Christmas Week - Olicity Version escrita por Ciin Smoak, MylleC, Thaís Romes, Megan Queen, Natty Lightwood, Overwatch


Capítulo 1
Sacrifício - Thaís Romes


Notas iniciais do capítulo

Sejam todos bem vindos à nossa Semana Natalina-Versão Olicity!

Oi pessoinhas!

Aqui é a Thaís Romes, mais conhecida como “Traíra que não concluiu Monarquia”. Bom, passei por muitas coisas durante o tempo em que estive ausente do site, acho que nunca tive um bloqueio tão grande antes. Espero que gostem de “Sacrifício”, fiquei muito feliz quando Cinn me convidou para esse projeto. Durante nossa preparação pude reencontrar leitoras amadas que se tornaram autoras incríveis agora, e quero agradecer a todas pelo carinho. Julgando pelo tempo em que estive ausente, confesso que não estou confiante em abrir o projeto, acredito que a maioria aqui nem mesmo me conhece, mas vou torcer para que curtam Sacrifício e que esperem ansiosos por minhas amigas que estarão chegando com tudo na sequência.
Thata tá morrida do negócio da saudade meus xuxus!
Comentem viu, não vão querer me dar mais um bloqueio de dois anos! Hehehehe
Bjnhos.



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Há algo especial nas festas de fim de ano, algo mágico. A possibilidade de um novo começo ou a certeza de um fim iminente, trazem esperança a quem não enxerga mais alternativas. Pode ser esperança de começar uma dieta, um novo emprego, terminar um relacionamento fracassado ou acabar definitivamente com a dor que o consome. O fim pode ser o momento em que a esperança brilha mais intensamente. Não importa se é o fim de um ano ou de uma vida. Todo o ciclo está fadado a continuar, com uma esperança cega de que o amanhã será melhor.

John Diggle nunca fora o tipo de homem que acredita em mágica, para ele a existência de meta-humanos já era o suficiente para lhe embrulhar o estômago. Seus valores sempre foram bem claros e perfeitamente definidos. Era um soldado, fiel a sua pátria, família e amigos. Mas o custo da fidelidade por vezes era grande demais.

Ele passou os três últimos meses em um impasse entre dois de seus amigos mais queridos. Oliver Queen se sacrificara novamente, sem aviso prévio como de costume. John já havia perdido as contas de quantas vezes ele já havia feito isso, mas estava mais do que cansado do altruísmo de seu melhor amigo. Temia se odiar caso tomasse alguma posição a respeito, mas era difícil não fazer quando via Felicity se atolando em trabalho e parecendo estar mais leve a cada dia. Após algumas semanas da ausência de Oliver, Diggle decidira que independente do motivo, se manteria fiel, mas só depois de acertar um soco com toda a sua força na cara altruísta e irritante do Queen.

Dessa vez, tudo o que Oliver deixou para trás foi um bilhete curto. Dizendo sentir muito, que estava levando William consigo e precisava que Felicity confiasse nele. John se sentia culpado, pois era véspera de nata e quando seu dia terminasse correria ao encontro de seu filho, faria coisas bobas como acender uma lareira ou obrigar Lyla a usar um suéter brega. A vontade de bater em Oliver o consome novamente, ao pensar no que esperaria Felicity quando aquele dia acabasse.

—Tem alguma coisa errada! -por falar no diabo.

Felicity entra na sala onde ele estava treinando com Curtis, e joga algumas pastas sobre uma bancada. Seu rosto estava pálido e cansado, imaginou quando deve ter sido a ultima vez em que ela conseguiu dormir mais que duas horas seguidas em uma noite. Curtis tão pouco estava a vontade com a situação, não se lembra da ultima vez em que a viu ficar animada com algo, depois de algumas semanas passou a tratar Oliver como o “Assunto Voldemort”, mas percebeu que perder William junto, tirou dela algo que nem mesmo as ausências anteriores de Oliver haviam tirado. Talvez Felicity Smoak não tenha mais esperança.

