Les Crimes de Grindelwald escrita por themuggleriddle


Capítulo 13
Lestrange & Scamander




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Quando voltaram ao estúdio de alquimia, havia um Yusuf Kama a menos e um bruxo desconhecido a mais. Jacob, pelo menos, continuava ali, apesar de parecer mais confuso do que nunca em se ver como hóspede do homem peculiar que se apresentou como o dono da casa.

“Eu me virei para falar com o Sr. Flamel e o homem sumiu!” disse Jacob, apontando freneticamente para o sofá vazio, assim que o Newt, Tina e Leta aparataram no meio do laboratório.

Nicolas Flamel era completamente diferente do que Newt imaginou quando leu sobre o alquimista enquanto estudava para os NOMs. Ele sabia que o bruxo era velho – não, não apenas velho, ele era muito velho -, porém pensar em alguém velho era pensar em alguém parecido com o seu avô, Isaac Scamander, com cabelos brancos e rugas, mas ainda assim uma pessoa. Flamel não parecia uma pessoa. Ele parecia, como Kowalski muito bem colocou, um fantasma: pálido, frágil e quase etéreo, com passos que não faziam barulho, cabelos que pareciam chumaços de algodão e voz tão fraca que eles tinham que se esforçar para ouvi-lo. As roupas velhas não ajudavam em nada, todas parecendo ter sido pescadas do fundo de algum armário milenar. A única coisa que parecia nova no homem era um pingente que balançava em seu pescoço, pequenino e brilhante, com algo que parecia ser uma pérola no centro.

“Você deve ser o Sr. Newton Scamander,” o velho falou, sorrindo enquanto se aproximava com passinhos curtos. Ele ergueu a mão para cumprimentá-lo, mas pareceu mudar de ideia no meio do caminho. “Albus me falou que você talvez aparecesse por aqui com amigos.”

Scamander olhou para o cartão que Dumbledore lhe entregara e que ainda estava em sua mão, depois de terem o usado novamente para chegar até a casa do alquimista.

“Dumbledore sabia que você estava vindo para Paris?” perguntou Leta, abandonando a inspeção de um frasco borbulhante para olhar o bruxo. “Por que ele sempre gostou de você e não de mim? Nós sempre nos metíamos em confusão juntos.”

“Eu conheço você,” Flamel murmurou, esticando o pescoço para olhar a mulher mais de perto e erguendo uma mão na direção dela. “Leta Lestrange. Me lembro de ver você correndo pela casa do seu pai quando não passava de uma coisinha pequena!” O homem soltou uma risada fraca. “Talvez você se lembre mais da minha esposa, Perenelle.”

“Oh.”

“Você conhece esse homem?” perguntou Tina em um sussurro.

“Perenelle me ensinou feitiços por um ano. Meu pai a colocou para me ensinar feitiços... próprios para uma moça,” a bruxa explicou, torcendo o nariz “Costura, cozinha, limpeza. Ela sumiu depois que ele a pegou me ensinando Divinação.” Lestrange sacudiu a cabeça. “Isso não faz sentido. Se você é Nicolas Flamel... O Nicolas Flamel-“ ela falou, olhando para Newt ao dar ênfase no nome do bruxo. “Por que a sua esposa daria aulinhas de costura para a filha bastarda de outro bruxo?”

“Nelle é uma pessoa muito boa.” O homem sorriu, sonhador. “Além disso, a partir de certa idade algumas pessoas se entediam de ficar só em casa... Não é exatamente o meu caso, mas Nelle sempre teve mais fôlego do que eu.”

“E onde ela está agora?” perguntou Leta.

“Dormindo. Ainda somos velhos, senhorita, e velhos dormem tanto quanto bebês.”

“Sua esposa é tão velha quanto o senhor?” perguntou Tina, logo ficando vermelha ao perceber que a pergunta soara um tanto rude.

“Ah, temos alguns poucos anos de diferença. Mas ambos compartilhamos do mesmo... do mesmo segredo da longevidade.” O bruxo sorriu e apoiou a mão caquética sobre o pingente brilhante em seu pescoço.

“Deve ser um segredo e tanto para terem feito um pacto para mantê-lo,” Lestrange murmurou.

“Eu não quero interromper a conversa.” Todos se viraram para Jacob, que alterava o peso entre os pés, parecendo inquieto. “Na verdade, eu realmente queria poder ouvir mais sobre... a sua vida eterna, Sr. Flamel, mas aquele sujeito escapou e ele parecia bem convencido de que precisava matar o menino? Desculpe, Newt, eu vivo esquecendo o nome dele...”

