Apple Pie escrita por Dama Magno


Capítulo 1
Torta de Maçã


Notas iniciais do capítulo

Eai! Estou estreitando nessa categoria maravilhosa e felizona que é com um dos meus ships favoritos, e que parece estar em falta por essas bandas.

Sempre curti muito também essas histórias de 5+1, por isso juntei o agradável ao mais agradável ainda e cá estou! Espero que gostem~



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A primeira vez que Aizawa tentou fazer uma torta de maçã, eles ainda estavam no prédio dos professores da U.A e a cozinha terminou como alguns dos cenários que utilizavam para o treinamento dos alunos. Cascas e maçãs despedaçada podiam ser encontradas até mesmo na sala, farinha cobria os armários, chão, fogão e o próprio professor estava deplorável. Yagi apareceu com a pequena Eri nos braços, após ouvirem sons estranhos do quarto da pequena, e a última coisa que esperava encontrar era aquela situação.

 

— Não fique aí parado e me ajude. — Shouta pediu, praticamente ordenou. O herói aposentado segurou o riso ao notar as bochechas coradas do colega, que saiu em direção aos banheiros.

 

— Vamos, Eri-chan, parece que Aizawa-kun precisa de mãos extras. — A menina sorriu e os dois então começaram a limpar o cômodo.

 

Quando o colega voltou pouco tempo depois, roupa trocada e cabelo pingando, Yagi não se conteve em perguntar o que diabos ele havia tentado fazer ali. Aizawa apenas se manteve em silêncio, como se não o tivesse ouvido, os olhos escuros pairando sobre a menina que jogava o restante da farinha no lixo com a ajuda de uma pá.

 

— Uma torta de maçã. — Shouta falou, tanto tempo havia se passado que Toshinori levou alguns segundos para entender o contexto dela. Os olhos azuis então passaram do colega para a menina, que já não estava mais na cozinha, e sim na sala vendo TV.

 

Sem conseguir conter o sorriso, Yagi bateu a mão na calça sentindo a carteira no bolso traseiro, então se aproximou da garota e perguntou em um tom alto:

 

— Eri-chan, o que você acha de eu levar você e o Aizawa-kun para comer uma torta de maçã na cidade? — O brilho nos olhos dela foi resposta o suficiente para ele, que a pegou no colo e seguiu em direção a porta.

 

— Shouta-san, vamos?!




A segunda vez, eles não moravam mais no complexo escolar, pois finalmente deixou de ser uma necessidade de segurança. Eri e Shouta viviam em um prédio próximo a agência que alguns de seus ex-alunos agora trabalhavam, Yagi sabia que o homem criara um laço especial com as crianças da Classe A e por isso queria acompanhar suas carreiras de perto, mas mantinha sua opinião para si, mesmo com a vontade de deixar Aizawa envergonhado.

 

No dia em questão ele ia até o apartamento para conversarem sobre a festa de aniversário de Eri, que logo completaria dez anos. Em seu peito o coração palpitava ansioso, não somente pelo sentimento que tinha pela garota a qual se tornou extremamente apegado, mas também por saber exatamente o que estava acontecendo entre ele e Shouta.

 

Há meses eles começaram a sondar um ao outro, quase que em um jogo de provocações. Era flertes, olhares e toques longos demais para serem confundidos com qualquer sentimento fraternal ou de camaradagem, mas nenhum dos dois colocava em palavras o que sentiam. No entanto, Yagi estava determinado a colocar os pontos nos i’s naquele dia.

 

Ao chegar no apartamento, a primeira coisa que sentiu foi o cheiro doce no ar e o calor do ambiente. Eri apareceu para pular em seus braços assim que Shouta gritou avisando que ele estava lá.

 

— Você não vai acreditar, Yagi-san, mas Papa finalmente conseguiu fazer uma torta pra gente. — A garota avisou assim que foi posta no chão novamente, então continuou a tagarelar como a criança que havia se tornado. — E nem sujou muito a cozinha, mas limpamos tudo mesmo assim porque Papa não quer que pense que somos desorganizados, pois isso poderia acabar com as chances de vocês namorarem.

 

— Eri! — Shouta grunhiu para a menina, que fingiu arrependimento ao cobrir a boca com as mãos. Yagi riu e se curvou para ficar na altura da menina.

 

— Sabe, Eri-chan, vocês não precisavam se preocupar com isso, porque eu quero muito namorar seu Papa e não tem cozinha suja que me faça mudar de ideia — falou com as mãos ao lado do rosto, mas alto o suficiente para ser ouvido.

 

— Toshinori-san!