—O que tem aí? -John joga uma toalha para Curtis enquanto se levantam.

—Todos os meses, no dia vinte e quatro uma mulher tem sido encontrada morta. -Felicity começa a mostra-los os perfis das garotas. -Ninguém percebeu antes, pois fazem parecer ter sido suicídio, mas me diz por que uma mulher que está fazendo tratamento de fertilidade se mataria? -ela massageia as têmporas, tentando focar em apenas uma coisa por vez.

—As taxas de suicídio tendem a crescer nessa época do ano... -Curtis começa a tagarelar, mas é imediatamente silenciado por um olhar mortal que recebe de John.

—Qual o padrão? -Diggle questiona, determinado a dar o que a amiga precisasse no momento. O olhar de Felicity encontra o dele por um instante, e pode ver a centelha de gratidão passando por seus olhos tristes.

—Todas parecem ter vidas perfeitas. -ela começa a narrar, mexendo em seu tablet para colher mais informações individuais das vítimas. -Casadas, com filhos ou tentando os ter. Uma delas era CEO de uma empresa de cosméticos e havia acabado de lançar um livro sobre confiança e auto estima.

—Aí está um livro que não perderia tempo lendo. -mais uma vez a boca de Curtis é mais rápida do que as travas que possuía. Diggle e Felicity o olham irritados, fazendo com que se encolha involuntariamente.

—Tem mais uma coisa. -Felicity passa o tablet para John. -Todas possuem irmãs, e o engraçado se é apropriado dizer isso... Digo, nada é engraçado nesses casos. Bom, o que quero dizer é que todas elas tinham irmãs que eram totalmente opostas. -John vê algumas noticias em tabloides, sobre a irmã drogada de uma autora de um best-seller e o envolvimento com corrupção da irmã de uma outra vítima, que era uma famosa filantropa.

—Isso é realmente estranho. -assume, acreditando pela primeira vez de verdade que aquele não era um caso sem sentido. -Se estiver certa, temos menos de dez horas antes que um novo corpo seja encontrado.

—Tudo bem, mas o que vamos fazer? -Curtis também já estava convencido. -Vigiar todo mundo que tem um irmão problemático? Por que se for o caso, não precisamos ir muito longe. -olha para John que o ignora.

—Acho que só conta se o irmão estiver vivo. -murmura e Felicity toca levemente o ombro do amigo, que esboça um mínimo sorriso. -Posso ver com Lyla se há registros de algum assassino em série que faça parecer suicídio. -sugere. -Você pode pedir a Laurel que procure mais informações na delegacia.

—Eu faço isso. -Curtis se adianta, recolhendo as pastas. -Felicity, você deveria ir se trocar, tomar um banho e talvez comer alguma coisa.

—Concordo. -John acrescenta quando ela estava prestes a protestar. -Não estamos sugerindo.

Ela não perde tempo discutindo, dava para ver que aquilo era uma batalha perdida. Felicity junta suas coisas e caminha mecanicamente para seu carro. Havia algo que não contara a seus amigos, a data em que as mortes começaram. Não que ela quisera guardar segredos, apenas esperava que eles percebessem sozinhos. Não queria se permitir ter esperanças de que sua família voltaria.

—Você está bem, vai ficar tudo bem. -diz ao ver seu reflexo no retrovisor, antes de dar partida em seu carro.

Quando estaciona o carro em frente a sua casa, precisa de um momento para se lembrar como sair dele e caminhar até a porta. Ali sozinha era como se sua energia fosse completamente sugada, pensar que poderia salvar uma vida, foi tudo o que a deu forças para conseguir. Mas antes que seus pés tocassem o chão um vento forte atinge seu rosto, ela fecha seus olhos automaticamente e ao reabri-los estava dentro do que acreditava ser um balcão alugado. Com portas de ferro baixadas e as paredes descascadas.

