A Bastarda de Lily Potter - LIVRO 1 escrita por thaisdowattpad


Capítulo 19
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Capítulo Dezenove
Indiferenças. parte 2

De tanto ser apertada, Tori começou a sentir sua consciência querendo escapar dali. Os olhos começaram a ficar pesados e a respiração fraca.

— Tori, acorda! — Fred gritou para ela — Se você não desistir, nós não vamos também! — ele puxou a varinha das vestes outra vez.

A menina respirou fundo e voltou a abrir os olhos, mesmo se com dificuldade.

— Eu tenho um plano. — Angelina falou, atraindo a atenção de todos os outros — Tori, onde está sua varinha? — perguntou.

— Presa em minha canela direita... — a menina respondeu, fraca.

— Consegue tentar pegá-la? — a colega perguntou.

— Não dá, meu corpo dói... — choramingou.

— Ok, tudo bem... Ahm, e se o galho te soltar? Acha que consegue? Se todos nós atacarmos juntos, acha que consegue ser rápida e escapar? — Angelina começou a caminhar em frente a árvore.

— Eu não confio muito nisso, mas posso tentar. Mas... o que eu faço depois? Essa árvore é muito rápida... — fungou.

— Eu não sei, vou pensar em alguma coisa. Espera aí. — a menina se virou para os outros amigos.

— Ali! — Lino gritou — Tem um buraco ali, perto das raízes. É muito mais rápido chegar ali, do que pular no chão e correr até aqui... — coçou o queixo enquanto falava.

— Isso. Então ela fica ali até a ajuda chegar. Mas... e se for muito fundo? E se ela ficar presa? — refletiu Jorge, causando uma expressão de preocupação nos outros.

— Qualquer coisa é melhor do que ser partida ao meio! — Tori gritou e gemeu.

— Tudo bem. Nós vamos manter o plano. Se prepara, Tori, nós vamos agir! — Angelina segurou firme sua varinha e apontou em direção à árvore.

Todos os outros fizeram o mesmo, mirando no mesmo lugar. A tensão os fazia tremer um pouco, mas a determinação os fazia ter coragem e confiança.

— Diffindo! — eles atacaram.

Um jato de luz acertou o galho que prendia Tori e a libertou de novo. Mesmo com dor, ela conseguiu se curvar e puxar sua varinha para usá-la.

— Estupefaça! — usou o primeiro feitiço que veio em sua mente, lançando para longe dela um novo galho que vinha em sua direção.

Com isso, Tori conseguiu se desvencilhar. Mas dor maior aconteceu em seguida, quando conseguiu passar pelo buraco. Ela rolou por uma descida de terra até parar em um túnel muito baixo e escuro.

Dolorida, descabelada e suja, ela permaneceu um tempo no chão, tentando se recompor da dor que sentia em suas costelas. Quando conseguiu, tateou o chão até encontrar sua varinha e se sentou.

— Lumus! — falou e uma luz se acendeu na Ponta de sua varinha, iluminando tudo ali.

Tori se levantou e iluminou o lugar, o observando por algum tempo.

— Tori!? — ouviu os amigos a chamando.

— Eu estou bem! — ela gritou de volta.

Curiosa como sempre foi, a menina começou a caminhar túnel à dentro, enquanto usava sua varinha para olhar o caminho.

Em pouco tempo, não podia mais ouvir barulho algum lá fora, sendo o som dos seus passos sua única companhia. Começou a se arrepender de ter saído do lugar onde caiu, mas mudou de opinião quando reparou que o túnel começou a subir para algum lugar.

Então uma pequena abertura surgiu, grande o suficiente para uma pessoa passar. E ela passou, enquanto usava a varinha para observar o local e reparar que se tratava de um quarto muito desarrumado e cheio de sinais do abandono, onde o papel de parede estava rasgado e cada móvel estava quebrado como se alguém tivesse o atacado.

— Quem moraria em um lugar como esse? — sussurrou para si e andou pelo lugar tomando cuidado onde pisava, pois temia que o chão fosse se partir a qualquer momento.

Acabou encontrando algo para se sentar e aproveitou para analisar seus ferimentos. Ergueu a camiseta e encontrou grandes hematomas e arranhões em sua pele onde o galho de árvore a havia prendido.

