PS: talvez eu seja diferente escrita por Maga Clari


Capítulo 4
Quer ser minha amiga?




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Uma vez, peguei-me pensando sobre a existência humana.

Estava deitado na grama, a cabeça olhando o céu e as nuvens, e vários e vários formatos apareceram para mim. Um coelho de um olho só, uma bruxa acrobata, e por aí vai. Foi quando o grito agudo de Anne Shirley despertou-me a atenção. Ela estava correndo com Diana em inocente alegria. As duas se dependuraram nas cercas e balançavam as pernas para cima e para baixo.

De longe, tive a curiosidade de imaginá-las mais velhas. Diana, uma bela dama da sociedade. Possivelmente dotada de dons musicais e culinários. Falando por favor e obrigada. Diana certamente passearia entre muitos bailes e ocasiões de gente importante, balançando seus babados aqui e ali, além de arrancar os olhares dos homens mais românticos.

Com Anne, não seria desse jeito. Imagino que a versão adulta de Anne seja uma moça diferente. Diferente assim, que nem eu. Ela usaria calças, igual às moças francesas. Seu rosto, com todas aquelas sardas que enfeitam a sua pele, exibiria sorrisos e gargalhadas em circos, anfiteatros, praças, qualquer lugar! Só consigo ver a adulta Anne em cima de um banco da Estação de Trem, recitando prosas e anedotas para estranhos que passem por ela. É assim que é Anne. Uma moça diferente das outras. Assim como sou um rapaz diferente dos outros rapazes. 

Talvez, fosse até mais fácil se casualmente acontecesse de meu coração roubar o dela, ou vice-versa. Temos muito em comum. Seríamos aquele casal que ninguém gosta de falar, mas que se amaria pra valer. Se eu e Anne estivéssemos juntos, poderíamos brincar nos parques, nas florestas, ou só observar as nuvens, como o faço agora. O que é divertido, mas um pouco solitário.

Queria poder conversar esse tipo de coisa com alguém, mas meninos não podem falar sobre sentimentos. Ou qualquer assunto delicado demais. Então fico aqui sozinho mesmo. Esperando o horário que tenho de voltar para arar a terra, já que minha família precisa que cada membro faça a sua parte. Levantei-me com a cabeça fervilhando. Os olhos de Anne encontraram os meus, então ela acenou e eu acenei de volta.

Naquela mesma noite, tive a ideia de enviar-lhe um bilhete quando chegasse na escola. Talvez, se o Professor Phillips não soubesse do que estivéssemos falando, não fosse um problema. O bilhete continha o seguinte:

Oi, Anne. Te acho muito legal. Podemos ser amigos?

Ela olhou-me em honesto sorriso antes de responder-me apressadamente. Sua caligrafia tinha corações nos pingos dos "is" e muitas palavras difíceis.

Oi, Cole, o senhor é de suprema delicadeza em palavras. Esta indagação nem deveria chegar a ser endereçada a mim, visto que é impossível negar tamanho convite. O senhor é artisticamente interessante.

Confesso não ter entendido todo o conteúdo da mensagem. Então, respondi de volta:

Isso é um sim?

Anne tentou reprimir uma risadinha quando leu.

Sem sombra de dúvidas, seu tolo! 

Sorri para ela e dessa vez entreguei-a um desenho de nós dois brincando nas folhas de outono. Anne colocou a mão no peito e parecia emocionada. Quando o Professor Phillips percebeu a troca de mensagens, fingimos que nada havia acontecido.

Bom, pelo menos, ganhei uma amiga. 


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