Sob Um Novo Olhar escrita por LilyMPHyuuga


Capítulo 3
O Patrono de Lílian


Notas iniciais do capítulo

E chegamos ao último capítulo, leitores! *-*
Muito obrigada aos dez acompanhamentos e três favoritos! ♥ Obrigada também à SBFernanda, que fez questão de me derreter comentando aqui e no Spirit! ♥ Obrigada pelo apoio, sua linda! Espero que o último capítulo te agrade e feche a história direitinho. ^^" ♥
Espero que agrade a todos. ^^" ♥

Boa leitura. ♥



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Apertou mais o casaco ao redor do corpo e esfregou as mãos cobertas por luvas. Ainda não era inverno e mesmo assim o frio já não a deixava sair do castelo se não estivesse bem agasalhada. Poderia ter ficado no dormitório, ou até mesmo no Salão Comunal, mas não queria olhares curiosos sobre si. Já lhe bastava Olivia a encarando acusadoramente desde a noite anterior.

Então decidiu se esconder perto da Floresta Proibida, às margens do Lago Negro, em um local pouco visitado pelo restante dos alunos. Dali já era possível ouvir barulhos estranhos vindo da floresta, além de ser um “alvo fácil” da lula gigante que habitava o lago – Lílian há muito suspeitava que a lula era inofensiva, e que o “gigante” era apenas para assustar os mais novos.

De qualquer forma, ela preferia estar ali, longe das vistas de todos, do que no castelo. Ou atrás das estufas, seu antigo esconderijo. E muito menos na Sala Precisa, que provavelmente será o primeiro lugar onde ele a procurará.

James...

Não conseguia acreditar que ele poderia ser apaixonado por ela desde que eram crianças. Ou que ela poderia estar também...

Mas como Olivia sabia de seus sentimentos quando ela mesma não entendia? Como podia estar apaixonada sem saber que estava?

Lílian abraçou as próprias pernas, aflita. E se James também achasse que ela estava apaixonada? Se pensasse que era retribuído? Por Merlin, ela não poderia iludi-lo! Já tinha grande apreço por ele para deixá-lo sofrer com um sentimento sem futuro!

Deu um pulo ao ouvir um pigarro atrás de si. Virou o rosto e arregalou os olhos ao ver um envergonhado James Potter a olhando a poucos metros de distância, claramente em dúvida se poderia se aproximar.

— C-Como me achou?

— Eu já lhe disse. Sou bom em encontrar as pessoas.

Achou que ele iria se gabar de tal fato, mas o rapaz apenas desviou o olhar, nervoso, colocando as mãos para dentro do casaco.

— Eu... eu lhe fiz alguma coisa?

A ruiva voltou seu olhar para o Lago Negro, abraçando ainda mais as pernas.

— Não — falou baixo, o suficiente para que ele a ouvisse. — Claro que não.

— Então por que não apareceu ontem? — Ela podia sentir a hesitação dele à distância. — Eu esperei por você e Olivia a noite toda.

Foi fácil identificar o misto de vergonha e indignação na sua voz, o que fez a moça se encolher ainda mais.

Como poderia explicar o que a afligia?

— Lílian... você pode me contar o que houve. Eu sou seu amigo... não sou?

Ela apenas confirmou com a cabeça, sem olhá-lo, sentindo algo doer em seu peito.

James não estava chateado pelo bolo que levou. Estava magoado.

— Eu posso sentar?

Mais uma vez ela se limitou a apenas acenar. O moreno sentou na grama fria ao seu lado, e a jovem sentia o olhar pesado sobre ela.

— Estou confusa com algumas coisas — confessou.

— Se eu puder ajudá-la... — ele não pensou duas vezes antes de dizer.

Lílian engoliu em seco. Poderia fazê-lo confessar sem que ele percebesse?

Ela mirou os olhos castanho, por fim. James abriu um pequeno sorriso com seu gesto.

— O que mudou?

Ele piscou, confuso.

— Perdão. Não entendi.

— Perguntei o que mudou. Você passou seis anos me chamando de chata, de nerd, que só sabia estudar e não sabia viver — falou de uma vez, antes que se arrependesse, e respirou fundo antes de repetir: — O que mudou?

O choque foi instantâneo.

