Vago escrita por Lola Royal


Capítulo 1
Vago


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!

Vamos ler algo no Halloween?

Boa leitura ♥



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2017

 

Bella deixou o estúdio de balé no fim da tarde, dando tchau para sua chefe e para algumas alunas que ainda continuavam no local. A mulher, de vinte e sete anos, era professora de balé no Brooklyn, em New York.

Naquela terça-feira de outubro era Halloween, enquanto muitos estavam comemorando em festas, ou por aí pedindo doces com crianças, tudo que a bailarina queria era voltar para seu apartamento e dormir um pouco, após um banho quente e quem sabe jantar uma pizza. Se sentiu sortuda quando chegou à estação do metrô bem na hora que o seu trem parou, as coisas pareciam estar dando certo para ela naquele dia.

Bella sentou em um banco vazio do metrô, colocou seus fones de ouvido e fechou os olhos. Estava quase dormindo quando sentiu alguém ocupar o lugar vago ao seu lado, não se importou em olhar para a pessoa, mas o perfume lhe deixou inquieta, parecia com o que o seu ex, Edward, dos tempos da faculdade, usava.

— Bella? — Escutou seu nome ser chamado, rapidamente tirou o fone e virou para o lado.

Ali, junto de si estava Edward. Fazia anos que não se viam, não conteve a vontade de o abraçar. Para sua alegria Edward retribuiu o abraço.

— Porra, faz tanto tempo que não te vejo, bailarina! — Edward falou, ainda agarrando Isabella em um abraço apertado, ela sorriu ao ouvir o apelido.

— Desde o dia das nossas formaturas — ela sussurrou, Edward suspirou e a afastou um pouco, só para olhar nos olhos castanhos de Isabella.

Os dois tinham se conhecido nos corredores de Juilliard, enquanto ela estudava para ser uma bailarina, ele estudava música. A paixão foi instantânea, logo estavam namorando e fazendo planos para o futuro. No entanto, o namoro só durou quatro meses, acabando quando Bella teve uma apresentação importante pela faculdade e Edward não esteve lá, isso porque seu namorado esqueceu um dos dias mais importantes para sua namorada e foi para uma festa com amigos, onde bebeu muito mais do que devia e acabou em coma alcoólico.

— Como você está? — Bella questionou Edward.

Terminar com Edward tinha sido difícil para Bella, mas foi necessário. A vida de garoto imaturo que ele levava não condizia com a dela, ela decidiu que não podia ficar com ele, não com aquela versão de Edward que bebia até ir parar em um hospital, deixava os estudos de lado por festas ou a que se esquecia que precisava a apoiar, como ela tinha o apoiado diversas vezes durante o tempo que namoraram.

Por cerca de um ano eles ainda continuaram estudando em Juilliard, o que fez com que se encontrassem diversas vezes depois do fim do relacionamento. Edward tentou voltar com ela muitas vezes, Bella quis voltar outras tantas, mas quando ficava sabendo dele ainda bebendo muito, ou deixando os estudos de lado para curtir festas, quase chegando a ser expulso, ela sabia que tinha tomado a decisão certa rompendo o namoro.

A última vez que se viram foi na solenidade de formatura de ambos, naquele dia trocaram apenas rápidos abraços e felicitações, depois seguiram seus caminhos e nunca mais se viram, até aquela noite de Halloween. Curiosamente o dia favorito de Edward do ano, ele sempre amou a data.

— Estou bem — Edward respondeu a sua ex-namorada, passando uma mão por seus próprios cabelos ruivos, que estavam bagunçados como sempre. Bella sorriu em reconhecimento a isso, ele sempre travou uma batalha com seus cabelos revoltosos. Analisou Edward rapidamente, ele não parecia mais tão magro quanto anos atrás, mas mantinha as expressões bem marcadas em seu rosto, no entanto, o que ainda chamava muito a atenção da bailarina eram os olhos verdes dele.

— É bom ouvir isso — Bella falou.

Ele assentiu, dando um sorriso envergonhado.