“Credence,” Tina falou. “Credence Barebone. Você chegou a falar com Yusuf ou ele fugiu antes de vocês perceberem que ele havia recuperado a consciência?”

“Eu estava indo atrás de comida pra ele.” O trouxa fez uma careta, ofendido. “Ele resmungou alguma coisa sobre o pai e aquele livro de poesias. Eu achei que talvez ele estivesse muito fraco e que um lanche podia ajudar.”

“Yusuf?” Lestrange perguntou, virando-se para Tina. “Vocês por acaso não estão falando de Yusuf Kama, estão?”

“Sim...” a auror murmurou, lançando um olhar rápido na direção de Newt.

Scamander encontrou o olhar de Leta, vendo os olhos dela brilhando com lágrimas contidas. Corvus não era a única sombra que a bruxa tentava esconder de todos durante a vida inteira. Toda família bruxa que se prezasse já havia ouvido falar dos rumores de que a primeira esposa do Sr. Lestrange fora casada antes de se juntar a família e que ela deixara para trás uma criança. O nome desse filho rejeitado nunca surgia nos sussurros e a amiga nunca lhe contara nada sobre a situação. Aquele, assim como o irmão mais novo morto de Leta, era um segredo que eles haviam compartilhado a partir de olhares e gestos, não de palavras.

“Não conseguimos pegar a árvore genealógica e perdemos Kama.” Goldstein bateu a ponta do pé direito no chão, impaciente. “Pelo menos Queenie não está aqui para ver o quanto estou xingando mentalmen-“ A mulher se interrompeu e arregalou os olhos, antes de virar o rosto na direção de Jacob. “Onde está Queenie?”

Newt sentiu um buraco se abrir em seu estômago. Tudo havia acontecido tão rápido desde a chegada em Paris que o motivo inicial da visita havia se perdido entre cobras e esgotos e irmãos irritados, mas inconscientemente, ele havia apenas aceitado que a bruxa havia se encontrado com a irmã, já que Tina não havia perguntado nada sobre ela.

“Ela... não está ficando com você?” o trouxa perguntou, empalidecendo tanto quanto Tina.

“Não, faz... algumas semanas que não falo com ela. Quero dizer, falo, mas ela não responde.” Goldstein franziu as sobrancelhas. “Queenie não aceitou muito o fato de eu achar que... Bom... Você é um no-maj, Sr. Kowalski. Você sabe que isso é contra as nossas leis.”

“Eu achei que ela tivesse falado com você,” o homem murmurou. “Ela disse que na Inglaterra seria mais fácil. Eu... Certo, eu ainda estava processando a ideia de vir para a Europa, mas ela pareceu tão feliz.” Jacob sorriu, abaixando o rosto e olhando as próprias mãos. “Queenie disse que poderíamos visitar o Newt e aproveitar para ver se iríamos nos acostumar.”

Foi a vez de Tina ficar com os olhos marejados, curvando os lábios para baixo em uma tentativa de conter o choro. De onde estava, Lestrange encontrou os olhos de Newt, arqueando as sobrancelhas e olhando da auror para o trouxa, como se perguntasse o que estava acontecendo.

“Eu preciso...” Scamander começou a falar e sentiu o rosto queimar quando percebeu os olhares de todos em si. “Ver como está o kappa. Cuidei do zouwu e esqueci dele.”

“Vou junto,” disse Leta, antes que qualquer um respondesse, e encolheu os ombros. “Nunca vi um kappa.”

O magizoologista sentiu o peso do olhar de Goldstein em suas costas enquanto ia até o lado do sofá, antes ocupado por Yusuf, e deixava a sua maleta no chão, abrindo-a e entrando nela. Lestrange se esticou, tentando olhar o interior do objeto, e sorriu.

“Theseus me falou da sua mala. Ele parece não gostar muito,” ela cochichou.

“Tem muitas coisas que Theseus se arrepende de me dar de presente.”

Scamander tirou o casaco, jogando-o em cima da cama enquanto esperava a bruxa descer pela escadinha, para então sair do armazém. Por mais que tivesse passado anos sem trocar uma conversa não monossilábica com Leta, o magizoologista não conseguiu evitar de se sentir ansioso para ver a reação dela ao interior da maleta. Em Hogwarts, eles escondiam os seus animais pelos mais diversos cantos, sempre tentando criar um ambiente confortável para eles. Aquela mala era o sonho do Newt e Leta adolescentes que queriam carregar bichos para todos os lados e, de vez em quando, sumir de dentro do colégio.