— Você sabe o que mudou!

— O que seu pai tem a ver comigo? — rebateu, a um passo do desespero. — A morte dele não deveria influenciar a maneira como você trata as pessoas!

James engoliu em seco, voltando o olhar envergonhado para o lago.

— Não foi a morte dele... não exatamente— ele disse depois de um tempo em silêncio, parecendo escolher as palavras. — Eu não conseguia falar com ninguém sobre isso. Discuti com Sirius mais vezes do que posso contar. Pedro mal conseguia me olhar. Remo apenas estava lá, esperando que eu melhorasse do nada. Então, quem eu menos esperava que fosse se importar apareceu. — James voltou a encará-la. Os lábios dela tremeram, o coração ainda dolorido. — Você não tinha nenhuma obrigação de conversar comigo sobre meus problemas, mesmo sendo a monitora — ele acrescentou a última parte quando ela abriu a boca para argumentar. — Você não precisava se importar. Sequer éramos amigos. E mesmo assim você não desistiu de mim. — Mais uma vez ele desviou o olhar, no entanto, tinha um sorriso teimoso nos lábios e uma coloração levemente avermelhada nas bochechas. — Foi importante... me fez ver que não sou mais um menino. E muito menos um menino que precisa fazer provocações para chamar a atenção de uma garota.

A moça arregalou os olhos. Teria entendido certo?

— Eu sempre a admirei, Lílian. Sempre gostei muito de seu jeito de ser. Desculpe por ter demonstrado isso da maneira errada por tanto tempo.

Ele tomou um susto quando voltou seus olhos castanhos pela última vez para a jovem e a encontrou à beira das lágrimas.

— Está falando sério?

A voz saiu trêmula e abafada por ter escondido parcialmente o rosto nos braços. Não queria chorar na frente dele, mas desde a noite anterior não conseguia controlar os próprios sentimentos em relação ao rapaz ao seu lado.

James abriu mais seu sorriso, levantando o mindinho em promessa.

— Eu jamais mentiria para você.

Lílian sorriu também, enfim. O moreno abriu um braço, ao que ela prontamente aceitou o convite. James passou o braço por seus ombros e a apertou carinhosamente, fazendo-a esquecer completamente da intenção de arrancar-lhe uma confissão.

 


— Eu tenho um segredo.

Lílian abriu a boca, fingindo choque. Colocou uma mão sobre o peito, aumentando a encenação e fazendo-o rir.

— É sério — ele disse em meio às risadas.

— Eu também tenho segredos, Potter. Conte uma novidade.

James deu de ombros, puxando a varinha do bolso e abrindo um sorriso ansioso antes de pronunciar:

— Expecto Patronum.

Os olhos verdes se arregalaram quando um cervo prateado irrompeu da varinha do bruxo, percorrendo toda a Sala Precisa antes de parar em frente à ruiva, olhando-a profundamente antes de sumir. Lílian percebeu que estava verdadeiramente boquiaberta ao olhar para o amigo novamente.

— O... o que... como...? — Ela respirou fundo antes de exclamar: — James!

— Você me pediu uma novidade — respondeu simplesmente, como se não tivesse importância nenhuma executar com perfeição o feitiço que treinavam há semanas. — Agora deixe-me contar o segredo. Era para ele vir primeiro, para você entender meu Patrono.

James deu alguns passos para trás, ganhando certo espaço para lhe mostrar o que quer que fosse. Lílian ainda estava aturdida demais para prestar atenção, mas deu um grito quando, em uma transformação rápida, porém suave, o garoto à sua frente sumiu, dando lugar ao verdadeiro cervo que vira representado no feitiço segundos atrás.

Ela hesitou várias vezes antes de se aproximar do animal cujo olhos estavam na altura dos seus, a imponente galhada subindo mais meio metro e lhe dando um ar de imponência e poder.

— James... — ela gaguejou, em choque. — Você é um animago.

A constatação era óbvia, mas ela sentia que precisava dizer em voz alta, para garantir que não estava enlouquecendo ou que seus olhos não a enganavam. O cervo balançou a cabeça em afirmação, impressionando-a ainda mais.

— Você tem plena consciência de quem é... — certificou novamente, o susto inicial passando e a admiração tomando conta. — James, isso é incrível!

