Olhar Preto e Branco escrita por ShiroiChou


Capítulo 11
Vermelho destrutivo


Notas iniciais do capítulo

Olá o/
Demorei, de novo... Altos rolos, mas temos aqui mais um capítulo.

Boa leitura!



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Gray olhou por todos os cômodos do lugar: nenhum sinal de Samantha. Não importava o quanto olhasse, chamasse e procurasse, a mulher não estava ali, disso ele tinha certeza.

Sentindo-se derrotado, o mago decidiu voltar para a caverna, talvez lá tivesse alguma pista do paradeiro da morena. Entrou no elevador, mantendo a lácrima sempre consigo. Não era porque não sabia para que servia que deixaria ela exposta em qualquer lugar.

Chegando lá em cima, nem sequer olhou ao redor, apenas entrou na caverna e, para sua surpresa, Lérico já tinha modificado todo o lugar. Agora um hall enorme, parecido com um hotel, ocupava a área. Paredes amarelas, um balcão do lado esquerdo e um tapete vermelho davam um ar mais luxuoso.

No final do tapete, estavam dois elevadores, os botões de descer brilhavam levemente, indicando que o único caminho possível era para baixo.

Receoso, Gray olhou atrás do balcão, na esperança de achar algo útil. Achou canetas, cadernos, uma agenda, copos descartáveis e um cartão de identificação, com o nome de Joana. Não sabia quem era, mas não se importou, apenas pegou e guardou no bolso.

Respirando fundo, o moreno olhou para o elevador. Decidido, apertou o botão e esperou as portas abrirem. Diferente do que era esperado, a única coisa que ele viu lá dentro foi uma escada em espiral, a qual nem sequer conseguia ver o final.

— Ou esse cara quer me atrasar, ou é idiota — murmurou, começando a descer e vendo diversos quadros com o rosto de Lérico, pendurados na parede. — É idiota mesmo...

Quanto mais descia, menos iluminação tinha. Ciente disso, Gray desceu devagar para não tropeçar, queria chegar inteiro lá embaixo e não seria a falta de luz que impediria isso.

O final da escada levava para apenas uma porta brilhando em verde. Ao seu lado, um painel pedia um cartão de acesso para que a passagem fosse aberta. O moreno nunca ficou tão feliz por ter pegado aquele cartão na recepção, encostou-o no painel e esperou.

— Bem-vinda, Joana — uma voz robótica pôde ser ouvida. — Senhor Lérico está ansioso pela sua chegada.

— E eu ansioso para ver a cara feia dele — zombou Gray.

A sala em questão mais parecia um laboratório de testes. Tubos de ensaio com líquidos borbulhantes, garrafas com plantas estranhas, potes de vidro com pó de diversas cores.

— Joana, você cheg... O que faz aqui? Achei que aquela menina tivesse te derrotado — Lérico entrou na sala, olhando-o com raiva.

— Achou mesmo que eu não acharia um jeito de fazê-la sair dos efeitos do que você deu para ela? Muito esperto.

— Não me provoque, moleque... Vejo que ainda está com a lácrima...

— Onde está Samantha? — abraçou a lácrima com mais força.

— Onde estaria? Presa, claro. Aquela mulher sempre conseguiu driblar minhas tentativas de controlar sua mente, agora com a minha nova poção, ela não escapa.

— Você é maluco...

— Sou apenas ambicioso, agora... Pensa rápido — jogou um balão para o moreno.

Gray mal conseguiu reagir, o balão caiu no chão, liberando um gás branco que logo se dissipou.

— O que era isso?

— Você acabou de conhecer o meu gás para bloquear magia. Melhor voltar para a geladeira, até poder usar seu gelinho novamente — zombou.

— Não preciso da minha magia para derrotar você!

— Não? É o que veremos — disse sem interesse, analisando uma garrafa vermelha. — Olha só, minha poção está pronta. Fique aqui e não me atrapalhe — sorriu.

— Nunca — aproximou-se do mais velho, segurando a garrafa com firmeza.

— Quer competir comigo na força? — riu.

— Jamais. Quero apenas te distrair um pouco.

— Samantha está presa em uma cela, nunca conseguiria escapar sem ajuda.

— Sério? Então, por que ela está atrás de você? — mentiu.

— Onde? — virou-se em alerta.

