Splash escrita por Jubs


Capítulo 9
One Year


Notas iniciais do capítulo

Oir

Viu eu disse que ia ter 5k palavras. Espero que gostem desse e esperem muito pro próximo e ÚLTIMO capítulo kekekek.

Sem mais delongas, boa leitura ♥



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Entrei no carro de Will que estava parado na calçada em frente a minha casa a um tempo já. Sabia que havia o deixado esperando mas não pude evitar, meu despertador não havia tocado e ninguém estava em casa. Entrei no carro rapidamente sem dizer nada já esperando que ele fosse brigar comigo, mas não foi isso que aconteceu. 

— Bom dia meu amor. — ele disse enquanto se aproximava para me dar um beijo.

— Me desculpa pelo atraso, meu despertador não tocou… — retribuí seu beijo enquanto botava o cinto de segurança.

— Tudo bem, acordei de bom humor hoje.

— O que aconteceu de tão bom?

— Te conto depois.

— Ah não, sem essa. — eu disse olhando brava para ele enquanto ele ria.

Dava para perceber um sorriso calmo em seu rosto, o que não era uma coisa comum de se ver em Will durante a manhã. Claramente alguma coisa muito boa havia acontecido e ele queria fazer uma ceninha para me surpreender. Ele sempre era dramático assim e notícias boas não podiam simplesmente serem ditas, elas tinham que ser interpretadas. Era um pouco fofo.

Quando chegamos na escola, Will estacionou o carro ao lado do carro de Patrick, que esperava sentado no capô do carro junto de dois garotos do time de natação. Logo que o carro parou e os garotos viram que era Will, todos bateram palmas e torciam de forma exagerada.

— Por que eu sou a última a saber da notícia?

— Bem, eles ficaram sabendo junto comigo nos vestiários. — ele disse meio sem jeito já saindo do carro.

— Não acredito!! Tu é o novo capitão? — eu disse quase berrando.

— Meio que sim.

Eu o abracei com tanta força que quase caímos juntos. Quando nos separamos, seus amigos foram celebrar com ele. Mesmo que todos já soubessem, esse era seu primeiro dia oficial como capitão do time de natação. Enquanto eles estavam distraídos conversando, Sarah se aproximou percebendo a agitação, queria saber o que estava acontecendo. Eu expliquei para ela e ela parabenizou Will de longe. Desde nossa briga, Sarah ainda estava meio brava com Will.

Quando contei às garotas que eu e Will havíamos voltado a nos falar esperava que elas ficassem felizes, mas todas pareciam de certa forma decepcionadas. Mesmo que elas claramente já não gostassem mais dele como antes, elas ainda me apoiaram e ficaram animadas por mim depois que se acostumaram com a ideia. 

Depois de ficarmos um tempo conversando no estacionamento, eu e Sarah decidimos entrar e deixamos os garotos lá, pois estava quente demais para ficar parada no sol sem nem uma brisa batendo. No entanto, dentro da escola parecia haver um pequeno caos exalando dos calouros já que era o primeiro dia de aula do ano letivo. Nós, como veteranas, já havíamos nos acostumado com a bagunça que era o primeiro dia e já esperávamos ter algum problema com horários. 

Nos encontramos com Ella e Cindy no corredor, conversamos até o sinal tocar e assim cada uma foi para sua sala. Sentei em uma mesa sozinha na aula de química e não muito tempo depois, alguém se sentou ao meu lado.

— Como nos velhos tempos… — Will disse enquanto arrumava seu material na mesa.

— A gente fez química juntos ano passado, seu palhaço.

— Ano passado? Não sei do que tu tá falando. — ele disse de forma pensativa enquanto eu ria.

Logo a Sra. Chang entrou na sala e a aula começou. As aulas passaram rápido, e logo já era hora das atividades extracurriculares. Fui para a piscina ver Will, já que não faria nenhuma extracurricular esse ano, então pelo menos torceria para meu namorado. Estava orgulhosa dele por finalmente conseguir ser o capitão do time, e agora, mais do que nunca, sua bolsa de estudos de natação parecia cada vez mais possível.

 

*✭˚・゚✧*・゚*✭˚・゚✧*・゚*

 

Entrei na biblioteca da escola apressadamente, procurei Patrick pelas mesas e quando finalmente o vi, fui até ele. Havíamos marcado de fazer uma sessão de estudos de cálculo já que Patrick era muito bom em matemática, enquanto eu não era. Cheguei silenciosamente já cochichando desculpas sem parar enquanto ele me olhava bravo.