“Pelas anáguas de Morgana...” O homem abaixou o rosto e sorriu ao ouvir a voz de Lestrange escapar.

Ela estava parada na porta do armazém, com a cabeça erguida enquanto parecia tentar observar tudo ao mesmo tempo. Seus olhos estavam brilhando de um jeito que Newt há muito não via, algo diferente do que via em Tina, mas também diferente do que estava acostumado de ver em Leta... Era inocente, infantil. Ele se perguntou quantas vezes na vida Lestrange havia se deixado ser uma criança, para tal expressão ser tão diferente em seu rosto.

Um barulho quase esganiçado deixou a boca de Leta enquanto ela pulava os degraus do armazém e corria para um viveiro a alguns metros deles.  Era uma toca feita de pedra, com o interior escavado que emitia um brilho discreto, graças a todos os objetos brilhantes escondidos ali dentro. Meio escondido por trás da abertura do viveiro, a cabeça cinzenta do pelúcio aparecia, espiando os dois.

“Theseus me disse que você tinha um desses,” ela falou, diminuindo o passo e esticando a mão na direção da criatura. O pelúcio farejou os dedos estendidos dela e ergueu as patinhas para o anel dourado que descansava no dedo da mulher.

“Não ouse.” Scamander estreitou os olhos e ergueu o indicador na direção do animal, que o encarou por um segundo, antes de voltar a sua atenção para o anel. “Não dê muita confiança pra ele, caso contrário vai acabar sem todas as suas joias.”

“É verdade que ele roubou o relógio do Theseus?” a bruxa perguntou, trocando a mão que estava na direção do pelúcio. O bichinho não pareceu muito feliz em perder o pequeno tesouro que estava logo na sua frente, mas não recusou um afago na cabeça quando Leta lhe ofereceu isso.

“Oh, sim. E ele sabia que Theseus aparecia com frequência lá em casa, então ele escondeu bem.” O pelúcio soltou um barulhinho baixo e satisfeito, esticando a cabeça para que Lestrange o afagasse debaixo do queixo. “Eu... Tenho mais três desses em Londres. São três filhotes que resgatei há pouco tempo.”

Leta o olhou com uma expressão engraçada no rosto: olhos arregalados e lábios entreabertos, surpresa, mas com o início de um sorriso. Newt riu. Quem sabe ele não encontrasse um bom criador de pelúcios e não desse um filhote de presente para Leta de casamento? Ele estava mesmo com dificuldade de escolher algo para dar... Se bem que Theseus não consideraria isso um presente para os dois.

“Você falou que precisava cuidar de um kappa,” a mulher falou, acariciando o queixo do animal mais uma vez e então se afastando. “Onde encontrou um kappa?”

“Bom, encontrei alguns no Japão há dois anos, mas esse foi aqui em Paris mesmo. Em um circo,” ele explicou, acenando para que a bruxa o acompanhasse.

Enquanto andavam, Scamander olhava para cima e procurava a esfera de água onde havia colocado a criatura. No teto escuro da maleta, havia diversas esferas de água com todo tipo de animal aquático flutuando aqui e ali. Havia também um grupo de gira-giras e um pássaro ou outro que voavam ali. Entre tudo isso, o homem identificou a criatura mais apática em comparação com os grindilows que nadavam em volta e, com um aceno da varinha, a fez se aproximar deles.

“Accio bacia,” ele murmurou e esticou a mão para apanhar o objeto que veio na sua direção, colocando-o no chão e depositando o kappa ali dentro. O animal soltou algo que soava como um suspiro quando a água escorreu para dentro da bacia e os encarou, virando a cabeça lentamente para olhar de um para o outro. “Me ajuda a limpar ele?”

Leta sorriu e assentiu, dobrando as mangas do vestido enquanto se ajoelhava no chão ao lado da bacia. Com um feitiço, o magizoologista conjurou duas escovas e entregou uma para a mulher, antes de começar a esfregar a sujeira que estava grudada no animal.

“Quando a gente era pequeno, Theseus e eu dávamos banho nos hipogrifos da minha mãe,” disse Newt, rindo fraco enquanto se focava no kappa. “Nos pequenos que ainda não conseguiam nos jogar pra longe com um coice.”

“Duvido que você tenha ficado a infância toda longe dos hipogrifos grandes.” Leta arqueou uma sobrancelha.

“Eles eram tranquilos, bastava saber como interagir com eles.”