Lílian ergueu uma mão para tocá-lo, surpreendendo a ambos quando o fez. A pelagem era mais macia do que esperava, e ela sorriu antes de abraçar o animal pelo pescoço.

— Você não cansa de me impressionar, não é?

O cervo se afastou um pouco, para que James retornasse à forma humana.

— Merlin, eu nem sei por onde começar a perguntar! — Ela riu, ainda maravilhada. — Seu Patrono é um cervo porque você se transforma num cervo?

— Mais ou menos. Eu escolhi um cervo para minha forma animaga por causa do meu pai. — James a puxou para um banco recém-desejado. — Ele dizia que o vovô queria ensiná-lo a caçar, e o primeiro animal que pediu para meu pai matar era um cervo. — Lílian arregalou os olhos, chocada. — O cervo já estava praticamente morto, mas meu pai não teve coragem de dar o último golpe com a faca. Disse que preferia morrer a ter que matar um animal sem necessidade alguma. E ele foi assim até seu último dia.

O sorriso orgulhoso dele era contagiante.

— Você pensou nisso para fazer seu Patrono?

— Não. — Ele hesitou, desviando o olhar para baixo, para as mãos ainda unidas. Lílian percebeu as bochechas dele corarem como quando conversaram perto do lago, dois dias atrás.

— E no que pensou, então? — Como ele não respondeu de imediato, a ruiva soltou suas mãos e o agarrou pelos ombros, divertida. — Diga-me de uma vez, Potter! Preciso aprender pelo menos um truque para fazer esse feitiço. Não consegui um mísero escudo ainda.

James cedeu à brincadeira, rindo com ela.

— Você conseguiu faíscas uma vez, lembra? — rebateu, uma sobrancelha erguida em provocação. — E não me disse até hoje no que pensou.

Foi a vez dela de corar e desviar o rosto, envergonhada. Girou todo o corpo para a frente, a fim de não ter nenhum contato visual.

— E-Eu já lhe disse que não foi nada — gaguejou. — Foram só faíscas.

— Mas pode ser um bom começo. Por que não pensa a mesma coisa de novo? Pode funcionar.

— Eu acho que não.

Sentiu os lábios tremerem. Se ela pensasse nele e funcionasse dessa vez? Como explicaria o que pensou para ele depois?

Mas se não tentasse, como saberia se funcionaria ou não?

— Se eu testar e der certo, você promete não me perguntar sobre meus pensamentos depois?

Lílian virou o rosto, tomando um susto ao vê-lo bem mais perto, com um sorriso maroto que lhe dizia claramente que não deixaria o assunto de lado.

— Não — ele provocou, só depois se dando conta da proximidade também.

A moça engoliu em seco. Não deviam estar a mais que um palmo de distância. Eles já tinham se abraçado antes, então o contato não era estranho. Mas ver os olhos castanhos de tão perto, parecendo brilhar em ansiedade...

Ela estava paralisada. Não conseguia e, internamente, não queria se mover. Mirava fixamente os olhos dele, que percorriam seu rosto com atenção, como se quisesse memorizá-lo. Uma mão de James também foi para seu rosto, acariciando sua bochecha. O polegar passou levemente pelos lábios da jovem, fazendo algo dentro dela revirar em expectativa.

James enfim quebrou a pequena distância, fechando os olhos antes de encostar seus lábios.

O coração de Lílian Evans parecia que ia explodir!

O moreno apertou mais o contato, mas foi somente quando ele pedia espaço com a língua que a garota percebeu o que estava fazendo, afastando-se abruptamente. Lílian levantou num pulo, assustada, colocando uma mão sobre a boca, não acreditando no que tinha acabado de acontecer.

— Lílian... — Ele se levantou, temendo sua reação, ao que ela deu um passo para trás. — Espere, não...

Ela não o esperou terminar. Desejou com todas as forças que a porta aparecesse o mais rápido possível. Assim que a avistou, correu o mais depressa que pôde, ignorando os chamados desesperados do rapaz.

 


Devia ser o décimo bilhete que recebia naquela semana. Reconheceu a primeira letra e não leu o resto, juntando aquele pedaço de pergaminho aos outros que ignorara e enfiara no fundo da mochila. Olivia a olhou chateada novamente com sua atitude.

