Sem Truques no Amor escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 1
De volta ao jogo


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!

Sabe quando vocês pensam "Vou escrever a fic todinha e só depois vou postar"? Pois é, eu não consigo kkkkkkkkkkkk

Comecei a escrever essa fic (minha primeira Sabriel ♥) semana passada e já estava em cólicas para postar. Então, here I am!

Se não for para me enrolar com várias fics em andamento nem tem graça, né non?

Bom, a história será uma shortfic (entre 5 e 10 capítulos) e se passa depois da 13ª temporada. Ou seja, tem spoilers e referências.

Boa leitura ♥



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Lúcifer se referia a mim como o palhaço da família. Loki me definiu como uma piada. Mas você, Sam Winchester... Bom, você olhou nos meus olhos e disse que precisava de mim. Me fez perceber que eu era importante. Que ainda havia esperança, apesar dos longos anos de tortura que passei no Inferno. Você me chamou para o jogo e eu fui.

De alguma maneira que não sei explicar, suas palavras foram o suficiente para me trazer de volta quando eu achei que estava perdido para sempre. E agora, mesmo no fim da linha e realmente perdido, posso ouvi-las com clareza de novo.

O som da sua voz me alcança no vazio onde eu vim parar depois do último embate com meus problemáticos irmãos, Lúcifer e Miguel. Elas se repetem em algum lugar da minha mente que a morte não conseguiu destruir. O que é estranho porque eu não deveria estar ouvindo coisa alguma agora. Muito menos pensando. Tenho certeza que estou morto.

Não estou?

Abro os olhos de súbito. Um pouco — apenas um pouco, é claro — assustado. Levanto do chão desconhecido e tudo o que vejo à minha volta é uma escuridão a perder de vista. Um vazio negro e infinito.

No entanto, mesmo com o silêncio absoluto que sufoca esse lugar misterioso, ainda consigo ouvir a sua voz, Sam.

Por quê? Você ainda precisa de mim? Ou sou eu que preciso de você e só agora percebi?

— Quê? — questiono, baixinho.

Uno as sobrancelhas, intrigado pelas perguntas que disputam atenção com a sua voz cada vez mais alta na minha cabeça. Mais intrigado com a possibilidade da minha resposta ser sim do que por estar consciente no mundo morto e solitário ao meu redor.

No fim, será que as respostas importam? Não é meio tarde demais para pensar nelas, considerando que parti dessa para melhor?

Espere. Eu realmente parti ou me vali de algum truque?

— Não. Sem truques dessa vez. — afirmo a mim mesmo. — Até um Trickster de coração como eu precisa ter algum limite.

As palavras ainda ecoam pela vastidão onde me encontro encerrado, quando algo se sobrepõe a elas. De um jeito extremamente rude, alguém — ou algo, não sei — grita das entranhas profundas desse lugar:

— Não! De novo não! Como isso aconteceu de novo?! Como?! Nada pode despertar aqui! Nada e ninguém! Esse é o fim! O Vazio!

Impressionado por descobrir que tenho companhia afinal e meio acuado pelo tom nem um pouco gentil, hesito antes de arriscar:

— Oh... Olá? Quer bater um papo?

— Silêncio! — a voz torna a berrar, soando mais perto agora. — Cala a boca! Por favor...

Estreito o olhar, porém não localizo sua origem. Dou de ombros, meio entediado.

— Acho que a resposta é não. Que pena... Azar o seu.

— Fora daqui!

Sinto que a voz está ainda mais próxima e raivosa. Recuo alguns passos e observo tudo ao redor, porém não localizo qualquer saída. Esse é mesmo o fim ao que parece.

Eu não devia ter despertado e, ainda assim, aqui estou. Lindo e malandro como sempre. Se estou 100% vivo, não sei ao certo, mas definitivamente isso não é mais como a morte deveria ser.

Com as mãos erguidas em sinal de rendição e tentando ganhar tempo para entender o que diabos está acontecendo comigo, arrisco mais uma vez:

— Olha, eu não sei o que está rolando, quem é você ou por que...

— FORA! AGORA! FORA DAQUI!

Minhas próximas palavras se perdem. Afundam em algum lugar da garganta quando sou atingido por uma força estranha. Nada físico, mas sim uma energia poderosa que me empurra com violência, arrancando-me do chão sem que eu pudesse me preparar.

Quando dou por mim, estou caindo. Despencando, na verdade. Sou expulso do tal Vazio sem cerimônia por algo muito impaciente.

Lançado em um tipo de vórtice, sinto tudo rodar com uma velocidade exorbitante. Perco a noção do tempo e do espaço.

Acho que fico em suspenso em dado instante. Até que, de súbito, meu corpo se choca com algo sólido e liso que cede um pouco com o impacto brusco.

Um gemido me escapa enquanto abro os olhos ainda zonzo e brinco:

— Madeira...

Deslizo desajeitado até cair mais um pouco. No chão de fato. Só então dou uma olhada no lugar à minha volta e sinto algo familiar por ele.

Uma espiada no Impala atrás de mim — um tanto amassado ao amortecer minha queda — e me dou conta que estou na garagem do bunker. No bunker dos Homens das Letras. No lar doce lar de Sam e Dean Winchester.

Antes que eu consiga formular qualquer explicação lógica para o que acabou de acontecer comigo, sinto o piso vibrar ligeiramente quando passos pesados se aproximam.

— Ei! Quem está aí?!

Reconheço a voz de imediato e me ergo do chão mais desnorteado do que nunca.

Algo me diz que a emoção esquisita que me invade agora em nada tem a ver com o meu brutal retorno à terra dos vivos.

