A Vizinha do 501 escrita por Saori


Capítulo 1
Grito histérico, taco de beisebol e pizza.


Notas iniciais do capítulo

Olá, é a minha primeira fic jily! Espero que aproveitem a leitura.

Ah, a história tem algumas referências do filme "As 10 Coisas Que Eu Odeio Em Você".

Agora sim, boa leitura! ♥



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James estava exausto. Havia saído do serviço às onze e meia da noite e trabalhado continuamente desde às sete da manhã, exceto pelo seu curto horário de almoço. Seus pés mal conseguiam mantê-lo de pé quando ele entrou no prédio em que morava, e os olhos esforçavam-se para que ficassem abertos. Quando entrou no elevador, nem sequer se lembrava mais do seu próprio nome. Um extenso bocejo deixou os seus lábios enquanto ele apertava o botão do elevador que mais se assemelhava ao seis. 

Assim que as portas dos elevadores se abriram, James se retirou e iniciou o seu caminho até seu apartamento. Em uma mania antiga, o rapaz girou a maçaneta antes que pudesse colocar a chave na porta. Estranhou o fato da porta se abrir antes que ele a destrancasse, mas era aceitável que a sua mente cansada tivesse falhado uma vez na vida. Quando finalmente adentrou a casa, o Potter jogou a sua mochila no chão do corredor e caminhou até a sala.

Antes que pudesse sequer adentrar o cômodo, deparou-se com uma ruiva histérica, gritando enquanto estendia um taco de beisebol em sua direção. Em um ato de total desespero e surpresa, o rapaz deu um pulo desajeitado para trás e estendeu as mãos na direção dela, como se quisesse defender a si mesmo. 

— Sai daqui, seu tarado! — A menina gritou enquanto se aproximava dele, ainda apontando o taco de beisebol para ele.

— O que raios você está fazendo na minha casa?! — O menino perguntou, exaltado. Ainda inseguro, ele deu mais um passo para trás. 

— Na sua casa? — A menina ainda tinha um tom de voz alto. — Do que você está falando? — Lily tinha uma expressão confusa em seu rosto. — Ah, espera. — Ela abaixou o taco e caminhou em direção ao rapaz, que parecia hesitante. Quando chegou bem perto dele, colocou-se nas pontas dos pés, analisando o rosto dele cautelosamente. Até que era bonito. — Você não é do seiscentos e um? O Porter? 

Potter. — James a corrigiu. Estava um pouco constrangido, na verdade. Havia chegado tão cansado que nem sequer reparara que o corredor do apartamento tinha uma cor de areia bem clara, já o seu, era branco. — Desculpe-me por invadir a sua casa, eu me distraí. — James coçou a cabeça e riu levemente sem graça. — Mas não deveria deixar a porta aberta, sabe? Coisas assim podem acontecer. 

— Ah, claro. Não é sempre que um vizinho bonito invade o seu apartamento em uma madrugada. — Ela piscou e gargalhou da própria fala. — É uma brincadeira, Potter. 

— James. Pode me chamar de James. 

— Eu sou Lily Evans. — Ela estendeu a mão amigavelmente. 

James não hesitou em cumprimentá-la. Era uma menina um tanto quanto interessante. 

— Nossa, você está mesmo péssimo! — Ela disse, analisando-o ainda de perto. Mais uma vez, pôs-se na ponta dos pés para que pudesse ver seu rosto com maiores detalhes. — Olheiras terríveis. — Fez uma careta.

Subitamente, ouviu-se o som de um telefone tocando. Lily correu desajeitadamente até a cozinha, e James pareceu dividido entre ir embora ou se despedir da garota pirada. Antes que pudesse decidir qualquer coisa, a menina retornou para o corredor. 

— Eu pedi pizza. — Ela explicou. — Está a fim de uma pizza? 

— Não, acho melhor eu voltar para o apartamento. — Ele bocejou ao fim da frase. 

Lily balançou a cabeça de um lado para o outro, negativamente. Estava nitidamente desapontada. James pareceu não entender o que estava acontecendo e arqueou as sobrancelhas, como se esperasse por uma explicação. 

— Recusar uma pizza é um pecado, James.  — A garota dramatizou.

A campainha tocou. Prontamente, Lily caminhou até a porta, onde pegou a pizza do entregador. Um sorriso fazia-se presente em seus lábios, de ponta a ponta de seu rosto, como se o seu maior sonho houvesse sido realizado. O amor da Evans pela pizza era genuíno e quase invejável. 

— Tem certeza? — Lily abriu a caixa da pizza, mostrando-a para o menino. 

Ela borbulhava, parecia ter acabado de sair do forno. O queijo estava extremamente derretido, exatamente como ele gostava. Sentiu o estômago roncar. Não comia desde uma da tarde. Não seria pecado aceitar comer com um estranho, seria? Sua mãe que lhe perdoasse por quebrar as suas regras, mas considerando as circunstâncias, parecia necessário. Era quase um sacrifício.