— Por Merlin, Lil! — a morena brigou mais uma vez, dessa vez no meio da aula de Feitiços. — Seus olhos não vão cair se ler esses bilhetes! James já me procurou três vezes essa semana querendo falar com você!

— Eu sei...

— Mas finge que não me escuta! Afinal, o que aconteceu com vocês?

— Senhorita Bishop, pratique seu feitiço — o pequeno professor Flitwick chamou a atenção das duas. — E você, senhorita Evans. Está girando a varinha errado novamente.

— Desculpe, professor — falaram em uníssono.

Porém, Olivia não desistiu:

— Você não vai mais fugir de Potter, Lil — resmungou baixinho. — Não sei o que aconteceu, mas seja lá o que ele tenha feito, ele conquistou o direito de se explicar. Pare de fugir.

Lílian a olhou indignada.

— Não estou fugindo!

Olivia apenas lhe lançou um olhar sério antes de voltar a praticar o exercício, não lhe direcionando mais nenhuma palavra até o jantar, três aulas depois.

— Vai ficar sem falar comigo? — protestou a ruiva, enquanto seguia a amiga até o Salão Principal.

— Estou lhe dando tempo para pensar. Você claramente não tem feito isso direito ultimamente.

— Você não pode me julgar assim! Nem sabe o que aconteceu!

— Não, não sei. — Ela estancou no corredor, parando em frente à amiga e falando seriamente. — Porque você não me contou. E mesmo que tivesse contado, eu já disse: James merece se explicar.

— Não há explicação para o que ele fez!

— Para tudo há uma explicação, Lil!

— Não para um beijo!

Olivia piscou, aturdida. Depois deu um passo para trás, abrindo um sorriso aos poucos.

— É isso que tem escondido de mim por quatro dias? — Ela riu, enfim. — Um beijo?

Lílian cruzou os braços, emburrada.

— Por Merlin, Evans, eu não estou acreditando! — A morena voltou a se aproximar, abraçando a outra. — Viu? Eu disse que tinha explicação. E ele nem precisa falar nada, eu posso dizer o porquê. — A ruiva se afastou para olhá-la, confusa. — James está apaixonado por você, Lil! Eu já lhe disse isso!

— Não! — Ela se afastou de vez, nervosa. — Não, ele não pode!

— Por que não? Lil, você é uma garota incrível! Linda, estudiosa, inteligente, divertida... James não é o único que se apaixonou por você nessa escola, sabia?

— O quê?!

— Deixe para lá. James não precisa de concorrentes. — Olivia balançou as mãos, gesticulando para que esquecesse o fato. — Mas fale de você. O que você fez depois do beijo?

Braços cruzados novamente, dessa vez de vergonha.

— Eu fui embora.

A raiva passou novamente pelos olhos verdes de Olivia.

— Eu não acredito, Lílian! É por isso que o garoto não para de correr atrás de você!

— Não há explicação para o que ele fez — decretou, a fim de encerrar aquela conversa. — Não há explicação para o que eu fiz. Só quero esquecer o que aconteceu, ok?

Lílian voltou a olhar para a amiga, deparando-se com um semblante de pesar.

— Por que reluta tanto em aceitar que gosta dele também?

Olivia não esperou resposta. Continuou seu caminho, sem esperar pela amiga para o jantar, pois sabia que ela não a seguiria.

Lílian andou para o corredor oposto, com lágrimas nos olhos. Odiava discutir com Olivia, mas também não aguentava mais essa pressão por causa de James.

Precisava ficar longe dos dois!

Subiu até o último andar da torre mais alta do castelo, normalmente fechada para os alunos fora do horário das aulas. A Torre de Astronomia não receberia estudantes naquela noite – ela bem sabia graças aos seus turnos de vigia como monitora –, então não havia porque temer encontros indesejados.

Ninguém a encontraria ali. E seu sumiço poderia indicar que estava em mais uma ronda noturna pelo castelo.

Daria tempo suficiente para que pudesse pensar.

As lágrimas afloraram novamente, e ela se sentou na sacada da sala de aula, observando o céu fracamente estrelado. A proximidade do inverno estava deixando o céu mais fechado e o clima cada vez mais frio, mas ela não se importou com a própria tremedeira. Sendo bem sincera consigo, ela não sabia se tremia por conta do frio ou por conta do choro angustiado.