— Passei alguns meses numa clínica de reabilitação — Edward confessou, pegando Bella de surpresa. Depois daquele dia da formatura nunca mais teve notícias de Edward, uma vez que não se manteve amiga dos amigos dele, não o buscou em redes sociais, muito menos manteve contato com a família Cullen. — Cerca de um ano depois de eu me formar — ele continuou a contar. — Meus pais me obrigaram, mas com certeza foi o melhor para mim. Depois, eu passei uns anos viajando pela Europa. — Deu de ombros. — Você já abriu seu tão sonhado estúdio de dança? — Mudou de assunto rapidamente, parecia muito constrangido pela confissão sobre a clínica de reabilitação.

— Não — Bella respondeu em um tom de voz baixo. — Estou dando aulas em um estúdio, mas ainda não tive grana para abrir o meu. — Fez um gesto de descaso com a mão. — Como seus pais e seu irmão estão?

— Todos bem — Edward respondeu, sorrindo verdadeiramente. — Jasper casou ano passado, a esposa está grávida de cinco meses agora — contou animado. — E meus pais se mudaram para o interior do estado como sempre quiseram, vivendo uma vida mais tranquila.

— Eu me lembro de seus pais terem esse plano.

— Como sua família está? —  Edward lhe perguntou, fazendo com que Bella engolisse em seco.

—  Meu pai faleceu ano passado — ela murmurou. —  Câncer.

Os ombros de Edward caíram.

— Sinto muito, bailarina.

Ela deu um sorriso triste para ele.

—  Charlie estava sofrendo muito com a doença, acredito que isso foi o melhor para ele, está em um lugar melhor agora. Além do mais, ele odiaria me ver triste.

Edward assentiu.

—  É, eu me lembro o quão alto astral seu pai era.

Bella suspirou, olhando para os fones de ouvido em suas mãos.

—  Meu irmão também casou —  ela contou. — E já teve uma filha, você vai adorar ser tio para o bebê de Jasper, mas as fraldas não são nada legais —  avisou, fazendo com que Edward risse.

—  Tenho certeza disso.

Bella voltou a olhar Edward, ainda parecia inacreditável estar com ele ali após tantos anos.

—  Você ainda está morando em New York? —  ela perguntou.

—  Sim, sim. No Queens, em um apartamento de dois cômodos, porque me recuso a aceitar o dinheiro dos meus pais, eles já gastaram tanto comigo.

Bella franziu o cenho.

—  Dois cômodos?

—  Um banheiro e o outro é uma sala, quarto, cozinha, o que mais você precisar.

Ela riu.

—  E no que está trabalhando?

—  Toco em bares e restaurantes.

Bella ficou séria novamente.

—  Sei como isso parece, uma grande tentação para um cara que já foi até parar em uma clínica de reabilitação por conta do álcool, mas juro que venho resistindo bravamente a cada dia.

A bailarina não falou nada, apenas permaneceu o olhando.

—  Eu vou tocar em uma bar hoje —  Edward disse, mexeu em seus bolsos e pegou um pedaço de papel e metade de um lápis, rabiscou um endereço lá e estendeu para Bella, ela hesitou, mas o aceitou. —  Apareça, se quiser, claro. — Sorriu nervoso para ela. — Nós podemos conversar mais depois.

—  Eu não prometo nada —  ela murmurou.

— Eu sei, Bella, eu sei. —  Edward sabia o quanto tinha errado com ela, não só por ter faltado em sua apresentação, mas por ter sido um cara que não valorizou a namorada o quanto devia, que preferia uma vida de farras, que só se envergonhava de ter levado. — Minha estação é a próxima —  ele disse, se levantando. — Vá fantasiada, serei o cara fantasiado de Elvis.

—  De cabelo preto e tudo?

—  De cabelo preto e tudo, bailarina.


(...)

Bella andava de um lado para o outro por seu apartamento, que tinha mais cômodos do que o de Edward, mas ainda era pequeno. Não sabia se devia ir até o bar o ver tocar, apesar de querer muito, tinha medo de que algo entre eles acontecesse e se decepcionasse, tinha sido muito difícil superar Edward uma vez, não tinha ideia se aguentaria uma segunda.

