Splash escrita por Jubs


Capítulo 5
That Old Feeling


Notas iniciais do capítulo

Daê my consecrated

Esse, eu juro, é o melhor capítulo de todos até agora (se não for o melhor de todos contando até os que nem foram escritos ainda). E tem o Martin também e ele é o personagem mais querido do mundo.

Enquanto eu escrevia esse capítulo eu não parava de escutar Girl from the North Country do Bob Dylan e do Johnny Cash. Aliás to me segurando muito pra não recomendar mais Bob Dylan nos próximos capítulos pq ultimamente eu to bem viciada.

Enfim, tenham uma boa leitura minhas flor.



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Por algum tempo eu e Martin nos encaramos, mesmo ele estando mais interessado em sua maçã. Meu cérebro ainda tentava processar a informação de que meu irmão estava realmente em casa depois de dois anos inteiros longe. Cheguei perto devagar e ele me olhava estranhando. Toquei em seu braço e ele logo gargalhou e me abraçou.

— Eu sou de verdade sim. — ele dizia enquanto me apertava contra si.

Eu, como boa chorona que era, comecei a chorar. Fazia tanto tempo que eu não o via e a saudade era realmente esmagadora. Claro que ao mesmo tempo que queria ficar abraçada com ele e perguntar sobre sua vida também queria bater nele por não ter aparecido em meus aniversários, ou no natal ou em qualquer data que fosse. Quando nos separamos ele revirou os olhos vendo minha cara inchada do choro.

— Meus deus para de chorar.

— Não, como tu fica dois anos longe de casa? Tá pensando o que? Porra.

— Nada, me desculpa. — ele ficou me encarando enquanto eu limpava meu nariz escorrendo. — Eca.

— É tua culpa seu nojento. — eu disse rindo enquanto socava seu braço. — Quer sair? Daqui a pouco o papai chega.

Ele suspirou pegando as chaves do seu carro e partindo em direção a porta sem me responder. Peguei meu celular na mochila e a joguei em um canto indo quase que correndo atrás dele. Martin dirigiu até fora dos limites da cidade e entrou por um caminho de terra na estrada. Todo bom (ou mal) adolescente que vivesse na cidade sabia que aquela estrada levava ao lago. Os pais também sabiam mas a gente preferia fingir que não.

Quando chegamos, Martin saiu do carro sem esperar por mim e se sentou em um banco qualquer. Me sentei ao seu lado já braba por ele tirar um cigarro do bolso. Nem mesmo Martin que viveu com nosso tio havia aprendido a lição do maldito câncer.

— Martin, por favor... — ele entendeu e guardou o cigarro novamente. — Então, como vai a faculdade?

Ele riu e levantou tentando se afastar de mim, mas eu fui atrás dele. Martin era uma pessoa muito complicada de se conviver, ainda mais que eu era sua irmã. Apesar de eu tentar fazer com que ele se abrisse ele ainda assim era muito fechado e odiava compartilhar seus sentimentos. Eu o abracei e ele me abraçou de volta. O sentimento era de abraçar uma pelúcia que costumava te fazer feliz quando criança mas que acabou esquecida no fundo de um baú. E eu sentia falta disso.

— Sabe, Martin, tu pode me contar tudo. Confia em mim.

— Lindsay, eu larguei a faculdade.

Eu demorei alguns segundos para processar o que ele havia falado mas quando a ficha caiu eu me soltei dele e o olhei nos olhos. Ele evitava me encarar para que eu não conseguisse ler o que ele queria dizer com seus olhos.

— Por quê? Aconteceu alguma coisa?

— Não. — ele me encarou finalmente. — Eu simplesmente larguei.

— Quando?

— Faz quase um ano acho.

Eu o abracei novamente. Sabia que ele precisava, algo me dizia isso. Eu sabia lá no fundo que ele não queria me decepcionar, que queria ser um exemplo mas que tinha falhado, e esse era o meu jeito de demonstrar para ele que estava tudo bem. Não o julgava de jeito nenhum. Ele tinha seus motivos e eu respeitava isso, mas de um modo ou de outro isso me deixava insegura.

Depois de muito tempo sentados no banco observando a água e os pássaros, Martin se desculpou e afastou para fumar um cigarro. Eu havia notado que algumas lágrimas escorriam por seu rosto e que na verdade ele estava se afastando para limpá-las, mas eu fiquei quieta e esperei pacientemente que ele voltasse.

