Gravity escrita por YinLua


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

One-shot betada pela Lady Lovegood :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/765468/chapter/1

[9/3 11:19] ~Byun: Ei?

[9/3 11:19] ~Byun: Você tá aí?

Mensagens visualizadas, 12:30.

[9/3 15:46] ~Byun: Channie?

Suspirei, jogando meu celular em cima da cama. Quando se tem um amigo virtual, supõe-se que ele seja o quê? Um amigo! E um amigo não te deixa no vácuo eterno quando se mais precisa dele, não é? É claro que não.

Fazia cerca de duas semanas que ele não me respondia direito, sempre demorando pra responder, ignorando minhas mensagens... No fundo, eu sentia que aquilo era minha culpa. Desde que eu tinha dito a ele a verdade, os meus medos, Chanyeol tinha me abandonado.

Essa solidão que eu tenho sentido nos últimos dias... É tudo minha culpa.

Prazer, sou Byun Baekhyun, também conhecido como o maior babaca de todos os tempos.

Quem é Hitler perto da idiotice de Baekhyun? Absolutamente ninguém. Se perguntassem nas provas de história quem é o ser mais retardado que já pisou na Terra, responderiam Byun Baekhyun e tirariam a nota máxima.

O amigo de quem eu estava falando é o Park Chanyeol. Chanyeol é... um orelhudo gigante que, assim como eu, curte animes, super-heróis e é um grande filho da mãe por me deixar no vácuo sempre que possível.

Ele nem sempre foi assim, sabiam?

Nós nos conhecemos há quase um ano e meio e durante todo esse tempo ele esteve lá quando meu cachorro fugiu, quando o Kyungsoo sumiu e quando a página do meu HQ rasgou. Admito que não sou a pessoa mais legal do mundo, mas esperava pelo menos um pouco de fidelidade, certo? Que tipo de amigo ignora o outro?

Mas a melhor parte da história é que o orelhudo não é só um orelhudo qualquer. Park Chanyeol é o orelhudo — ênfase no orelhudo, por favor, as orelhas dele têm que ser estudadas — que tem... hm, sentimentos, sabem? É, tipo, por mim.

Parabéns, Baekhyun, você ganhou na loteria.

Sintam a ironia.

Vejam bem: não é que eu não goste de Chanyeol... Eu não posso gostar dele, entendem? Não é aquele showzinho do tipo ain, mas eu sou hétero, eu não gosto de macho, é algo mais para ain, mas eu sou hétero, eu tenho medo de gostar de macho. Não que eu me orgulhe disso, é claro, mas... algumas circunstâncias me levaram a isso. Talvez isso mude com o passar do tempo, ou então eu case com uma mulher e tenha filhos. Quem sabe.

Senti meu celular vibrar e virei o rosto na direção dele, sendo consumido por uma preguiça sem tamanho ao ver quão longe ele estava. Por que a minha cama tinha que ser de casal mesmo? Ah, é, porque eu sou espaçoso demais e me mexo enquanto durmo, então quando eu passei a cair da cama a noite, meus pais me compraram uma cama de casal. Gentis, né?

Vibrou mais uma vez, e eu imaginei que pudesse ser Chanyeol finalmente me respondendo. Uma luz se acendeu sobre a minha cabeça — não literalmente, gente, calma — e toda aquela preguiça pareceu passar em um instante. Naquele momento, eu estava sendo movido por uma energia chamada eu vou te socar virtualmente por ter me ignorado por quatro horas, seu desgraçado!

Engatinhei sobre a cama e, assim que pus as minhas mãos no celular, me joguei novamente sobre os travesseiros macios que tanto já me fizeram companhia. Sério, cheguei até nomear eles. O mais macio é a Jimin, o mais gorducho é o Minseok e o outro é o Lay. Suspeito até hoje que o travesseiro Lay que me empurrava da cama enquanto eu dormia, e não eu quem caía.

Os nomes Minseok e Lay não são meras coincidências. Eu gostava de socá-los durante a escola quando ficava com raiva. Eles são dois dos meus melhores amigos, não entenda errado; nós apenas… já tivemos alguns desentendimentos ao longo da vida.

[9/3 16:15] Channie: To aqui, Baek

[9/3 16:16] Channie: Desculpe, tava ocupado

Franzi as sobrancelhas, apertando os olhos pra desculpa esfarrapada.

[9/3 16:16] ~Byun: Ocupado por 4hrs?

Mensagem visualizada, 16:17.

Assisti ele ficar online por mais cinco minutos, xingando-o mentalmente por não dar a atenção que eu merecia. Quando o Online foi substituído por Visto por último em 16:22, eu fiquei ainda mais irritado. Quem ele achava que era pra me tratar assim?! Ele não era a bosta da pessoa que gostava de mim?! Então por que raios estava me ignorando?

Você espantou o cara, Baekhyun, ouvi minha mente me dizer e joguei novamente o celular do outro lado da cama. Virei de costas e segurei a Jiminie, apertando o travesseiro entre meus braços e afundei o rosto ali.

— Você estragou tudo, Baekhyun — choraminguei.

Como se não bastante eu ser um cara de 21 anos desempregado que mora na casa dos pais, agora sou um cara de 21 anos desempregado que mora na casa dos pais e perde o melhor amigo virtual. Olha que ótimo! Ô, maravilha.

Tem como a minha vida melhorar?

— Baekhyun! — Ouvi minha mãe gritando do andar de baixo.

Ninguém merece.

— Oi, mãe? — gritei de volta, rezando pra ela apenas me oferecer comida. Ninguém resiste a comida e eu perdoo qualquer coisa, desde que o suborno envolva alimentos que serão digeridos por mim.

— Faz um favor pra mim? — Sua voz parecia mais próxima, então supus que ela estava subindo as escadas. Não respondi, esperei ela abrir a porta. Assim que a mãe o fez, olhei pra ela. — Preciso que vá até o mercado comprar leite.

— Agora?

Olhei-a com a melhor cara de cachorrinho abandonado que consegui, mas só ganhei um revirar de olhos, o que me deixou revoltado. Agora nem minha carinha mais fofa convencia as pessoas! O que mais era pra acontecer? Parecia que nos últimos tempos Deus tinha olhado pra minha beleza e disse Esse aqui é muito bonito, não merece mais ser feliz, sério!