— Vinte minutos atrasada, qual é, podia ter pelo menos mandado mensagem avisando.

— Will queria combinar algumas coisas comigo e eu perdi a noção do tempo, me perdoa. — fiz cara de cachorro abandonado para ele enquanto abria minha apostila.

— Vocês dois não desgrudam nunca, credo. Já pensou em passar um tempo sozinha? Recomendo muito. — ele disse rindo.

— Não enche o saco invejoso. — eu disse dando um soquinho em seu ombro enquanto ria. 

Passamos mais de três horas apenas focados em fazer exercícios sobre as matérias que o professor já havia explicado em sala. Me ajudava muito a revisar com um amigo assim pois tinha muito mais liberdade e intimidade para parar a explicação a qualquer momento para fazer perguntas, o que na aula nem sempre era o caso. Patrick era de longe meu parceiro de estudos preferido entre meus amigos. Will não conseguiria manter o foco por mais de cinco minutos comigo por perto, o mesmo para Sarah que já era conhecida por não gostar de revisar e Ella odiava estudar com outras pessoas por perto.

— Tu é o melhor professor de todos, nem sei como eu não te pago pra me dar aulas…

— Se quiser eu aceito débito e crédito. — ele disse rindo. — Mas brincadeiras à parte, eu também aprendo muito com nossas sessões de estudos querendo ou não já que às vezes tu faz umas perguntas muito interessantes que eu acabaria nem pensando sobre.

— Gente inteligente é tão diferente de mim, mera mortal, que precisa revisar todas as matérias fora de sala.

Já que já havíamos revisado todo o planejado decidimos passar num drive thru e pegar um sorvete para cada um. Eu pedi um simples de baunilha na casquinha enquanto Patrick pegou um sorvete cheio de coisas e que claramente custava mais do que deveria. Paramos no estacionamento de um supermercado e comemos o sorvete enquanto conversávamos.

— To pensando em tirar um ano de “folga”. Sem estudar, só viajando por aí e vendo as coisas. A gente já tinha comentado sobre isso, né? — ele perguntou e eu acenei positivamente com a cabeça enquanto comia meu sorvete. — Ainda não falei com meu pai sobre isso, preciso juntar mais coragem pra trazer o assunto em alguma conversa. Eu sei que ele não vai querer e vai argumentar que eu deveria ir direto pra faculdade e só tirar folga quando eu já tiver um emprego estável, mas não é isso que eu quero. Não quero umas simples férias de duas semanas por ano, eu quero sair por aí e viver em lugares diferentes, ver outras culturas. 

— Entendo bem. Também tenho dificuldade em aceitar que o caminho de todo mundo é sair da escola e ir direto pra faculdade. A um tempo atrás meu irmão veio me visitar e descobri que ele é um ótimo exemplo dessa situação. Largou a faculdade para conhecer o mundo. Não acho de todo ruim. Maldita sociedade que nos obriga a trabalhar em empregos que não gostamos e tudo por que o ser humano decidiu inventar um mundo de faz de conta com dinheiro e contas pra pagar. Uma grande piada. — falei e logo depois dei uma mordida braba em meu sorvete que estava no fim já.

— Sim, uma grande piada… 

Depois disso ficamos em silêncio apenas pensando nas decisões que teríamos que tomar logo logo. Quando os dois saíram de seus devaneios, Patrick me levou para casa e nos despedimos, já marcando uma sessão de estudos de cálculo para a semana seguinte. Era meu último ano e não importava o rumo que queria tomar com a minha vida, ter notas altas era meu objetivo final, e eu faria isso estudando o máximo que pudesse.

 

*✭˚・゚✧*・゚*✭˚・゚✧*・゚*

 

Entrei em casa com meu celular tocando, mas esperei me fechar em meu quarto para atender porque havia visto que era Martin me ligando, e sabia que ele não queria que nossa mãe e nosso pai soubessem que nós estávamos nos falando.

— Alô.

— Oi Lindsay, é o Martin.

— Eu vi. Tá tudo bem? Tu nunca me liga assim sem me avisar antes.

— Então, se prepara que eu tenho umas coisas pra falar. — ele deu uma pausa e suspirou alto antes de continuar falando. — Eu tenho vivido por uns meses numa cidadezinha e eu acabei me envolvendo com uma mina e as coisas aconteceram de uma forma que saiu um pouco do meu controle e ela me ligou ontem pra dizer que ela tá grávida.