O cheiro no ar era familiar, seu coração bate acelerado quando reconhece um moletom jogado sobre uma cama de montar no canto. Aquilo não poderia ser real, demora alguns segundos para notar a presença de Barry Allen ao seu lado. Ele a observava em silêncio, seus olhos verdes pareciam nostálgicos por baixo da máscara do Flash. Quando ele a retira, Felicity percebe seu rosto cansado parecendo transbordar em emoções. Mais rápido do que ela pode prever ele a puxa para um abraço apertado e sente um pequeno tremor no corpo do amigo. Queria poder vê-lo com mais frequência, é o que pensa quando se afastam, pouco antes de ver Barry enxugar algumas lágrimas.

—O que aconteceu com você? -questiona preocupada, tocando o braço de Barry. -Por que está chorando?

—Não se preocupe, só estou feliz. -diz com o sorriso fácil, típico de Barry Allen. -Queria ter mais tempo, mas estou quase atrasado para meu próximo compromisso.

—Barry, por que me trouxe aqui? -ela olha em volta mais uma vez, um pouco desapontada por o dono do moletom não ser quem pensava, engole em seco quando volta a sentir o buraco com o qual pensava estar acostumada se abrindo novamente em seu peito.

—Preciso que confie em mim. -Barry responde, mas a simples frase parece ter um grande efeito sobre Felicity.

Barry Allen tentava não a abraçar novamente. Salvar Felicity Smoak foi a missão que recebera do que ele julga ser uma das manifestações da força da aceleração, e ele perdera as contas de quantas vezes já havia fracassado. Não podia mais suportar perder, e não teria mais chances se falhasse agora. De todas as versões, nessa era quase doloroso para Barry encará-la. O lindo rosto de Felicity estava endurecido de tristeza, algo que o fez lembrar de sua versão que virou o Savitar. Aquela Felicity parecia ter perdido todas as esperanças, seus olhos que costumavam ser cheios de vida estavam apagados.

—Oliver me mandou. -diz vendo uma lágrima escorrer pelo rosto dela. Felicity rapidamente a seca e se vira de costas para ele.

—Ele não vai voltar. -ela murmura, sem forças na voz. Barry pode compreender muito bem aquele sentimento, ele a vira, segurando em seus ombros e faz com que olhe em seus olhos.

—Não pode acreditar nisso, nem mesmo por um instante. -sorri de leve para ela, que estava processando a informação. -Oliver precisa de você. -garante. -Acredite em mim, não tem nada que ele proteja mais no mundo. -as lágrimas voltam a correr, mas dessa vez Felicity não se importa em contê-las. -Olha, tem alguém chegando para te ver. -avisa. -Mas antes dele chegar precisa dar um jeito nisso.

Ele aponta para Felicity, que fecha a cara o recriminando por desdenhar de sua aparência. Barry sorri e para sua surpresa, Felicity também. Sabendo que não poderia perder tempo, ele mesmo retira seus óculos, limpa seu rosto da melhor forma que pode, ajeita o cabelo da amiga e a devolve os óculos limpos e secos.

—Antes de ir, precisa saber de uma coisa. Não se aproxime muito rápido dele, a última vez em que te viu, “você” estava muito assustadora. -Barry começa a andar de um lado para outro, e Felicity se esforçava para acompanhar a conversa. -Sinceramente, estou feliz por você ser a nossa você...

—Barry Allen, drogas fazem efeito em seu organismo? -Felicity franze o rosto confusa, e Barry solta uma gargalhada divertida.

—Vai dar tudo certo, ele é bem esperto no fim das contas. -continua a falar sem nenhuma explicação, e de repente não estava mais lá, em seu lugar estava um garoto, com olhos marejados a observando com certo receio. Ele mexia sistematicamente nas alças da mochila em suas costas. Felicity respira aliviada, sentindo algo desprender de seu peito e um alivio imediato toma conta de seu corpo.

—William! -exclama sem fôlego. O menino abre um sorriso largo quando a escuta chamar seu nome.

—É você mesma! -diz quando se abraçam, mesmo sendo alto para sua idade ele se aconchega nos braços de Felicity como se fosse um bebê.