Por que rejeitava os sentimentos de James? Olivia tinha razão, era mais do que óbvio que ele nutria uma paixão não-correspondida... o beijo comprovara isso.

Mas seria mesmo não-correspondida?

Uma ideia lhe passou pela mente como um raio, cessando suas lágrimas quase no mesmo instante. Enxugou o rosto e se levantou, sacando a varinha. Respirou fundo e fechou os olhos.

“Você estava mais bonita como Olivia” a voz dele ecoou em sua mente, lhe arrancando um pequeno sorriso com a lembrança do dia que praticaram transfiguração humana juntos e que ela decidira ajudá-lo a sair do luto.

“Você não mudou muita coisa” ela disse a James depois de arrastá-lo para a biblioteca. “Mas mudei para você” ele respondera, depois de ter percebido que Lílian o chamava pelo primeiro nome. Sim, algo tinha mudado ali... James não era mais um garoto que a aborrecia. Ele era alguém que precisava de atenção, de cuidados... de alguém para ouvi-lo.

“Lílian Evans... conheça a Sala Precisa” ele anunciou em outra lembrança, mostrando alegremente a sala que serviu de refúgio aos dois nas últimas semanas. Mas naquele dia em especial, serviu para lhe mostrar um lado divertido e comilão do rapaz.

“— Não pode pedir um doce de um doce.

— Mas chocolate também é um doce e recebi um! — ele teimou.

— Pudim é um doce pronto.

— Chocolate também!

— É diferente.

— É injusto.”

Lílian sorriu mais uma vez, sem perceber a lágrima emocionada que caía em seu rosto.

“Eu acho que você merece chorar por seus problemas em um lugar mais digno do que os fundos de uma estufa descuidada. Não gostei de vê-la chorando, Evans. Não combina com você.”

Não, ela também conheceu outro lado de James Potter naquele dia... um lado atencioso, preocupado, carinhoso. Ele não gostou de vê-la chorando e compartilhou o segredo da sala com ela, apenas para que ela tivesse um lugar mais confortável para se esconder... não que ele apoiasse seu choro, pois ele disse mais de uma vez que não gostava de vê-la triste.

“Pois ela está certíssima! Uma garota que a faz chorar não merece sua atenção, Lílian Evans. Lágrimas não combinam com você, eu já disse.”

Então ela sorriu, como se tivesse acabado de ouvir aquelas palavras. Sorriu, sentindo o coração acelerar. Sorriu mesmo em meio às lágrimas emocionadas.

Sim, porque você me ajudou! Porque você me fez lembrar dos melhores momentos com meu pai! Porque você me fez perceber que aquele escudo poderia ser ele me protegendo! Por favor... me deixe ajudá-la. Deixe-me retribuir o favor.”

James teria percebido? Teria notado seu nervosismo depois do abraço? Teria visto que ela fechou os olhos ao ser aninhada em seus braços?

Ele percebeu que sua gratidão e dedicação estavam lhe garantindo um lugar no coração dela?

“Você não precisava se importar. Sequer éramos amigos. E mesmo assim você não desistiu de mim. Foi importante... me fez ver que não sou mais um menino. E muito menos um menino que precisa fazer provocações para chamar a atenção de uma garota.”

Não, não precisava mesmo. Bastou que James Potter mostrasse seu coração para que Lílian o acolhesse em seus braços e o chamasse de amigo, de alguém importante e especial.

“Eu sempre a admirei, Lílian. Sempre gostei muito de seu jeito de ser. Desculpe por ter demonstrado isso da maneira errada por tanto tempo.”

— Expecto Patronum.

Sentiu a magia fluir por suas veias e se estender até a varinha, enfim produzindo o feitiço. Ela hesitou antes de abrir os olhos, mas quando o fez, seu queixo caiu.

Uma elegante corça prateada andava pela sala de aula. Ela parou a poucos metros da ruiva ainda em choque, balançando a cabeça, como se espantando um inseto, antes de sumir.

Lílian caiu no chão, ofegante.

Uma corça...

Como ela poderia negar agora que seu coração estava ligado ao dono de seus pensamentos?

Como negar seu coração descompassado?