— Como? — perguntei em choque pensando que havia escutado errado seu vômito de palavras.

— Ela tá grávida. E eu queria que tu fosse a primeira a saber. A gente conversou já e ela disse que não quer abortar, mesmo se eu não quisesse ser um pai presente. Mas a parte mais louca é que quando ela me mostrou o teste, eu fiquei muito feliz… Sei que não é meu tipo, mas acho que tô animado pra ser pai.

— Eu… — ainda estava tentando assimilar tudo que ele havia me falado. Não estava acostumada a ver Martin se abrir tanto pra mim, era realmente chocante. — Eu tô muito feliz por ti. E que bom que vocês falaram sobre isso, é importante.

— Eu só ainda não falei pra ela que eu tô animado pra ser pai desse bebê, no momento foi muito confuso, eu tava feliz mas também muito ansioso e com medo.

— Então fala logo pra ela que tu quer ajudar. Mesmo que vocês não continuem a se relacionar, ainda dá pra ter uma relação saudável. Ela também deve tá morrendo de ansiedade. Liga pra ela o quanto antes e diz pra ela!

— Tá. Brigado Lindsay. Sei que não to acostumado a me abrir tanto pra ti, mas tu ainda é minha irmã e eu sei que posso confiar em ti. Falando nisso, não diz pra mãe nem pro pai, eu vou falar com eles no momento certo. Quem sabe até apresento a Jody pra vocês.

— Jody é um nome bonito. Espero poder conhecer ela logo.

— Enfim, eu preciso ir. Tchau, te amo.

Martin desligou o telefone antes que eu pudesse falar algo. Essa havia sido a ligação telefônica mais estranha da minha vida. Meu irmão se abrindo pra mim, pedindo conselhos pra mim e ainda dizendo que me ama? Coisas que só aconteciam uma vez na vida e outra na morte.

Antes de Martin ir embora pra morar perto da faculdade nós não éramos nem um pouco próximos, inclusive, vivíamos discutindo sobre as coisas mais bobas do mundo, então ver nossa relação mudar tanto assim era surpreendente e me deixava muito feliz já que ele havia sido minha maior companhia durante nossa infância. Pensar em meu irmão como pai era uma ideia completamente absurda em minha cabeça e era ainda mais difícil de visualizar. A ideia não era de todo ruim, ver meu irmão se acalmar e finalmente parar em algum lugar para começar uma vida nova parecia animador. 

 

*✭˚・゚✧*・゚*✭˚・゚✧*・゚*

 

Encontrei com Sarah na saída da escola em seu carro. Havíamos combinado de ir para sua casa logo que as aulas acabassem, mas quando nos encontramos ela me convidou para irmos até o lago, queríamos aproveitar os últimos dias quentes do ano já que sabíamos que logo o frio viria. Quando chegamos às margens do lago havia algumas poucas pessoas, inclusive pessoas da nossa escola, então decidimos nos afastarmos e ficarmos mais isoladas. 

— Esses dias parei pra pensar… — ela disse chutando a água. — Não sei o que vou fazer depois da escola acabar. Sei que tá perto do fim, mas não faço a menor ideia.

— Eu já falei com o Patrick várias vezes sobre isso. — eu disse entrando na água de forma cautelosa mas ainda assim me assustando com a temperatura da água que agora gelava meus pés. — Ele disse que tá pensando em fazer um ano de pausa pra viajar por aí, sabe? Eu gosto da ideia mas eu não sou rica que nem ele, não tenho esse privilégio.

— Queria tanto, mas também não to com condições. Até pensei em trabalhar agora no meu último ano pra talvez conseguir fazer isso. — Sarah disse cabisbaixa.

— Vamos fugir por aí juntas. — eu disse abrindo um sorriso animador para ela, que retribuiu com uma risada baixa. — Meu irmão saiu por aí pelo país, quem sabe a gente pode fazer algo do tipo. Talvez até Ella aceitaria, ela disse que quer tentar um futuro com a banda.

— Ella tem uma banda? — Sarah parou bruscamente e me olhou chocada.

— Ela não gosta de falar sobre, por que sabe que as pessoas na escola tendem a ser chatas com esse tipo de coisa. A única que sabe sou eu e a Cindy.