Conversamos por quase uma hora. Ele me contou que não estava ficando em nenhum lugar fixo. Trabalhava alguns bicos aqui e ali mas que não parava em nada, mas não por que era demitido ou algo do tipo. Pelo contrário, me contou que vários de seus empregadores pediam para que ele ficasse e que continuassem com eles mas ele dizia que não conseguia ficar. Era como um pássaro livre.

Ele me disse também que muitas vezes não tinha onde ficar porque o dinheiro estava curto e que ficava em seu carro durante a noite, e que por sorte nunca foi pego pela policia. Teve inclusive uma época em que ficou com uns hippies em uma caravana. Para ele era quase uma piada, mas disse que se divertiu muito. Também visitou a praia várias vezes já que não tínhamos nenhuma realmente perto. E no final de tudo, apesar de não estar seguindo o futuro que nossos pais queriam para ele, ele era feliz. Não precisava de uma casa, um emprego ou um diploma. Seu carro já era o suficiente.

Quando deu a hora de ir para casa Martin disse que não ficaria por lá. Só havia vindo para me visitar e que não queria ficar por muito tempo, no máximo uns três dias. Apesar de que aquilo me atingiu forte, eu procurei não chorar. Perder meu irmão na primeira vez já havia sido muito dolorido e eu não queria sentir aquilo de novo.

— Martin, eu não sei ainda o que quero fazer na faculdade. Ou se quero fazer. Quando tu tava terminando o colegial, como tu decidiu o que queria fazer? — ele me olhou por um tempo sem entender.

— Eu não decidi o que iria fazer. Nosso pai decidiu pra mim. A única coisa que pude opinar foi onde faria, e eu decidi ir o mais longe possível. Foi por esse e outros motivos que eu fui embora brigado com ele.

— Eu to tendo muita dificuldade em decidir o que fazer. Eu não sou boa em nada e não tem nada em específico que me agrade. Tem só uma coisa que eu tenho certeza. Eu não quero ficar aqui e ter o mesmo destino da mamãe. Ela que me perdoe, mas ficar aqui para o resto da minha vida, no mesmo emprego, com as mesmas pessoas, não é pra mim.

— Quando tu terminar o colégio, vai embora daqui, só isso. Não interessa se vai ser por causa da universidade, se tu vai só sair, se tu vai fugir ou se eu vou te buscar. Só não fica. Tu tem um futuro brilhante pela frente e eu não quero que tu desperdice ele ficando aqui.

Olhei-o e logo eu estava chorando novamente. Já sentia saudades dele antes mesmo dele ir embora, não queria nem pensar no que sentiria quando ele realmente fosse. Ele me abraçou uma última vez antes de se despedir, e da calçada eu vi seu carro ir embora. A última vez que vi ele em algum tempo. Por muito tempo me doeu não tê-lo por perto.

*・゚゚・*:,。.。:*゚・*.:✧ ҉ 

Durante os meses mais frios o treino de natação era suspenso, o que era bem triste para mim, grande espectadora dos treinos, mas ao mesmo tempo bom já que Will teria mais tempo livre. Depois das aulas quase sempre ficávamos juntos na biblioteca, ele estudando e eu lendo algum livro. As vezes Patrick se juntava a nós, o que Will não exatamente gostava, já que queria seu tempo comigo.

— Ele não é teu melhor amigo? — ele deu de ombros. — Então qual o problema?

— Eu queria ter meu tempo só contigo poxa.

— Mas a gente tá na biblioteca, vão ter outras pessoas de qualquer jeito...

— Não precisa defender ele.

— Eu não tô.

Ficamos em silêncio novamente. Sabia que Will era um pouco ciumento e que as vezes não sabia controlar, mas eu gostava muito dele e nada realmente me incomodava. Enquanto ele estava concentrado em sua lição eu observava suas expressões, como quando aparecia algo que ele não entendia um vinco se formava entre suas sobrancelhas. Ele as vezes reclamava quando eu o encarava sem dizer nada.

Quando terminamos fomos até seu carro e ficamos conversando por lá. Passar meu tempo com ele era a melhor coisa do mundo. Éramos como aqueles casais chatos que ficam grudados o tempo todo e que só sabem pensar um no outro. Ella adorava nos chamar de pombinhos mesmo que ela e Cindy fossem iguais.

— Então, eu tava pensando em te levar pra sair.

— Apoio.

— Meus pais vão estar fora da cidade, posso te preparar um jantar lá em casa. — eu concordei com um aceno. — Então essa sexta, eu passo aqui pra te buscar.