Fez uma caretinha de dor e se levantou outra vez, disposta a voltar para o túnel antes que dessem por conta o seu sumiço. Saiu ainda olhando para trás, ainda mais curiosa do que antes. Tentaria dar um jeito de voltar ali em uma outra ocasião para explorar. Só não pretendia estar ferida outra vez.

— Onde você estava? — uma voz conhecida a surpreendeu no meio do caminho de volta.

— Senhor Sna... Professor Snape, eu só fui ver se conseguia ver o fim desse túnel, mas não consegui e não quis arriscar! — mentiu e abaixou sua varinha.

— Vamos logo sair daqui. Quanto mais cedo começar sua punição por tamanha imprudência, melhor! — rosnou e seguiu para a saída do lugar.

— Mas e a árvore? — Tori estremeceu com a ideia de ser atacada outra vez.

— Acha que eu seria burro de não enfeitiça-la antes de entrar aqui? Francamente, Evans! — dito isso, ele subiu e sumiu de vista.

A menina seguiu o professor logo depois, tendo muito mais dificuldade de conseguir sair por conta dos seus ferimentos. Mas quando enfim conseguiu, foi recebida por muitos abraços que a deixaram mais dolorida ainda.

— Que bom que tudo deu certo! — Jorge a abraçou todo feliz.

— Por que achou que poderia brincar com o Salgueiro Lutador? — Lino perguntou, com uma expressão de dúvida contorcendo seu rosto.

— Salgueiro Lutador? Isso tem até nome? — a menina arqueou as duas sobrancelhas.

— Você tem que parar de cochilar nas aulas de Herbologia. Isso quase te custa a vida! — foi a vez de Alicia se manifestar.

— Vou me tornar a melhor da turma! — prometeu e tocou a cabeça.

— Chega de conversinhas. Venham até minha sala agora! — Snape ordenou não muito contente e saiu andando dali.

— Plural? Eu pensei que eu seria a única punida, professor. A culpa foi toda minha, não é justo com eles! — Tori tentou argumentar.

— Cada minuto de demora custará cinco pontos a menos para a Grifinória! — o superior avisou.

Todos então correram e se trombaram para acompanhar os passos do professor, onde seguiram rumo ao castelo.

◾ ◾ ◾

Na hora do almoço, Tori e os amigos chegaram ao salão principal com os braços caídos ao lado do corpo e a feição exausta. A maioria bocejava e, vez ou outra, coçava os olhos.

— Eu não sinto meus dedos! — gemeu Fred, enquanto se sentava em um lugar vago da mesa.

— Ele é um monstro. Um monstro! — desabafou Angelina — Não bastava tirar pontos de cada um de nós, ainda nos fez escrever todos aqueles textos inúteis! — continuou.

Todos se acomodaram e relaxaram as mãos sobre a mesa.

— Eu sinto muito, pessoal. Não tive a intenção em prejudicar os senhores. Eu só queria um jeito de unir o útil ao agradável e estraguei tudo sendo burra, para variar! — Tori se desculpou pela milésima vez — Eu só quis tentar me desculpar, meninas, e para isso não deixar de lado meus amigos, os meninos... — explicou.

— Até que formamos uma boa equipe. — Jorge deu de ombros.

— Agora imagine se fôssemos uma equipe de Quadribol. Não teria para ninguém! — exagerou Angelina, sorrindo muito.

— Espera... Você quer entrar para o time? Não acredito! — espantou-se Fred com direito a boca aberta. 

— Por quê? Por eu ser menina? — Angelina empinou o queixo.

— É por isso? Pois eu também quero e pretendo entrar! — Alicia se juntou a amiga.

— Não, não. Na verdade eu gosto disso. Meninas que curtem coisas que geralmente são do gosto dos meninos são bem raras. Será que eu posso me casar com uma das duas quando eu tiver idade? Seria uma honra! — brincou e fez uma cara de bobo.

— Vocês pretendem tentar para qual vaga? — revirando os olhos e soltando um risinho, Angelina perguntou.

— Fred e eu queremos ser batedores! — foi Jorge quem respondeu.

— Eu não vou entrar. Sou péssimo praticando qualquer coisa que me tire do chão. Pelo bem estar das pessoas, vou manter distância! — Lino deu de ombros.

— E você, Tori? — Alicia perguntou.

— Eu? Eu nem conheço muito sobre Quadribol, gente. Fora que não tenho muito equilíbrio em vassouras... — a citada encolheu os ombros. 

