida.

Matthew desviou o olhar, forçando-se a esconder dele o quando aquelas palavras tinham magoado. Precisava disso? Todo mundo ali sabia que ele não se importava com popularidade e nem com escalas idiotas do colégio. Era tudo muito efêmero, duraria pouco e não faria grande diferença quando acabasse, já que todo mundo se dispersaria. Por que Leo se importava tanto, então? Por que de repente tudo parecia tão diferente? Lembrava-se de quando as coisas não eram assim.

— Não quero ser popular se isso significa ser como você. — Matt declarou, dando ênfase ao se referir a ele.

Não precisou erguer novamente o olhar para saber que ele fora cruelmente atingido. Vira isso no rosto dos que os observavam, e que praticamente uivavam em diversão com o que estava acontecendo.

— Pode ser, Matthew, que eu não possa fazer algo com você aqui. — Leo voltou a falar num tom ameaçador, praticamente obrigando Matt a voltar os olhos para os dele, que estavam praticamente acesos de irritação e... Algo maior. — Mas você não passa por mim lá fora. Eu te pego na saída.

A última frase foi o bastante para alegrar a todos que os observavam em silêncio, fazendo que murmurassem e que aquilo voltasse a ser uma baderna. Enquanto isso os dois continuavam a se olhar fixamente — Matt e Leo praticamente tinham a mesma altura. Portanto, tudo ali estava alinhando. Os olhos, o nariz, a boca. E foi para essa última que Leo olhou de tal forma que fez um gelo se formar na boca do estômago de Matthew, que tentava manter-se em pé diante do olhar do... Inimigo, talvez? Seu inimigo, pelo menos a partir daquele momento.

Manteve-se ali mesmo após Leo dar as costas para ele e sair com os amigos que davam tapinhas nas costas dele, como se tivessem o parabenizando... Ridículo. Matt desviou o olhar, enojado. Acabara de ser ameaçado e todos agiram como se aquele fosse o maior evento anual. As pessoas estavam cada vez mais insensíveis...

— Matt, que porra foi aquela? — Alex, seu melhor amigo, apressou-se até ele, vindo acompanhado de Beatrice.

Suspirou, abaixando os ombros num gesto derrotado.

— Eu não sei, eu não sei... Ele basicamente veio até aqui, me ameaçou. Disse algo sobre eu ter fofocado algo para o professor de química e sobre ele ter se ferrado porque os pais vieram para cá e porque teria que frequentar a detenção, mas isso não faz o mínimo sentido...

— Respira! Matthew, respira. — Bia pediu, num tom alarmado. — Tenta se acalmar...

— Como? Ele fez minha caveira na frente do colégio dizendo que vai me pegar na saída... — Parou no meio da frase, franzindo o cenho para Bia e Alex que trocaram um olhar divertido. — O que foi?

Alex balançou a cabeça, esforçando-se para não sorrir.

— Nada, é que... Bem... Isso pode ter outra conotação, não acha?

Matt desviou o olhar e começou a andar pelo corredor, evitando retribuir o olhar das pessoas que fitavam-no com pena, com diversão.

— Não sei do que está falando, Alex. — murmurou, sentindo-se ruborizar.

Eles o alcançaram rapidamente.

— Sabe muito bem, Matt. Aliás, se bem me lembro... — Bia começou, num tom malicioso.

— Não. — Matt revidou, olhando para os amigos com certa raiva. — Não.

— Mas você vê a maneira que ele costuma te olhar e estar sempre por perto... — interveio Alex, com certa incerteza na voz.

— Perseguição, você quer dizer. E tudo por causa de bullying, isso quando não é para pedir cola ‘pra mim.

— Mas você deu cola ‘pra ele...

— E a liberação de armas só gera mais mortes. Já podemos parar de falar coisas sobre as quais já temos conhecimento? — resmungou, ficando vermelho não mais de vergonha, mas de irritação.

