Delirium escrita por Karina A de Souza


Capítulo 7
A Noiva de Sangue




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—Hora de acordar, Bela Adormecia. -Senti um tapa de leve no rosto e abri os olhos.

—Damon?-Tentei me mover, estava presa em uma cadeira. -O que? O que você fez? Me solta! Damon!

—Está brincando comigo. Você me atacou. Com uma estaca!-Gritou a última frase. -Aí eu quebrei seu pescoço e te prendi aqui.

—Eu... Eu me lembro. Não quis te ferir.

—Ah, é?-Apoiou o braço no encosto atrás de mim. Comecei a tentar me soltar.

—É verdade. Eu não queria... Você não era meu alvo. Robert estava aqui, de novo. Quis matá-lo, mas você apareceu.

—Robert.

—É. Ele entrou aqui, me lançou na janela...

—Janela que você quebrou sozinha.

—O que? Não...

—Olhe. -Segui seu olhar. Havia sangue seco nas minhas mãos. -Você socou o vidro.

—Não...

—Ou você está louca ou está inventando coisas para se safar do ataque. Não sei que opção é pior.

—Eu não queria te machucar, Damon! Eu juro! Por que eu tentaria te matar?

—Por que eu a prendi na tumba? Por que quer se vingar? Por que você é uma assassina?-Parei de lutar contra as correntes.

—Eu não sou vingativa. Damon, eu juro que não queria ferir você! Eu juro! Eu queria acertar Robert! Você estava no lugar errado e na hora errada!-Se afastou.

—Vou deixá-la aqui e esperar que se acalme.

—Damon... -Saiu e trancou a porta. -Damon!

***

—É óbvio que tem algo de errado com ela. -Ouvi. Era Damon, num sussurro apressado. Me mantive em silêncio, querendo ouvir. -Ela mata, e não se lembra disso? E depois vê o marido, que ela mesma matou? E então tenta me matar?

—Ludmille não disse que não queria ferir você?

—Disse, mas...

—E você acredita nela. Por que se não acreditasse, teria a matado. -Ouvi passos se aproximando. Stefan abriu a porta e entrou. -Por que não me conta o que houve?

—Eu estava sozinha quando ele apareceu. -Comecei.

—Ele?

—Robert. Ele me agrediu e me jogou contra a janela, por isso ela está quebrada. Então eu consegui correr e pegar uma das estacas para matá-lo. Mas aí Damon se aproximou, eu não sabia que era ele, achei que fosse Robert...

—Entendo. Lud, Robert está morto.

—Mas era ele, Stefan. Acredite em mim. Eu o vi. Vai... Vai me prender aqui?

—Não. -Me soltou. -Apenas... Tenha mais cuidado. Damon... Você entende... -Assenti, ele me ajudou a levantar.

Saí sem dizer nada. Damon estava no corredor. Evitando olhá-lo nos olhos, pedi desculpas e continuei andando, sem saber que rumo tomar. Quando parei, franzi a testa, olhando em volta.

Sabia onde estava. A casa dos Salvatore costumava ser ali.

***

—Ludmille. -Sorri. Stefan parou, usando a mão para se apoiar na porta. Damon esbarrou em suas costas e pareceu um pouco surpreso em me ver.

—Vim visitar a senhorita Katherine. Ela está?

—Claro, claro. Você pode... Entrar.

—Obrigada. -Os dois irmãos saíram da frente da porta, me deixando passar.

Não consegui espantar a sensação de que eles sabiam o que eu era.

***

—Senhora Haus?-Me virei.

—Damon, nunca mais me chame assim. Estou reassumindo meu sobrenome de nascença. E além disso, nos conhecemos há anos.

—Tudo bem. Podemos... Conversar?

—Claro. Ande comigo. -Começamos a andar para longe da mansão. -O que quer me dizer?

—Desde que voltou a Mystic Falls, os boatos de que seu marido era um homem cruel com você têm se espalhado. E não pude esquecer que pouco antes de você ir embora, quase...

—Quase fomos prometidos. -Assentiu. -Meu casamento foi horrível, mas ter me casado com você... Damon, você nunca me veria como esposa. Eu sempre seria a “pequena Ludmille Morgan”. No fim das contas ambos detestaríamos a situação toda.

—Certo. Não queria falar apenas disso. Katherine contou... -Olhou em volta rapidamente. -Contou que transformou você. Se sente diferente? Eu não vejo a “pequena Ludmille Morgan”. Você parece diferente. Outra postura, outro olhar...

—Está planejando ser um vampiro?-Deu um pequeno sorriso.

—Talvez.

—Eu não recomendo, mas... É sua escolha. Espero que esteja certo disso e não esteja fazendo apenas para agradar Katherine ou...