Sarah e eu conversamos por um bom tempo, ela inclusive mencionou que adorava cantar e que iria perguntar para Ella se sua banda não precisava de ajuda com algo, isso até que ela viu a hora e disse que estava atrasada para um compromisso urgente e que não poderia me dar carona até em casa.

— Ah fala sério Sarah tu me trouxe até aqui, não me deixa. — eu disse enquanto ela ia entrando em seu carro às pressas.

— Não dá, desculpa. Pede carona pro Will. — ela disse enquanto ligava o carro e eu franzi o cenho em confusão.

— Por que ele? Isso foi muito suspeito.

— Ué ele é teu namorado. — Sarah deu ênfase na palavra “namorado” enquanto manobrava para ir embora. — Aproveite o dia. — ela disse acenando e rindo.

Fiquei parada olhando seu carro ir embora, completamente confusa com o que ela queria dizer com tudo aquilo. Não sabia se ela queria pregar uma peça em mim ou se era alguma armação sua. Por alguns segundos fiquei preocupada, mas então peguei meu celular para ligar para Will. Quando desbloqueei e vi a data, já sabia do que tudo isso se tratava, mas me sentia culpada por não ter lembrado antes. Era nosso aniversário de um ano de namoro. Agora sabia com certeza que não se passava de uma armação, já que Will adorava fazer esse tipo de planejamento.

Liguei para ele, mas ele não atendeu, apenas me mandou uma mensagem minutos depois dizendo que já estava chegando mesmo que eu não tivesse lhe dito que precisava de carona. Esperei sentada em um banco e logo ele chegou em seu carro, estacionando-o bem em frente a onde eu estava. Esperei que ele parasse e abrisse a porta do carro para poder ir em sua direção. Ele sorria em gozação e antes que pudesse falar qualquer coisa eu o abracei.

— Me desculpa, eu esqueci completamente que dia era hoje… — eu falei enquanto ele me envolvia e gargalhava alto.

— Eu notei, mas tá tudo bem, eu sei que tu é meio avoada. — ele disse me afastando de si para olhar em meus olhos e me beijar. — Notei que havia esquecido quando te busquei hoje de manhã e tu não falou nada. Tava com cara de cansada, não deve ter dormido muito.

— Sim, o de sempre.

— Enfim, vamos? — ele disse indo até a porta do carona, e a abrindo para mim.

— Vamos onde? — eu disse já entrando no carro. — Programou muitas coisas para hoje?

— Tu nem imagina… — ele entrou no carro e se apressou em sair do estacionamento. — Bom, na verdade queria te levar pra praia, aproveitar os últimos ventos quentes do ano, mas acabei não conseguindo, então programei um final de semana pra gente lá em casa.

Eu o olhei apreensiva pensando na viagem de fim de semana que minha mãe planejava a algumas semanas, eu estava animada e não sabia o que realmente priorizar no momento, mas logo que paramos na sinaleira Will percebeu minha expressão apreensiva e acariciou meu cabelo.

— Já falei com a tua mãe.

— Quando tu falou com ela? — olhei confusa. — A gente planejou uma viagem esse fim de semana… Ah!

Will gargalhou alto percebendo minha surpresa ao notar que até minha mãe estava envolvida em seu plano maligno. Ri enquanto o olhava impressionada. Ver ele se esforçar para fazermos coisas diferentes fazia meu coração inundar completamente com amor. Cada dia eu precisava me relembrar que William Wells era realmente meu namorado, e ainda assim era difícil de acreditar.

— Acho que faz quase um mês, tava planejando muito esse final de semana, tu que é desligada e não notou… — ele gargalhou lembrando de algo. — Esses dias eu te falei algum detalhe sem querer e tu nem sequer desconfiou. Achei hilário.

— Te amo. — disse o olhando, o que o pegou desprevenido.

— Também te amo. — ele disse me olhando rapidamente, mas voltando a olhar para o trânsito.

Quando chegamos em sua casa, ele tirou a mala que eu havia arrumado para a viagem de fim de semana com a minha mãe, o que novamente me chocou. Ele realmente havia planejado tudo meticulosamente e eu não fazia nem ideia de nada.

Entramos em sua casa pela porta da garagem e logo em sua sala havia rosas fazendo um caminho confuso até o andar de cima, imaginei que fosse até seu quarto. Vários balões em formato de coração em vermelho e rosa se espalhavam pelo teto da sala de estar e parte da cozinha. Will deixou minha mala em um canto e buscou uma torta no forno enquanto eu andava pela sala apreciando todo seu esforço.