Bia foi a primeira a fazer gozação com ele...

— Matt, você às vezes consegue ser tão instável quanto eu na minha TPM.

— Muito obrigado, Beatrice. — respondeu, seco.

Tudo o que Matthew imaginava que aconteceria naquele dia, no colégio...

Tudo aconteceu ao contrário. E confundiu ainda mais a cabeça dele.

A primeira coisa estranha foi o post it em sua carteira, claramente com um recadinho numa letra linda. Numa letra até... Familiar. Ele ignorou para onde seus pensamentos o levavam e se concentrou em ler o bilhete, algo que o levou para mais perto da eterna confusão.

“Thursday I don’t care about u

It’s Friday, I’m in love.”

— Que diabos...? — sussurrou em silêncio para si mesmo, olhando atônito para aquilo.

Conhecia muito bem aquele trecho. Era uma música de uma banda chamada The Cure. Curiosamente aquele dia era uma sexta-feira, por isso era tão estranho que o recado estivesse lá. Para ele. Na carteira dele. Pelo menos para ele era estranho, visto que não se achava tão grande coisa assim! Olhou ao redor ainda atordoado, até que sentiu o sangue fugir do rosto quando percebeu Leo encarando-o. Olhava para ele de uma maneira inicialmente indecifrável, no entanto... O olhar foi mudando. A expressão. Até que as sobrancelhas estivessem arqueadas em desafio e um sorriso travesso esboçasse em seus lábios.

Desviou o olhar e sentou-se rapidamente em sua carteira, sentindo-se tão constrangido que passou a aula inteira apenas olhando para frente, uma tarefa muito difícil de ser concretizada cada vez que sentia o olhar do garoto pesar em suas costas.

Aquilo, felizmente, passou. Pelo menos por enquanto. Quando o sinal tocou, saiu da sala como se fosse o diabo fugindo da cruz e se viu mais calmo quando estava em companhia de seus amigos, o que era irônico, já que eles o enlouqueciam. Os dois ­— Alex e Bia — ficaram igualmente agraciados ao perceberem que o amigo tinha mudado o humor, embora estivesse com uma cara que denotasse dor de barriga. Não que tivessem falado isso para ele, já que corriam o risco de receber novamente aquela irritação momentânea e exagerada. Era raro Matt ficar daquela forma. Algo muito ruim tinha que acontecer para que ele chegasse a esse ponto, e geralmente tudo que o deixava assim vinha de Leo.

Não demorou para que o sinal para a próxima aula tocasse, algo que fez Matt relaxar os ombros. Não precisava se preocupar muito naquele momento, visto que não faria aquela aula com Leo. Pelo menos aquela!

Todavia... Algo muito, muito, muito estranho aconteceu.

No quadro negro da sala de geografia, lá estava.

“It’s Friday, I’m in love.”

Que diabos... Matt pensou, inconformado enquanto olhava aquilo. Infelizmente não passou despercebido.

— Alguém deve estar muito motivado para encontrar o amor na aula de geografia. — A professora disse, claramente bem humorada. Matt balançou a cabeça descrente enquanto sentava-se na primeira carteira, mais uma vez recusando-se a olhar para os colegas de classe. — Mas como vocês conseguirão encontrar o amor se não sabem nem se localizar no mapa do próprio país?

Francamente.

Passou a aula inquieto, sem conseguir prestar atenção. Felizmente a frase tinha sido apagada do quadro e agora ele podia ficar em agonia com outra coisa como, por exemplo...

“Te pego na saída.”

Leo estava tão perto. Tão, tão perto... Tão perto que chegava a doer. Não era uma dor física, mas quase se transformava em uma. Por enquanto ocupava só seu interior, se é que podia inferiorizar seu interior para um “só”. Mas se sentia todo inferiorizado. Tinha sido chamado de perdedor e ainda assim... Ainda assim permitia que o cheiro do perfume daquele ser o inebriasse, tocasse o fundo da sua garganta. Acendesse em si uma chama inapagável, quase eterna. E só o fato de sentir todas essas coisas fazia com que se sentisse ainda mais inferior. Como podia se sentir dessa forma diante de alguém que o desprezava?