— Mas você vai treinar e tentar, não vai? Pensa em como seu pai ficaria orgulhoso! — a menina insistiu.

— De novo esse assunto? Caramba, quando vão perceber que a Tori é a Tori e o Tiago é o Tiago? — Rita se irritou.

— Tudo bem, Rita. — Tori tentou amenizar a situação — Eu vou me esforçar para melhorar. Se eu conseguir, eu faço o teste! — avisou, causando sorrisinhos nos amigos.

— E vocês, meninas, qual posição querem jogar? Aliás, qual time vocês torcem? — Fred mudou o rumo que a conversa estava tomando, recebendo um sorriso de gratidão de Tori.

Percebendo que Lino estava alheio ao assunto, Tori se sentou mais perto do amigo e resolveu puxar assunto, levando em consideração que estava tão deslocada quanto ele.

— Eu nem sei mesmo se vou entrar. Não acredito que alguns meses vão me fazer melhorar. Não acredito nesse milagre! — puxou assunto com ele.

— Ao menos você quer tentar, e eu não quero. Prefiro estar no quadribol por um outro ângulo... — um sorrisinho se abriu no rosto de Lino.

— Como assim? — sorriu junto, mesmo sem saber o motivo.

— A professora McGonagall me chamou para ser o Narrador das partidas de Quadribol, pois o antigo se formou. Eu começo na semana que vem, na partida da Grifinória contra a Sonserina! — contou a novidade e deixou visível seu nervosismo.

— Meu Deus, que coisa boa, Lino. Estou tão feliz pelo senhor! — Tori abraçou o amigo de lado e sorriu outra vez.

— Coisa boa sim, mas eu estou uma pilha. E se eu gaguejar? E se não souber o que falar? E se rirem da minha voz? — ele começou com paranóias.

— Nada de ruim vai acontecer. Deixe se ser pessimista, credo! — jogou as mãos para o ar como se estivesse expulsando algum inseto — Mas me diz: é o que o senhor queria? Gostou de ser chamado? — perguntou. 

— Sim, muito. Mas bate a insegurança, sabe? — Lino suspirou.

— Pensa por um outro lado: pelo menos o senhor já se encontrou logo de cara. E eu que nem sei o que estou fazendo ainda, piorou no que sou boa! — apoiou o rosto nas mãos. 

— Não é verdade. Você é boa em alguma coisa sim. Você é boa... boa... — se esforçou para pensar em alguma coisa — ...É uma boa mãe! — completou.

— Boa mãe? Meus Deus do céu, Lino! — a menina começou a rir muito, enquanto balançava a cabeça negativamente. 

— É que você cuida de nós como se fosse. Por isso que nem estou sentindo tanta saudade da minha mãe ainda, porque toda hora você age como se fosse ela. — ele explicou — "Lino, limpa essa sujeira da boca" "Lino, me deixe arrumar sua gravata" "Lino, já comeu hoje?". Você é uma mãe no corpo de uma criança, Tori! — tentou imitar a voz da amiga e deixou a situação engraçada.

— Isso eu concordo. — Rita se intrometeu — Tanto que você quase morreu hoje só para unir seus amigos, e conseguiu! — ela assentiu para o restante do grupo que conversava calorosamente.

— E eu espero que tenha surtido algum efeito permanente. Porque eu não estou afim de ser atacada de novo por uma salada gigante e de tpm! — Tori fez uma careta e causou risos nos outros dois.

A comida foi servida um tempo depois e o almoço seguiu agradável, apesar de todo o susto que passaram algumas horas atrás.

◾ ◾ ◾

Horas mais tarde, Tori saiu caminhando sozinha para fora do castelo a procura de algo específico. Seguiu apressada até as Estufas de Herbologia, onde encontrou a professora Sprout de saída.

— Boa tarde, professora! — Tori a cumprimentou.

— Boa tarde, Tori. Está tudo bem? — a mulher fez uma careta que indicava que ela sabia o que havia acontecido com a aluna.

— Sim. E, principalmente, viva! — abriu um sorrisinho, mas logo o reprimiu — Mas... com um terrível peso na consciência. A senhora está indo ver o Salgueiro Lutador, não está? Se estiver, me deixe ir junto para ajudar, pelo amor de Deus. Ele só foi machucado por minha causa, por causa da minha burrice, então não vou sossegar enquanto eu não me redimir de alguma forma. Por favor, professora, eu juro que vou melhorar em suas aulas para coisas como essa não acontecerem de novo! — suplicou, acelerada.