— Sim, filho. — Ela arqueou a sobrancelha e eu apertei os olhos, fazendo um Aaaaaah abafado pelo travesseiro. — Se for, eu posso fazer um bolo depois…

C-O-V-A-R-D-I-A. Mexer com a comida de uma pessoa é um ultraje! Porém é o tipo de suborno que eu aceito de bom-grado. Um bilhão de dólares? Pff, quem precisa de um bilhão de dólares? Eu preciso é de comida no meu estômago para me deixar feliz a cada segundo do dia. Quer casar com Byun Baekhyun? Simples: saiba cozinhar. Olha que fácil!

— De chocolate? — murmurei, me preparando para abandonar o conforto da minha cama.

— De chocolate. — Ela sorriu. — Com calda, se voltar em menos de trinta minutos.

O mercado fica a praticamente dez minutos daqui! Que feio, dona Byun, tentando me passar a perna.

— Pode ser trinta minutos a partir do momento em que eu entrar no mercado? — Tentei, mordendo meu lábio inferior.

Levantei-me da cama, impulsionado pela promessa de bolo de chocolate. Fala sério, quem resiste a bolo de chocolate?!

— Tá bom, trinta e cinco minutos depois que você sair de casa. — Foi a última coisa que ela disse, antes de piscar o olho pra mim e me abandonar ali.

Bufei, sabendo que teria que correr se quisesse um bolo de chocolate com calda. Coloquei uma calça skinny e peguei uma blusa qualquer, além de calçar uma sandália de dedos confiável. Afinal, eu estava indo ao mercado e não a um desfile de moda, certo? Certo. Antes de sair do quarto, olhei na direção da cama, me lembrando do meu celular.

Mordi o lábio inferior, pensando se deveria levá-lo ou não. Quero dizer, e se o Chanyeol resolve dar as caras? Melhor prevenir do que remediar, né? Suspirei por um instante, indo até a cama para pegá-lo, junto com meus fones de ouvido. Bem, mesmo se ele não aparecesse, eu poderia ouvir músicas no caminho.

Coloquei os fones e dei play na música, cantarolando junto. Gritei um Já volto, mãe! e saí, andando o mais rápido possível sem parecer um louco. O dia estava até que bonito e agradável, com o sol brilhando e a temperatura amena. É claro, não tanto bonito quanto eu, mas passava perto.

Senti o celular vibrar no bolso da calça e me bateu uma sensação gostosa de vingança — eu ignoraria Chanyeol o máximo que pudesse, como ele tinha feito comigo. Isso se fosse o Chanyeol, né, burro! Poderia ser o Kyungsoo dando notícias, talvez. Revirei os olhos pra mim mesmo; se ele não havia dado notícias no último ano, não seria agora que daria. Acho que, no fundo, eu já não esperava mais.

Assim que cheguei ao mercado, não pude segurar e dei uma espiadinha básica no visor do celular. Acabei mordendo o lábio com o que vi e desbloqueei a tela, pronto pra ver o que Chanyeol tinha escrito.

[9/3 16:57] Channie: Muuuito ocupado

[9/3 16:57] Channie: É uma coisa bem importante, sabia?

[9/3 16:58] Channie: Te conto assim que terminar

Digitei uma resposta — acho que muitas, na verdade —, sentindo meu lado carente e ávido por atenção me dominar.

[9/3 17:09] ~Byun: Importante, hm

[9/3 17:09] ~Byun: Pra quem gostava de mim, você tá muito desinteressado

[9/3 17:09] ~Byun: Não que eu ligue pra isso

[9/3 17:09] ~Byun: Você tem todo o direito de fazer o que quer quando quer

[9/3 17:10] ~Byun: Pode voltar pro que você tava fazendo que eu to ocupado também

Acho que agora ele sabe o quão revoltado eu estou. Passei a língua pelos meus lábios e guardei o celular, sentindo um gostinho de vitória, mesmo que não fosse necessariamente uma.

Apressei-me, indo buscar o leite o mais rápido possível. O meu bolo de chocolate com calda dependia disso, queria comê-lo enquanto ignorava a resposta do Chanyeol.

Contudo, não chegou nenhuma resposta nos próximos minutos, nem sequer nas horas seguintes. Eu não estava aguentando mais o sumido do Chanyeol por tanto tempo; tipo, eu sei que quando se rejeita — romanticamente falando — um amigo, a tendência é ele se afastar por estar envergonhado ou algo do tipo, mas... não o Chanyeol. Ele não pode se afastar, sabe? Ele é importante.

Fiquei encarando o celular por muito tempo durante a noite à espera de um sinal de vida, mas acabei dormindo sem nem perceber. Estava cansado, tinha dormido super tarde na noite anterior porque estava assistindo um anime muito bom que — enfim, isso não vem ao caso.

Tudo o que sei foi que dormi muito, descansei pra caramba. E, assim que acordei, vi algumas notificações no visor do celular.

[10/3 00:06] Channie: Baek?

[10/3 01:45] Channie: Já dormiu?

[10/3 02:13] Channie: Não está me ignorando, não é?

Devo admitir que senti certo gosto quando li essas mensagens. Porém, ao mesmo tempo, lá no fundo — bem no fundo mesmo, quase nas profundezas da minha alma —, eu provei um pouco do sentimento de culpa. Afinal, eu tinha dito coisas bem malcriadas pra ele... E ainda o queria ao meu lado.

Será que eu havia o magoado?

Você consegue ferrar com tudo e mais um pouco, Byun Baekhyun. Suspirei, rolando na cama e me ajeitando pra responder a mensagem dele.

[10/3 13:17] ~Byun: Oi, desculpa

[10/3 13:17] ~Byun: Por incrível que pareça, eu dormi cedo ontem

Mordi o lábio, com meus dedos quase doendo pelas palavras que eu escrevi a seguir.

[10/3 13:18] ~Byun: Me desculpa pelo que eu disse antes

Esperei por alguns segundos, pra ver se ele ficava online, mas nada. Bufei, me arrependendo pelas desculpas e rolei na cama, pensando se eu deveria ver animes ou dormir mais.

— Posso ir comer também — falei comigo mesmo. Acho que minha barriga deve ter algum ouvido ou uma vida própria em algum lugar, porque foi exatamente nessa hora que ela resolveu roncar. — É, comer. Uma ótima ideia.