Como negar a si mesma que estava perdidamente apaixonada por James Potter?

 


“Não vou pedir desculpas pelo beijo que lhe dei. Era algo que eu queria há muito tempo. Só lamento ter interpretado errado seus sinais naquele dia. Eu achava que você queria também... e por não ter te entendido direito eu lhe peço desculpas. Não quero magoá-la, Lílian.”

“Por favor, podemos conversar? Sei que ainda está chateada, mas podemos resolver isso. Me encontre na Sala Precisa depois do jantar, por favor.”

“Lílian, por favor! Fale comigo! Entendo que você ainda esteja insegura sobre o que aconteceu, mas isso não é motivo para me ignorar! Vamos conversar, por favor!”

“Você está lendo meus bilhetes? Vi você recebendo o último e apenas jogando na mochila. Foi isso que significou para você o que aconteceu? Um momento para ser esquecido?”

“Você não faz ideia do quanto sua ausência me dói. Sinto falta de nós dois. As últimas semanas foram incríveis ao seu lado, Lílian! Eu falo sério. Você é especial para mim.”

“Estou quase perdendo as esperanças de que você esteja lendo meus bilhetes. Procurei Olivia, mas ela disse que não sabe o que aconteceu conosco e que está respeitando sua decisão de permanecer longe de mim. Você não contou nem para sua melhor amiga o que aconteceu... eu a envergonho tanto assim?”

“Qual é o sentido dessa distância? Você se sente melhor em me ignorar? Em fingir que nada aconteceu? Que nunca fomos amigos? Pois eu não me sinto bem, Lílian! Não quero e nem vou esquecer as semanas que passamos juntos! Sei que não fui a melhor pessoa contigo nos últimos anos, mas achei que soubesse que não sou mais assim. Você me ajudou a mudar... não finja que não.”

Lílian descia as escadas depressa, sem fôlego na metade do caminho. O último bilhete de James a tirara do torpor que a auto revelação lhe causou:

“Estarei te esperando na Sala Precisa uma última vez. Se você não aparecer, eu aceitarei de vez que nossa amizade acabou.”

Deu graças a Merlin pela “iluminação” de enfim ler os bilhetes que James mandara pela semana, pois teve tempo de correr para o esconderijo que o rapaz lhe apresentou. Ela olhou o relógio no pulso mais uma vez antes de parar em frente à porta que só ela poderia ver. Nove da noite... ele ainda estava lá.

Abriu a porta, que rangeu alto, indicando sua presença para a figura solitária em pleno jardim primaveril. James se levantou assim que a viu, surpreso, quase sem acreditar que ela realmente aparecera. Lílian fechou as portas atrás de si, as mãos trêmulas nas costas.

— Você leu meu bilhete... — A voz fraca mostrou todo o seu nervosismo.

— Acabei de ler, na verdade. Eu... tive medo de não te encontrar.

— Você veio correndo? — Ele pareceu ainda mais surpreso.

A ruiva confirmou com a cabeça, tomando coragem para se aproximar. Deu dois passos na direção dele, e ele fez o mesmo. Não perceberam quando praticamente correram e se encontraram em um abraço apertado, cheio de uma saudade que eles não imaginavam ser tão forte.

— Me desculpe, eu fui uma tola! — falou apressada, escondendo o rosto no peito dele. — Eu fiquei com tanto medo do que eu estava sentindo! Do que você estava sentindo! Foi tudo tão rápido, James! Eu não conseguia acreditar que era verdade...

— O que é verdade? — soou trêmulo, inseguro.

Ela o olhou, sorrindo. O alívio que sentia em estar ali, nos braços dele, era indescritível.

— Eu adoro seu sorriso, sabia? É o mais bonito que já vi. — As íris castanhas mostraram surpresa. — Também adoro seus olhos, principalmente quando sorri. Eles brilham! — Lílian aproximou o rosto do dele, com a sensação de finalmente estar fazendo a coisa certa. — Eu amo o jeito que me olha, James... porque eu também o vejo assim.

— Lílian... — gaguejou.

A jovem colocou uma mão no rosto dele, assim como ele fizera da última vez. Também quis memorizar o rosto masculino, a barba por fazer, o queixo quadrado e o nariz pequeno... esperava vê-lo àquela distância mais vezes, mas queria admirá-lo da forma que não teve coragem antes.