—Sabia que conhecia aquele moletom. -ela murmura entre o choro enquanto o apertava ainda mais. Incapaz de lembrar da dor que a consumia a cinco segundo atrás, pois seu peito parecia estar prestes a explodir de tanta felicidade. -Não deveria deixar suas coisas jogadas desse jeito. -diz quase que por hábito, fazendo William dar risada.

—Senti sua falta. -confessa, quando a madrasta deposita um beijo amoroso no alto de sua cabeça. -Apesar que nós te víamos quase todos os dias. -seu comentário faz Felicity se lembrar do que estava acontecendo.

—Como é que me viam? Vocês... Você e seu pai? -pergunta olhando em volta. William afirma balançando a cabeça enquanto retira a mochila das costas.

—É melhor se sentar. -aponta para o chão e eles se sentam lado a lado, sem querer se separar. -Nós tínhamos isso. -ele a entrega um notebook, que reconhece imediatamente sendo um dos seus antigos. -Achei bem legal a árvore que você montou. -comenta com um sorriso de diversão, quando Felicity vê a sala de sua casa refletida na tela do computador, e uma árvore de natal com um aspecto bagunçado em um canto solitário do cômodo e dois presentes perfeitamente embrulhados sob ela.

—Ei, não me zoa! -ela o empurra de leve. -Sou judia, essa foi a primeira vez que montei uma e ainda fiz isso sozinha! -justifica, mas vê no rosto de William o esforço dele para não chorar, mesmo o achando um pouco bobo por se conter, não pode deixar de sentir orgulho por ele estar tentando ser forte.

—Obrigado. -é tudo o que ele diz, e ela acaricia seu rosto.

—Faço qualquer coisa por você. -responde com sinceridade, então um movimento na tela do computador chama sua atenção e por um segundo questiona a própria sanidade. -William... Como aquilo ali é possível? -pergunta apontando para a tela com as mãos trêmulas.

—Então, sobre isso. -William clica em um arquivo, da mesma forma que o pai o orientou. -Meu pai disse que você precisa impedi-lo de abrir isso aqui.

A algumas quadras do balcão, Oliver estava de tocaia em frente ao prédio onde morava. Percebe quando Barry chega, mas se quer desvia o olhar. Não poderia fazer as perguntas que queria em um momento como aquele e pela forma quem que Barry estava nos últimos meses sempre que aparecia do nada para uma de suas visitas, Oliver tentava não imaginar o que aconteceria se falhassem.

Apesar de odiar assumir, Oliver gostava de Barry Allen. Sendo ainda mais sincero, ele é uma das poucas pessoas capazes de fazer com que Oliver siga suas instruções sem muito questionamento, o que o fazia duvidar e muito das próprias escolhas, levando em conta o histórico de Barry. Mas havia algo no olhar dele, algo que não existia antes e que Oliver passou a ver no espelho todos os dias após testemunhar a morte de Tommy Merlim.

Por essa razão no dia em que chegou em casa e viu a mulher que ama apontando uma arma para a cabeça de seu filho, exigindo que a ajudassem a descobrir a senha de um dos computadores, Oliver confiou quando o Flash os salvou e disse que precisavam partir. Não precisou de mais do que dois segundos para que ele soubesse que aquela Felicity não era a sua Felicity, mas ainda assim se sentiu impotente. Sua impotência só aumentava a cada dia, e ficava fora de controle quando era intimado a dar o que ela queria ou mais alguém iria morrer. Não importava quanto tentassem, Oliver e Barry nunca conseguiam salvar as garotas e muito menos descobrir o que havia de importante no computador. Mas de uma coisa sabiam, Felicity não poderia ser pega por sua duplicata, por isso teve que partir e levar William. Eles eram a fraqueza de Felicity, e sem isso a duplicata não conseguiria o que queria, não através dela.