Desci os degraus bem devagar, olhando para os lados a procura de meus pais. Era segunda-feira, então provavelmente eles estavam trabalhando, mas, por via das dúvidas, eu sempre podia implorar pra mãe fazer um bolo pra mim se estivesse em casa, certo? Certo. Aí você pergunta: mas e o bolo de chocolate de ontem? É, tipo assim, ele já acabou. Triste, não é?

Chanyeol ia gostar também, eu pensei, mordendo o lábio inferior.

Às vezes, eu esqueço que ele é, de fato, apenas um amigo virtual. Parece impossível alguém compartilhar o meu gosto pra animes, super-heróis, filmes e até músicas e, ao mesmo tempo, morar em outra cidade, bem longe daqui. É muito frustrante, principalmente quando você tem momentos especiais com essa pessoa. A vontade de chegar nele, dar um abraço e dizer obrigado por tudo que já fez por mim, orelhudo sempre superou todas as minhas crises existenciais, birras e afins, mas eu nunca consegui escrever essas palavras, muito menos dizê-las.

Acho que nunca nos vimos realmente, nem por ligações, eu acho. Só o conheço através de fotos nas redes sociais, e mesmo assim posso afirmar que ele tem orelhas do tamanho do Monte Everest, sério mesmo.

Orelhas à parte, o Chanyeol foi um amigo muito importante nesses últimos dezenove meses, e eu admito não estar sabendo lidar com a novidade de ser trocado, jogado de lado, ignorado e pior, me sentir culpado por isso.

Mesmo que eu me sinta culpado por isso, meu próprio subconsciente não me deixa esquecer o que nos levou a isso. Embora não seja algo que tenha acontecido comigo, a sensação de pavor é a mesma, como se eu tivesse vivendo tudo aquilo com ele. Durante toda a história, eu fui incapaz de fazer algo e agora tenho medo de que possa ser a minha vez de sofrer caso eu sinta isso, caso eu me apaixone por um homem.

Segui até a geladeira, inquieto com os meus pensamentos e a abri, procurando algo que eu pudesse comer sem precisar fazer. Imaginem a minha felicidade quando vi uma vasilha com um papel na tampa escrito Baekhyun. Acho que a mãe tinha resolvido me agradar, afinal. Com mais do que pressa, coloquei a comida no prato e liguei o micro-ondas.

Sentei na cadeira, observando o timer.

Sabem, por mais que eu me sinta extremamente familiarizado com o Chanyeol, que ele seja um dos meus melhores amigos, eu não posso deixar de pensar que não sei muita coisa sobre a vida dele. Digo, compartilhamos gostos e coisas assim, mas... ele nunca chegou a falar muito da família, só sei que ele tem uma irmã mais velha, a Yoora.

Nunca me preocupei com isso, nem tive curiosidade em procurar a família dele nas redes sociais, mas isso só me dá mais curiosidade sobre ele. No fundo, eu queria saber a infância que ele teve, como eram seus pais, como ele cresceu e se tornou a pessoa que é, esse tipo de coisa.

Talvez eu pergunte na próxima vez.

Levantei ao ouvir o som do micro-ondas, indicando que a comida estava quente, e aproveitei o gosto da comida da minha mãe, mesmo que eu não estivesse prestando muita atenção. Devo dizer que eu estava meio inseguro com o rumo que a minha amizade com o Chanyeol estava tomando — não me sentia pronto para perdê-lo. Não me sentia pronto para perder mais alguém.

Não que alguém tenha morrido ou algo do tipo, não. É que o meu irmão mais velho, Byun Baekbeom — que era meu melhor amigo quando éramos crianças — se mudou assim que começou a faculdade e raramente nos visita, mesmo sendo uma pessoa bem amável. Além dele, teve o Do Kyungsoo, que eu já mencionei antes. Kyungsoo é um caso complicado... Ele passou por alguns problemas ao longo dos anos e, então, simplesmente do nada, ele desapareceu e não tenho notícias dele há mais de um ano.

Se há algo como o Destino ou um Deus em algum lugar, ele deve ter olhado pra mim e dito esse aí não pode ter melhores amigos. Acho que ele completou com um ele é muito bonito pra ter sua beleza ofuscada, mas mesmo assim isso não me deixa muito melhor. Tirando isso, eu e Lay nos afastamos, e o Minseok se mudou. Não havia mais ninguém por perto além do Chanyeol.

O Chanyeol — desde que se confessou pra mim e eu o recusei da forma mais honesta possível, nada era mais o mesmo. De certa forma, eu tenho medo de perder a pessoa que foi como um irmão pra mim. Isso me fez questionar se eu não deveria ter encarado os meus próprios sentimentos e aceitado os dele... Por quê? Por que era tão errado assim? Eu... eu estava apavorado.

O amor entre dois homens — ou duas mulheres também — é mal visto na sociedade moderna, mesmo que muitos lutem contra isso. O preconceito está enraizado na mente dos mais antigos, fruto das mentalidades conservadoras do século passado e que acabou sendo repassado para a geração atual — foi isso que me foi ensinado, e foi isso que eu presenciei.

Kyungsoo era um cara legal, fez parte do meu pequeno círculo de amigos durante a escola e era o mais próximo de mim, mesmo sendo mais contido, o oposto de mim. Ele era bem calado e sempre parecia sério, mas depois de um tempo foi dando pra perceber alguns sinais sutis de que ele estava feliz, sabe? Aqueles sorrisos pequenos, o olhar sutil e a expressão sonhadora quando ninguém estava olhando. Isso me fez ficar feliz por ele, era algo novo — não que ele fosse alguém triste ou algo do tipo, porém costumava ser muito fechado, mesmo entre amigos.

Lembro-me do dia em que perguntei sobre isso a ele e não ganhei uma resposta decente sobre o assunto, mas ele acabou confessando que estava gostando de uma pessoa um tempo depois. Não disse quem era de imediato e eu não insisti, contente por ele, porém algumas semanas após isso ele apareceu na minha casa à noite, trêmulo e muito machucado.

Era quase meia-noite e meus pais estavam dormindo, enquanto eu tava vendo filme na sala. Ele não tocou a campainha, apenas bateu na porta. Naquela noite, eu fiquei horrorizado: ele me contou que a pessoa que ele estava gostando era um homem e que seu pai tinha visto os dois juntos. Os hematomas foram resultado disso.