A terceira vez não demorou muito tempo para acontecer, cinco meses para ser mais exato. Yagi e Shouta estavam juntos há maravilhos cinco meses e a vida deles não poderia estar mais tranquila, entre os afazeres de professores e a vida doméstica. O único dilema entre eles era o cansaço de Toshinori em ter que voltar para casa todos os dias, que ficava mais próxima da escola.

 

Claro que Shouta havia pedido várias vezes para que passasse a noite com eles, mas Yagi não achava certo se intrometer na rotina entre pai e filha daquela maneira; uma grande porcaria de desculpa, como o moreno muitas vezes disse em sua cara. A realidade era que, apesar de estarem juntos há algum tempo, eles nunca ficaram de um jeito íntimo e Toshinori sabia que seria inevitável se dormissem na mesma cama. Inevitável, pois ele desejava muito estar com Shouta nesse sentido, mas não tinha a confiança necessária para tal.

 

Aizawa era jovem e possuía uma vitalidade que Yagi apenas lembrava ter tido. Seu corpo já não era mais tão bonito como antigamente e a ferida em sua barriga o distorcida ainda mais, não era uma imagem que ele gostaria que o namorado visse. Sua vontade de aproveitar o amor que sentia por Shouta era maior que qualquer desejo carnal, que em sua cabeça poria um ponto final no relacionamento deles, por isso não poderia se dar ao luxo de passar a noite lá.

 

Contudo, seu namorado tinha uma opinião  completamente diferente da dele e deixou isso bem claro no dia da torta em questão.

 

Yagi se lembrava muito bem, era uma tarde de sábado em que ele voltava de uma visita feita ao ex-mestre, Gran Torino, e havia prometido a Shouta que passaria por lá antes de ir para casa. Ao abrir a porta do apartamento com a cópia da chave que ganhara logo no começo do namoro (Porque assim é mais prático, Toshinori-san), o herói aposentado reconheceu o cheiro e a sensação de calor que preenchia todo o local.

 

— Shouta? — chamou após deixar os sapatos na entrada, mas não obteve resposta. — Shouta, Eri-chan?! — Tentou mais uma vez em um tom mais forte, porém novamente tudo permaneceu em silêncio.

 

Sentindo as costas doerem, Yagi se sentou no sofá e deixou a cabeça cair no encosto, os olhos se fechando automaticamente. Em sua mente uma bagunça de pensamentos, que iam perguntas como onde o namorado poderia estar e porque nem mesmo Eri havia aparecido ainda eram as principais, o distraiu e por isso não teve tempo de reagir ao corpo que se colocou sobre o dele.

 

Uma língua morna passou por seus lábios, dedos longos o seguraram pelos cabelos e pernas firmes o prenderam contra o sofá. Se não fosse pelo reconhecimento que seguiu seu choque inicial, Yagi teria utilizado os poucos segundos que conseguia manter o All for One ativado para jogar a pessoa longe, mas o toque e perfume familiares logo o atingiram e ele se permitiu seguir o namorado.

 

Beijos como aquele já haviam acontecido antes, mas sempre foram os limites para o loiro, que no sinal de qualquer avanço parava e dizia que era hora de ir embora. Quando a boca de Shouta se afastou e pousou sobre o ponto sensível abaixo da orelha de Toshinori, ele segurou o namorado pelos braços e tentou empurrá-lo para o lado com delicadeza; os dedos se fecharam dolorosamente em seu cabelo e os joelhos se apertaram em seu quadril, o impedindo de continuar a ação.

 

— Shouta? — murmurou sentindo o moreno tremer sobre si, encolhido contra seu pescoço de forma a abafar a resposta dada. — Shouta, o que foi? — perguntou deixando os braços rodearam a cintura do namorado, querendo dar conforto.

 

— Eu pre-... Yagi, por que você… — Aizawa tentou dizer, baixo e incerto. — O que eu sou pra você? — questionou por fim, levantando o rosto para encará-lo.

 

— A pessoa mais importante pra mim — respondeu sem qualquer hesitação, uma de suas mãos subiram para a bochecha do moreno, percorrendo a cicatriz abaixo do olho com o dedão. — Eu nunca senti nada parecido por ninguém antes de você aparecer na minha vida.

 

— Então porque você me evita?

 

Aizawa era, como todos sabiam, um homem que pouco transparência o que sentia, sempre usando uma expressão e tom de voz monótonos. Yagi o conhecia há anos e durante a época em que eram apenas colegas de profissão, ele só o havia visto ser sentimental com as crianças por quem criou tanto apego. Contudo Shouta, como qualquer ser humano, possuía sentimentos e ele se sentiu um completo idiota por ignorar isso ao ouvir tanta incerteza na voz do namorado.

