Coração que Cura escrita por Carolina Muniz


Capítulo 16
17


Notas iniciais do capítulo



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/769202/chapter/16

× Capítulo 17 ×

O efeito borboleta sempre foi uma das coisas mais interessantes do mundo - pelo menos para Ana. A crença dele diz que cada decisão que você tomou resultou em você estar exatamente no lugar em que você está. Se mesmo a menor coisa no passado fosse feita de forma diferente, sua vida inteira seria uma história completamente nova para contar.

E se Christian não tivesse entrado no quarto de Ana no CTI naquele dia? Ou e se Ana nem estivesse no CTI? Eles nunca teriam se encontrado? Ou teriam se encontrado, mas seria uma história totalmente diferente.

E se Grace não tivesse ido desabafar com Christian naquela tarde? Ele teria ido até a casa de Ana naquele dia?

Se ela não tivesse visto ele no carro, teriam conversado?

Se ele não tivesse se aproximado tanto, teriam... Teriam...

Ana sentiu o solavanco no coração como uma hélice de helicóptero quando sentiu os lábios alheios tocarem os seus.

Era macio e diferente de tudo que ela já experimentara, bom de qualquer forma.

Christian tocou sua cintura de leve, como se tivesse medo de tocá-la de forma brusca e ela quebrar. Ana gostou daquilo. Gostou mais ainda quando ele a apertou, trazendo-a para si e tocando os corpos um no outro.

Ana pode sentir o calor que emanava dele enquanto sua mão automaticamente ia para o cabelo alheio, louca para sentir se era macio como parecia.

E era. Ela constatou assim que seus dedos entranharam nos fios cor de cobre.

Nunca ter beijado alguém não fazia a coisa ser complicada, pelo menos não para Ana. Para ela foi completamente natural, desde o que fazer até onde colocar as mãos.

Os lábios se afastaram minimamente, mas os olhos não se abriram, e Ana apenas queria que aquele momento durasse para sempre.

Suas mãos desceram para a nuca de Christian e com isso ela o trouxe mais uma vez para seus lábios, fazendo aquele beijo durar para sempre.

Mas nada dura, nada é tão logo quanto o para sempre. E tudo se desfez quando a porta principal se abriu, fazendo Christian e Ana se afastarem automaticamente.

Sabe, Ana havia se sentido diferente com aquele beijo. E ainda se sentia mesmo que já houvessem se afastado. Era como se ela nunca mais fosse voltar a ser a mesma. Era totalmente ridículo, mas ela sentia que não fora um beijo comum, sabe? Ela pôde sentir aquelas borboletas em seu estômago e o friozinho na barriga como se descesse uma montanha russa - mesmo que ela nunca tenha andado em uma. Ela sentiu uma segurança nunca sentida antes quando Christian tocou sua cintura, sentiu o corpo inteiro formigar só com um toque por cima da roupa.

E era como se ela ainda sentisse.

Mas nem mesmo para a fofa da Ana a vida era perfeita.

Ray Steele sempre fora um homem centrado e apaixonado pela filha, tudo o que ele sempre quis era que ela pudesse ter tudo o que desejasse. Todos os pais devem ser assim com suas filhas, com certeza. Carla Steele já era diferente. Para ela, não importa se sua filha fosse 'normal' agora, Ana nunca seria como as outras crianças - ah, sim, também não importava se ela já tivesse dezenove anos a morena sempre seria uma criança para ela.

Então, quando Carla abriu a porta principal da casa após Grace lhe dizer que Ana estava sozinha lá fora com seu filho, e se deparou com sua filha beijando o homem foi... Uma surpresa um tanto desagradável, talvez?

— Anastacia - ela vociferou.

Ana deu um passo para trás e mirou sua mãe.

— Entre, por favor - a mulher disse calmamente.

Ana conhecia sua mãe, sabia que a mulher estava se controlando.

— Mas, mamãe...

— Agora, Anastacia - Carla foi firme.

Ana mordeu o lábio inferior e olhou para Christian. Ela queria falar com ele, ela queria perguntar se o veria de novo, sobre aquele beijo...

— A gente se vê depois, prometo - ele garantiu.

A garota balançou a cabeça e entrou na casa. Não era como se ela pudesse contrariar a própria mãe. 

Christian observou enquanto Ana desaparecia dentro da casa e Carla permaneceu ali, claramente querendo ter uma conversa. O homem engoliu em seco e mirou a mulher.

Era uma cena engraçada e trágica de diversos ângulos. Veja bem, Christian nunca havia nem mesmo conhecido os pais de uma namorada - imagine de uma garota que ele apenas beijou. E aquilo consequentemente o fez nunca ter tido uma conversa com os pais de uma garota que ele, bem, havia "desvirtuado".

Christian também nunca teve medo de nada, ele era do tipo que não se importava, se a coisa era menor do que ele, ele podia contra. E Carla Grey era uns bons quinze centímetros mais baixa que o mesmo.