Essa foi a primeira de muitas vezes. Na escola, ele aparecia como se nada estivesse acontecendo, com os machucados cobertos pelas roupas e os roxos por baixo de uma maquiagem, mas eu conseguia ver através de seus olhos o quão machucado ele estava por dentro. Como podia um pai agredir seu filho dessa forma por algo tão... tão...? E, além disso, sua mãe sabia de tudo, mas a única coisa que ela fazia era acobertar o marido. Não tenho palavras pra descrever a revolta que eu sentia, eu queria ir até a casa deles e gritar, perguntar por que “a perfeição” aos olhos da sociedade era mais importante do que o próprio filho; porém, no fundo, eu sentia medo.

Eu tinha medo por Kyungsoo, medo por mim. Eu estava apavorado, porque parecia que ia chegar um dia em que o meu melhor amigo não iria aguentar tudo aquilo — ele mesmo me dizia isso às vezes, quando se sentia angustiado após as surras praticamente diárias. Eu queria fazer algo, queria ajudá-lo, mas ele não deixou, me proibiu de contar para alguém. Dizia que era problema dele e que ele resolveria, de um jeito ou de outro.

Essa fala me assombra até hoje.

Com o passar dos anos, as surras não diminuíram, apenas aumentaram. Kyungsoo ficava uma, duas semanas sem ir à escola porque os hematomas eram tantos que não dava mais pra esconder por baixo da roupa. Ele apresentava vários sintomas de depressão e se tornava mais recluso a cada dia, isso me deixava extremamente preocupado, mas ele nunca mudou sua opinião; era um problema dele, que acabou me afetando também.

Um dia, no ano passado, eu passei na casa dele, procurando-o porque ele não respondia às minhas mensagens, mas a resposta que recebi me marcou. Não havia sido Kyungsoo que havia atendido a porta.

— Você é um daqueles viadinhos também? Vocês deveriam arder no inferno, bichas malditas. Eu não tenho mais filho! O Kyungsoo não mora aqui, então nunca mais volte, me ouviu? Senão, não vou me segurar. Vou te livrar dessa doença direitinho.

O olhar daquele homem, sua risada... foram completamente assustadoras. Eu não conhecia a família de Kyungsoo antes, mesmo sendo amigos por tanto tempo, e, naquele momento, eu desejei não ter conhecido. Aquele homem era brutal — eu tive medo dele, mesmo que eu não fosse homossexual de fato. E, só de imaginar que aquele homem era o pai de Kyungsoo, eu fiquei ainda mais horrorizado.

Isso me fez pensar: se eu também gostasse de um homem, meu pai também seria assim? Minha família me abandonaria? Eu não queria passar por aquilo também. Acho que eu não suportaria ver as pessoas que deveriam me amar mais que tudo virando as costas para mim por algo que eu não poderia controlar. Eu tinha medo de perder o pouco que eu tinha.

Pisquei lentamente, sentindo o celular vibrar em cima da cama. Eu tinha voltado ao quarto e nem tinha percebido. Virei o rosto pro lado, querendo me livrar dos olhos marejados por essas lembranças perturbadoras.

Peguei-o e não pude evitar um pequeno sorriso.

[10/3 14:03] Channie: Já te perdoei há muito tempo, Bacon

[10/3 14:03] Channie: Confesso até que foi merecido

[10/3 14:03] Channie: Não tenho te dado muita atenção, né?

[10/3 14:04] Channie: Mas não se preocupe, to quase terminando de resolver umas coisas

Aproveitei que ele ainda tava online e digitei uma resposta, esperando ser respondido. Ele tinha aparecido no momento certo.

[10/3 14:04] ~Byun: Não que seja da minha conta

[10/3 14:04] ~Byun: Mas o que você tá fazendo de tão importante?

[10/3 14:05] ~Byun: Porque, supostamente, eu sou a pessoa que você gosta e tals

[10/3 14:05] ~Byun: Ou já encontrou uma pessoa nova?

Mordi o lábio, sentindo meu coração esfriar diante da possibilidade. Rolei na cama, continuando a digitar e tentando ignorar meu estômago se remexendo por conta do meu nervosismo.

[10/3 14:05] ~Byun: Só avisando que vai ser difícil achar uma pessoa mais bonita que eu

[10/3 14:06] ~Byun: Ou com uma personalidade melhor

[10/3 14:06] ~Byun: Afinal, eu sou um amor de pessoa

Mensagens visualizadas, 14:06.

Revirei os olhos quando mais um minuto se passou e nenhuma resposta, estava bom demais pra ser verdade. Parecia até que ele estava fazendo aquilo de propósito como algum tipo novo de tortura! Deixei o celular cair em cima da cama e me levantei, ligando o computador, iria ver alguma série qualquer pra me distrair um pouco.

Cinco minutos depois, enquanto eu navegava pela internet a fim de escolher uma série boa pra assistir, escutei novamente o celular vibrar sobre a cama. Peguei-o novamente e pude ler a resposta, que me arquear a sobrancelha.

[10/3 14:11] Channie: Baek, você acha que a lua poderia se separar do céu?

[10/3 14:11] Channie: Abandonar ele?

Meus dedos se moveram rapidamente pelo teclado, digitando uma única palavra que refletia por completo os meus pensamentos sobre aquela pergunta.

[10/3 14:12] ~Byun: Quê?

Dessa vez, a resposta veio imediatamente.

[10/3 14:12] Channie: Pra mim, a lua precisa do céu tanto quanto o céu precisa da lua

[10/3 14:13] Channie: Sem a lua, o céu seria apenas um espaço mergulhado na escuridão, enquanto que, sem o céu, a lua estaria completamente sozinha, incapaz de se recuperar de seus buracos.

[10/3 14:13] ~Byun: Chanyeol, você tá bêbado a essa hora da tarde?

A resposta veio em formato de áudio, e nele só havia uma risada. Era Chanyeol rindo. De certa forma, eu senti falta disso. Sua risada foi o suficiente pra fazer um arrepio percorrer o meu corpo e um pequeno sorriso nascer nos meus lábios antes que eu pudesse evitar.

Meus dedos se moveram e eu digitei mais uma mensagem, me divertindo como até duas semanas atrás.

[10/3 14:13] ~Byun: Você tá rindo da minha cara?

[10/3 14:14] Channie: Mas é claro que não!

[10/3 14:14] Channie: To rindo de você, não da sua cara –q

[10/3 14:14] Channie: Até porque não to vendo sua cara, como poderia estar rindo dela?

