Oblivion escrita por Camélia Bardon


Capítulo 20
Capítulo dezenove, ano quatro


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, boa tarde e boa noite, nenéns ♥ como vão vocês? Como foi o feriado? Espero que tenha dado para descansar dos trabalhos de vocês, porque a tonta aqui descansou não -q
Como de praxe, como atrasamos o capítulo do mês passado, esse mês serão dois. Hoje aproveito que não vão precisar de mim no trabalho para vir postar as coisas todas atrasadas (e receber as sapatadas kakaka)
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/766177/chapter/20

A sensação de reencontrar Adrien me provoca enjoo. E o pior de tudo é que sequer consigo dizer se é um enjoo de nojo ou apenas nervosismo. Há uma terceira opção de estar sentindo o cheiro de suor dos corpos dançantes ao redor de nós, e uma provável quarta de estranhamento por ele estar num lugar como aquele. Isso só reafirma para minhas inseguranças que não passo de um flerte que Adrien se diverte em dispensar. Uma conquista proveniente de uma isca que eu fui uma idiota em cair fácil. Meu Deus, eu sou literalmente um peixe-palhaço?

― E aí? ― digo para não ficar um silêncio constrangedor, uma vez que ninguém mais parece estar disposto a fazer isso por mim. ― 'Tá bem, Adrien?

Ele assente nervosamente com a cabeça, me fazendo querer gargalhar com toda maldade que não existe em mim. Joelle é encarregada disso, e o faz com maestria. Após me perguntar onde era mesmo o banheiro, aponto com uma mão entendendo que está dando permissão para ficarmos "a sós" em meio à multidão. Não vejo opção a não ser olhar todo o caminho que Joelle percorre até o banheiro e sentar em seu lugar logo depois.

― Então... Como chegou aqui hoje? ― pergunto como quem não quer nada, pedindo ao barman que me desse algo levinho para passar o calor. Sou presenteada com um coquetel fluorescente, e também não consigo dizer se isso me enoja ou me deixa feliz. 

― Eu quem te pergunto! Era mais fácil eu estar aqui do que você... 

― É? E por quê?

― Ah, você sabe... Porque eu estudo lá.

― E o meu irmão também já estudou... 

― Dizendo assim, faz todo sentido ― Adrien franze a testa, me dando a brecha para dar um gole do coquetel. ― Confesso que sequer pensei nessa probabilidade quando encontrei a Jojo por aqui. 

É minha vez de gargalhar, e parte de mim esquece que está frustrada com ele para apenas apreciar o momento.

― Uau, não deixa de pensar em probabilidade nem quando está na balada? E deixa só ela te escutar a chamando de Jojo... Vão ser as palavras da sua lápide.

― Isso foi bem poético, anda lendo Poe?

― Ai, já faz tanto tempo que eu não pego um livro para ler que acho que quando ler de novo vai ser um evento, entende? 

― Lógico que sim... ― ele dá de ombros, um tanto tímido. ― Quer dizer, já não lia muito... Agora, com a faculdade, só entra material didático. E você, é por conta da banda? 

― A banda? Claro, é sim... 

Podemos chamar de "banda" a falta de disposição geral que eu tenho para viver? E que isso envolve desprezar tudo que eu gosto de fazer normalmente? Festas e bebidas e uma rotina cheia só estão me servindo para me sentir um pouco menos vazia, uma vez que eu não quero parecer egoísta de querer a companhia dos meus amigos todas as horas possíveis.

― Lou, eu... Acho que precisamos conversar, já que estamos aqui ― Adrien fala em tom grave, e consigo ler seus lábios perfeitamente apesar do barulho. 

― Acha? A gente pode esperar a Jojo voltar do banheiro e ir... 

Eu tenho certeza que ela foi embora e nos deixou aqui, de qualquer modo... Mas ainda é uma pergunta que serve como teste, não é? Aproveito-me do tempo em que Adrien está raciocinando para verificar isso com a própria Joelle – saco meu celular e mando algo curto em mensagem de texto:

Foi mesmo no banheiro?

A resposta vem quase que de imediato. Resisto ao impulso de rir, para que Adrien não note.

É claro que não. Já estou no táxi, voltando para a minha casinha. Se resolvam, os dois.

Que bela acompanhante, Jojo. Às vezes, eu a amo até demais. Como sou uma boa pessoa e honesta ao menos em parte, repasso a informação para Adrien. Ele assente com a cabeça e pigarreia discretamente. Olho na direção em que seus olhos castanhos estão focados, e noto que Adrien está observando minha pulseira com o cadeado. Passa-me pela cabeça como um relâmpago que não a testamos ainda, então por que não? Então, viro meu pulso para que ele possa testar se sua chave pertence ao meu cadeado.