Aproveitando a deixa, Gray chutou as costas do homem, derrubando-o no chão e, consequentemente, fazendo a garrafa se quebrar, derramando toda a poção no chão.

— Ora, seu...

— Cair em uma armadilha tão velha não parecia muito sua especialidade, acho que eu estava enganado.

— Então está achando mesmo que vai me impedir, só porque derrubei a garrafa?

— Não, mas já é um começo.

— Cansei dessa palhaçada! — disse com raiva, revelando sua forma original. — Saiba que não pretendo pegar leve com você.

— Eu não esperava menos, aliás, você é bem feio nessa forma. Que tal parar de tentar controlar as pessoas? Daí você vai ter mais tempo para fazer uma plástica.

— VOCÊ... ! — levantou-se com raiva.

Gray não sabia de onde estava tirando tanta coragem para provocar Lérico, mas continuaria até irritá-lo ao máximo. Desde o começo, percebeu que o homem apesar de perigoso, era impulsivo e perdia a paciência com facilidade, principalmente quando zombavam dele. E era nisso que o moreno estava focando.

— Sendo sincero, já conheci demônios com um hálito melhorzinho... Sua pasta de dente deve estar vencida.

— Eu escovei muito bem meus dentes — caiu na provocação, tentando socar o moreno.

— Então não está com o banho em dia, esse fedor vem de você, tenho certeza — mentiu, desviando do golpe. — Olha só, essa, poção parece interessante — olhou para um copo amarelo em uma mesa, não muito distante.

— Não se aproxime! — tentou agarrar o braço dele, sem sucesso.

— Oh! Poção Perfumada, justamente o que você precisa — sorriu, pegando o copo e desviando de mais um golpe.

— Moleque atrevido... Devolve!

— Você quer? Pensa rápido — arremessou o copo para cima.

Lérico olhou desesperado para cima, aquela poção era rara, pois foi feita com um tipo de flor que só nascia uma vez a cada três anos e ele tinha acabado de fazê-la. Precisava daquilo se quisesse uma nova poção para dar para Samantha.

Aproveitando a distração, Gray agiu rápido e puxou o demônio para baixo de onde o líquido cairia.

O efeito foi rápido, Lérico começou a espirrar sem parar, as lágrimas embaraçaram sua vista e sua garganta parecia que nunca tinha visto água na vida.

— Nunca que serei derrotado por um perfume mequetrefe.

— E quem disse que esse era meu objetivo? — riu, afastando-se até uma porta lateral, onde acreditava estar Samantha.

— E qual é o seu objetivo? — perguntou, sem resposta. — Ei! Onde você foi?

— Demônio idiota — revirou os olhos, passando pela porta.

— Gray! O que faz aqui? Você deveria estar bem longe de Luzmia! — Samantha não escondeu a preocupação.

A morena estava presa em uma cela, a única da sala. Um pouco para frente, uma mesa cheia de poções era a única coisa que ocupava o espaço. Aproximando-se calmamente, o mago viu uma folha: a receita para a poção que Lérico usava nas pessoas.

— Ele não vai precisar disso — pegou a folha, rasgando-a em vários pedacinhos. — Agora vou te tirar daí.

— Onde ele está?

— Espirrando depois de tomar um banho de perfume.

— Estava em um copo amarelo?

— Sim. Você sabe o que era?

— Perfume de Flor do Mel. Elas nascem a cada três anos, Lérico tem duas flores dessas... O perfume em contato com a pele causa uma crise alérgica instantânea em quem usa — riu, imaginando o homem espirrando feito louco.

— Quanto tempo dura o efeito? — perguntou, analisando as poções até achar uma preta que prometia corroer qualquer material.

— No máximo, uns dez minutos.

— Ótimo, mais do que o suficiente — pegou a poção, derramando com calma nas grades.

Diferente do que esperava, a substância corroía devagar, então eles não puderam fazer nada, além de esperar que fosse aberto um espaço suficiente para Samantha passar.

— E sua amiga?

— Descansando. As poções desse homem são insanas.

— Lérico passou a maior parte de sua vida estudando sobre poções mágicas. Ele tem uma biblioteca só com livros sobre o assunto, não duvido que ele tenha algo para cortar o efeito do perfume...

— Quanto tempo dura o efeito do gás dele? Quero usar minha magia.