Ri, apreciando a conversa. No fundo, meu coração me dizia algo para falar a Chanyeol, porém minha mente se negava. Eu senti sua falta, Channie e por favor, não me deixe se repetiam em meus pensamentos, mas eu me contive. Eu simplesmente... não podia.

Ou talvez... só talvez, eu devesse deixar isso para trás. Eu queria me sentir livre, queria viver sem ter medo. Pessoas são diferentes umas das outras, né? Quem sabe meus pais não reajam diferente dos pais de Kyungsoo?

E talvez, só talvez, meu coração esteja dizendo você já se apaixonou por Chanyeol.

E talvez, só talvez, eu tenha estado errado todo esse tempo.

E talvez, só talvez, eu possa ser feliz com Chanyeol.

[...]

[11/3 00:13] ~Byun: Channie

[11/3 00:14] Channie: Baekkie

[11/3 00:14] ~Byun: Posso te perguntar uma coisa?

[11/3 00:14] Channie: Já perguntou, mas deixo você perguntar outra ♥

[11/3 00:14] ~Byun: Alguém tá muito palhaço hoje, sabia?

[11/3 00:15] Channie: Pensei que eu fosse assim sempre :v

Mordi o lábio, sentindo a coragem que a madrugada trazia consigo. Não sei se é o cansaço, o sono ou apenas o fato de ter passado de meia-noite, mas eu sempre ficava mais carente e mais suscetível a fazer e responder perguntas constrangedoras sobre assuntos suspeitos.

Foi por isso que, naquele momento, tomei a liberdade de resolver tirar a dúvida que passando pela minha mente desde a tarde anterior.

[11/3 00:15] ~Byun: Qual é a sua história?

Mensagem visualizada, 00:15.

[11/3 00:16] Channie: Como assim?

[11/3 00:16] ~Byun: Você nunca me contou sobre seu passado, sua família…

[11/3 00:16] ~Byun: Sabe

[11/3 00:17] ~Byun: Eu meio que quero saber mais sobre você

Revirei-me na cama, rolando para o lado e escondendo o rosto meio quente no travesseiro. Não é como se eu fosse uma colegial apaixonada, juro, eu apenas... acho que estou com um pouquinho de febre — isso foi o que disse para mim mesmo, porém não consegui convencer nem meu dedo mindinho.

Tornei a olhar pro visor quando o celular vibrou.

[11/3 00:17] Channie: Tá vermelhinho agora, não está?

[11/3 00:18] Channie: Eu sei que está

[11/3 00:18] Channie: Deve estar rolando na cama também

[11/3 00:18] Channie: Como eu queria estar vendo isso!

Fiz um bico, corando ainda mais com as mensagens. Baekhyun, se controle! Você é um homem ou uma colegial?

[11/3 00:19] ~Byun: Idiota >.>

Uma colegial, obviamente.

[11/3 00:19] Channie: Sou idiota, e mesmo assim você me ama!

[11/3 00:19] ~Byun: Vai responder ou não?

[11/3 00:20] ~Byun: Se não quiser, é só falar, não precisa mudar de assunto

Mensagens visualizadas, 00:20.

Revirei os olhos, me preparando pro vácuo eterno que se seguiria. Chanyeol se tornou uma pessoa completamente estranha nas duas últimas semanas, sumia do nada e me deixava falando com o vento durante o dia inteiro. Isso é muito frustrante — mais frustrante ainda é eu querer tanto a atenção dele e não a ter.

Encarei o teto, sentindo meus olhos começarem a pesar, porém não queria dormir. Queria esperar mais uns minutos pra ver se Chanyeol me respondia ou, quem sabe, mandava um boa noite. Qualquer coisa seria o suficiente pra me agradar e me fazer dormir com um sorriso no rosto.

Baekhyun, você é um idiota.

Dei-me por vencido e suspirei, pegando o celular e digitando meu pedido de desculpas. Meu coração batia rápido com a possibilidade de eu ter tocado em alguma ferida. Droga, eu não queria que ele se afastasse. Eu sentia tanta falta dele...

[11/3 00:51] ~Byun: Desculpe… Eu não deveria ter insistido.

[11/3 00:52] ~Byun: Seja o que for, tá tudo bem, tá? Não precisa dizer se não quiser.

[11/3 00:52] ~Byun: Por favor, não some…

[11/3 00:52] ~Byun: Juro que só queria te conhecer melhor

Mensagens visualizadas, 00:53.

Mordi o lábio enquanto esperava uma resposta, qualquer resposta. Meu estômago se retorceu com a hipótese do Chanyeol me odiar e… será que eu tava invadindo a privacidade dele? Quero dizer, acho que já passamos da fase de achar que o outro pode ser um velho tarado por trás da tela, certo? Eu achei…

O celular vibrou, fazendo meu coração pular uma batida.

[11/03 01:03] Channie: Tá tudo bem, Baek

[11/03 01:03] Channie: É só… um assunto delicado

Suspirei em alívio, soltando o ar que eu nem sabia que havia prendido. Não conseguia suportar a ideia de que havia deixado o Channie chateado… Era como… machucar a mim mesmo, e então tudo o que eu quero fazer é pedir desculpas até que ele volte a fazer piadas sem graças e a tirar com a minha cara novamente.

[11/03 01:04] ~Byun: Eu entendo, orelhudo

[11/03 01:04] ~Byun: Só esqueça que eu perguntei, ok?

[11/03 01:05] Channie: Baek?

[11/03 01:05] ~Byun: Eu mesmo

[11/03 01:07] Channie: O céu não é incrível?

Arqueei a sobrancelha, estranhando sua pergunta e rolei na cama, me sentindo sonolento já. Chanyeol andava muito estranho ultimamente, com o sumiço e essas perguntas completamente aleatórias… Mordi o lábio quando a possibilidade de ele estar vendo alguém passou pela minha mente.

A ideia dele com outra pessoa no sentido romântico me incomodou tanto a ponto de fazer com que meus dedos apertassem o celular e meu coração se partisse dentro do meu peito. Ele… ele ainda me ama, não é? Mas era errado achar que o Chanyeol me amaria para sempre, afinal eu mesmo havia o rejeitado. Eu sabia disso, mas não conseguia evitar.

Eu… não queria perdê-lo.

[11/03 01:13] ~Byun: Chan...