Adrien morde os lábios em um gesto de concentração, e tenho de me segurar para não sorrir enquanto o faz. Eu estou possessa. Não é qualquer carinha fofa que me amolece o coração. Certo? É isso aí mesmo. Eu estou vendo você não me levando a sério, mas não me importo nem um pouco. Daí, ao encaixar a chave no mecanismo, ambos prendemos o fôlego para saber qual será o resultado.

Quando a tranca se abre e minha pulseira cai pateticamente em minha mão, meu ar continua preso. Apenas o solto quando reparo que minha pressão está caindo e me alertando que ainda preciso respirar para viver. Nenhum de nós sabe exatamente o que dizer, no entanto entramos numa espécie de acordo silencioso de que talvez isso não seja mesmo necessário. Menos é mais, não é?

Nós nos levantamos quase ao mesmo tempo, mas é Adrien quem estende a mão para que saiamos daquele inferno que até agradeço um pouco por ser persuadida a ter ido. Pergunto-me onde está a chateação, agora.

Quer saber? Para o inferno com ela. Adrien me estende a mão e eu seria idiota em recusar.

 

É um alívio poder expulsar as batidas tumultuosas para dar lugar à suavidade do tom de voz tradicional de Adrien. Apesar de não ter boas lembranças da última vez que me sentei na bunda da caminhonete fuleira dele, tento não me manter muito pessimista. Hoje o céu está limpo, mas as estrelas ainda estão quase invisíveis pela poluição. Se eu fico frustrada com isso, que dirá Adrien que as venera como deusas... 

― Então, eu... Preciso lhe pedir desculpas, Louna.

Começamos bem. Olho para ele, que opta por permanecer em pé na frente da traseira da caminhonete. Imagino que a essa altura do campeonato, minhas sardas ressaltadas com tinta neon são apenas um borrão amarelo em meu rosto, talvez seja por isso que ele está me olhando com essa cara engraçada.

― Desculpas? Pelo quê?

― Pelo modo como a tratei todos esses anos. 

Engulo em seco, verificando minhas cutículas por falta de opções.

― Mas... Você nunca me tratou mal, Adrien. Não há necessidade de pedir desculpas por algo que não fez.

― Posso não tê-la tratado mal, no entanto a tratei com no mínimo descaso.

Espere aí, o quê? Descaso? O que ele quer dizer com isso? Ah, Louna, você faz melhor que isso... Deixe o homem falar uma vez na vida ao invés de ficar tagarelando. O engraçado é que parece que Adrien lê minha mente conflitante, ao passo que pigarreia um tanto tenso. Ele cede sua pose de macho alfa – ou pode ser que seu corpo esteja pesado demais para permanecer em pé por mais tempo – e se senta ao meu lado, com cuidado. Sei que sou eu quem está pesando a traseira, no entanto me sinto particularmente balançada com sua presença.

― Joelle conversou comigo, enquanto estava no banheiro, sabe?

― Ela bancou a mãe ou a irmã mais velha? ― sorrio. 

― A irmã mãe...? ― Adrien ri baixo, um tanto mais descontraído com a situação. ― Bem, ela me deu um ótimo conselho. E eu me senti automaticamente um idiota por sequer ter me dado conta do que poderia estar sentindo em... Em quatro anos.

O olho com a curiosidade aguçada. Se existia pessoa perfeita para fazer entradas dramáticas e frases de efeito cinematográficas toscas – e, pasmem! Eficientes –, esse alguém é Adrien Thomas.

― Além disso, percebi que estava sendo muito egoísta em só pensar no meu problema e ficar cogitando no que estaria pensando ao invés de perguntá-la diretamente. Então, é por isso que peço desculpas e por isso que precisamos conversar. 

Oh-oh. Isso não cheira nada bem... Ou cheira bem a ponto de parecer perfume para banheiro... 

― Louna, eu quero que me conte o que está acontecendo. Por que parece que me ignora quando bem entende, por que algumas lacunas na minha cabeça estão completamente em branco, e... Principalmente, por que tudo que faço me leva até você, de uma forma ou outra. Eu quero respostas, por mais absurdas que elas pareçam.

E lá vamos nós de novo... 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

PEGA FOOOGO, CABARÉ!
Rufem os tambores, porque tem mais em breve ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Oblivion" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.