— Ele jogou gás em você? Droga... O efeito passa em três horas, no mínimo — respondeu cabisbaixa.

— Então não vou poder contar com ela... Ele tem alergia a algo?

— Não...

— O cara é invencível? — olhou-a surpreso.

— Nunca consegui descobrir uma fraqueza dele... Por isso criei o Plano Ex.

— Ex?

— É, Plano Explosão. Em pontos estratégicos da caverna, coloquei Lácrimas Dimensionais. Assim que forem ativadas, ele será mandado para outra dimensão, apenas preciso da lácrima central.

— Essa? — aprontou para seus braços.

— Você está com ela, como não percebi antes? — sorriu animada. — Já tem espaço suficiente para eu sair, vamos para o painel de controle dele!

Antes que o moreno pudesse falar algo Samantha saiu pela abertura e o puxou para fora da cela. Lérico ainda estava parado, tentando parar de espirrar, por isso nem notou a fuga dos dois.

Subiram a escada correndo, voltando para a recepção.

— Lérico deixou um cartão de acesso no balcão.

— Esse aqui? — tirou o cartão do bolso.

— Esse mesmo. Rápido, encoste ele aqui — apontou para o botão do “elevador”.

O botão piscou algumas vezes e as portas se fecharam. Quando abriram novamente, não tinha mais escada, mas sim um elevador de verdade.

— Não é para fazer sentido — explicou Samantha, vendo a expressão surpresa do mago.

— Ok...

Entrando no elevador, o único botão disponível era o número um. Subiram tranquilamente, esperançosos de que conseguiriam a “passagem” só de ida para fora daquela cidade, longe do comando de Lérico.

As portas se abriram e Gray finalmente entendeu como o homem sempre sabia o que acontecia na cidade. Todas as quatro paredes da sala eram preenchidas por telas, as quais mostravam imagens de várias câmeras de segurança.

As imagens mostradas eram de lugares estratégicos da cidade, inclusive da casa onde ele ficou hospedado no começo.

No centro da sala, um painel cheio de botões brilhava em azul. Um pouco abaixo dele, um compartimento de vidro revelava uma lácrima, brilhando na mesma cor.

— Essa é a lácrima que ele usa na cidade, por isso nem sequer se importou que essa que pegamos... Ele acha que essa não tem o poder necessário para controlar tudo isso — explicou Samantha, abrindo o compartimento e retirando a lácrima.

— Quais as chances de dar certo?

— Não faço ideia, mas essa é nossa única alternativa...

— Ok. Vamos torcer... Mas antes de fazer isso, eu preciso perguntar algo.

— O quê?

— Eu não tinha reparado nisso antes, mas minha visão parece normal. Por que consigo ver as cores agora?

— Impossível. Você tomou algo?

— Hum!Não.

— Desde quando sua visão voltou ao normal?

— Parando para pensar, um pouco depois que a Lucy me atacou no seu esconderijo...

— Isso não faz sentido...

— Bem, de toda forma, penso nisso depois — deu de ombros.

O moreno olhou mais uma vez ao redor. Não conseguia acreditar que tudo estava prestes a acabar.

Reunindo toda sua coragem, colocou a lácrima no lugar certo e fechou. O painel brilhou em vermelho e um botão começou a piscar freneticamente.

— Eu não acredito que essa lácrima ativou o painel... Agora que sei disso, vai ser impossível eu deixar que escapem — Lérico entrou na sala, com o rosto vermelho.

— Seu rosto parece uma pimenta de tão vermelho — zombou Gray, quase rindo da situação.

— Sua visão já voltou ao normal, interessante...

— O que sabe sobre isso? — perguntou curioso.

— Eu sei que eu inventei toda a história dos besouros, o veneno não é letal como acreditam. Apenas deixam a pessoa ser ver as cores por um longo período, isso evita que reparem nas cores das lácrimas — relevou, pois não tinha maia motivo para esconder a verdade.

— Todos esses anos, você me fez acreditar nessa história — disse Samantha com raiva. — E todos os livros?

— Com um pouco de magia, é fácil criar livros falsos e espalhar pelo mundo. As pessoas ficam com medo de Luzmia quando leem sobre, porém, isso atiça a curiosidade de alguns que resolvem vir investigar — explicou. — O plano perfeito para atrair curiosos, eu sou um gênio, eu sei, não precisam dizer.