— Um dia tu me disse que gostava de torta de maçã, aí como tu sabe que eu gosto de cozinhar eu decidi tentar fazer pra gente. Espero que esteja boa. — ele disse levando a torta até uma mesa que já estava posta no deck externo da sala.

— O cheiro tá delicioso, meu amor. — apesar de Will sempre me chamar assim, eu nunca havia o chamado assim, o que o surpreendeu muito. Ele veio em minha direção sorrindo e me envolveu em seus braços.

— Como? Não ouvi o que tu disse por conta do barulho… — ele disse beijando todo meu rosto e meu pescoço.

— Idiota. — eu ri o empurrando de leve, mas sem intenção que ele se afastasse.

— Ah, assim eu tô bem mais acostumado. — ele disse dramatizando, me puxando para mais perto de si.

O jeito de Will realmente me enchia por dentro de uma forma que nem eu mesma entendia. Só de tê-lo por perto meu humor já ficava melhor, e eu era completamente apaixonada por ele. Mesmo que no começo eu tivesse me atraído apenas por sua aparência, sua personalidade era o que mais me prendia depois de realmente nos conhecermos. Era tão bom tê-lo do meu lado quando eu precisava dele.

— Vamos comer a torta e depois tu segue o caminho de rosas. — ele me pegou nos braços e me levou até o lado de fora enquanto eu ria descontroladamente. — Adoro quando tu fica toda vermelha depois de rir.

Sentamos e comemos por um tempo em silêncio apreciando o sabor da torta. Confesso que não era a melhor torta que havia comido em minha vida, mas ainda assim, a de Will era a mais saborosa. A torta tinha um gosto especial, o gosto do amor. Clichê dizer isso, mas nunca alguém, que não fosse minha mãe ou minha avó, preparou algo especialmente para mim. Era a primeira comida com um amor diferente. Era amor romântico. Pela primeira vez em minha vida eu era amada desse jeito, e isso me enchia de confiança e felicidade.

— Onde tão teus pais? — perguntei enquanto pegava os farelos da massa no meu prato para comer.

— Eu pedi pra eles um final de semana sozinho aqui e eles deixaram. Até estranhei, eles foram mais complacentes do que eu esperava. — ele disse fazendo o mesmo que eu. — Mas enfim, não quero falar deles. Vamos?

Will levantou me dando a mão. Levamos os pratos na lavadora de louças e então ele me deixou ir na frente, indo logo atrás de mim. Mesmo que já tivesse ido milhares de vezes à sua casa, ainda era estranho andar livremente por ela. Dei passos lentos seguindo as pétalas que se estendiam até o segundo andar, serpenteando pelo corredor e chegando na porta de seu quarto, que estava entreaberta. Andei até sua porta e o olhei, esperando sua aprovação. Ele empurrou de leve a porta e me convidou a entrar.

Sua janela estava aberta deixando um pouco de luz entrar, mas algumas velas espalhadas pelo ambiente deixavam a luz do ambiente mais quente, as chamas dançavam com o vento fazendo sombras nas paredes. Em sua cama, logo de frente para a porta havia uma caixinha com um buquê de alguma flor muito bonita.

— Eu não sabia qual flor tu gosta, aí o atendente disse que cravos cor-de-rosa eram uma boa. — ele disse pegando o buquê nas mãos para cheirar.

Sorri para ele pegando o buquê para cheirá-lo, seu cheiro era realmente muito bom. Olhei para a caixinha e quando fui pegar, Will foi para pegar também e nossas mãos se encontraram. Nos olhamos rindo. Will pegou a caixinha e a abriu, me mostrando o que havia dentro. Duas alianças douradas fininhas com nossos nomes escritos se encaixavam nas dobras da almofadinha.

— Gostou? — Will perguntou depois que passei um tempo sem falar nada.

— Fala sério, eu amei. — disse entre lágrimas o abraçando.

— Te amo. — ele disse me pegando em seus braços e me rodando.

— Também te amo muito. — o enchi de beijos.

Passamos o resto da tarde entre beijos e filmes na tv de seu quarto. Era quase como se fôssemos um casal morando juntos. Durante a noite Will terminava um trabalho escrito de alguma aula que não tínhamos juntos enquanto eu escutava música no fone de ouvido. Depois comemos e assistimos um filme abraçados até pegarmos no sono.