— Se acalme, Tori. — Sprout pediu e sorriu divertido — Você pode ir sim, desde que só faça o que eu te mandar! — avisou.

— Sim, senhora. Como quiser, exatamente como quiser! — Tori abriu um enorme sorriso.

— Vamos! — dito isso, a adulta saiu acompanhada da mais nova.

Em passos apressados, as duas logo chegaram diante da enorme árvore, que sozinha parecia inofensiva tanto quanto as outras. Tori parou na metade do caminho, pouco antes de chegar até a árvore e engoliu em seco, pois as lembranças de sua quase morte ainda doíam em suas costelas.

— Tem certeza de que quer mesmo ajudar, Tori? — Sprout ergueu uma das sobrancelhas.

— Sim. Está tudo bem. Eu só parei para descansar um pouco, pois meu sedentarismo fez minhas pernas doerem! — inventou a desculpa mais boba que veio em sua mente.

A professora assentiu e então voltou a caminhar, agora sacando sua varinha do bolso das vestes. 

— Fique aí enquanto eu lanço um feitiço no Salgueiro! — fez um gesto para que a menina parasse — Immobulus! — pronunciou logo depois, fazendo com que a árvore ficasse tão parada quanto as outras.

Rapidamente e sem que a professora percebesse, Tori retirou do bolso um pedaço da folha que tirou de seu caderno de anotações e usou um lápis para anotar o que havia acabado de ouvir.

— Genial, professora Sprout! — elogiou assim que seu papel foi guardado no bolso outra vez.

— Viu como é simples? Não precisavam tê-lo machucado tanto. Outra dica importante para não ser esmagado pelo Salgueiro é: mantenha distância! — deu ênfase na última frase.

— Eu nem procurei por isso, professora. Eu só não sabia sobre a árvore. Eu... cochilei nessa aula! — foi sincera e o rosto ficou todo corado — Eu sinto muito. — lamentou.

— Tudo bem. Agora vamos ao trabalho. Preciso que segure alguns recipientes que eu vou te entregar. Tem nome neles, então quando eu pedir é só você me entregar, ok? — explicou e entregou alguns potes para a menina, que apenas assentiu.

Enquanto Sprout mexia em algumas raízes, Tori deu alguns passos para o lado enquanto observava a dimensão da árvore até ter seu olhar atraído para o buraco entre as raízes. Mas logo voltou a olhar para o lado e encarar sua professora, que trabalhava distraída em consertar a árvore.

— Professora, já precisa de alguma coisa? — perguntou Tori, enquanto ia para perto da superior.

— Daqui à pouco! — avisou sem sequer erguer o olhar.

— Ok. — assentiu e se afastou mais uma vez.

Sprout se ergueu do chão e foi para a parte de trás do Salgueiro, fazendo o mesmo processo que fez na parte lateral.

Então era hora de agir.

Devagar, Tori colocou os recipientes no chão e ergueu o corpo outra vez. Ela ainda olhou para ver se a professora não iria aparecer, antes de seguir para as raízes e olhar para trás.

Não havia mesmo mais ninguém além das duas ali. Segura disso, Tori entrou no buraco e deixou o corpo escorregar até o túnel, onde se levantou rapidamente e correu para além dele, com medo de ser vista pela professora. Parou apenas no meio do caminho para puxar sua varinha.

— Lumus! — falou e a ponta da varinha começou a brilhar, passando a iluminar o caminho.

Tori voltou a andar, agora com passos apressados, mas tomando cuidado por onde pisava. Em pouco tempo começou a subir até chegar na abertura que dava acesso à casa abandonada. Ela terminou de subir e parou um pouco para descansar, enquanto estudava o lugar mais uma vez.

Viu que o papel de parede não estava destruído pelo tempo, e sim por algo que possuía garras, pois haviam enormes arranhões ali.

— Nox! — Tori falou enquanto se levantava.

Ela ergueu o rosto e ficou olhando tudo à sua volta, enquanto a varinha tremia em sua mão. Temia que alguma criatura aparecesse a qualquer momento, apesar do lugar estar terrivelmente silencioso.

— Tudo bem, não tem nada aqui. Sou só eu e a sujeira. Só nós! — pensou alto em uma tentativa de se convencer.