—Tem certeza que vai encontra-la em sua casa esse mês? -escuta Barry dizer, mas sem vontade de falar, Oliver passa seu telefone para que ele mesmo leia a mensagem. -Sempre me perguntei o que aconteceria se uma mente como a da Felicity funcionasse para o mal... -sentia tanta falta da esposa que nem mesmo se importava mais com Barry tagarelando. -Ainda bem que nossa Felicity...

—Nossa? -a voz de Oliver soa seca, fazendo Barry soltar um risinho.

—Tem certeza que não quer que eu entre primeiro? -muda de assunto, vendo a movimentação na casa. -Foi você quem ficou martelando em minha cabeça sobre a importância de reconhecer o perímetro.

—E foi você quem disse que não pode usar seus poderes contra ela. -rebate pegando o que precisava. Prende a aljava nas costas e prepara uma flecha com corda em seu arco.

—No meu caso, ela simplesmente os anula, mas você...

—Eu não posso ferir a Felicity. -Oliver conclui para o amigo que não parecia ter confiança de terminar. -Não importa se é a minha, ou a de qualquer outra terra. -lança a flecha, e em questão de segundos sente o vidro da janela se despedaçar sob seus pés.

—Poderia ter usado a porta.

A mulher que possuía o mesmo rosto de sua esposa, estava sentada calmamente a mesa. Com um notebook aberto a sua frente, uma xícara em sua mão esquerda e uma arma na direita. Oliver respira aliviado, era uma reação automática de seu corpo. Ver o rosto de Felicity sempre colocou seus pensamentos em ordem, e era estranhamente familiar o rosto da psicopata que o encarava com certa calma.

—Trouxe o que eu pedi ou vamos ter que prolongar isso por mais um mês? -Ela parecia entediada, mas Oliver sabia que não deveria subestimar alguém como Felicity.

—Está comigo. -diz tirando um pendrive do bolso e se surpreende ao ver Felicity dar risada.

—Desculpe. -ela deixa a xicara sobre a mesa e olha para Oliver com diversão. -Mas é ridículo você segurando um arco, e nem é só por eu ter uma arma e nós sabermos quem seria mais rápido. -diz entre o riso. -Vai usá-lo para abrir uma porta e me deixar passar por ela?  

Oliver se lembra da primeira vez que a encontrou. Flash apareceu rapidamente, e desarmou a mulher pouco antes de perder a velocidade. Seu filho correu, mas Oliver se viu parado, incapaz de lutar fisicamente contra ela. A mulher saiu usando a porta de entrada, no instante em que se deu conta de que Barry Allen não se importava tanto quanto o Queen. Naquele momento ele tentou não justificar seus motivos e conseguir ver o rosto de Felicity como uma ameaça, mas seus esforços pareciam inúteis.

—Isso? -Oliver aponta para o arco. -É só o meu meio de transporte. -ele descarta o arco no chão, em seguida faz o mesmo com sua aljava.

—Ali. -Felicity aponta com a arma para a cadeira na ponta oposta a que estava. Oliver se senta e coloca o pendrive sobre a mesa. -É melhor não fazer gracinhas, posso ser menor que você, mas não vai querer ver o que posso fazer. -ameaça se levantando para amarrá-lo.

Na mente de Oliver diversos cenários onde ele a desarmaria passaram como um flash, e ele ignorou cada um deles. Oliver Queen é o tipo de homem que paga suas dividas e honra da melhor forma quem o estende a mão. Parte dele o recriminava, afinal aquela mulher apontou uma arma para a cabeça de seu filho e Deus sabe o que faria se Barry não chegasse a tempo. Mas existiam perguntas que ele não conseguia calar, como Felicity Smoak se tornaria uma assassina calculista e fria? O que a deixaria tão desesperada a ponto de se arriscar em outra terra? Nada parecia ter sentido, pois ele conhecia Felicity melhor do que a si mesmo, e sua Felicity sempre seria uma fonte interminável de esperança. Seus olhos param na arvore de natal em um canto e percebe o que deveria fazer.