Não. Sem chance. Eu só estou abalado com a experiência de morrer, despertar no Além e ser jogado de volta na frigideira. Só isso. Não estou feliz por reencontrar o dono dessa voz.

Ergo o olhar no mesmo instante em que ele entra no meu campo de visão. Com uma arma em punho, apontada na direção do intruso. Eu mesmo.

A postura defensiva oscila, no entanto. E dá lugar a um semblante surpreso e tão confuso quanto aquele que deve estar estampado no meu lindo rostinho agora.

Apesar de abalado, consigo lançar um sorriso torto em sua direção quando digo:

— Oi, Sam.

Vejo o caçador engolir em seco e a carinha inconfundível de cachorro desamparado na chuva surgir. Só então percebo como gosto dessa expressão. É uma gracinha e admirável em alguém tão grande.  

— Ga... Gabriel?

Luto para retomar o foco sem nem saber explicar direito por que o perdi exatamente.

— E aí? Sentiu minha falta?

Noto que seus lábios se entreabrem, porém nenhuma resposta escapa por eles. Percebo também que Sam segura a arma com mais precisão e volta a fechar a cara.

Nem sinal do adorável cachorrinho indefeso agora. Uma névoa agressiva substitui a doçura em seus olhos verdinhos como duas esmeraldas.

Okay. Preciso mesmo manter o foco aqui. O que está acontecendo comigo? Estou pensando umas coisas meio esquisitas...

— Você não é o Gabriel! — Sam dispara de repente.

Sorrio com incredulidade e um tanto ofendido. Então falo a primeira coisa que me vem à cabeça:

— Ãn... Sinto em desapontá-lo, mas sou sim. E nós dois sabemos muito bem que essa arma aí não é capaz de me machucar. Pode parar com isso, por favor? Está me constrangendo, Sam.

— Você está morto! Eu vi quando aconteceu! Eu te vi morrer! Você não é ele!

Há algo muito além de agressividade no seu tom de voz quando esbraveja assim. Um sentimento doloroso que Sam parece lutar para esconder com descrença e um olhar revoltado, mas que identifico do mesmo jeito sob a superfície de cara durão.

Nesse momento percebo que sim, ele sentiu a minha falta. Mais do que isso, acho que sofreu de verdade quando eu morri.

Mais uma vez, tenho que fazer um esforço. Dessa vez, para conter um impróprio sorriso de satisfação. É muito bom saber que ele se importa comigo. Que não sou uma piada nem um palhaço.

Espanto a vontade de sorrir e decido recomeçar, clamando por um pouco de bom senso:

— Sério, Sam? É sério que, depois de tudo que você viu e viveu até hoje, não consegue acreditar numa simples ressurreição agora? — Assobio, desviando o olhar quando viro um pouco o rosto. — Quanta hipocrisia.

— Cala a boca! Você não é ele! Não pode ser! Você... Você é um metamorfo. É isso. Como diabos entrou aqui?

— Bitch, please. Também não precisa ofender — protesto, incomodado com o palpite descabido. — Do seu jeito então — anuncio ao ter uma ideia. — Se eu fosse um metamorfo, conseguiria fazer isso?  

Concentro-me por alguns instantes e permito que minha graça se revele. Primeiro, através dos meus olhos, que brilham com um tom ofuscante e intenso peculiar dos anjos, ao mesmo tempo que um ruído agudo se espalha pela garagem. Depois, abro minhas enormes asas negras, enquanto admiro o semblante relutante de Sam se transformar numa tremenda cara de bocó.

Ele engole em seco no fim, abaixa a arma inútil e murmura sem mais dúvidas:

— Gabriel?

— Como eu estava dizendo, panaca. — Abro os braços e arremato: — Tchan-ram!

Seria o comentário final perfeito, se eu não cambaleasse pateticamente logo depois.

Tomado por uma sensação esquisita e muito desconfortável, vejo a figura do caçador na minha frente ficar embaçada e tremer.

Uma nova tontura faz minhas pernas fraquejarem ainda mais. Permanecer em pé se torna um desafio com o mundo girando de um jeito nauseante. Está ficando escuro também. E frio, muito frio.

— O que foi? Gabriel? Você está bem? Ei!

Com certeza, eu teria despencado vergonhosamente no chão. Só que braços me alcançam antes e me devolvem parte do equilíbrio. Sam Winchester me segura com força e gentileza. Uma mistura do que ele é, acho.

— Tudo bem, te peguei.

Com cautela e ainda assim meio atrapalhado, abaixa-se um pouco e me lança para cima. Fico pendurado em seu ombro, de cabeça para baixo nas suas costas, enquanto ele me mantém estável ao segurar minhas pernas na frente do próprio corpo.

Sinto que meus pés saíram do chão e temo admitir que não foi só literalmente.

— Isso é tão constrangedor... — resmungo zonzo, enquanto ele começa a andar para nos tirar daqui o quanto antes. — Eu pareço uma donzela em perigo. Não um arcanjo super poderoso voltando da morte.

Sam solta uma risada leve, mas que não esconde por completo um tangível nervosismo.

Por algum motivo, também estou nervoso. Talvez porque meu traseiro está a poucos centímetros do rosto dele? É um bom palpite.

— Acho que isso faz de mim seu cavaleiro então.

Há um falso humor e alguma tensão em suas palavras quando Sam deixa o comentário escapar.

É bem nessa hora que as luzes da minha consciência se apagam de vez. Uma pena porque eu estava começando a admirar sua bundinha linda em movimento.


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Notas finais do capítulo

Fanart que me inspirou nesse capítulo: https://data.whicdn.com/images/95475189/large.png

Comentem aí o que acharam ;-)



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