O sinal tocou. Mais uma aula que não tinha prestado atenção. Mais o tempo se passava, aproximando-se do momento mais temível do dia de Matthew.

Decidiu não encontrar os amigos, pelo menos dessa vez. Resolveu sair às pressas em direção a biblioteca — queria pegar algum livro e se distrair, possivelmente conversar com a professora de inglês sobre o livro, visto que ela daria a próxima aula. Tudo para evita-lo. Leonard estaria lá também e ele não queria dar ao garoto o gosto de saber que o estava intimidando até mesmo durante as aulas. De forma alguma.

A biblioteca, como sempre, estava silenciosa, algo que acalmou os nervos de Matt. Dirigiu-se aos poucos até a seção de literatura clássica, sentindo o peso em seus ombros diminuir enquanto lia os títulos. Fez uma careta ao ver Lolita, lembrando-se da aula anterior. Praticamente discutira com um pessoal que estava romantizando a história. Balançou a cabeça, indignado com a maneira que as pessoas interpretavam as coisas de maneira errônea. Olhou ao redor e se deparou com mais títulos — Jane Eyre, Orgulho e Preconceito, Os Miseráveis, Drácula, As Flores do Mal, O sol é para todos. Tinha lido vários daquele e pretendia reler, principalmente O sol é para todos, que havia se tornado um de seus livros favoritos. Isso que o motivou a pegar o livro e levar até o bibliotecário. Não demorou para que saísse da biblioteca e começasse a correr em direção a sala, sabendo que devia estar no máximo uns dois minutos atrasado.

Constatou isso com a expressão em choque de todo mundo, quando pediu licença para entrar na sala. Mas a professora nem mesmo se importou, principalmente por ter visto o motivo do atraso de Matt. Ainda assim ela parecia bastante animada com alguma coisa.

Logo Matt percebeu o que estava acontecendo. Toda a sala olhava de maneira ansiosa para a professora, que estava falando sobre Paul Verlaine e Arthur Rimbaud.

— Ah, eu adoro fofocas da literatura! — Uma garota suspirou alto, fazendo todos da sala rirem, incluindo Matthew que àquela altura já estava curioso.

— Tudo bem, gente, vamos ao que eu estava falando. Decidi contar, já que Leonard mencionou as cartas que um mandou para o outro.

Matt não conseguiu se conter e olhou para o fundo da sala, onde Leo se sentava. Este, vendo que o garoto o olhava, sorriu com diversão e piscou o olho para ele, fazendo Matthew corar e olhar novamente para frente.

— Paul Verlaine, que era um escritor simbolista, convidou Arthur Rimbaud para Paris. Lá eles começaram a se apaixonar e tiveram uma relação muito intensa. — A professora contou; os olhos brilhando.

— Acho interessante que eles tenham tido uma relação dessas, regada a boemia, simbolismo e literatura, justo na França. — Leo comentou de maneira pensativa, fazendo com que todos olhassem para ele de maneira surpresa. Mas ele só olhou para Matt disfarçadamente enquanto continuou. — Mesmo que fosse uma relação meio conturbada. Dá para ver claramente a intensidade do sentimento de ambos quando procuramos saber mais sobre eles.

A professora sorriu, claramente agraciada com o que Leo tinha falado.

— Acho que pretendo passar, futuramente, um projeto com escritores simbolistas para vocês. Assim vocês estudam o movimento e fazemos uma matéria no projeto dedicada para o relacionamento dos dois. Isso até ajuda a mente das pessoas a se abrir um pouco mais. — disse, claramente orgulhosa com a animação da turma que veio logo em seguida.