 

*✭˚・゚✧*・゚*✭˚・゚✧*・゚*

 

Chegando perto das festas de ano novo, Will começou a falar sobre seus planos de passarmos o ano novo em Nova Iorque juntos, o que me deixou apreensiva no começo já que sabia que não teria dinheiro para isso, mas ele insistiu em arcar com os gastos mais exorbitantes. Eu acabei cedendo no final, pois estava animada para passar o fim do ano com ele por mais um ano. Eu achava engraçado como ele adorava fazer os planos certinhos com tanta antecedência, anotando tudo em cadernos específicos e separando sites para pesquisa. Pra ser sincera eu faria isso também, ajudaria com a ansiedade, mas eu era desorganizada demais para isso.

Quando finalmente chegou o dia de partirmos, Sarah nos buscou em casa e depois nos levou até o aeroporto. Optamos por viajar durante o final da tarde para dormir lá e então aproveitar o dia seguinte desde o amanhecer. Ficaríamos num apartamento que o pai de Will havia conseguido de um de seus amigos, e por lá nos movimentaríamos com transporte público. 

No primeiro dia apenas aproveitamos para fazer algumas compras já que dali dois dias era véspera de natal e então seria impossível sair para fazer qualquer coisa significativa. Aproveitamos também para patinar no gelo no Central Park. Era difícil navegar por uma cidade tão movimentada quanto Nova Iorque quando se está acostumado a uma cidade do interior, mas dávamos um jeito, ainda mais Will que estava acostumado com a metrópole.

Os dias pareciam passar rápido demais quando estávamos juntos, o que era bom e ruim ao mesmo tempo. Claro que seria ruim se o tempo se arrastasse enquanto estivéssemos juntos, mas queria fazer nosso tempo juntos valer a pena. No dia anterior à véspera de natal fomos fazer o passeio de barco que passava pela estátua da liberdade. Como do lado de fora nevava ficamos sentados do lado de dentro do barco, abraçados um no outro, numa tentativa falha de esquentarmos um ao outro.

— Então, tem um tempo já que tem um olheiro interessado em mim, não quis comentar por que ainda não sabia como ia ser mas acho que esse vai dar certo. — ele disse me puxando para mais perto de si. — Ele é de uma universidade em Connecticut.

— Ah que legal, espero que realmente dê certo.

— E tu? — ele se virou para mim.

— Eu o que? — eu disse soltando uma risadinha nervosa.

— Já decidiu pra qual faculdade vai?

— Não sei nem se vou pra faculdade… — eu disse rindo enquanto me aconchegava nele, mas ele se afastou.

— Não? Por que? — ele parecia assustado com minha resposta.

— Ah não sei, nem todo mundo precisa ir pra faculdade também.

— Achei que tu ia pra alguma faculdade perto de mim. — ele disse se encostando no banco.

— Bom, eu não escolheria minha faculdade com base nos outros, não sei se era isso que tu esperava, mas não faz muito meu tipo. Principalmente mudar por causa de namorado, me desculpa mas é a verdade. — eu disse acariciando seus cabelos.

— Tu não preferiria ir pra uma faculdade perto de mim, mesmo que a tua primeira escolha fosse igualmente boa? — ele parecia um pouco doído com a minha resposta.

— Acho que não? — eu disse sem muita certeza.

No resto do passeio Will parecia emburrado, mas até o final do dia já havia amolecido. Sabia que, com o nosso relacionamento, o assunto eventualmente voltaria para a mesa, mas naquele momento não me preocupei pois saberia que a eu do futuro saberia lidar com isso melhor do que a eu daquele momento.

Passamos a véspera de natal e o natal apenas no apartamento. Era muito bom nosso tempo lá, mesmo quando não saíamos. Observar a neve cair do lado de fora era tão bonito que poderia passar horas e horas apenas apreciando cada floco que se grudava na janela. Era quase como se estivéssemos vivendo como um casal de verdade que se mudou junto, meio mágico. Passávamos o tempo todo juntos, e fazíamos tudo que quiséssemos sem nos preocuparmos com nada. Comemos muita comida boa e fizemos muitas coisas divertidas juntos, quase parecia com um sonho de natal ou algo do tipo.