 

— Me desculpe, Shouta, eu fui muito egoísta todo esse tempo — respondeu abraçando o moreno. — Você é tão lindo e jovem, que me senti inseguro demais.

 

— Por causa disso? — A pergunta veio acompanhada do toque, que mesmo por cima da camisa o fez estremecer por diferentes motivos. Apoiando a testa no ombro do namorado, Toshinori apenas afirmou com a cabeça, envergonhado. — Yagi, eu sou um herói também, eu não vejo ferimentos e cicatrizes de forma diferente de como você vê.

 

— Marcas contam histórias de sobrevivência, dizem que deu tudo de si e venceu. — Aizawa soltou um som de concordância com a garganta. — Mas nenhuma delas o tornou menos do homem que você era antes — murmurou.

 

— Você continuou vivendo da forma que acreditava, seguindo com seus ideais até mesmo depois de falarem que morreria. Sua força de vontade mudou o destino do mundo e eu não sei como isso poderia ser menos do que o homem que você sempre foi. — Shouta declarou segurando o rosto de Yagi entre as mãos, forçando o loiro a olhar para ele. — E foi por esse homem que eu me apaixonei.

 

O coração de Toshinori deu um salto mais forte depois daquelas palavras, tirando-lhe o ar e tornando o que sentia por Aizawa algo definitivo. Ficariam juntos pelo resto do que tinha de vida, foi o que pensou ao encarar aqueles os olhos escuros.

 

— A Eri está em casa? — O outro negou com a cabeça.

 

— Vai passar o fim de semana com Midoriya e Bakugou, já que Mandalay deixou Kouta com eles também.

 

— Eu sinto muito pelo jovem Bakugou — falou sem realmente sentir, suas mãos se esgueirando para a nuca de Shouta, o aproximando de seu próprio rosto.

 

— Ele vai sobreviver.





A quarta vez que a torta de maçã foi feita por Shouta, Yagi já morava com eles e Eri estava fazendo aniversário (Onze anos, como as crianças crescem rápido). Muitas pessoas estavam no apartamento e Toshinori não sabia que um espaço tão pequeno poderia caber tanta gente, entre ex-alunos e amigos professores. Todos aqueles que tinham importância na vida da menina estavam ali, a prestigiando em um dia tão especial.

 

— Logo você estará indo para a U.A também, Eri-chan! — Toga falou entre uma conversa e outra, o rapaz havia recuperando sua individualidade graças ao poder de reversão de Eri e era o pro hero no topo da nova geração. — Será a maior heroína que o mundo já viu!

 

Todos que estavam em volta da menina concordaram, fazendo as bochechas cheias e redondas corarem de forma nada sutil. Midoriya continuou no tópico, apontando verborragicamente os pontos positivos da individualidade dela e em quais situações seriam úteis, até que Bakugou pegou um generoso pedaço de torta que tinha em seu prato e o enfiou na boca do outro.

 

— Cala a boca, ninguém quer saber dessas coisas de nerd. — Katsuki implicou, as mesmas palavras que utilizava antigamente, mas que agora claramente possuíam outro significado.

 

Yagi olhou para os jovens sorrindo, sentindo-se orgulhoso de quem estavam se tornando e  por ter participado do processo, querendo acreditar que ele tinha algo a ver com isso. Ao seu lado, Shouta olhava para as crianças com o mesmo tipo de sentimento, mas Toshinori tinha certeza da importância que o homem teve (e ainda tinha) na vida daqueles novos heróis.

 

Depois que a festa acabou e Eri já estava profundamente adormecida, Yagi deixou o moreno na cama e vestindo apenas uma calça foi até a varanda; alguns pensamentos o assolavam havia semanas e ter todos aqueles meninos e meninas que viu crescer apenas fizeram eles se tornarem mais fortes. Ouviu a porta de correr ser aberta atrás de si e logo um prato com torta era colocada ao seu lado no parapeito. Em silêncio ele e Aizawa compartilharam o doce, ao terminarem Shouta o abraçou e por mais alguns minutos eles ficaram observando a cidade escurecida.

 

— O que houve? — Yagi olhou para o namorado pensando em como responderia, uma sobrancelha preta se ergueu enfatizando a dúvida. Antes de responder, no entanto, Toshinori o segurou pelo rosto com as duas mãos e depositou um beijo fechado nos lábios finos.

 

— Eu estava pensando, e vou entender completamente se achar que é loucura ou cedo demais — começou dando as costas para a cidade enquanto se afastava do moreno. — Estava pensando em como seria maravilhoso se nós três fôssemos, bem… Uma família. — Olhou para o chão, incerto se queria saber a resposta do outro ou não.