Então a aula começou. Matt infelizmente não conseguiu se concentrar tanto. Sua mente viajava para o relacionamento de Paul e Arthur e sobre a forma que Leo havia falado, olhando-o daquela forma. Tudo estava... Estranho demais. Ele não parecia a mesma pessoa que quase o tinha agredido no corredor, ameaçando-o. Será que tinha esquecido e deixado ‘pra lá?

A resposta veio logo em seguida.

— Ansioso ‘pra eu te pegar? — Leo sussurrou no ouvido de Matt quando passou por ele, deixando-o estático.

Quando Matt olhou para as costas de Leo, que já afastava, o viu olhando para trás, com um sorriso pequeno no rosto e o mesmo olhar travesso. Sentiu as pernas trêmulas ao mesmo tempo em que tinha noção do quão ridículo era. Francamente. Quantas vezes a vida tinha que esfregar na cara dele que Leo era problema?

Intervalo.

Os sinos do colégio pareciam a premeditação de algo. Isso não ajudava em nada o humor de Matthew.

Encontrou os amigos na mesma mesa de sempre, sentando-se ali enquanto tomava o chá gelado que havia acabado de comprar. Os amigos dele o olharam de forma cautelosa antes de continuarem o assunto sobre alguma HQ nova em que a Velma aparecia grávida do Salsicha. Nem mesmo esse assunto fez que a carranca de preocupação saísse do rosto dele.

Apenas algo foi o bastante para arrancar uma expressão de surpresa do rosto dele. O clube de dança do colégio anunciou uma apresentação no pátio do lado de fora, fazendo com que todos se arrastassem para lá. Matt queria passar aquela, mas se viu interessado demais, principalmente pelo fato de alguns dos dançarinos lançarem olhares rápidos para ele. Mas talvez não fosse nada, pensou. Alex e Bia eram os mais animados; aquela sempre era uma chance de observar as possíveis quedinhas, como eles costumavam falar.

Jogaram-se na grama em frente a um palanque ao ar livre que havia ali, junto de vários outros alunos. Alguns dos professores que gostavam daquilo — e incentivavam essas apresentações artísticas — estavam se aproximando dali. Só começaram quando o lugar foi repleto de pessoas.

E a escolha da música...

Matt ficou embasbacado olhando para a perfeita coreografia que faziam ao som de Friday I’m In Love. Mais uma vez aquela música fazendo-o sentir um peso no estômago. Não podia ser coincidência, não. De forma alguma. Sequer podia ser real que aquilo estivesse de alguma forma sendo feito para ele, mas... Não.

— Não pode ser. — Matt sussurrou para si mesmo, desviando o olhar quando percebeu os amigos o olhando com confusão.

Logo todo o pátio os acompanhava com palmas e cantando junto com a música. Todos conheciam aquela maldita música! Ele estava indignado; não era possível que aquilo estava acontecendo. Sequer conseguiu cantar junto, tão atordoado ficava à medida que a música prosseguia.

As apresentações continuaram com outras variadas músicas e a notícia de que o restante das aulas daquele dia seriam canceladas devido às apresentações foi a verdadeira música para os ouvidos de Matthew. Aquele era o momento perfeito para que pudesse ficar, mas tinha que encontrar Leonard no meio da multidão. E sair de fininho sem que fosse abordado mais uma vez por ele. Mas como o encontraria...

— Horrível. — Bia bufou, olhando fixamente para um lugar ali no pátio. Parecia estar falando com Alex. — Eu ainda me sinto muito atraída por ela.

— Quem? — Matt perguntou distraidamente, porém preocupado com a expressão no rosto da amiga.

— Julie. Ela é de outro colégio e nos conhecemos numa festa, mas é amiga do idiota do Leo...