Seguiu devagar para um outro cômodo, apesar de ainda não confiante. Tori segurou a varinha com mais força enquanto subia uma escadaria que rangia embaixo dos seus pés. Com a mão livre, segurou o corrimão temendo que algum degrau se quebrasse a qualquer momento e ela caísse.

Chegou ao topo sem quebrar nada. E, principalmente, sem se quebrar. Espiou um próximo cômodo, onde reparou que o nível de destruição era o mesmo do primeiro. Papel de parede arrancado, móveis partidos ao meio, sinais do abandono. Mas o silêncio ainda estava presente.

Com um pouco mais de coragem, Tori se aproximou devagar de uma das janelas isoladas por madeiras e aproveitou uma pequena fresta para observar o que havia lá fora. Com muita dificuldade, conseguiu ver de forma muito incerta alguns telhados não muito longe dali, obviamente outras casas ou algo do gênero. Mas aquela parecia isolada em um enorme espaço que a deixava muito afastada das outras.

— Que coisa mais estranha! — se afastou da janela de costas enquanto olhava para todos os cantos.

Até que acabou esbarrando e derrubando algo grande o suficiente para fazer um enorme barulho, onde a fez gritar de susto e quase lançar um feitiço alguns segundos depois. Mas viu que se tratava apenas de parte de uma cômoda partida ao meio que se soltou de sua metade e caiu.

Recuperada do susto, ela se aproximou do que havia derrubado e foi surpreendida por uma espécie de caderno com muitos sinais da passagem do tempo. O pegou com cuidado, temendo que se desmanchasse em suas mãos, e o observou melhor. Obviamente que a curiosidade de Tori a fez abrir para saber do que se tratava. Foi quando uma fotografia caiu em seus pés.

Pouco antes de pegá-la, Tori reparou que a fotografia se mexia assim como a sua na matéria do Profeta Diário. Mas não foi isso que chamou sua atenção, mas sim os rostos ali presentes. Não se lembrava de nenhum, mas sentiu algo familiar muito forte neles. O garoto de óculos e cabelos arrepiados, o outro de cabelo selvagem e sorriso presunçoso, um de vestes muito bem organizadas, um meio baixinho e gorducho, uma garota de cabelos escuros e semelhante ao garoto de óculos e por último uma garota de cabelos avermelhados. Todos estavam sorrindo, cada um à sua maneira.

Resolveu por guardar a fotografia de volta no meio do caderno e o escondeu no elástico da calça, colocando a camiseta por cima. Daria um jeito de chegar à segurança de sua comunal sem que ninguém perguntasse o que ela escondia ali.

Dando uma última olhada pelo cômodo, Tori seguiu para a escada outra vez e desceu com o mesmo cuidado que usou ao subir. Em pouco tempo chegou ao andar inferior e entrou no cômodo que ficava a entrada para o túnel. Ela desceu por ali, mas ainda olhando para o lugar e com a absoluta certeza de que sua curiosidade estava longe de terminar.

Assim que passou pelo túnel e foi se aproximando da entrada entre as raízes do Salgueiro Lutador, cada passo de Tori foi muito bem calculado. Não queria ser pega no flagra pela professora Sprout, pois não queria mais problemas por aquele dia. Se possível, nem nos próximos.

Ouvindo tudo muito quieto e sem sinais de mais alguém ali, Tori enfim subiu e passou pelo buraco, erguendo rapidamente o corpo ao passar totalmente. Tudo continuava quieto, inclusive o Salgueiro Lutador. Então se moveu para iniciar sua caminhada de volta para o castelo.

— Tori, onde esteve? — Sprout a surpreendeu aparecendo de repente.

A menina teve que pensar rápido e usou a primeira desculpa que veio em sua mente.

— Dor de barriga! — Tori falou — Eu corri muito rápido de volta ao castelo, nem tive tempo de avisar a senhora. Inclusive, acho que... vou ter que... voltar! — fez cena cruzando as pernas algumas vezes e saiu correndo dali.

A desculpa pareceu convincente, pois a professora não a chamou ou a impediu de prosseguir.

◾ ◾ ◾

Quando chegou a comunal da Grifinória, Tori logo avistou os gêmeos e Lino, e foi diretamente até eles.

— Meninos, eu preciso contar uma coisa aos senhores! — falou, com a respiração pesada.

— Estamos saindo. — disse Angelina, se levantando.

