Ser pai é como arremessar kunais escrita por Alice Alamo


Capítulo 1
Capítulo Único




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Gaara nunca achou que fosse ser pai, não havia necessidade para isso afinal de contas, a vila sempre seria sua família, e ele tinha seus irmãos, estava bem daquela forma, mas, quando soube de Shinki, a areia se agitou ao seu redor. Seu coração falhou uma batida ao primeiro olhar. Era como estar diante do espelho, como se o passado voltasse para lhe assombrar com a infância sombria e marcada por feridas. Reconhecia a raiva com que a criança diante de si manipulava a areia de ferro, mas não só isso… já estivera naquela posição, era fácil ver por trás daquele escudo de ferro e ódio, para achar o medo que controlava as ações daquela criança tão perdida.

Ouviu Kankuro lhe repreender, mas não soube o motivo até perceber que seus pés moviam-se por conta própria, até ter a atenção dos olhos verdes da criança para ele. Ela era como ele, um garoto com um poder grande demais para a idade, provavelmente ferido, sofrendo e apavorado.

A areia de ferro tentava repeli-lo, e Gaara viu os olhos do garoto se arregalarem quando conseguiu que as lâminas de ferro atinginssem as costas do Kazekage. Sorriu a despeito da dor e se aproveitou da hesitação para puxá-lo para seus braços. Manteve a mão nos cabelos dele, o abraço apertado, e torceu para que tivesse aprendido corretamente a transpassar toda segurança que pudesse naquele gesto como já haviam feito consigo.

Sussurrou palavras de conforto, não lembrava quais, seu coração apenas parecia de repente aliviado, como se houvesse então encontrado algo que há muito tempo tinha perdido e de que sentia uma falta imensurável. A certeza de que aquele garoto fazia parte da sua vida o fez apenas pegá-lo no colo, recusando-se a soltá-lo enquanto andava pela vila a caminho de sua residência.

Shinki. Esse havia sido o nome que o garoto lhe dissera quando o ajeitou em seus braços antes de ceder ao cansaço. Shinki parecia calmo, sua respiração serena podia ser ouvida, e Gaara não duvidou que ele tivesse dormido enquanto caminhavam. Isso lhe trouxe paz, sabia que o garoto precisava ter confiado nele para baixar a guarda e se permitir adormecer daquele modo. Não o acordou ao chegar em casa e sentou-se na sala, sob a supervisão preocupada do irmão. Acariciou os cabelos dele com estranha adoração e só não fez o mesmo com as marcas em seu rosto por medo de despertá-lo. Ele devia estar cansado, já tinha ouvido relatos de que há dias ele estava sendo caçado pelos moradores da vila.

— Gaara, não está pensando em....

— Eu falei que o ensinaria a controlar seu poder — respondeu.

— Ótimo, podemos levá-lo amanhã ao orfanato da vila, vou ver sua agenda para os treinos, vo-

— Ele não vai sair daqui — interrompeu-o, confuso, e Kankuro suspirou.

Gaara o olhava com os olhos verdes brilhando em determinação, e Kankuro viu-o segurar ainda melhor Shinki, a areia subindo pelo corpo do garoto e cobrindo-o como um confortável e seguro manto.

— Não pode ficar com ele.

— Por que não?

— Você é o Kazekage.

— O Conselho sempre me exigiu um filho.

— Um seu, do clã Kazekage, não um adotivo.

— Ele controla areia de ferro, é do clã, não se faça de desentendido. Essa não é uma habilidade que qualquer um possa ter.

— Gaara, seja razoável.

— Kankuro — chamou-o, sério. — Eu não vou deixá-lo. Não sei explicar, mas sinto que é comigo que ele deve ficar, que é parte de mim e que posso ser algo para ele. A menos que ele não queria ficar, vou cuidar dele.

Kankuro suspirou, resignado, e Gaara preferiu fingir não saber que ele mandaria uma mensagem para Temari e que a irmã apareceria em Suna em menos de uma semana para lhe cobrar explicações. Era estranho, surreal para ser sincero… Já havia sentido aquele calor no peito, aquela emoção que o fazia suspirar calmo e confortável, mas nunca por alguém que tinha acabado de conhecer.