[11/03 01:13] ~Byun: Não me abandone

Por que eu sou assim? Por que meu coração doía a cada segundo que ele demorava para responder? Por que eu sentia tanto a sua falta? Por que eu era tão carente e necessitado por Chanyeol? Por que meus olhos estavam ardendo sem nenhum motivo aparente? Afinal, eu quem havia pedido por aquilo. Eu quem não queria me envolver. Por que eu não conseguia respirar?

[11/03 01:16] Channie: Nunca

[11/03 01:17] Channie: Eu amo você, Baek

E aquelas palavras trouxeram uma tempestade para dentro de mim; uma que não me deixava pensar, mas que ao mesmo tempo fazia com que mil e um pensamentos cruzassem minha mente. Um sentimento estranho tomou conta de mim e tudo o que eu consegui fazer naquele momento foi soluçar, tentando desfazer o nó que existia na minha garganta. Soltei o celular, e aquele soluço levou a mais outro e eu não pude mais segurar a emoção que parecia transbordar pelos meus olhos.

Meu peito parecia congelar e se tornou quase impossível de respirar. Fechei os olhos com força e me encolhi no meio da escuridão, tentando me proteger de tudo aquilo que eu não entendia. Chanyeol me amava… mas… até quando? Quanto tempo eu tinha até estragar tudo de vez? Afinal… não era justo.

Não era justo permitir que ele continuasse gostando de mim se eu não correspondesse ao sentimento dele. Não era justo prendê-lo a mim, impedir que ele fosse feliz com uma pessoa que não… não tivesse medo. Não era justo fazê-lo sofrer quando ele só havia me feito feliz.

E, mesmo sabendo disso, a ideia de Chanyeol com outra pessoa só fez com que a tempestade piorasse.

[...]

No dia seguinte, não falamos, e algo dentro de mim ainda permanecia estranho. Eu já não me sentia tão seguro quanto antes e… por mais que eu não quisesse admitir, estava com medo. Aterrorizado. Eu nem tinha sequer respondido ele depois daquilo, perdido demais em mim mesmo. Eu deveria ter dito algo, qualquer coisa, mas simplesmente não consegui.

Esperei que ele fizesse contato o dia inteiro, porque eu estava muito ocupado estando com vergonha de mim mesmo por ser tão…! Argh, eu sequer tinha palavras para me descrever. Eu só queria um sinal de que estava tudo bem entre nós, que o terreno era seguro e que eu não havia estragado as coisas dessa vez.

Já era de madrugada — uma em que eu estava com nenhuma vontade de dormir e só era capaz de encarar o teto — quando senti o celular vibrar pela primeira vez no dia. Peguei-o rapidamente, vendo que dessa vez não era uma mensagem, e sim uma ligação. Chanyeol; não hesitei em atender, já com meu coração acelerado — ele estava aqui, nós estávamos bem —, porém continuei em silêncio, apenas ouvindo o som de sua respiração.

— Olá. — Sua voz soou meio rouca, como se tivesse passado algum tempo sem falar, e eu não pude evitar morder o lábio por isso.

— Oi — sussurrei de volta. — Por que ligou? Não que eu não tenha gostado ou algo do tipo, é que... — parei de falar, nervoso demais para conseguir formular algo realmente coerente.

— Pra te responder. — Houve um silêncio por alguns segundos, mas ele logo tornou a falar: — Você perguntou sobre a minha família, sobre a minha história. Sabe, eu fiquei muito surpreso. — Ele pareceu sorrir, e eu não pude evitar sorrir fraco no meu lado da chamada. — E queria muito te contar, mas isso também me fez lembrar, entende? De como… — Ele engoliu em seco.

— Ei… — Tentei encontrar minha voz. Não queria que ele fizesse aquilo, ele não precisava falar sobre algo que o machucava. Droga, eu realmente não deveria ter perguntado. — Não precisa me contar se não quiser, foi só uma pergunta estúpida. Tá tudo bem se ignorarmos ela — falei, nervoso.

— Não tá não. — Sua voz soou tão suave que me perguntei se Chanyeol era algum tipo de anjo. — Eu quero te contar. Quero que você me conheça, e eu quero conhecer você. E isso faz parte da minha vida, querendo ou não. Eu só precisava… de um pouco de tempo.

Engoli em seco, sabendo que não vinha coisa boa, mas não o interrompi novamente. Meu coração se acelerou e eu posicionei o telefone melhor, querendo escutá-lo bem. Não queria perder nenhum detalhe do que Chanyeol iria me dizer.

Ele respirou fundo e logo começou:

— Eu não conheço meu pai, ele saiu de casa quando eu era muito pequeno. A minha mãe e a minha irmã eram tudo o que eu tinha. Elas sempre cuidaram bem de mim, me passaram bons valores, me repreendiam quando precisasse e me ensinaram a aceitar as diferenças das outras pessoas. Tudo o que eu sou, tudo o que eu acredito, é por causa delas, e eu sou extremamente grato por isso.

Não pude evitar o sorriso ao ouvir a paixão em sua voz. Era bonita a forma como ele falava de sua família, e isso só fez com que eu o admirasse ainda mais.

— Minha mãe sempre se esforçou para que tivéssemos tudo o que pudéssemos, então quando eu fiz dezoito anos ganhei um carro que custou a maior parte das nossas economias, mesmo que eu não pudesse o dirigir realmente. Eu fiquei muito feliz porque era o desejo de qualquer adolescente naquela idade, mas quando finalmente saímos pela primeira vez, quando a mãe iria me ensinar a dirigir, tivemos um acidente.

Ai, meu deus…

— Channie…  — Tentei interrompê-lo, dizer que eu não queria fazer ele lembrar de coisas ruins, mas não consegui.

Eu quero te contar, ele disse. Quero que me conheça, e droga. Eu queria tanto conhecê-lo completamente, poder dizer com toda certeza do mundo que Chanyeol era a pessoa mais bela do mundo; que eu conhecia todos os seus defeitos, os seus medos, erros e afins, e mesmo assim, ele ainda era uma das minhas pessoas importantes. Talvez a mais importante, mas com certeza era alguém que eu não queria perder.