— Eu acho que me apaixonei por você, James Potter...

Puxou a varinha do bolso, discretamente, murmurando o feitiço que agora parecia simples demais. A corça fez o mesmo passeio de antes, caminhando pela sala antes de parar ao lado de um boquiaberto James.

— Eu não tenho nenhuma história sobre uma corça — comentou ainda nos braços dele, fazendo-o olhá-la quando o encantamento se desfez. — Nunca vi uma pessoalmente, apenas em livros. Não consigo deixar de pensar que minha única ligação com ela é você.

Aos poucos a compreensão surgiu no semblante do garoto, que foi sorrindo cada vez mais.

— Você também gosta de mim... é isso? — Ele se esforçava para conter a empolgação.

“Também” foi a palavra que a fez sorrir mais. Ela apenas concordou com a cabeça, enfim aproximando os lábios e se entregando ao beijo mais apaixonado que ela ou James já deram em suas vidas. Os corpos colados queriam se unir o máximo que podiam, ambos desejosos para que aquele momento não acabasse.

— Você está atrasada, Evans — o moreno falou ofegante após o beijo, distribuindo selinhos entre suas palavras. — Sete anos atrasada.

— Tanto tempo assim? — Seu coração bateu mais forte com a revelação e a confirmação dele. — Bom, então tenho muito o que compensar.

E voltou a beijá-lo.

 


Seu estômago estava roncando. Ela amaldiçoou mentalmente o monitor-chefe, pela centésima vez, por ter marcado uma reunião com os monitores depois da última aula da manhã. Na hora do almoço.

Lílian bufava até o Salão Principal, rezando para que o almoço ainda estivesse servido para os alunos, quase duas da tarde. Quando chegou lá, viu uma roda de alunos cobrindo alguma confusão que acontecia no meio do salão. Pediu licença até passar pelo tumulto e chegar ao centro, onde a professora McGonagall gritava para duas pessoas que a ruiva não enxergava:

— Detenção! Para os dois! Ficarão limpando os escritórios dos professores depois das aulas, quantos dias forem necessários! Sem magia! — ela frisou ao fim, acabando com a possível alegria de uma fraca detenção.

A professora deu as costas, saindo salão furiosa. Lílian enfim pôde ver os rostos dos encrenqueiros, tomando um susto com a falta de costume.

James abriu um enorme sorriso ao vê-la, correndo até ela e roubando-lhe um beijo.

— Onde você estava? — falava animado. — Perdeu todo o show!

— Eu...

— Ah, não tem problema. A escola vai lembrar disso por anos!

Então a beijou novamente, puxando o braço de Sirius, seu cúmplice, e seguiu atrás da professora.

Olivia se aproximou dela, com os braços cruzados em chateação.

— Esse seu namorado é uma peste! Você acredita que ele...?

Lílian levantou a mão, silenciando a amiga.

— Honestamente, Olive, eu não quero nem imaginar o que aconteceu aqui. — Ela sorriu, surpreendendo a morena. Olhou para os portões do salão, por onde os Marotos passavam. James ainda parou ali e a procurou, piscando um olho quando a viu. A moça quase riu, voltando-se para Olivia. — Ele fica lindo sorrindo, você não acha?

A outra franziu o cenho, confusa com sua mudança de assunto.

Lílian sentou à mesa da Grifinória, servindo-se o quanto antes. Porém, sem deixar de pensar naquele garoto que detestava até o ano anterior, mas que agora a conquistava todos os dias.

Ver James Potter com outros olhos definitivamente fora seu maior acerto naquele ano.

 


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Notas finais do capítulo

Então... é isso. ^^"
Estou bem para a minha primeira fic JiLy? ^^" Podem ser sinceros, rsrs.
Obrigada mais uma vez à Amelina Lestrange e Ophelia, por terem me dado essa capa divosa! Obrigada também à _Nathy_ e TsukinoFih por toda a ajuda com a história! Vocês são maravilhosas, pelo amor de Merlin! ♥
E você, Fe? Gostou? Deu de ler? ^^"
Muito obrigada mais uma vez (e desde já) pelo apoio em mais uma história! ♥
Até uma próxima vez! =* ♥



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