— Nossa, eu nem vi as senhoras aí. Eu sinto muito, meninas! — lamentou Tori — E podem ficar, eu adoraria que ouvissem também! — se sentou no tapete da sala, mas não sem antes tirar o caderno do esconderijo.

— O que é isso, Tori? — Rita quem perguntou.

— Eu não faço a mínima idéia, mas pretendo descobrir depois. Isso é o de menos. O ponto alto da situação é de onde eu tirei esse caderno! — colocou a agenda à frente no chão.

— Desembucha, senhorita! — Fred pediu e saiu da poltrona que estava para ir sentar ao lado dela.

Todos acabaram indo para o tapete também e formaram uma rodinha.

— Eu achei isso naquele buraco entre as raízes do Salgueiro Lutador. Não exatamente no buraco, mas no que vem mais à diante. Seguindo pelo túnel, tem uma casa. Parece abandonada, mas é uma casa. É tudo muito velho e frágil. Aí eu esbarrei em uma cômoda, metade dela caiu no chão e cuspiu esse caderno! — Tori ergueu o caderno outra vez.

— Você não deu uma espiada dentro? — Alicia aproximou o rosto da capa como se tentasse ver através.

— Não. Eu achei melhor abrir aqui, em segurança. Porque aquela casa não me parece segura, porque existem vários arranhões nas paredes e no piso, fora os móveis que parecem ter sido repartidos por garras como se fossem feitos de papel. Como não sei qual tipo de criatura poderia estar escondida ali, resolvi não demorar! — deixou Alicia pegar o caderno para ver melhor.

— Isso foi muito arriscado, Tori! — Lino reclamou.

— Eu sei. Acho que essa burrice foi causada pelos níveis altos de adrenalina em meu sangue após ser quase partida ao meio por uma salada gigante! — encolheu os ombros e coçou a nuca.

— Não é um caderno, é uma espécie de diário. E tem fotografias aqui! — Alicia revelou, atraindo a atenção de todos — "Mais um dia de meu inferno pessoal. Às vezes me pergunto o que eu fiz para merecer isso. Às vezes me pergunto se um dia isso vai acabar, se eu posso ter esperança ou se desacreditar é o caminho menos doloroso. A. R. L., Outubro de 1974." ARL? Quem é ARL? — leu um trecho aleatório e encarou os amigos.

— Não faço a mínima! — negou Jorge.

— Nenhuma idéia de quem seja! — Rita deu de ombros.

— Isso está parecendo um diário. Eu não quero ler o diário de alguém, ainda mais de alguém que nem sei quem é! — Tori pegou o caderno de volta e o fechou.

— Se você não quer, eu posso querer em seu lugar! — Fred pediu.

— Não, Fred. O senhor gostaria de ter sua privacidade exposta para todos? — arqueou uma sobrancelha.

— Eu não tenho o que esconder... — o menino deu de ombros, despreocupado.

— Acredite, todo mundo tem alguma coisa para esconder! — Tori rebateu, deixando algo subentendido no ar — Enfim, eu vou subir para descansar um pouco, meu dia foi cheio demais e eu estou dolorida. Amanhã conversamos mais, está bem? — sorriu para todos.

— Apesar dos apesares, eu gostei de hoje! — Angelina confessou, abrindo um sorrisinho.

— E eu então? Quase morri, mas pelo menos consegui acabar com as indiferenças por aqui... — se animou Tori, gesticulando para os meninos e para as meninas — Bom final de tarde, amigos! — dito isso, ela se levantou.

— Boa tarde, Tori! — responderam em um coral fora de ordem.

Com um leve assentir de cabeça, Tori seguiu para a escada do dormitório das meninas e subiu. Foi direto para perto de sua cama e abriu seu malão, empurrando o diário para o mais fundo o possível para não vê-lo e ser tentada.

Depois fechou e subiu na cama, caindo sobre o travesseiro. Seu olhar vagou até o porta-retratos ao lado de sua cabeça e para o sorriso fofo do irmão na fotografia. Seu pensamento voltou para Little Whinging e, por um breve momento, a saudade apertou até mesmo dos Dursley. Brevemente, porque logo ela se lembrou que eles ignoraram sua carta e ficou emburrada.

Tori virou para o lado oposto do travesseiro e se permitiu fechar os olhos, tendo a certeza absoluta que o sono viria logo em seguida.

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