Mas… Sua voz... tinha algo de estranho em sua voz. Ele parecia pronto para chorar, e eu não queria aquilo. Eu quis confortá-lo, quis abraçá-lo, quis poder afastar todas as memórias e sentimentos ruins daquela pessoa, ao mesmo tempo em que a culpa me consumia mais uma vez. Não deveria ter perguntado, eu não queria fazer o Chanyeol chorar, eu…

— Eu estava dirigindo e a mãe estava no carona. Um caminhão avançou o sinal e bateu na nossa lateral antes que um de nós pudesse reagir. A minha mãe morreu com o impacto e eu fiquei preso nas ferragens... Não sei como, mas sobrevivi. Passei a maior parte desses últimos dois anos no hospital fazendo fisioterapia pra recuperar o movimento nas pernas, mesmo o tempo máximo normal seja de apenas um ano. Mesmo tendo consultas regulares com psicólogos também durante esse tempo, quase entrei em depressão. Você entende? Não era pra eu estar dirigindo aquele carro, muito menos pra minha mãe estar nele.

Houve mais uma pausa e eu engoli em seco, sentindo algumas lágrimas virem aos meus olhos enquanto meu peito se apertava, mas eu não podia chorar. Tinha que ser forte por ele. Queria ser forte por ele, queria demonstrar que eu estava ali sempre que precisasse de mim. Queria mostrar que eu podia ser muito mais do que um homem desempregado, mimado e infantil. Queria que ele visse que eu valia a pena.

— Por muitos meses eu acreditei que tinha sido tudo minha culpa, sabe? Yoora tentava me consolar, falava que eu estava errado e que não era minha culpa, mas não adiantava. Foram meses em que eu estava completamente… perdido. Até que eu te conheci através daquele jogo bobo que a Yoora me fazia jogar por não ter nada pra fazer, e você... você me fez sair do poço sem fundo em que eu estava me jogando. Com as brincadeiras, palavras gentis e a personalidade doce e arisca ao mesmo tempo, você me encantou e me deu algo para me agarrar. Hoje, eu posso andar normalmente graças a você, Baekhyun. Você me deu forças. Você é o céu.

Abri a boca, mas nada saiu dela. Meu coração palpitava fortemente e minha respiração estava meio falha por causa do que eu tinha acabado de ouvir. Eu nunca poderia imaginar que essa seria a história do rapaz orelhudo e implicante que costumava me animar quando tudo o que eu queria era chorar.

O céu não é incrível?

Não consegui responder, porém em meus lábios formou-se um sorriso trêmulo e eu acabei pondo uma de minhas mãos no coração, sentindo-o bater em um ritmo totalmente diferenciado, enquanto um silêncio agradável tomava conta da ligação. Naquele momento, eu senti que compartilhava com Chanyeol um sentimento diferente, algo que começava a tomar forma.

Sem o céu, a lua não seria capaz de se recuperar de seus buracos.

Fechei os olhos, sendo inundado por emoções completamente novas.

Chanyeol…

[...]

[12/03 18:25] Channie: Baek

[12/03 18:25] Channie: Baekkie

[12/03 18:25] Channie: Bacon

[12/03 18:25] Channie: Apareça, gnomo de jardim

Não consegui esconder a minha indignação ao ver aquilo, minha boca até se abriu em surpresa. Gnomo de jardim é uma ova! Olha quem fala, o orelhudo-mor!

Digitei minha resposta o mais rápido possível.

[12/03 18:26] ~Byun: Gnomo de jardim é uma ova!

[12/03 18:26] ~Byun: Se eu sou um gnomo, você é o Dumbo

[12/03 18:27] ~Byun: Falta só a tromba de elefante, porque as orelhas já tem

Bufei. Eu tenho ótimos 1,74m de altura, tá? Sou bem alto! Gnomo de jardim é o rabo dele.

[12/03 18:27] Channie: Isso era pra me ofender?

[12/03 18:27] Channie: Depois do que conversamos ontem?

[12/03 18:27] Channie: Como você pôde fazer isso comigo?

[12/03 18:28] Channie: Me chamar de Dumbo... Você não tem coração?

Mordi o lábio, me sentindo levemente culpado. Droga, ele era um idiota, mas ainda era o Chanyeol. Meu coração pesou no meu peito enquanto meus dedos teclavam lentamente.

[12/03 18:29] ~Byun: Desculpa :c

Novamente, a resposta veio em formato de áudio. Ouvi sua gargalhada e um arrepio percorreu o meu corpo, ao mesmo tempo que o peso desapareceu. Era apenas uma brincadeira dele, não acredito! Meu rosto ficou quente e eu apertei os olhos, revoltado por ele ter ousado me passar a perna.

— Você acreditou nisso? Que horror, Baek — ele dizia entre risadas no áudio.

Isso definitivamente não o ajudou.

[12/03 18:30] ~Byun: Idiota!

[12/03 18:30] ~Byun: Você me enganou!

[12/03 18:30] ~Byun: Seu

[12/03 18:30] ~Byun: Seu

[12/03 18:31] Channie: Lindo?

[12/03 18:31] Channie: Amor da sua vida?

Minhas orelhas se aqueceram, mas não me deixei intimidar. Fiz um bico e franzi as sobrancelhas, irritado pelas provocações.

[12/03 18:31] ~Byun: Desisto de você >.>

[12/03 18:31] ~Byun: Não quero mais ser seu amigo

[12/03 18:32] ~Byun: Aproveita que tá super ocupado como sempre e some

Mensagens visualizadas, 18:32.

Bufei, rolando na cama, ainda com o celular na mão. Chanyeol adorava implicar comigo e sempre me deixava envergonhado. Ele fazia com que eu me sentisse um adolescente de novo, com direito a mudanças de humor e atitudes infantis — mais do que o normal, claro. Ainda me sinto meio encabulado quando lembro de quando o Chanyeol disse que gostava de mim…

Mordi o lábio, virando o rosto na direção da tela. Nenhuma notificação. Ele não respondeu. Devagar, desbloqueei o celular e digitei mais algumas mensagens.

[12/03 18:38] ~Byun: Não some

[12/03 18:38] ~Byun: Tava só brincando

[12/03 18:39] ~Byun: Cê sabe como sou chato >.

Chanyeol sempre tem essas influências sobre mim, sabe? É até ridículo pensar que ele está a sei lá quantos quilômetros, e mesmo assim consegue fazer meu dia melhorar ou então fazer o tempo passar mais rápido. Abaixei os olhos, sentindo uma onda de melancolia passar por mim. Nos últimos dias, tudo o que eu tenho feito é…

[12/03 18:40] Channie: Não vou a lugar nenhum, Baek

Esperar uma mensagem do Chanyeol.