“Pra você, Newt, todo animal é tranquilo e basta saber como interagir com eles.” A mulher sorriu. “Exceto, talvez, o seu irmão. Parece que é a única criatura que você se recusa a enfrentar.”

Scamander franziu as sobrancelhas e abaixou um pouco a cabeça, fingindo estar muito concentrado em um pedaço de limo que rodeava a abertura auditiva do kappa.

“Eu não enfrento nenhuma dessas criaturas, Leta,” ele explicou. “Não sou um duelista ou caçador. Theseus é um auror. Enfrentar os outros faz parte da vida dele.”

“Certo, você aprende a interagir com elas,” a bruxa falou, indicando o animal na frente deles. “Por que não faz isso com Theseus?”

“Não funciona assim com pessoas.”

“Funcionou assim comigo, não?” Lestrange esticou o pescoço para conseguir encontrar os olhos dele e sorriu de lado, travessa, ao vê-lo corar. “E funcionou com o trouxa lá em cima... E com a Srta. Goldstein.”

Aos poucos, o kappa parecia ficar menos encardido, apesar de que seriam preciso várias sessões de limpeza para que ele se livrasse de todo a sujeira adquirida no circo. A bruxa se ocupava em passar a escova por áreas maiores e Newt, depois, repetia o processo em lugares menores, pequenas dobrinhas onde Leta deixara escapar a sujeira por não estar acostumada a lidar com aquelas criaturas ou por medo de machucá-la.

“Eu estou feliz, sabe?” o magizoologista murmurou, o rosto tão perto do pescoço do kappa que o animal se virou como se tivesse sido chamado. “Por você e Theseus.”

“Mesmo que não estivesse, Newt, você não diria.”

O bruxo respirou fundo, se afastando do kappa e apoiando as mãos sobre as pernas dobradas. Leta continuou a escovar o animal.

“Eu fiquei irritado quando ele me contou,” Scamander continuou murmurando, olhando para as próprias mãos e tentando ignorar a sensação de ter o olhar de Leta sobre si. “Theseus foi a primeira pessoa que entendeu como... como lidar comigo. Ele sabia o que falar e o que fazer, e ele não achava ruim que eu não olhava ele nos olhos quando estávamos conversando ou que eu não parava de falar sobre animais.” Newt largou a escova no chão e passou as mãos pela mancha de água na própria calça. “Você foi a segunda... E a primeira fora da família. Acho que eu fiquei assustado quando Theseus me contou que vocês estavam saindo, porque... Eu não queria perder essas duas pessoas, mesmo sabendo que não falava com você por anos, depois de Hogwarts. Eu não queria ver você de novo e saber que você estava ali por causa dele ou ver Theseus se afastar ainda mais porque agora ele teria outra família.”

O kappa bateu as mãos contra a água e o barulho desta chapinhando se sobressaiu ao silêncio deles. Lestrange também deixou a escova no chão, antes de se arrastar para mais perto do bruxo.

“Isso se chama ciúmes, Newt, e é uma coisa completamente normal.” Ela esticou uma mão para o homem. Um tanto hesitante, Scamander deixou-se apoiar os dedos sobre a palma dela. “Vou te contar um segredo.”

O magizoologista ergueu os olhos e sentiu o rosto esquentar quando a mulher riu ao ver o quão fácil chamar a sua atenção podia ser.

“Eu não vou tirar Theseus de perto e nem ele vai me afastar de você, porque... acho que a razão de sequer começarmos a nos ver foi por sua causa,” ela sussurrou, encolhendo os ombros.

“Como assim?”

“Vi Theseus em um jantar da Madame Malfoy e fui perguntar como você estava. Passei a noite ouvindo ele contar histórias sobre vocês e falando sobre os seus animais.” Leta riu. “Nós nunca teríamos nos aproximado se não fosse por você. Theseus e eu amamos você. De certa forma, é por isso que estamos juntos.”

Scamander engoliu em seco, deixando a palma da mão tocar a da mulher e sentindo os dedos dela se fecharem ao redor dos seus. O polegar de Lestrange acariciou o dorso de sua mão com cuidado, de vez em quando traçando o relevo de uma cicatriz ou outra, e o homem apertou de leve os dedos dela.

“Quer saber mais um segredo?” ela perguntou, baixinho.

“Diga.”

“Você não é o único com ciúmes aqui.” A bruxa sorriu, inclinando a cabeça para o lado e rindo quando ele a olhou, confuso. “Eu não sou cega, Newt. Tina Goldstein?”