—Eu sei o que quero, Ludmille.

—Ótimo. Bem... Eu preciso ir. -Comecei a me afastar, mas parei. -Se quiser conversar mais sobre o assunto, sinta-se livre para me procurar. -Assentiu. -Adeus, Damon.

***

Eu ouvia a voz, mas abafada. Água fazia uma barreira entre mim e o som. Não consegui entender o que a voz dizia, aos poucos compreendi que era meu nome, mesmo assim não me movi. De repente, mãos firmes me agarraram, me puxando para fora da água.

—Você fez de novo!-Olhei para Damon, a camisa e os braços molhados, a expressão nervosa e levemente assustada. -Ludmille...

—O que houve? Que cheiro...?

Então eu comecei a reparar no ambiente.

Eu estava sentada em uma banheira cheia de água vermelha, por causa do sangue. Na verdade, havia sangue no banheiro todo: poças no chão, marcas de mãos nas paredes, no espelho... Um rastro entrando pela porta.

Gritei.

Damon me apertou com mais força, me puxando para fora da banheira. Caí contra ele, fechando os olhos e tentando parar de gritar. O que eu tinha feito? Por quê? Com quem? Finalmente interrompi o grito.

—Damon. -Sussurrei. -Quantos... Quantos eu...

—Há seis corpos na sala. Todos muito destruídos. Havia um aqui, mas o coloquei pra fora antes de... O que você estava fazendo aqui?

—Eu não sei. -Abri os olhos lentamente. Podia ver a camisa preta de Damon e um pouco do meu vestido de noiva. -De novo... Eu fiz de novo... Eu não queira...

—Não importa. Já aconteceu. -Me ajudou a ficar de pé. -Saia daqui, limpe-se e não saia do seu quarto.

—Eu... Eu preciso limpar isso. -Tentei alcançar uma toalha, mas Damon me impediu.

—Eu cuido disso, apenas saia daqui.

—Damon...

.

Acenei positivamente com a cabeça e saí.

Eu não consegui lembrar do que tinha feito. Não lembrava de deixar o local onde ficava a antiga mansão Salvatore, não lembrava de encontrar seis pessoas e trazê-las comigo, não lembrava de colocar o vestido e nem de matar ninguém. Mas não tinha apenas matado, tinha? Era muito sangue, mesmo para seis corpos.

Desci as escadas devagar, seguindo o rastro de sangue e encontrei o local onde tudo aconteceu.

Eu havia matado seis garotos... E os deixado em pedaços.

Caí de joelhos, pingando água vermelha no piso, e armando outro grito.

—Eu te disse para ir para o quarto. -Damon disse, me erguendo, então bloqueando minha visão da cena horrível na sala.

—Eu fiz isso?

—Ludmille...

—Que tipo de coisa monstruosa é capaz de fazer isso? Parece uma cena de filme de terror, e eu fiz isso!

—Ludmille, está tudo bem. Agora suba, tire essa coisa e tome um banho. -Me obriguei a não chorar, e a fingir que não notava a pressão nos meus olhos e na minha garganta.

—Eu não queria matá-los...

—Eu sei. -Sussurrou. -Agora por favor, vá. -Assenti, piscando para espantar as lágrimas, e o obedeci.

***

Eu não conseguia dormir.

Depois do banho, deitei na cama, e fechei os olhos, ouvindo a movimentação de Damon, pra lá e pra cá, tentando apagar o que eu tinha feito. O ouvi esfregar o piso e as paredes e arrastar os corpos para fora. O ouvi sair e voltar, e então colocar algo que tirasse o cheiro do sangue. O ouvi quando veio me verificar, enquanto eu fingia dormir. Ouvi Stefan chegar e perguntar por que Damon estava limpando a casa, e ouvi a resposta, que resumia as últimas duas horas.

—Ela não se lembra de nada. -Damon terminou. -Entrou em desespero quando viu o sangue e os corpos.

—Ela estava com...

—O vestido de noiva? Sim. Assustador. Digno de um filme sangrento de terror. A Noiva de Sangue. -Meu corpo reagiu ao nome, se encolhendo. Aquele era o... Meu Deus, como Damon sabia? Espera, ele sabia? Não havia como. Era apenas uma coincidência.

—O que pretende fazer?

—Esperava que você me desse alguma ideia.

—Eu não consigo pensar em nada agora...

Então eles ficaram em silêncio. Alguns minutos se passaram, e os passos de Damon começaram a se aproximar. O ouvi entrar no meu quarto, então o silêncio de novo. O que ele estava fazendo? Me observando dormir?

Senti uma picada no pescoço e abri os olhos. Damon afastou a seringa.

—Por... Quê?-Perguntei, tentando me afastar.

—Lamento, mas não tenho outra escolha...


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