Nos despedimos com um beijo e ele foi. Entrei em casa e me tranquei em meu quarto. Sorria igual uma boba, mesmo enquanto assistia TV o sorriso não saia de meu rosto. E foi assim até a sexta-feira. Só de pensar em ir na casa do Will já me dava arrepios, afinal quem imaginaria que um dia eu iria finalmente na moradia da pessoa que eu tanto gostava e admirava?!

Quando Will apareceu na minha casa sexta eu o esperava impacientemente. Ele então parou o carro e saiu para abrir a porta para mim. Nos cumprimentamos com um beijo e um abraço. Estava nas nuvens.

— Minha namorada é a mais linda de todas. — eu sorri ouvindo as palavras "minha namorada" saírem de sua boca. — Não tava esperando que tu se arrumasse tanto, é só um jantar.

— Ah sei lá, é a primeira vez que vou na tua casa. — disse entrando no carro e botando o cinto.

— Eu sei, mas eu não tava pensando em fazer nada especial. — ele disse se ajeitando no banco do motorista.

Quando chegamos em sua casa me impressionei. Parecia quase que uma regra que todo mundo no time de natação fosse rico. Já não bastava a casa de praia gigante de Patrick agora era a casa de Will. Entramos e por dentro era mais impressionante ainda. Eu olhava para cada canto pasma, tudo era muito elegante e parecia saído direto de um catálogo de compras de uma loja cara.

— Eu não sabia que tu era tão rico, caramba. — disse me sentando em um banco na cozinha ainda apreciando os arredores.

— Meu pai, ele que é rico.

— Tu é filho dele né, então tu também é rico.

— Não, ele faz questão de dizer que o dinheiro que ele suou tanto pra ganhar é só dele. — Will dizia enquanto mexia algo no fogão.

— O cheiro tá muito bom.

Tentei mudar o assunto vendo que ele parecia incomodado mas ele não quis continuar falando. Enquanto cozinhava, Will disse para eu subir e ver seu quarto, que ele tinha arrumado só para eu ir lá. Eu subi rindo do jeito que ele havia se achado. Quando parei na porta que ele tinha indicado suspirei enquanto minhas bochechas aqueciam.

Botei a mão no trinco e o girei devagar olhando pela fresta aberta. Suas cortinas abertas permitiam que a luz da lua entrasse e iluminasse seu quarto apenas o suficiente para ver a silhueta das coisas. Procurei pelo interruptor ao lado da porta e logo o achei me apressando para ver o que me aguardava.

Seu quarto era grande, mas pouco mobilhado. Havia uma cama, uma escrivaninha e uma estante cheia de livros. As paredes eram enfeitadas com pôsteres de bandas e outras coisa e alguma fotos. Passei pelos livros na estante vendo de títulos clássicos, até poesia e romances contemporâneos. Tinham alguns autores que eu bem conhecia e outros com nomes que eu nem arriscaria tentar pronunciar.

Me aproximei das fotografias na parede vendo um Will que eu nunca havia visto. Em algumas fotos ele aparecia em uma piscina junto a outro garoto que me parecia ser Patrick, o que se confirmou vendo que haviam várias fotos dos dois conforme cresciam até uma bem atual.

— Gostou? — Will falou de repente apoiado na batente da porta, me assustando. — Ah, não fica olhando essas fotos, é embaraçoso.

— Tu sempre gostou da piscina né?

— Piscina, praia, lago. Qualquer lugar que tenha água suficiente pra nadar sinceramente. — eu ri de seu comentário enquanto ele chegava ao meu lado.

— Não sabia que tu e o Patrick se conheciam desde pequenos. Vocês eram muito fofos. — não conseguia parar de sorrir vendo os dois garotos se abraçando em uma das fotos.

— A janta tá pronta, vamos? — Will disse me abraçando por trás e depositando um beijo nos meus cabelos.

Will havia feito macarrão com almôndegas, um prato relativamente simples e muito saboroso. Nós comemos e depois de arrumar tudo fomos para seu quarto. Enquanto eu mexia no meu celular deitada em sua cama ele lia um livro sentado na cadeira da escrivaninha. A noite estava calma e o vento que entrava pela porta de sua varanda era agradável. Depois de um bom tempo em silêncio Will chamou minha atenção pois eu estava quase dormindo.

— Quer dar uma volta? — neguei com a cabeça, então ele veio e se sentou ao meu lado na cama. — Mas tu não pode dormir aqui, tu fez questão de dizer isso todas as vezes que eu pedi.

— Eu sei, mas eu to morrendo de preguiça. — olhei para a hora no celular vendo que já era tarde. — Acho que é melhor tu me levar pra casa, da próxima eu durmo aqui.

— Opa, quer vir aqui amanhã? — ele disse se deitando por cima de mim e me dando um beijo.