O magizoologista sentiu o rosto queimar e tentou afastar a mão, mas sendo impedido por Leta, que girou a mão e entrelaçou os dedos nos dele.

“Ela tem um... namorado,” Newt murmurou. “Um auror.”

“Espero que ela olhe para o namorado como olha para você.” Lestrange riu baixinho e sacudiu a mão dele um pouco. “Eu tinha me esquecido como você fica vermelho. Já percebeu que Theseus também fica? Só que ele fica mais vermelho nas-“

“Nas orelhas,” o homem completou.

Leta, ainda sorrindo, o encarou e suspirou. Enfim, ela soltou a mão do bruxo e puxou a varinha do cinto, apontando-a para o próprio vestido molhado e sussurrando um feitiço para secá-lo. Depois, fez o mesmo com as roupas de Newt, por fim arrumando o nó da gravata dele com um rápido aceno da varinha.

“Talvez seja interessante dar uma cópia do seu livro para ela. Com uma dedicatória... Talvez um dos seus desenhos de um animal?” a bruxa sugeriu, encolhendo os ombros.

“Acho que ela já comprou o livro...”

“Dê mesmo assim. Um livro com uma dedicatória sempre vale mais.”

Lestrange se levantou, esticando os braços sobre a cabeça para se alongar. Newt olhou o kappa e se ocupou em tirar algumas das algas soltas que estavam penduradas em sua cabeça, jogando-as ao lado da bacia antes de erguer a criatura em uma esfera de água novamente.

***

“Por que não me falaram antes?!”

Tina Goldstein caminhava de um lado para o outro dentro do laboratório de Flamel, suas botas batendo com mais força do que o normal contra o chão. A mulher tinha os olhos brilhantes com lágrimas e o rosto vermelho, as mãos fechadas em punhos, volte e meia se abrindo para gesticular ao lado do corpo. Jacob a acompanhava com os olhos arregalados e parecendo pronto para irromper em lágrimas também. Pelo jeito, Newt deveria ter ficado mais tempo dentro da maleta.

“Aconteceu tudo muito rápido desde que a encontramos,” o trouxa balbuciou, abaixando os olhos para os botões do próprio colete quando a bruxa o olhou. “Achamos que ela estava com você.”

“Ela disse que viria visitá-la,” disse Newt, encolhendo-se ao lado de Leta.

“Queenie nem ao menos sabia onde eu estava ficando aqui em Paris!” Goldstein grunhiu, desabando em uma poltrona e escondendo o rosto nas mãos. “Ela não podia vir para cá.”

“Por que não?” perguntou Lestrange, olhando do magizoologista para a auror.

“Porque ela não conhece a cidade! É uma cidade grande e desconhecida. Queenie fica desnorteada em lugares assim e, quando isso acontece, a legilimência piora,” a bruxa explicou, erguendo o rosto, mas mantendo a boca atrás das mãos. “E Paris não é um bom lugar agora... Não com a quantidade de gente que apoia aquele homem horrível.”

“Aquele bruxo de Nova York? O que o Newt desmascarou?” perguntou Jacob, franzindo as sobrancelhas. “Ele está em Paris?”

“Os rumores dizem que sim.” Foi Flamel que respondeu, com a sua vozinha baixa e distante. “Posso não sair muito de casa, mas muitas palavras chegam até mim e muita gente tem falado sobre esse homem. Ele tem um discurso bem... sedutor.”

“Eu tenho medo do que os simpatizantes dele podem fazer com alguém como Queenie. Agora eles estão mais na surdina, mas antes de Grindelwald ser preso em Nova York, vários ataques haviam ocorrido aqui na Europa,” disse Goldstein. A mulher estreitou os olhos ao ver Newt e Jacob trocarem um olhar nervoso. “O que vocês estão escondendo de mim?”

“Nada,” Kowalski respondeu rapidamente.

Tina encarou o magizoologista, ainda com o cenho franzido e os olhos estreitos, antes de se virar para Lestrange, que ergueu as mãos.

“Eu acabei de chegar, Srta. Goldstein,” a bruxa falou.

“Queenie...” Newt sussurrou, abaixando o olhar para o chão. “Queenie comentou algumas coisas que talvez...” O homem respirou fundo e suspirou. “Tina, talvez Queenie tenha sido persuadida pelo discurso de Grindelwald. Como o Sr. Flamel disse, ele tem uma fala muito convincente-“

“Queenie não cairia na ladainha dele.” Os olhos da auror se encheram de lágrimas. “Ela é uma pessoa boa.”