Isso chamou a atenção de Matthew, que olhou rapidamente para o lugar onde Bia olhava. De fato: uma garota alta e negra estava ali, abraçando Leo. Tinha os cabelos incrivelmente armados e cacheados; era linda. Uma pontada estranha de decepção tomou o coração de Matt, mas ele sequer quis admitir o motivo real de ter sentido aquilo. Desviou o olhar e viu que Alex o observava com uma expressão desconfiada.

— O que foi? — Matt perguntou, cauteloso.

— Nada, cara.

— A questão é que o problema real de tudo é ela nem ter me dado bola depois de ter ficado comigo na festa. Esperava que ela não fosse do tipo que, sei lá, é. De ficar uma vez e depois esquecer ‘pra sempre da pessoa.

— Hoje em dia todos são assim, Beatrice. — resmungou Matt, levantando-se e pegando a mochila, deixando os dois amigos olhando-o de maneira confusa.

— Você já vai?! — Alex perguntou.

Matt deu de ombros.

— Melhor ir logo e evitar de ser perseguido pelo Leonard. Até depois...

Saiu dali incomodado, sem sequer se importar de olhar na direção de Leo ou dos amigos dele. Não estava se reconhecendo naquele dia; sentir coisas estranhas olhando para seu inimigo, sentir ciúmes dele, ter que passar por aquela confusão toda de olhares e sorrisos travessos e ainda havia aquela música... Teve certeza que aquela era uma música que nunca mais esqueceria. Sempre traria lembranças daquele dia conturbado.

Virou em direção ao segundo prédio do colégio, sabendo que lá seria mais fácil de sair. No entanto, algo o puxou por trás pela gola da camisa...

— Ei. — Matt reclamou, assustando-se quando foi virado de frente para um Leo visivelmente alterado. — Leo.

— Matthew. Não era assim que você me chamava antes. — Leo comentou pensativamente; um sorriso leve brincando em seus lábios, embora os olhos estivessem novamente mais escuros que o normal.

Matt suspirou.

— É isso o que você quer, Leonard? Bater em mim? Pode bater. Conseguiu me encurralar, termina o trabalho agora. Me faça o favor de me deixar tão perdedor quanto você disse que eu era, mais cedo. Ainda mais perdedor. — Matt disse, num tom mais alto. Sentiu o rosto ruborizado quando percebeu que estava quase gritando, e quando a palma da mão de Leo encostou na boca dele...

— Você precisa se controlar. — Leo murmurou, abaixando os olhos para onde ficava a boca de Matthew, coberta pela palma da mão dele.

Matt mal pôde perceber o que estava acontecendo quando foi prensado na parede do primeiro prédio, sentindo suas pernas sendo separadas pelo joelho de Leo. Olhou desesperado ao redor, temendo que estivessem sendo vistos ali. Mas não. Todos do colégio estavam no outro pátio — os dois estavam sozinhos ali. Leo continuou:

— Eu vi como você ficou na aula. Vi como ficou a cada intervalinho que tivemos. Uma hora sua cabeça vai explodir se continuar assim, Matty. — Terminou num sussurro, fazendo Matt se arrepiar ao ouvir o apelido daquele jeito. Quase gentil.

O que, afinal, está acontecendo?, Matt pensou enquanto olhava-o com os olhos arregalados.

Sentiu sua boca sendo livre da palma da mão de Leo e tentou respirar fundo para recuperar o fôlego. Mas foi interrompido justamente pelos lábios dele, tocando gentilmente os seus em um beijo calmo. Lento.

Ofegou. Não era nada do que esperava. Leo continuou a beijá-lo sem se importar com a reação chocada de Matt, apenas instigando-o mais com a língua passando suavemente pelo lábio inferior e superior até que fosse retribuído. E fora. Matt, mesmo permanecendo naquele estado de choque e surpresa, não conseguia controlar o próprio corpo. Começara a retribuir o beijo da mesma maneira lenta e calma, embora seu coração estivesse acelerado.