O coração batia acelerado, e ele não sabia se era ingenuidade demais achar que talvez aquele barulho fosse o suficiente para acordar Shinki. Teve medo. O que sabia sobre ser pai? Nada. Que referências boas tinha para se arriscar naquilo? Nenhuma, seu pai havia criado uma cicatriz enorme em seu coração, fizera-o acreditar que era não era amado, que era um monstro, criara-o como um! Como então faria? Como podia ser responsável por outro alguém sem repetir os erros de seu pai? Não tinha ideia, ou talvez tivesse sim, bastava dar a aquela criança tudo aquilo que lhe tinha sido negado e, principalmente, nunca a faria duvidar do quanto era amada.

* * *

Temari achava graça da relação de Gaara e Shinki toda vez que visitava Suna. Sentada na sala enquanto Kankuroumostrava a Shikadai suas novas marionetes, observava o irmão mais novo e o sobrinho na cozinha.

Shinki era adorável, com certeza filho de Gaara, não havia dúvidas disso, e era engraçado ver o quanto se pareciam. Lembrava-se da preocupação inicial de Kankuro quando Gaara decidiu adotar o garoto, mas ela se mostrou infundada. Gaara tinha se tornado um pai como eles nunca tiveram, o amor e o cuidado que ele dirigia a Shinki fazia seus olhos marejarem por mais que tentasse bloquear as lembranças da infância.

E Shinki o adorava. Ah, aquele garoto amava Gaara e lhe tinha tanta admiração que era impossível não perceber os olhos brilhando toda vez que Gaara lhe ensinava algo novo. Na ponta dos pés, ele apoiava as mãos na pia da cozinha, curioso para ver o que Gaara descascava com tanta atenção. A areia do irmão rodeou a cintura do garoto e o ergueu com cuidado para que ele pudesse assistir. Shinki ouvia tudo com atenção, perguntava e falava com Gaara no mesmo tom de voz calmo e sereno, sorrindo de forma discreta quando podia pegar um pedaço para experimentar.

Gaara o pôs no chão, pousou a mão nos cabelos do filho e conferiu as panelas. Shinki o seguia, tão de perto que Gaara já havia se acostumado a usar a areia para segurar o filho ou movê-lo pro lado para que não trombassem.

A campainha tocou, e Temari viu Gaara se abaixar e falar com Shinki. O garoto concordou com tudo, fazendo Gaara sorrir discreto antes de apontar com a cabeça para a porta e ver Shinki ir abri-la com uma animação que Temari sabia bem identificar por já estar mais que acostumada à falta de expressão dos homens da família, tirando Kankuro.

Ela se levantou, caminhou até a cozinha onde Gaara retirava um bolo da geladeira enquanto Shinki recebia as crianças para o aniversário. Sorriu, sem se incomodar com o olhar de repreensão que Gaara lhe lançou por roubar um dos morangos que ele colocava sobre a cobertura.

— Você que fez? — Ela segurou o riso.

— Sim, Kankuro disse que, como é o primeiro aniversário dele em família, só seria especial se eu fizesse — ele respondeu com uma expressão confusa e conformada no rosto, e Temari não conseguiu mais não rir.

— E você levou a sério? — Ela riu mais alto. — Gaara!

— Não é como se eu soubesse alguma coisa sobre o que um pai faz ou não por um filho, não é? — ele respondeu em desagrado e terminou de enfeitar o bolo. Temari parou de rir e suspirou sentindo-se levemente culpada.

— O bolo está lindo — tentou consertar.

— Obrigado, espero que dê para comer também — ele admitiu com certo pesar, e a irmã pousou a mão em seu ombro.

— Acho que, mesmo se estiver horrível, Shinki fará questão de comer até o último pedaço. Ele te adora. E não pode ser pior que a minha comida. Lembre-se de que ele comeu o prato todo ontem, até eu fiquei com dó, aquilo estava péssimo, eu sei.

Gaara sorriu ao balançar a cabeça. Respirou fundo e bagunçou os cabelos ao apoiar as costas na pia e cruzar os braços.

— Estou fazendo isso certo? — questionou, sério, e Temari via fácil o medo e a insegurança nos olhos verdes do caçula.