“Grindelwald está convencendo muitas pessoas boas a se juntarem a ele, Tina...”

“Mas não ela. Queenie sabe o que passamos mantendo aquele homem no MACUSA. Ela sabe do que bruxos ruins são capazes, das coisas horríveis que eles podem fazer.” Goldstein se levantou da poltrona andou até o laboratório outra vez, batendo com os dedos na mesa, inquieta. “Ela não se juntaria a ele.”

“Tina...”

“O seu irmão se aliaria a Grindelwald?” a auror perguntou, virando-se para o magizoologista.

Newt abriu a boca para responder prontamente, mas sentiu as palavras lhe faltarem. Ele sabia que Theseus era um homem correto desde sempre, alguém que se enfiava em brigas para defendes primeiroanistas da Sonserina que eram provocados por setimoanistas da sua própria casa. Porém, ele se lembrava de como o irmão já havia comentado sobre Grindelwald com um vestígio de admiração, apesar de isso ter sido antes mesmo de Nova York ter acontecido. Depois, o Scamander mais velho havia se afundado em missão atrás de missão para tentar impedir Grindelwald e seus seguidores de continuarem a recrutar pessoas para a sua causa, quase como se tivesse transformado isso em algo pessoal, não apenas um trabalho.

“Theseus já... disse ter um pouquinho de admiração por ele,” o homem sussurrou.

“Não sei como isso é na América,” Leta interrompeu, dando um passo na direção da outra bruxa. “Mas aqui, quase todo bruxo puro-sangue já sentiu pelo menos... uma pequena vontade de parar e escutar o que Grindelwald tem a dizer. Ele promete liberdade para os bruxos serem quem eles realmente são, magia e tudo, um fim para os encantamentos de proteção e para o Estatuto de Sigilo.” A mulher torceu o nariz enquanto falava, antes de suspirar. “Pense em algo que fragilize a sua irmã. Grindelwald vai usar – se é que já não usou – isso para conquistá-la.”

Os olhos de Tina encontraram os de Jacob em um segundo. A bruxa abriu a boca para falar algo, mas se interrompeu quando uma sombra caiu sobre o laboratório.

Todos olharam para as janelas e viram que estas estavam cobertas por panos finos e negros, quase fantasmagóricos, que ondulavam por sobre os vidros. O prédio vizinho também havia sido coberto pelo tecido e, do outro lado da rua, eles podiam ver pelas frestas do pano, apenas uma mulher havia parado de caminhar para observar as aparições na janela. Dentre todos ali no laboratóio, apenas Jacob não demonstrou notar as cortinas negras que surgiram do lado de fora, ficando este olhando de um bruxo para o outro, confuso.

“Oh.” Flamel deixou escapar um grunhido esganiçado. “Isso não é nada bom.”

“O que?” perguntou Kowalski. “O que está acontecendo?”

“Grindelwald está chamando os seus seguidores,” Newt explicou.

“Theseus disse que provavelmente haveria uma reunião deles hoje,” disse Leta, andando até a janela e abrindo o vidro. A mulher esticou a mão, tocando o tecido com a ponta dos dedos e o puxando de leve.

Newt viu antes que Lestrange pudesse falar qualquer coisa. O pedaço de tecido que ela havia esticado tinha algo estampado em branco: um corvo com as asas abertas. Ele já havia visto aquela imagem antes, no Ministério da Magia, em selos de cartas e nos bordados das roupas de Leta.

“Por que tem isso ai?” perguntou Scamander.

“O que é isso?” Tina olhou do magizoologista para a outra bruxa.

“O símbolo da minha família.” Lestrange soltou o tecido.

“Credence está procurando pela família dele,” Newt murmurou. “E todos acham que ele pode ser Corvus-“

“Ele não é!”

“Eu sei que não, Leta, mas Credence não sabe.” O bruxo observou o tecido mágico balançar contra o vento mais algumas vezes, antes de ser erguido até sumir. “Nada impede de algum dos seguidores de Grindelwald ter entrado em contato e usado esse rumor para convencê-lo de ir até... até onde isso pode levar?”

“Meu pai tinha um mapa velho do cemitério Père Lechaise. Os túmulos das famílias puras estavam marcados com os símbolos de cada uma delas,” a mulher explicou. “O nosso era o corvo.”

 


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Notas finais do capítulo

Eu realmente gostei de escrever esse capítulo... na verdade, adorei escrever todas as interações entre o Newt e a Leta. Então... digam o que acharam? (:



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