— Achei meio besta esse seu plano — falou Gray, voltando a provocar.

— Como?

— Fazer as pessoas verem em preto e branco é meio inútil, ainda dá para perceber quando tem uma lácrima brilhando em algum canto.

— Mas você não vê a cor dela.

— E a cor importa?

— Claro que importa. A azul deixa eu modificar a cidade inteira, a amarela apaga a memória das pessoas, a vermelha ao invés de modificar, destrói a cidade e a verd... Opa, falei demais — arregalou os olhos.

— Então quer dizer que a vermelha destrói — Gray sorriu, chegando perto do painel.

— Não ouse!

— O que vai acontecer se eu apertar aqui? — mexeu em um botão aleatório, fazendo a sala tremer levemente. — Achei que aconteceria algo mais interessante.

— Moleque atrevido!

— Olha só, “Cancelar insetos”, parece legal — apertou também, sentido sua magia ser liberada aos poucos.

— Acabou a palhaçada! — correu para acertá-lo. Mas bateu em uma parede de gelo.

— Tem razão, acabou! — riu e, finalmente, apertou o maior botão.

— NÃO! — gritou desesperado, temendo o pior.

Nada aconteceu, fazendo com que todos olhassem para o painel com dúvida. As chances daquilo dar errado eram mínimas.

— Parece que vocês pegaram uma lácrima falsa — Lérico riu. — Qual o próximo plano?

— Ir embora antes que... — Samantha tentou falar, mas o sol de algo rachando a interrompeu.

Lérico olhou assustado para o elevador, sua única rota de fuga. Tentou correr, mas o gelo subindo por sua perna impediu seu progresso.

— Se eu não vou sair daqui, vocês também não vão — tirou uma poção do bolso, jogando no chão e criando uma barreira entre eles.

— Maldito — Gray o olhou com raiva.

— Sou um gênio — vangloriou-se.

— Um gênio meio idiota — as portas do elevador se abriram, revelando Lucy.

— Você...

— Lu, você não deveria estar aqui! — Gray tentou ultrapassar a barreira, sem sucesso.

— Desculpa, Gray, mas não vou a lugar nenhum sem você.

— Lucy...

— E você, criando situações falsas para enganar as pessoas — apontou para Lérico.

— Funcionou, como pôde ver — sorriu.

— Sim, mas agora que a farsa foi revelada, não pense que vai escapar facilmente.

— E o que pretende fazer, mocinha?

— Isso — revelou o molho de chaves, o qual Gray tinha deixado junto dela, quando saiu. — Abra! Portão do Touro Dourado, Taurus! Você sabe o que fazer, Taurus.

— Sim — disse o espírito.

Diferente do normal, Taurus não disse mais nada para Lucy. Sabia que a maga estava em uma situação crítica, por isso, decidiu focar apenas em fazer o que ela pediu.

Aproximando-se de Lérico, o qual estava com os olhos arregalados, o espírito apenas deu um sorrisinho e, com seu machado, partiu a barreira como se ela não fosse nada além de uma simples folha de papel.

— Obrigada, Taurus — Lucy sorriu agradecida, vendo o sumir.

— Nossa, que assustador — Lérico zombou.

— A parte do susto vem agora — riu. — Vamos? — perguntou para Gray e Samantha.

— Oh! Interessante — Samantha andou até a loira. — Obrigada.

— Você nos ajudou muito, vou ser eternamente grata — agradeceu.

— Eu não quero atrapalhar esse momento de gratidão, mas acho melhor sairmos daqui — o moreno apontou para a parede que começava a rachar.

— Vamos!

— Vocês não vão a lugar nenhum — Lérico conseguiu agarrar o braço de Gray.

— O elevador está pronto — Samantha avisou.

— Gray! — Lucy o olhou em alerta.

— Vai, Lucy!

— NUNCA!

Em um ato de puro desespero, Lucy aproximou-se de Lérico e fez cócegas em seu braço, fazendo.com que solta-se o moreno.

— Um de vocês fica! — Lérico segurou Lucy.

— Lu...

— Eu vou ficar bem. Apenas fuja! — sorriu tristemente, empurrando o moreno em direção ao elevador.

Antes que Gray pudesse reagir, as portas se fecharam e tudo ficou branco.


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Notas finais do capítulo

Até!



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