Lembranças do único beijo que tiveram antes daquele curiosamente passou pela mente dos dois, que começaram a intensificar a maneira em que se beijavam, fazendo-o de maneira afobada. Matt, que até aquele momento tinha se submetido aos atos de Leo, erguera ambas as mãos até o cabelo desgrenhado do outro e o bagunçara ainda mais enquanto entrelaçava seus dedos ali, puxando o garoto para mais perto de si até sentir o corpo dele todo prensando-o contra a parede. Interrompeu o beijo de imediato na tentativa de controlar a respiração arfante que já estava alta demais, sendo beijado agora de maneira quase lasciva no pescoço. Soltou um gemido involuntário e sentiu o sorriso de Leo contra a sua pele, assim como sentiu o volume da calça do outro de encontro com o seu próprio.

— Leon... — sussurrou, arrastado.

— Hmm.

— Leon, por favor, você... — Tentou falar, parando apenas para conter outro ruído quando sentiu a mão do outro no volume no meio de suas pernas.

Sentiu os beijos cessarem aos poucos, embora a mão continuasse ali. Quando abriu os olhos, viu que Leo o olhava incisivamente.

— Eu disse que ia te pegar na saída. — falou, apertando mais sua mão ali e fazendo Matt gemer outra vez, ao mesmo tempo em que o volume aumentava.

Felizmente — ou infelizmente — Leo o largou e olhou para ele com um sorrisinho malicioso brincando nos lábios. Matt, conseguindo se recompor instantes depois, olhou para Leo de maneira acusatória.

— Você disse que ia me bater.

— Não. — Leo murmurou, olhando para as próprias mãos com um interesse fingido. — Eu disse que ia te pegar.

— Mas eu entendi...

— Meu bem, todos entenderam que eu iria bater em você. Inclusive você, que está sempre reclamando da falta de interpretação das pessoas. A não ser que tenha entendido que eu iria bater uma ‘pra você, porque se for...

— Não! — Matt exclamou, assustado. — Não. Meu Deus. Você é louco.

— Por você.

Matt abaixou a cabeça.

— Sei que está sorrindo, Matty.

— Não estou.

— Olha para mim, então.

Ele olhou. Estava mesmo sorrindo; um sorriso lindo, bem humorado. Nada parecido com a expressão que tivera a manhã inteira. Leo, vendo aquilo, também não pôde evitar o sorriso, era impossível. Matt era adorável. Não conseguiu mais se conter e expressou todo o carinho que sentia por ele com um abraço, realmente sentindo o coração amolecer. Não sabia o porquê de ter prolongado, esperado tanto tempo para fazer o que realmente queria. Era como se naquele abraço estivesse contido o seu lar. Isso. Seu lar.

Ficaram tanto tempo naquilo, murmurando palavras aconchegantes e carinhosas um para o outro. Leo revelou, aos sussurros, o incrível plano que fizera para pegá-lo e Matt descobriu que aquela música realmente tinha papel em toda aquela história. Estavam tão entretidos que nem perceberam o colégio inteiro ali, olhando embasbacado para ele. Os amigos de Leo faltavam morrer. Já os de Matt, sorriam abertamente.

— Você não ia bater nele?! — Um garoto aleatório perguntou.

Leo virou-se para todos junto com Matt, olhando com surpresa para as pessoas que estavam ali. Matt temia que Leo negasse tudo, mentisse de alguma forma, mas...

— Não. Eu ia pegar ele e peguei.

E, como num ato de coragem, voltou a abraçar Matt e o beijou na frente de todos sendo acolhidos pelos braços de Matt que, antes tenso, agora parecia livre para fazer o que quisesse.

E estava livre.


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Notas finais do capítulo

IMPORTANTE!!!!!!!!

Só deixem que te peguem na saída se:
1. Você quiser.
2. Ele fazer o colégio inteiro cantar uma música pra você.
3. ELE SE CHAMAR LEONARD E VOCÊ SE CHAMAR MATTHEW.



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