—Preciso deixar uma coisa clara. -sente o rosto de Felicity próximo a seu ouvido. -Não sou sua esposa. -Oliver sorri, pois por um momento é como se a mulher estivesse em sua mente.

—Vai me matar se não conseguir te ajudar a descobrir a senha? -pergunta, quando ela estava se sentando novamente.

—Claro lindinho, se não puder fazer nem mesmo isso, não sei qual utilidade poderia ter. -seus olhos se voltam para o computador. -E também, vai ter muito incentivo. A garota que escolhi dessa vez se chama Kelse. Tem trinta e dois anos, e se casou com um namorado de infância. -conta com o rosto impassível. -Em algumas horas, Kelse vai tomar uma dose errada de comprimidos para enxaqueca e coitadinho de seu marido, terá que passar o resto de seus dias sem o amor de sua vida. -dá de ombros e pisca os olhos fingindo tristeza.

—Por que está matando pessoas? -pergunta tentando manter sua voz inexpressível.

—Pensei que apreciaria a ironia. -ela sorri, antes de conectar o pendrive no computador. -Acha que não percebi como vocês me olharam a primeira vez que nos vimos? -pela primeira vez, Oliver não a acha parecida com sua esposa. Seu rosto o encara com um desprezo doentio, algo que ele nunca esperaria ver no rosto de sua Felicity. -Era como se o maior crime que tivesse cometido, não era a arma apontada para vocês, mas ter a aparência dela.

—Como você ficou assim? -a voz de Oliver se enche de horror, o que a diverte ainda mais.

—Eu sei, é muito difícil esperar algo ruim de um rosto como esse. -responde vagamente.

—Não. -diz com tanta firmeza que ela para de digitar e o encara, admirando a coragem do homem que julgava ser um idiota. -Me recuso a acreditar. -os olhos de Oliver se mantinham afiados sobre ela.

—Acha que tenho alguma história triste? -apesar do deboche em sua voz, seu rosto estava impassível, praticamente sem expressão alguma. -Morreria feliz se tivesse alguma? -Oliver permanece em silêncio, e ela solta uma gargalhada que teria sido impressionante se não estivesse tão tensa. -Não pense nem mesmo por um instante que me conhece. -cospe cada palavra. -De onde eu venho, o poder está nas mãos de quem tem mais, e quem não possui nada é esmagado como uma barata. Isso. -aponta para o pendrive. -Aposto que não tem ideia do que é, ou para o que sirva. Sua Felicity não é tão pura quanto parece ser, como disse, nem sempre esse rosto faz jus ao que existe por dentro.

—Não tem ideia de quem ela é. -sua voz sai irritada por reflexo. Felicity parece gostar do desafio, então vira a tela do computador em direção do Oliver.

—Se puder descodificar esse programa, qualquer pessoa que nascer com alguma tendência para heroísmo pode ser identificada. Ele computa realizações ao longo da vida, acidentes ou atos aleatórios motivados por adrenalina. -Oliver começa a notar vários pontinhos de diferentes cores em algo que parecia um modelo muito complexo de GPS. -Tudo isso é somado, e uma vez identificada essa pessoa seria monitorada automaticamente pelo resto de seus dias. Consegue imaginar o que alguém como... -ela pensa por um segundo. -Damian Dark? Vocês devem ter um desses. Imagine isso nas mãos dele. Pessoas como você seriam paradas antes mesmo de se tornar um problema.

—Tenho certeza que não foi por isso que ela o criou. -não era um argumento, Oliver acreditava em cada palavra que dissera. Seus olhos brilhavam, como se culpa e mágoa o corroessem até a alma. Felicity pensou por um momento se já existiu alguém que acreditou nela dessa forma um dia. -O que vai fazer com esse programa?

—Cheguei a um ponto em que dinheiro não tem mais importância. -dá de ombros. -Mas com isso, posso controlar o pouco que me falta.

—Já que te dei algo tão precioso, posso te fazer uma pergunta? -ela apenas o olha e tomando como um incentivo, Oliver prossegue. -Nos conhecemos? Quero dizer, o Oliver Queen da sua terra te conhece ou chegou a conhecer?