— Você venceu. — Ele ergueu as mãos no ar, como se não possuísse outra opção. — Eu vou aceitar a pizza. 

— O seu pedido é uma ordem. — Lily fez uma reverência desajeitada e riu. — Sinta-se à vontade. Senta aí no sofá, eu vou pegar as bebidas. 

A ruiva foi até a sala, onde deixou a pizza e caminhou até a cozinha para pegar os refrigerantes. James, por sua vez, adentrou a casa, caminhando em direção a sala e jogando-se sobre o sofá logo em seguida. Era ótimo poder sentir os músculos relaxarem, sentira falta daquilo. Ele olhou ao redor, analisando a casa da menina. Não por maldade, mas pelo simples fato de que seus olhos eram um tanto quanto curiosos. O tom de areia também preenchia a sala, o sofá era um bege escuro, e a estante, tabaco, tal como a mesa de centro coberta por vidro. Por fim, o rapaz voltou a sua atenção para a televisão e esboçou uma careta um tanto quanto engraçada. 

— Mas que raios de filme é esse, Evans? — O menino não pôde conter uma risada. — Quantos anos você tem? Romance adolescente, é sério?

— Eu tenho vinte e cinco. — A menina disse, voltando da cozinha com dois copos na mão. — E como ousa?! — Ela pareceu insultada, havia um bico em seus lábios quando ela apoiou os copos sobre a mesa de centro. — Lave a sua boca para falar sobre “As Dez Coisas Que Eu Odeio Em Você”, é um clássico! 

— Um clássico? — Ele arqueou as sobrancelhas. — “Karatê Kid” é um clássico.

Lily revirou os olhos, como se perguntasse se era sério o que ela estava ouvindo. 

— O que foi? — Dessa vez, James foi quem pareceu insultado. 

— Depois você pergunta quantos anos eu tenho. — Ela deu de ombros. — Mas, de fato, “Karatê Kid” também é um clássico. — Ela balançou a cabeça positivamente e sorriu. 

A ruiva esticou as mãos até o tabuleiro de pizza e retirou uma fatia. Prontamente, ela levou até a boca e comeu um pedaço. Era realmente como se tivesse mordido um pedaço do paraíso. 

— Está uma delícia, divina! — Ela parecia tão feliz que James estava assustado. 

— Desculpe-me informar, mas vou ter que te ajudar a acabar com a sua janta de amanhã. — James riu baixinho e pegou uma fatia da pizza.

Lily levantou as sobrancelhas em uma expressão nada sutil, como se o Potter tivesse dito algo ultrajante. James pareceu não entender o que estava acontecendo. 

— Não duvide da capacidade de uma mulher de comer uma pizza inteira em uma noite. — Ela mordeu mais um pedaço de pizza. — É extremamente sério. 

— Tudo bem senhorita, eu sinto... 

— Espera, fica quieto! — Lily colocou uma das mãos sobre a boca de James, que pareceu um tanto quanto confuso por alguns segundos. — Essa é a melhor parte.

Dessa vez, foi James quem revirou os olhos. Aquela menina era mesmo um bocado estranha. 

“I love you, baby” — Lily começou a cantar junto com o personagem na TV. James sentiu uma súbita vontade de rir. — “And if it’s quite all right, I need you, baby, to warm the lonely nights.” — A voz de Lily não era nada afinada, o que dava ainda mais graça à situação. — “I love you, baby, trust it in me when I say!”

— Realmente, um clássico. — James murmurou baixinho e não conteve uma risada. Só parou de rir quando sentiu uma almofada sendo arremessada contra o seu rosto. — Ouch. — Resmungou, acariciando a região mais afetada. 

— Ninguém mandou zombar de um clássico! — Lily parecia furiosa, estava vermelha feito um tomate, mas, ainda assim, era bela. 

— Você é tão mal humorada e irritada quanto a Kat Stratford. — Ele fez uma careta. 

— Espera! — Havia um sorriso divertido em seus lábios, Lily lentamente aproximou-se dele, encarando-o intensamente em seus olhos cor de avelã. —  Você já assistiu esse filme, seu grande hipócrita! 

— Eu nunca disse isso. — Ele ergueu as mãos no ar, como se quisesse livrar-se de qualquer culpa. 

— Como sabe sobre a Kat Stratford então, hein?! — Lily fez um bico, e seu olhar indicava uma batalha vencida. 

— Tudo bem, eu assisti, eu confesso. — James suspirou, dando-se por vencido. — É um “clássico” afinal. — Ele fez aspas no ar. 

Quando James gargalhou da própria fala, Lily pareceu perder o equilíbrio e, repentinamente, seu corpo caiu sobre o dele, de modo que os dois chocaram as cabeças. O Potter, por sua vez, ameaçou cair do sofá, e Lily o segurou para que não acontecesse. 

— Isso doeu, sabia? — James resmungou, mas logo deixou um riso escapar de seus lábios. 