— O que eu faço? —  ela perguntou quando sua mãe atendeu sua ligação.

— O quê? —  Renée perguntou confusa.

—  Encontrei o Edward hoje, mãe. Ele me chamou para vê-lo tocar, mas não sei se devo ir.

—  Querida… Edward Cullen?

—  O próprio.

—  Faz anos, não?

—  Muitos, o que eu faço? Ele disse que não bebe mais, até passou um tempo em uma clínica de reabilitação, que não fica mais gastando o dinheiro dos pais… Mas, poxa, eu ainda me lembro quando deixei a porra daquele palco e me avisaram que o Edward não estava na platéia, porque estava internado no hospital depois de beber tanto que quase morreu. —  Ela começou a chorar. — Eu não sei se consigo aguentar algo desse tipo de novo, quando a gente tava junto ele dizia que ia parar, mas nunca parava. Dizia que ia estudar mais e parar de ir à festas quase todos os dias, mas nunca parava. Parecia que todas as palavras que saiam por sua boca eram mentiras, eu não sei se posso voltar a confiar nele.

—  Você acredita que ele te amou de verdade, filha?

Bella respirou fundo.

—  Eu não sei, mãe.

—  Por que você não vai até ele perguntar isso?

(...)

Bella não tinha uma fantasia para o Halloween em casa, sendo assim ela acabou vestindo uma de suas roupas de balé e saiu até o bar onde Edward tocaria. Estava com o coração em suas mãos, muito nervosa.

O bar em questão estava pouco movimentado, ainda assim ela preferiu pegar uma mesa longe do palco. Dispensou qualquer bebida com álcool, ela nem curtia álcool mesmo, preferindo pedir por uma limonada e uma porção de batatas fritas.

Alguns minutos depois que chegou ali, Edward subiu ao palco. Ele segurava um violão, como tinha dito estava fantasiado de Elvis, o que incluía uma peruca preta com topete e tudo. Bella sorriu, aquilo era o máximo.

Edward a viu do palco, se aproximou do microfone e falou:

—  A primeira música é dedicada a menina sentada lá no fundo fantasiada de bailarina. —  Bella sentiu suas bochechas corando ao escutar aquilo. — Espero que todos se divirtam essa noite, mas que ela se divirta um pouquinho mais.

Dito isso ele começou a tocar Holiday da Madonna, a música favorita de Bella. A bailarina não se conteve e começou a cantar baixinho junto com seu ex-namorado, se lembrava de quando ele sempre cantava a música para ela, sentia falta daquilo, mas do que podia imaginar.

O show de Edward durou cerca de uma hora, Bella não se cansou por um segundo sequer, na verdade, por ela duraria muito mais. Adorava o ouvir cantar e tocar, ainda assim, sentiu-se muito bem quando ele se uniu a ela na mesa que ocupava.

—  Você fica bem de Elvis —  ela elogiou.

Edward riu, pegando o copo dela de limonada e tomando um gole.

—  Você fica bem de bailarina, bailarina.

Ela riu daquela vez, remexeu-se inquieta na cadeira.

—  Que tal irmos para um lugar mais tranquilo? —  ela sugeriu a Edward quando outro cara subiu ao palco.

— Claro —  ele concordou. —  Me dá só um minuto para eu pegar a capa do meu violão lá atrás e o resto das minhas coisas?

—  Ok.

Edward se colocou de pé e rapidamente seguiu para os fundos do bar, não demorou nada para voltar. O violão tinha sido colocado em sua capa, então esta estava sobre o ombro esquerdo de Edward, que se mantinha em sua fantasia de Elvis.

Bella já tinha pagado por sua conta, então, os dois apenas saíram juntos do bar quando ele passou por ela. Caminharam lado a lado pela rua, que era cheia de bares e boates, até que chegaram perto de uma quadra de basquete, onde alguns adolescentes jogavam, mas era o lugar mais silencioso próximo.

Os dois se sentaram em um banquinho perto da quadra, com o violão de Edward sendo apoiado no chão junto deles.