—Acho que só cheguei a vê-lo em tabloides de fofoca. -responde calmamente. -Aquele homem era babaca até para os padrões mais baixos. A última coisa me lembro é ter visto algo sobre sua morte.

—Sinto muito. -a sinceridade na voz dele, quase a faz pensar se dissera algo sem perceber. -Não por você, talvez um pouco por você também. -explica. -Conheci minha Felicity quando estava imerso em escuridão. Havia algo genuinamente puro nela, o que me impediu de tocá-la por anos, temendo macular tudo aquilo com toda a minha sujeira. -Oliver se perde em suas próprias memórias e um sorriso apaixonado se forma em seus lábios. -Não tinha nada além de vingança, mas ela me viu como um herói. Depois de algum tempo, acho que tentei ser o que ela enxergava. Na vida que levamos sempre acabo tendo de escolher entre o que quero e o que vai beneficiar mais pessoas, e tudo o que quero é ela. -parecia se dar conta de suas palavras assim que elas saiam de sua boca. -A deixei por tantas vezes, e ela sempre me trouxe de volta. Felicity até mesmo ama meu filho como se fosse seu. Sei bem que a enlouqueço na maior parte do tempo, mas há um lado escuro nela também que me certifico de iluminar. É o mínimo que posso fazer depois de ter confiado em mim, mesmo sem ter lhe dado nenhum motivo para isso. Então eu sinto muito por você, e mais ainda por essa minha versão que nunca te encontrou. -ele a olha nos olhos, e vê que a mulher estava confusa. -Os dias dele devem ter sido insuportáveis.

Felicity quebra o contato visual, havia algo que a irritava na maneira como aquele homem a olhava. Volta sua atenção ao trabalho e começa a decodificar o sistema de controle do arquivo, sendo impedida imediatamente por diversos firewalls diferentes, estava a ponto de elogiar sua versão daquela terra, quando percebe um pequeno vestígio de controle remoto e em seguida todo o arquivo começa a se decompor diante de seus olhos. A raiva toma conta de sua mente, e quando olha para o homem amarrado a sua frente, um sorriso pequeno sorriso orgulhoso emoldura seus lábios, a enfurecendo ainda mais.

—Ela é incrível não é mesmo? -Oliver sorri abertamente. -Parece que você não pode vencê-la.

—O que acha que está fazendo? -Felicity pega a arma, e se levanta irritada. -Não pode imaginar o que eu posso ou não fazer, não tem ideia de tudo o que conquistei! Eu tenho um império! -grita enfurecida. -Acha que só por não ter conhecido um playboy como você, minha vida tem um significado menor? -solta um riso de escárnio. -Oliver, tenho te estudado por muito tempo, e se quer saber pode ter salvado o mundo, mas é incapaz de confiar que outra pessoa possa salvá-lo em seu lugar. Vem sacrificando sua mulher e filho, os tornando em versões piores deles mesmos! -Oliver sente suas palavras como golpes afiados em seu corpo. -Disfarça seu impulso suicida com altruísmo, mas quero te contar uma coisa antes de satisfazer seu desejo. Até onde eu vi, ela pode ter sido sua heroína, mas nada do quem tem feito desde que disse a amar, o torna um herói para ela.

Oliver a vê engatilhando a arma, e cogita lutar por um momento. Queria poder dizer que a mulher estava errada, mas não encontrava nenhum argumento para se opor. Percebendo que não poderia se quer levantar a mão para ela, ele fecha seus olhos e sorri. Pois por muitas vezes quase morreu, já teve o rosto de Felicity como sua última lembrança, mas dessa vez ele poderia olhar para esse rosto. Não acreditava que receberia algo melhor do que aquilo. Um disparo acontece, seguido de um grito agudo.