 

— Do tipo com uma grande festa, jornalistas colocando isso como matéria principal e Eri sendo cercada por esses abutres? — A pergunta de Aizawa não parecia uma acusação, nem uma rejeição. Estava carregada de preocupação genuína com o bem estar deles e da filha.

 

— Do tipo não vamos esconder de ninguém, mas não faremos anúncios; do tipo acordar no domingo de manhã com Eri nos chamando para levantar: Papa — apontou para Shouta — e Paps. — Apontou para si mesmo.

 

Toshinori sentiu a boca secar enquanto esperava a resposta para sua declaração. Por favor, não recuse, implorou no fundo de seu coração. Aizawa coçou o queixo e murmurou algo ininteligível, um detalhe que o fez lembrar Midoriya.

 

— Bom, não é como se eu nunca tivesse pensado nisso antes — confessou com as bochechas coradas. — Ela gosta muito de você, então acho que seria o caminho natural. Yagi sorriu.

 

Eu te amo.

 

É, eu também gosto muito dela.

 

Eu também te amo.





A quinta vez que Shouta fez a torta de maçã foi no dia em que oficializaram o relacionamento deles. Eri estava radiante, parecendo mais contente com a união que qualquer um dos dois (Porque meu Papa e meu Paps são os melhores pais do mundo) e corria de um lado para o outro no apartamento em seu vestido cor de pêssego. Poucas pessoas foram chamadas para o casamento, que ocorreu em um cartório pela manhã, e agora todas estavam reunidas na casa deles bebendo e comendo, rindo e conversando.

 

Yagi e Shouta estavam na cozinha, as mãos entrelaçadas com alianças discretas brilhando no anelar, claramente felizes em suas maneiras. O loiro era mais expressivo, seu sorriso gigante não  fraquejava e algumas vezes o sentimento era tão difícil de conter que All Might dava o ar da graça pelos segundos possíveis; já Aizawa demonstrava de forma discreta e cuidadosa, com toques e olhares que eram incapazes de esconder o que sentia pelo homem ao seu lado.

 

— Eu te amo. — Yagi falou em algum momento durante a primeira noite de casados. Não era uma informação nova, eles já haviam dito isso de formas diferentes antes, mas naquele momento aquelas três palavras pareciam ser as únicas capazes de realmente expressar o que estava em seu coração. Em seu peito, Shouta se remexeu enquanto um som de contentamento saiu de sua garganta.

 

— Eu também te amo.





A primeira vez que Yagi fez uma torta de maçã foi na noite anterior ao início do ano letivo. Shouta estava ao seu lado o orientando em cada passo da receita que já havia se tornado a tradição familiar deles para dias especiais. O cabelo desgrenhado do marido estava preso em um meio coque que deixava o rosto bonito exposto aos seus olhos, que encarava o homem com admiração divina e por isso acabava sendo repreendido uma hora ou outra. Eri estava no quarto, arrumando a mochila para o dia seguinte e logo se juntaria para essa divertida missão.

 

A torta foi feita para comerem no dia seguinte, durante o café da manhã, com paz e tranquilidade, mas àquela altura do campeonato ele já deveria saber que as coisas não aconteceriam daquela forma. Todos acordaram tarde, logo a correria se instalou na residência; Eri corria de um lado para o outro procurando as meias do uniforme enquanto trançava o próprio cabelo, Aizawa se arrumava e conferia se tudo estava em ordem antes de saírem e ele preparava o que cada um levaria para o almoço na escola.

 

A garota saiu na frente, pois encontraria Kouta na estação para irem juntos, e por isso acabou levando apenas um pedaço da torta para comer no caminho. Yagi olhou para filha com um misto de orgulho e tristeza, pois queria ter compartilhado aquele momento de uma forma mais apropriada. Shouta abraçou o marido pelas costas, confortado os sentimentos que não precisavam ser falados para que fossem compreendidos.

 

— Acho que deveríamos ir também, ou Eri vai ficar preocu… — falou se virando para encarar o moreno que o beijou antes de completar a frase.

 

— Não se preocupe. — Sorriu, os dedos ágeis desfazendo o nó da gravata que Toshinori usava. — Ela acabou de receber uma mensagem avisando que o professor vai chegar um pouco tarde hoje.

 

— Não acha isso um pouco anti-ético? — perguntou rindo, mas parou ao sentir os lábios finos descerem até seu pescoço.

 

— Bom, não podemos desperdiçar uma torta especial como essa, não é mesmo?

 

Definitivamente não poderiam.


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Notas finais do capítulo

É isso meu povo, por favor deixem comentários! Seja para dar dicas, para dizer que amou, para pedir a receita da torta ahsuahsjahs

Obrigada por lerem, beijas~~



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