— Estúpido. — eu disse rindo enquanto tentava me livrar de seus braços, mesmo que não quisesse.

Quando Will parou com o carro na frente da minha casa nós saímos e ficamos conversando ainda por alguns minutos. Na hora de ir ele me abraçou e não queria me deixar ir, sussurrando elogios no meu ouvido. Dei um último beijo e mandei-o ir embora antes que não pudesse mais me segurar. Estar com ele era com certeza um sonho realizado.

*・゚゚・*:,。.。:*゚・*.:✧ ҉ 

Entrei no carro rapidamente tentando evitar a chuva que caia em gotas grossas. Estava frio e a chuva só piorava mais ainda o clima. Já sentia falta do treino de natação e estava recém na metade do outono. Dirigi até a escola e logo procedi para dentro a procura de Will. Como sempre ele se encontrava na frente do meu armário conversando com algum garoto do time. Cheguei abraçando-o por trás, o que o surpreendeu.

— Que susto. — ele disse se virando e me beijando. — Vai fazer alguma coisa amanhã depois da aula?

— Não que eu saiba, por quê?

— Nada não. — ele disse rindo.

— Ah sem essa, me conta.

Até a hora do sinal bater Will ficou fazendo mistério sobre o que queria fazer no dia seguinte, o que encheu meus pensamentos na metade das aulas. Durante a aula de ciências sociais, a última do dia, a professora passou um trabalho e como Patrick era a única pessoa que eu conhecia naquela sala eu me juntei a ele. Sem me tocar, marcamos de fazer tudo no dia seguinte na biblioteca da escola.

Em casa preparei a minha parte para poder matar boa parte do tempo que precisaríamos para fazer. Patrick gostava de fazer esse tipo de trabalho o mais rápido possível para ter mais tempo depois. Era um grande praticante do ditado "Por que deixar para depois o que você pode fazer agora?", o que me encorajava a ser mais produtiva.

Na manhã do dia seguinte Will estava esperando no estacionamento, apoiado em se carro. Estacionai ao seu lado e fui até ele para abraçá-lo. Ficamos um tempo assim até que ficou frio demais para ficar ali parados no vento. Já dentro da escola nos paramos no meu armário para eu arrumar minhas coisas.

— Tudo certo pra gente sair depois? — olhei-o por um segundo tentando lembrar do que ele falava. — Não me diz que tu esqueceu.

— Ah, desculpa Will. Eu tenho um trabalho pra fazer hoje. — ele me olhou decepcionado. — Me desculpa mesmo, eu acabei esquecendo. Mas não vai demorar, tu pode esperar na biblioteca com a gente.

— A gente quem?

— Eu e Patrick.

— Tu tá fazendo um trabalho com ele? Por quê?

— Porque ele é a única pessoa que eu conheço na aula de ciências sociais. E, bom, a gente é amigo né?!

— De todas as pessoas tinha que ser ele?

— Ué, vocês são melhores amigos, o que tu tá falando? Não é melhor que seja alguém que tu confie?

— Esquece.

Will disse quando o sinal tocou indo pelo meio da multidão e me deixando completamente confusa no meio do corredor. No final do dia, depois de terminar o trabalho com Patrick fui em direção ao meu carro. Estava um frio de doer e eu não queria ficar do lado de fora muito tempo. Notei que o carro de Will ainda estava no estacionamento e quando cheguei perto suficiente pude ver que ele estava dentro mexendo em seu celular.

Cheguei e bati em sua janela esperando que ele abrisse a janela mas ele apenas me olhou sem responder.

— Abre a janela. — ele abriu. — Will me desculpa, ok? Eu acabei esquecendo que tu tinha marcado comigo, aliás, tu nem me disse o que queria fazer.

— Tudo bem Linds, entra aí.

Dei a volta e entrei rapidamente. Will me explicou que ele e Patrick estavam brigados mas que não queria falar sobre, e que logo tudo se resolveria por si só. Tentei racionar mas no fim ele era teimoso demais para falar. Conversamos por mais um tempo e depois cada um foi para sua casa.

Quando cheguei em casa mandei mensagem para Patrick para saber se ele não queria me situar na situação, mas ele me ignorou completamente. Os dois estavam me deixando sem noção do que estava acontecendo e não pareciam querer se resolver seja lá o que estivesse acontecendo.


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Notas finais do capítulo

Fala xuxu, comenta aí o que tu achou e me fala quem é teu personagem favorito.

Vejo vocês no próximo capítulo espero.
spoiler: o próximo capítulo se passa no natal e ano novo.



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