— Olhe para a sala — ela pediu. — O que vê?

— Shinki brincando com as crianças da academia que convidou para seu aniversário.

— Errado. — Temari negou com a cabeça, e Gaara a olhou sem entender. — Eu vejo o meu sobrinho, seu filho, se divertindo com os amigos que fez enquanto espera para cortar o bolo e lambuzar a cara toda. Ele está sorrindo e vai ter uma lembrança feliz desse momento. É muito mais do que tivemos nessa idade. Então, sim, você está fazendo isso certo; nesse um ano, foi mais pai para ele do que Rasa para você, Gaara.

— Tenho medo de errar…

— Mas é óbvio que você vai errar — ela respondeu indignada. — Ser pai é como atirar kunais num alvo.

— Atirar kunais? — Gaara repetiu incrédulo.

— Exato. Algumas não vão atingir o centro, outras erram o alvo, inimigos podem aparecer para nos atrapalhar, mas nós nos esforçamos todo dia para sermos melhores e continuamos sempre a arremessar mais e mais delas, sempre querendo o centro, o melhor.

— Meu Deus, e eu que dou maus conselhos — Kankuro falou de repente chocado ao aparecer na cozinha.

— E o que você sabe sobre ser pai? — Temari bateu a mão na mesa, e Gaara afastou o bolo de perto dela.

— Eu? Nada! Mas sou um tio muito legal. Não é Shikadai?

— Não me coloca nessa — Shikadai respondeu ao bocejar e caminhou para a sala com as mãos no bolso.

— Esse moleque… — Kankuro resmungou e parou ao lado de Gaara, o braço passando pelos ombros dele. Sorriu ao olhar o bolo e se lembrar dos outros três que tinham ido para o lixo. — Não esquenta, Gaara; para um pai de primeira viagem, você está se saindo muito bem. Só espero que o gosto desse bolo esteja melhor que o último — provocou rindo, e Temari não pôde evitar de acompanhá-lo, mesmo que Gaara revirasse os olhos para os dois.

— Certo, certo, parei. — Ela secou as lágrimas dos olhos. — Agora, vamos, você é pai, tem que ir falar com os pais das outras crianças. E você não é o Kazekage hoje.

— Ah, é, as pessoas perdem o nome quando viram pais, Gaara. — Kankuro sorriu. — Agora, para as crianças, você vai ser o “tio Gaara” e, para os pais dela, o “pai do Shinki”.

— Ele está brincando, não é? — Gaara perguntou verdadeiramente curioso para Temari, que gargalhou ao negar.

— Ossos do ofício, otouto, ossos do ofício, sou a “tia Tema” e tenho que me segurar para não mandar os pirralhos pelo ar de vez em quando. Agora vai lá, seja um bom anfitrião, “pai do Shinki”.

Temari viu o irmão ajeitar a postura ao entrar na sala e caminhar para cumprimentar os pais das crianças, um olho nos convidados e outro em Shinki. Ela suspirou, os braços cruzados enquanto Kankuro se apoiava nela.

— Ele está se saindo bem — Kankuro disse, uma pontada de orgulho na voz.

— Estou feliz por eles — ela sussurrou.

— Eu também. Vai dar tudo certo, e faço questão de gravar a reação dele para você quando uma criança, que não o Shikadai, chamar ele de “tio Gaara”. .

— Por favor, não esqueça de mandar. — Ela riu junto e arqueou a sobrancelha quando Gaara corou e olhou para eles em pânico. — Deixa eu ir lá socorrer ele antes que comecem a assustá-lo com assuntos como puberdade ou qualquer uma dessas bobagens.

— Boa sorte, tia Tema.

— Não esqueça que você eu ainda posso fazer voar, Kankuro.

Ele riu ao dar de ombros, e Temari o viu ir até as crianças. Voltou sua atenção para Gaara e suspirou. Era bom demais ver sua família bem, bem e completa finalmente.

 


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Notas finais do capítulo

Gostaram?
Gente, como é difícil achar fanart deles dois, to chocada com isso hahahaha
Enfim, espero que tenham curtido!
Beijinhos ♥