Barry Allen se contorce no chão, como se não pudesse controlar o próprio corpo. O pulso de Felicity latejava com uma flecha o atravessando, e sua mente começava a rodar. Do outro lado da sala, ela vê uma mulher com o mesmo rosto que o seu, segurando uma arma na mão, ao seu lado um garoto magricela com um arco. Após uma breve análise do local a mulher com a arma dispara dois tiros em cada propulsor de gravidade que mantinha o Flash no chão. E em um segundo ela se vê em um cubículo, com o Flash a observando atrás de uma parede de vidro.

—Me tira daqui agora! -rosna.

—Claro, você precisa receber cuidados médico. -Flash a responde com um sorriso simpático. -Te tiro assim que o gás fizer efeito.

 -Que... -mas tudo se torna escuro.

Felicity olhava para William admirada, quando Barry leva embora sua encarnação do mal ela corre para abraçá-lo e conferir se estava tudo bem. Os dois encaram as costas de Oliver que permanecia imóvel, se apoiaram um no outro enquanto andavam a passos contidos para vê-lo.

William a solta antes que pudessem encontrar seu pai, suas pernas eram incapazes de dar mais um passo. Percebendo seu estado, Felicity circula a cadeira e para em frente ao marido. Seus olhos percorrem seu rosto duas vezes, haviam lágrimas escorrendo por sua face e uma expressão de pura tristeza, mas nenhum ferimento. Então assente para William antes de se jogar nos braços de Oliver que abre seus olhos surpreso.

—Você nos assustou. -murmura baixinho em seu ouvido. Ele sente que William estava o desamarrando e se levanta abraçando a esposa assim que se ver livre.

 -Me perdoa, eu só quis... -começa a dizer apressado, mas Felicity se esquiva para poder olhar em seus olhos e os dois percebem que tudo estava de volta ao lugar que pertencia. Ela solta um dos braços e chama William que é quase esmagado pelos dois. -Vocês estão bem? -ambos assentem e Oliver beija o alto da cabeça do filho, em seguida os lábios da esposa. -Preciso que entenda que você e William são tudo o que me importa. -os dois assentem. -Deus, como senti sua falta! -exclama a olhando nos olhos, Felicity sorri brevemente, antes de franzir o rosto em uma careta de desaprovação.

 -Sentiu tanto que estava dando mole para a piriguete-hacker-quase-eu-só-que-do-mal! -reclama e os garotos dão risada.

 -Pai, acho que o que faltava na outra era a criatividade da Felicity. -brinca William, apontando para a árvore estranha que a madrasta montara. Os enfeites pendiam agrupados em partes e completamente separados em outras, parecendo pender mais para a esquerda do que direita. Era possível ver exatamente onde sua paciência acabara, mas independente da estética ruim, Oliver e William nunca antes apreciaram tanto uma árvore de natal.

 -O que deveria ser aquilo? -Oliver ergue uma sobrancelha, tentando ver se sobre algum ângulo aquela bagunça faria sentido.

 -Pensei que William deveria ter uma árvore com presentes para abrir na manhã de natal. -dá de ombros sem se importar com a implicância de seus garotos.

Mas quando via o olhar estampado no rosto de cada um deles, Felicity Smoak percebera que as vezes mesmo sem querer acreditar, coisas boas acontecem. E naquele momento ela não ligava se era sorte, destino ou fruto da esperança que julgava não ter. Pela primeira vez acreditou que existia sim a magia do Natal, e estava grata por um pouco dessa mágica ser direcionada a sua família.  


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Notas finais do capítulo

Ficamos por aqui bebês. Obrigada por terem lido minha one, não sei se vocês sabem o quanto é importante para uma autora abrir seu trabalho para os outros. Nós expomos grande parte de nós mesmas em nossos textos e partilhamos com vocês aquilo que somos. Agradeço de coração a todos por todo o carinho, e espero que tenham curtido participar de minhas viagens. Desejo a todos um Natal maravilhoso, com árvores bem mais bonitas do que a da Felicity!
Vejo vocês nos comentários, estarei ansiosa para saber o que acharam de tudo.
Muitos bjnhos!
Thaís Romes.