Você Já Viu Asas? escrita por Sweet Madness


Capítulo 5
Barbárie




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771174/chapter/5

Aquilo era o maior absurdo que já havia visto. Servir como sacrifício de bom grado? Aquelas bruxas só podiam ser loucas.

Pior que isso era ter que comer a carne de Prudence. Nem de jeito nenhum! E teria que mimá-la, ainda por cima! Era um ultraje.

Alheios ao enfrentamento de Sabrina e Zelda, Ambrosie e Raphaelle estavam deitados no sofá da sala de estar, conversando com Hilda, que estava tensa feito uma vara, já que a menina havia visto as tripas penduradas na porta, mas parecia não se importar muito.

—Ah, querida... Não achou nada estranho hoje?

Claro que ela não ia se aguentar, e Ambrosie caiu na gargalhada, antes de beijar o rosto da namorada.

—Esqueci de falar, tia Hilda... Raphaelle sabe tudo sobre nós. Ela é uma médium clarividente.

—Uma mortal que consegue ver o mundo sobrenatural? Isso é o máximo! Está vendo, Ambrosie. Lucifer sabe aquilo que faz! Amaldiçoado seja! Se não estivesse preso em casa nunca teria conhecido Raphaelle.

—Você está em prisão domiciliar?-A bruxa arregalou os olhos. Até mesmo Zelda e Sabrina pararam de discutir para ouvir a conversa, e a ruiva estava horrorizada.-Bruxo danado! O que foi que você aprontou?

—Tentei colocar fogo no Vaticano...

—E porque disistiu no meio do caminho? É uma ideia brilhante! Eu daria todo o apoio.

—Você é uma anjiologista! Não devia me apoiar nesse tipo de coisa.

—Não seja bobo, Ambrosie. É exatamente por saber tanto sobre o outro lado que apoiaria aquele lugar queimar até se tornar cinzas. Aquilo é um ultraje.

Hilda continuava de olhos arregalados para sua "nora". E as outras duas bruxas na casa estavam no mesmo estado. Sabrina deu um grito animado e foi se sentar ao lado da tia Hilda, sorrindo para o casal.

—Raphaelle! Já que você estuda anjos, estudou sobre o Senhor das Trevas, não é?

—É claro, Sabrina. Por que?

—O que pode me dizer dele?

—Que é perfeitamente compreensível ele ter seguidores humanos... Especialmente as Mulheres. Lucifer era um liberal, e era um amante do ser feminino. Ele sempre pregou pela liberdade absoluta, embora a barbárie nunca tenha sido seu desejo...

—Sacrifício e canibalismo injustificados podem ser encaixados como barbárie?

Os olhos azuis se arregalaram e Ambrosie sentiu uma indignação sem tamanho na namorada. Mas também viu uma tristeza inexplicável.

—Isso é barbárie absoluta.

—E ele apoiaria uma coisa assim? Suas mulheres ferindo outras mulheres?

—Não. Ele abominaria. Que ideia estúpida, Sabrina. Quem faria algo assim?

—O coven da Igreja da Noite.

—Como se você tivesse alguma propriedade sobre o que fala.

Zelda era sensível demais naquilo que tocava sua fé no Senhor das Trevas. Ambrosie viu sua namorada ajeitar a postura e erguer a sobrancelha castanha, abrindo um sorriso presunçoso.

—Tenho mais propriedade no que falo do que você jamais adquiriu em quase quatrossentos anos, Zelda Spellman. E que jamais terá se puder viver mais mil, com toda essa ignorância e paixão cega que a grande maioria da bruxas sangue puro tem. São tão ridículas que seguem regras de submissão feitas por homens que o fazem em nome daquele que trocou o paraíso por sua liberdade. Isso não soa imbecil demais, até pra você?

 

•~~•


Ambrosie ouviu o batedor da porta e aproveitou que estava passando ali para abrir.

Era Prudence, e a bruxa lhe deu um sorriso recheado de segundas intenções, mas ele fez sua melhor cara de desdém.

—Prima? É pra você.

—Estou monopolizando sua namorada, não está vendo?

—Devolve minha garota e vem atender a porta!

O necromante largou a visita na porta mesmo e foi para a biblioteca, atrás da namorada. Deu um olhar pouco simpático a prima e puxou sua castanha para o quarto através de uma passagem secreta.

—O que foi, Ambrosie? Por que está tão infeliz?

—Tem uma bruxa mala que vai ficar hospedada aqui em casa. O que significa que eu não vou poder ver você essa semana...

—Claro que pode. Até onde, no bosque, vai as regras da sua prisão domiciliar?

—Quarenta metros da primeira árvore alta...

Ela abriu um sorriso e fez que ia beijá-lo, apenas para morder a ponta do nariz e correr até a janela.

—Então te encontro lá amanhã.

—Raphaelle!

Uma risada, três saltos habilidosos, e Ambrosie viu sua digníssima correr para a estrada, acenando e gargalhando da própria travessura.

 

•~~•


Uma gargalhada gostosa, harmônica, adentrou pelas minas, soando nas paredes de pedra.

Tinha uma moça rindo entre as árvores. Uma moça que ele conhecia.

 

•~~•


Os dois estavam deitados na manta, sob um Salgueiro Chorão muito antigo.

Ambrosie estava contando alguma das peripécias de suas tias e arrancando risadas de sua namorada.

Ela estava com as mãos na barriga, de tanto rir.

—Ambrosie! Eu vou ter cãibras!

—Não tem problema. Eu peço a tia Hilda uma poção pra você. Sabe que ela faria com todo prazer.

Mais risadas e em algum momento estavam trocando beijos tranquilos. Até uma respiração pesada começar a ecoar pela floresta. Raphaella ouviu primeiro e ficou tensa, se sentando na manta, em total alerta.

—Tem alguém aqui, Ambrose...

—O que acha que é?

Uma brisa gelada os atingiu como uma carícia, e Ambrosie viu sua namorada ficar perturbada.

—Belial... Temos que voltar pra Mansão, Ambrose... Agora!

A corrida até a casa foi simples, afinal não estavam assim tão longe. A questão foi encontrar com Faustus e Pridence na porta, junto com Zelda, Hilda e Sabrina.

—Ei, vocês dois viram um fantasma?

A brincadeirinha de Sabrina fez Ambrose torcer o nariz, antes de perceber que sua namorada ficou pra trás. Viu todos arregalarem os olhos antes de se virar, parando sua corrida de forma bruta. Raphelle estava parada, frente a frente com uma das entidades da destruição. Belial, senhor da Loucura.

—Olá, Raphaelle... Quanto tempo que não a vejo.-A língua demoníaca soava como garras de aço raspando em vidro para os bruxos, que se escolhiam com o som tenebroso.-Linda como sempre.

—Belial...-A morena não conseguia mais respirar e por isso levou a mão ao peito, pressionando. Os bruxos viam seus lábios se moverem, mas não tinham nada além de silêncio.-O que... Faz... Aqui?

—Estou dando uma volta. O que aconteceu, Raphaelle? Não consegue dizer uma frase completa.

— Não posso... Respirar... Belial...-O demônio viu o desespero se acender nos olhos azuis da moça.-Me ajuda...

O antigo Anjo da Virtude fechou suas asas ao redor da moça, e eles desapareceram diante dos bruxos, que estavam absolutamente atônitos. E Faustus mandou seu familiar chamar Lillith com urgência. Ele havia achado que a preocupação dela com a nova diversão de Ambrose Spellman totalmente descabida. Até aquele exato momento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Você Já Viu Asas?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.