Os dias entre natal e ano novo também acabaram sendo bem tranquilos. Apenas aproveitamos o tempo ao máximo que podíamos, presos no apartamento por conta da neve. Durante esse tempo conseguimos maratonar algumas séries e filmes que fazia algum tempo que estavam em nossa lista de coisas para vermos juntos.

No último dia do ano Will tentou me convencer a irmos para a Times Square para olharmos a famosa bola que descia no último minuto do ano, mas as previsões para a noite daquele dia era um frio absurdo e que eu me recusava a vivenciar, mesmo que fosse uma experiência nova para mim. Will decidiu que faria uma janta legal para a gente e assistiríamos à contagem pela televisão.

— No nosso último ano novo a gente quase brigou, lembra?

— Culpa tua, meu anjo. — eu disse me virando para ele enquanto ria.

— Bom… — ele ficou sem jeito.

— Eu to brincando, mas dava pra controlar o ciúmes. — eu disse beijando seu rosto. — Enfim, tá perto da meia noite já, logo começa a contagem.

Passamos a virada aos beijos e risadas. Will havia comprado um espumante barato para nós apenas para brindarmos, mas ele acabou tomando tudo praticamente sozinho, já que a bebida não realmente me agradava. No final decidimos novamente esperar pelo nascer do sol, mas dessa vez apenas tínhamos a companhia um do outro. Durante a manhã, eu e ele quase não nos aguentávamos em pé de sono, então um pouco antes do sol nascer, já estávamos dormindo. 

No dia seguinte, já era dia de voltar para casa. Arrumamos nossas coisas de última hora, limpamos a casa e deixamos tudo arrumado. Decidimos esperar pelo voo no aeroporto mesmo já que teríamos que sair para comer de qualquer jeito, mesmo que esperássemos pelo caos que estaria por lá com o final dos feriados de fim de ano.

Estávamos sentados em um banco quando Will decidiu tirar uma foto nossa.

— A gente combina bastante, né? — ele disse olhando para foto enquanto sorria.

— Combina? — eu disse rindo sem saber se ele falava sério, mas ele me olhou confuso.

— Tu não acha? — ele perguntou com um fundo de indignação na fala.

— Não sei, eu achava que a gente era um casal meio estranho… — eu disse esperando que ele falasse algo mas ele apenas me encarava esperando que eu explicasse. — A gente tem gostos bem diferentes e tals, mas não tem mal nisso.

— Não é só a questão de gostos parecidos que entra na questão de combinar. 

— Bom, tu é meio popular e inteligente enquanto eu sou uma zé ninguém.

— O que isso tem a ver Lindsay? — ele disse com o cenho franzido. — Aliás, a gente não descobriu um monte de gosto em comum recentemente?

— Descobriu? — ele suspirou bravo quando eu disse isso.

— Tu realmente acha que a gente não combina?

— Não sei Will. — logo que eu disse ele virou a cara para o outro lado, claramente emburrado. — Qual é, não to dizendo isso por mal, é só minha percepção, não sei.

Claro que nem tudo é perfeito, e essa viagem estava boa por tempo demais. Esperava que até que chegássemos no Michigan ele já teria cedido, como em nossa discussão dias antes, mas nada. Chegando em nossa cidade ele falava somente o necessário e quando me deixou em casa, o mesmo.

— Ei, tá chateado comigo? — eu disse me inclinando para ele enquanto ele desligava o carro. — Me desculpa, tu sabe que eu não quis te magoar nem nada.

Ele tirou a chave da ignição e saiu do carro para abrir o porta-malas, nem esperando por mim para tirar minha mala de lá. Fui atrás dele e suspirei pegando em seu braço para que ele não saísse andando novamente. 

— Entendo por que tu ficou brabo comigo e vou respeitar, mas eu sinceramente peço desculpa se o que eu falei te magoou. Foi muito bom passar esses dias contigo, eu adorei. — o abracei mesmo que ele não retornasse o gesto. — Agora pode me dar pelo menos um beijo de despedida?

Ele me deu um beijo com um leve sorriso no rosto como se estivesse tentando não rir, mas mesmo assim ele não cedeu, logo voltando ao seu semblante magoado. E foi assim que ele partiu, sem eu nem mesmo saber se estávamos nos falando normalmente, ou se ainda estava um clima estranho. Do jeito que éramos, as coisas não se decidiram muito bem durante o recesso de inverno, e quando as aulas voltaram decidi falar com Sarah sobre o assunto.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo meus anjos.

Beijos de mel.



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