Truques Inexplicáveis escrita por Lehninger


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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— O truque do dia?

Aos 19 anos, nunca passou pela cabeça de Murasakibara Atsushi que estaria namorando — tampouco um rapaz tão peculiar. 

Imaginava-se apenas empurrando com a barriga os estudos na faculdade que era obrigado a fazer devido à cobrança de seus pais e passando os finais de semana esparramado na cama de seu quarto, rodeado por doces e mangás.

E agora estava ali, completando um mês de namoro com um quase estrangeiro americano que sobrevivia à base de pequenos espetáculos de mágica que podiam acontecer desde em uma festa de aniversário infantil a um bar em plena madrugada.

Himuro Tatsuya tinha a mesma idade que Atsushi quando veio ao Japão em busca de novas oportunidades. Não tinha formação profissional, havia abandonado a escola no segundo ano do ensino médio e, em um ímpeto de loucura, deixou a casa dos pais e o próprio país onde vivia por não querer dar mais despesas à família que ainda lhe sustentava.

Atualmente contava com seus 21 anos e sua situação não havia mudado tanto, embora agora conseguisse pagar um aluguel mensal por onde vivia. Apesar das dificuldades, estava sempre com um sorriso no rosto e uma carta debaixo da manga — literalmente. Era apaixonado pela mágica e não se dava o mínimo trabalho de esconder tal fato. Havia simplesmente usado seu principal hobby como meio de sobrevivência e se considerava uma pessoa feliz por viver à base do que amava.

A pergunta era retórica e feita diariamente no momento em que Atsushi comentava sobre qual seria a surpresa naquele pequeno show de mágica o qual ele sempre pedia.

— Às vezes brilha o Sol em demasia... Você já sentiu, Atsushi, seu calor tão próximo de si a ponto de lhe queimar? 

Mostrou uma rosa vermelha que até então mantinha escondida atrás de si e a girou rapidamente a poucos centímetros do rosto do rapaz de cabelos lilás.

O escarlate foi subitamente tomado por faíscas e Murasakibara viu a flor ficar em chamas durante um segundo à sua frente.

Era sempre assim. Citava algum verso de Shakespeare, às vezes interpretava-o à sua maneira — que, na maioria das vezes, Atsushi não compreendia — ou simplesmente usava como pretexto para fazê-lo adivinhar seu próximo truque.

Murasakibara pegou a rosa estendida em sua direção e se aproximou daquele que a segurava, depositando um breve selar em seus lábios e sentindo o mesmo ser aprofundado por Tatsuya.

Em meio a seus beijos intercalados entre os mais calmos e os mais afoitos, o celular de Himuro tocava e os atrapalhava. Um número desconhecido estampava o visor e, após encerrar a ligação, o mais velho ia embora para se preparar para o próximo espetáculo marcado por telefone.

E sempre antes de passar por aquela porta deixava em Murasakibara parte de sua essência, tocando seus lábios uma última vez com os próprios — causando-lhe um efeito que, diferente de seus truques, Atsushi era incapaz de explicar — e pronunciando sua costumeira despedida:

— Meu destino me chama; é ele que deixa as menores artérias do meu corpo com a mesma resistência que as dos músculos do leão de Neméia.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a você que leu até aqui!

O primeiro excerto em itálico é um verso do Soneto XVIII, enquanto o segundo é uma fala do personagem Hamlet.

Chuu ♥



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