Ele não sentia medo, claro. Talvez estivesse apenas nervoso. Era isso, com certeza. Ele estava nervoso ao que a mulher fechou a porta atrás de si e deu mais um passo a frente.

Ele não pretendia ter beijado Ana. Não que tenha se arrependido - claro que não, na verdade ainda estava se recuperando da avalanche de sentimentos que o invadiram apenas com uma conversa e um toque de lábios. Ele também não havia pretendido conversar com a garota naquela tarde, sabe?

Mas de repente estava ali, de frente para a mãe da mesma, que o encarava com uma expressão desconfiada e claramente irritada.

— Christian, não é? - ela começou.

— Sim, sra. Steele.

— Pode continuar me chamando de Carla - ela deu um sorriso cansado.

Christian coçou a nuca, ainda desconfortável.

— Carla, então - ele murmurou.

— Eu sei que deve ser assustador conversar com a mãe da garota que você acabou de beijar...

— Carla, eu sinto muito...

A mulher levantou um dedo, pedindo silêncio, e Christian não estava na posição de contrariar então apenas se calou.

— Eu só quero te pedir que decida o que quer de uma vez, agora, na verdade. Ana não é como as outras garotas - a mulher foi direta. - E ela também não é algo que você pode ver de vez quando, quando for conveniente. Eu sei, ela tem 19 anos, pode decidir a própria vida. Mas como eu disse, minha filha não é como as outras garotas. Vai ser ruim se você apenas desaparecer novamente, Christian. Eu sei que você é um ótimo rapaz, mas minha filha é a coisa mais importante desse mundo para mim, e ela é uma garota muito preciosa para ser decepcionada.

— Eu entendo, Carla. E eu sinto muito pelo que fiz. Não sabe o quanto eu me arrependo.

— Eu sei que foi difícil para você, Christian. E ainda está sendo. Mas eu preciso que entenda que Ana é uma menininha ainda, ela precisa de cuidados, e não está 100%... Eu não acho que ela tenha maturidade para namorar, para essas coisas. 

Christian balançou a cabeça apenas assentindo. Ele entendia Carla, ela só queria proteger sua filha, e ele não havia sido de mais confiança também. 

Deus, ele só havia beijado a garota há alguns minutos.

— Mas ela gosta de você, eu vi o quanto ela fica feliz quando te vê, e foi uma droga ver minha filha triste por sua causa. Eu não quero que isso aconteça nunca mais. Ela não pode se estressar, ainda agora que... - ela parou no meio da frase e desviou o olhar.

— Minha mãe me contou - Christian disparou de repente.

Carla abriu e fechou a boca.

— Você pode não entender, Christian... - ela começou logo.

— A senhora entende? - ele rebateu.

A mulher desviou o olhar novamente e pressionou os lábios.

— Não ache que é fácil para mim ou para sua mãe - disse. - Porque não é. Você não tem filhos, não pode entender.

— Eu tenho certeza que não é fácil, mas eu não preciso ter uma filha para saber que eu não esconderia uma coisa dessas. Ou faria algo desse tipo sem ao menos perguntar a ela. Não acha injusto?

— Injusto? - Carla vociferou, os olhos marejados com as lágrimas que ela escondia muito bem nos últimos dias. - Quer mesmo me falar de injustiça? Minha filha passou dezenove anos entrando e saindo de clínica, Ana teve mais paradas cardíacas na vida do que posso contar e você não sabe como é o desespero de ouvir um médico listando todas as sequelas que uma pessoa pode ter com apenas uma parada, imagine várias. Injustiça é a minha filha não poder ter muita coisa em sua vida por causa de uma falha idiota na formação. Acredite, você não conhece a Ana, você não conviveu com ela mais do que alguns dias para entender a gravidade de tudo. Eu sei que o que fiz foi errado, eu sei que não podia ter feito isso com minha própria filha, mas sua mãe estava sofrendo e tinha uma chance de ela ter um pedaço de Mia aqui. E se fosse ao contrário, eu apostaria tudo - ela despejou tudo de uma vez.

Talvez aquilo tudo nem era para Christian, era para o vento, era para a vida, era apenas para si mesma, para justificar o aperto que sentia no coração toda vez que olhava para a filha.

Christian mordeu o lábio inferior enquanto via Carla tentando se recompor.

— Ainda assim, ela precisa saber - ele foi firme. 

Ele sabia que sua mãe não contaria, e pelo visto Carla também não. 

— Eu não posso contar a ela - a mulher sussurrou.

— Por que não? Por que você apenas não conta para ela que tem um bebê crescendo dentro dela, e é claro, ele não é dela, ela vai ter que entregá-lo quando ele nascer?

— Como ela vai reagira a isso? Eu traí a confiança da minha filha... - Carla falava quando foi interrompida por um baque alto dentro da casa.

— Ai, meu deus, Ana! Alguém me ajuda, por favor! 

Era Grace gritando, e em seu tom de voz era possível ouvir o desespero.

× ×

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

To nem bem depois desse baque todo...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coração que Cura" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.