—  Você me amou de verdade? —  Bella perguntou para Edward.

—  Claro que sim, Bella! —  respondeu verdadeiramente. —  Sei que a gente se conheceu em uma fase bem nebulosa da minha vida, que praticamente tudo que eu fazia era beber e ir à festas, mas eu realmente te amei. —  Ele esfregou seu rosto uma vez, antes de tornar a abaixar suas mãos e dizer. — Ainda te amo, bailarina.

Ela começou a chorar, Edward continuo a falar:

—  Eu fui para a reabilitação por minha família e por você, porque queria que meus pais e meu irmão continuassem me amando e porque esperava que um dia quando saísse de lá pudesse te ter de volta. Minha vontade era de no mesmo dia ir te procurar, mas não tive coragem, tive medo de atrapalhar sua vida, preferi te deixar viver em paz.

—  Deus, Edward. —  Ela segurou com força em uma mão dele. —  Me desculpa, eu não podia ter terminado com você, foi errado. Você tinha um problema e eu virei as costas, te deixei sozinho, fui a pior namorada do mundo.

—  Bella, não se culpe por isso, por favor —  ele pediu.

— Eu devia ter ficado ao seu lado.

—  Foi há muito tempo, bailarina. —  Afagou o rosto dela. — E eu só errei com você, é completamente compreenssível que tenha preferido a si mesma a mim, fez o melhor para si e isso é ótimo. —  Beijou a bochecha dela. — Não se culpe, por favor.

—  Eu também, também ainda te amo —  sussurrou para ele. — Pensei que tinha superado você, mas desde o momento que você sentou ao meu lado naquele espaço vago… Merda, eu estou tão confusa.

Ele riu, Bella riu também. Então, sem falar mais nada, os dois se beijaram.

—  Estou curiosa sobre o seu apartamento —  ela disse baixinho quando seus lábios se afastaram.

—  Você está tentando pegar o Elvis, bailarina?

—  Estou!


2018

Bella entrou no metrô apressadamente, enquanto segurava duas bolsas e uma pequena caixa em mãos. Por sorte, ela ainda conseguiu um espaço vago naquele vagão, arrumou todas suas coisas e se sentou, enquanto inspirava fundo, cheia de animação.

Aquele tinha sido seu último dia no estúdio de balé de outra pessoa, a partir do próximo dia estaria trabalhando exclusivamente no seu. Ainda era um lugar pequeno, ela estava amedrontada que não desse certo, mas cheia de esperança ainda assim.

—  Oi, bailarina!

Bella sorriu e olhou para o lado, Edward tinha conseguido pegar o mesmo trem que ela na estação seguinte. A bailarina abriu espaço para o namorado sentar ao seu lado, dando um beijo no rosto dele e recebendo um na ponta do seu nariz, o que a fez rir.

— Animada com o Halloween? —  perguntou a ela, Edward já estava no clima da data, usava aquele ano uma tiara do Mickey.

—  Mais animada para te ver tocar mais tarde.

Edward continuava fazendo shows em bares e restaurantes, mas de manhã e de tarde trabalhava em uma escola de música. Ele e Bella planejavam um dia aumentar o estúdio dela e transformar em uma escola de música para que ele pudesse ensinar também, mas ainda demoraria mais, já que ele precisaria da grana para sua parte, Bella já tinha investido tudo que tinha em seu estúdio.

—  Pode deixar que tocarei Holiday para você —  ele prometeu, os dois se beijaram apaixonadamente.

A vida não era fácil, não com a pouca grana, ou os problemas de vida adulta. Não era fácil quando Edward quase chegava perto de jogar fora anos de abstinência por um copo de bebida. Porém, os dois se amavam e continuavam juntos, sempre lutando e resistindo a cada problema.

O que aquele espaço vago em um metrô tinha reunido nada mais poderia separar, no fim das contas a vida era doce como as balas distribuídas a cada Halloween.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!

Por enquanto a história fica como uma one mesmo, mas quem sabe no futuro não revistamos esses personagens.

Obrigada a todo mundo que leu! ♥

Beijos!

Lola Royal.

31.10.18