— Me desculpe. — Ela disse em um tom manhoso, esfregando uma das mãos sobre a testa lesionada. 

— Deixe-me ver. — Lily mordiscou o lábio inferior quando James segurou sua mão e a afastou do machucado. — Está um pouco vermelho, mas nada sério. 

— Obrigada, doutor. — Ela piscou e soltou uma risadinha baixa. 

— Vai ficar aí o dia todo? — O rapaz levantou as sobrancelhas, provocativo. 

— Até que você é bem confortável! — A menina, mais uma vez, riu baixinho. 

— Você é uma folgada. 

— Você não deveria falar assim com uma donzela. — Ela inflou as bochechas, extremamente infantil.

— Uma donzela com molho de tomate na cara! — James riu mais uma vez. 

— Molho de tomate... na cara?! — Lily assumiu uma expressão emburrada que fez James prender o riso. 

Lily levou uma das mãos ao rosto, apoiando seu cotovelo no abdômen de James distraidamente. O rapaz, por outro lado, assumiu uma expressão de dor, enquanto a ruiva tentava limpar a sujeira não localizada por ela de seu próprio rosto. 

— Espera. — A voz dele expressava um pouco de dor. — O cotovelo. — Ele apontou com o único braço que conseguia mexer. 

— Oh, me desculpe! — Ela moveu-se de súbito, retirando o cotovelo do abdômen alheio. 

— Deixa que eu faço isso para você. — Ele proferiu, desta vez aliviado. 

James ergueu uma de suas mãos para o rosto pálido de Lily. Cuidadosamente, ele a deslizou pela pele aveludada da menina, próxima aos seus lábios. Por alguns poucos segundos, ele pegou-se encarando os lábios rosados e atraentes e, no segundo seguinte, perdido nos olhos esverdeados cativantes.  E sentiu sua mão deslizar pelas sardas presentes nas bochechas macias. 

— Já saiu? — Havia uma feição de dúvida misturada com ansiedade na sua face. 

Lily Evans realmente sabia como estragar um clima. Ou melhor, como não percebê-lo. 

— Ah, já. — O moreno pigarreou e mascarou o constrangimento em um belo sorriso. — Você não vai sair de cima de mim mesmo, não é? 

— Eu deveria? — Sua expressão era desafiadora. 

— E eu lá tenho cara de cama?

Shhhhh! — Lily levou o indicador até os lábios alheios, enquanto uma feição brava contemplava o seu rosto. — É a minha parte favorita. 

“Odeio o modo como fala comigo e como corta o cabelo...” — Lily começou a falar, acompanhando Kat Stratford. 

— Oh, céus, quantas vezes você já assistiu esse filme? — Ele perguntou com uma voz engraçada, já que os dedos de Lily continuavam pressionando os seus lábios enquanto ela recitava o poema. 

“Mas eu odeio principalmente não conseguir te odiar, nem um pouco, nem mesmo por um segundo, nem mesmo só por te odiar.” — A ruiva finalizou e bufou. — Você não sabe mesmo como apreciar uma obra de arte. 

— A história seria diferente se fosse “Karatê Kid.”

Lily rolos os olhos. 

— Admite que gosta de “As 10 Coisas que Eu Odeio em Você.” — Ordenou. 

— Nunca! — O rapaz falou em um tom de drama exagerado. 

— Mas você é mesmo uma ótima cama. — Lily apoiou a sua cabeça sobre o peitoral do rapaz. — Só vai sair daqui quando finalmente admitir. 

— E se eu não admitir? — Perguntou, curioso. 

— Então não vai sair daqui nunca! — Seus olhos verdes olharam para ele ameaçadoramente. 

— Ah, é? — Um sorriso travesso apareceu nos lábios do rapaz. — Então acho que vou ter que dormir aqui. 

— Então durma! — Ela falou, falsamente brava. 

Os dois permaneceram trocando respostas afiadas nada sérias até que, em algum momento, Lily parou de responder. Naquele momento, James se pegou envolvendo a ruiva em seus braços e afagando os longos cabelos ruivos sedosos de maneira carinhosa. Ele pensou em se retirar, mas ela dormia tão pacificamente que parecia um anjo. Não faria mal que dormisse com ela ali, faria? Talvez, no âmago de seu ser, fosse por isso que não havia admitido que gostava do filme, ainda que fosse um de seus preferidos. Ele riu baixinho, pensando sobre como aquela situação inusitada havia acontecido. A sua vizinha do quinhentos e um era mesmo um caso curioso, digno de sua atenção. E quem seria James se não embarcasse naquela aventura chamada Lily Evans? Estava determinado. Em meio ao aroma de pizza e do perfume doce que Lily usava, James recitou o poema do filme baixinho até que, perdendo-se nas palavras, pegou no sono. Ali, naquela madrugada, ele teve certeza de que entrar no apartamento errado provavelmente foi o melhor descuido de sua vida. E Lily Evans provavelmente concordaria. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da leitura! Me digam o que acharam. ♥



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