Meus lábios formaram um pequeno sorriso antes que eu pudesse impedir, mas aquele sentimento ainda estava lá. Então, meus dedos criaram vida e mataram a minha dignidade antes que pudesse impedir.

[12/03 18:40] ~Byun: Sinto sua falta

É, isso aí mesmo. Palmas para o trouxa aqui, porque ele ganhou o troféu de retardado do século. Sério. Eu mesmo não me aguento mais, não sei como ele me aguenta. Deve ser muito amor envolvido mesmo, porque, te contar, viu.

[12/03 18:40] Channie: Eu sei

Como é que é? Eu aqui me expondo desse jeito e ele diz “eu sei”? Que bab-

[12/03 18:41] Channie: Eu também sinto sua falta

Oh. Desviei os olhos do celular, sentindo como se um dragão tivesse acabado de cuspir fogo na minha cara de tão quente que minhas bochechas estavam. Por que eu sempre pareço uma colegial? Que revoltante!

[12/03 18:42] ~Byun: Idiota >.>

Por favor, rezem pela minha masculinidade porque ela acabou de se jogar da ponte!

[12/03 18:43] Channie: Baek

[12/03 18:43] ~Byun: Eu mesmo

[12/03 18:43] Channie: Não esqueça do que eu te disse, viu?

O que? Não esquecer do quê? Franzi as sobrancelhas para o ser mais estranho do mundo do outro lado da tela.

[12/03 18:44] ~Byun: Esquecer do quê?

[12/03 18:44] ~Byun: Eu, hein

[12/03 18:44] ~Byun: Cê tem andado muito estranho ultimamente

[12/03 18:45] ~Byun: Quando vai me contar o que tem feito?

[12/03 18:46] Channie: Logo você vai saber

Revirei os olhos para a resposta já esperada. Ele não quer me contar, se quisesse, já teria falado há tempos. Idiota. Por algum motivo, aquilo não me incomodou. Acho que… desde que eu ainda tivesse o Chanyeol, não me importaria com o quer que ele estivesse fazendo de tão importante.

[12/03 18:46] Channie: Mas então, cê assistiu o episódio de Flash?

[...]

— Baek!

Ouvi a voz da minha mãe, me despertando do meu tão amado sono de beleza, porém apenas me virei na cama. É claro que foi um plano falho, porque ela chegou ao quarto e puxou meu cobertor. Amo a minha mãe, mas isso foi completamente desnecessário, juro.

— Preciso que vá até o mercado pra mim.

— De novo? — resmunguei, querendo voltar a dormir.

— Se for, eu te faço aquele bolo de chocolate com calda de novo, e dessa vez coloco algumas cerejas.

E a mamãe disse a palavra-mágica pra eu fazer qualquer coisa nesse mundo: bolo. Não tenho nenhum orgulho em falar que levantei no mesmo instante e me arrumei o mais rápido possível, tá? É que, quando mais rápido eu fosse, mais rápido eu voltaria e poderia desfrutar do meu maravilhoso bolo.

Assim que pus meus pés fora de casa, meu celular tocou. Chanyeol.

— Que surpresa agradável. — Sorri para o telefone, parando no meio da rua.

— Agora já posso te contar o que era tão importante. Quer saber o que era?

— O quê? — Arqueei a sobrancelha, curioso.

— Olha para sua esquerda.

Não entendi, mas virei assim mesmo.

Foi então que eu o vi.

Mais alto que eu, com roupas discretas, segurando um celular e uma rosa, dono de cabelos escuros e, mesmo de longe, dava pra ver suas orelhas. A emoção foi tanta que fiquei paralisado no lugar sem entender, apenas esperando que ele chegasse até mim. Eu não conseguia piscar. Quero dizer, como...? Ele estava ali, bem na minha frente, andando em minha direção. Eu estava sonhando?

Quando chegou perto o suficiente, ele me abraçou, passando seus braços pelas minhas costas e me puxando em sua direção.

— Não tenha medo, Baek. Eu sou o satélite, você é o céu. Lembra? Sem o céu, a lua estaria completamente sozinha, incapaz de se recuperar de seus buracos. Você é o meu céu. Droga, Baek, você é meu universo.

Suas palavras despertaram algo em mim que eu só pude abraçá-lo de volta o mais forte possível, como se ele pudesse sumir a qualquer momento, como se eu quisesse provar que ele era real. Meu coração acelerou tanto que eu realmente acreditei que ele pudesse senti-lo e eu só queria abraçá-lo mais ainda. E eu entendi. Eu realmente entendi o que ele quis dizer, quero dizer, nós precisamos um do outro, nós…

— Você está aqui... — murmurei, com medo de que aquilo fosse apenas um sonho.

— Eu disse que não ia a lugar algum, não foi? — Seu sussurro me deixou arrepiado, e eu apenas fui capaz de enterrar meu rosto em seu pescoço; senti seu perfume e, Deus, era maravilhoso. Chanyeol era maravilhoso. — Eu menti. Eu estava vindo para cá, ficar com você.

[22/02 00:12] Channie: Baek, preciso te contar uma coisa

[22/02 00:12] Channie: Você promete que não se afastar de mim?

[22/02 00:13] ~Byun: Não me diz que aceitou coisas suspeitas de estranhos na rua lol

[22/02 00:13] Channie: É sério, Baek :(

[22/02 00:13] ~Byun: Prometo

[22/02 00:13] ~Byun: Você sabe que eu não poderia

[22/02 00:14] Channie: Estou apaixonado por você

[22/02 00:14] Channie: Tipo, sério, há algum tempo já

[22/02 00:15] Channie: Tudo o que eu penso o dia inteiro é como eu tenho que te contar sobre algo divertido que aconteceu ou sobre como eu quero te fazer rir porque adoro quando manda um áudio com a sua risada

[22/02 00:15] Channie: Eu sonho com o dia em que a gente vai poder se ver pela primeira vez

[22/02 00:15] Channie: Eu quero poder estar com você, ao seu lado

[22/02 00:16] Channie: Quero fazer você feliz, beijá-lo, amá-lo

Mensagens visualizadas, 00:16.

[22/02 00:30] Channie: Eu estraguei tudo, não foi?

[22/02 00:35] ~Byun: Channie…

[22/02 00:35] ~Byun: Eu gosto muito de você, de verdade

[22/02 00:36] ~Byun: Só que eu não posso

[22/02 00:37] ~Byun: Eu sei que vai parecer uma desculpa, mas o que aconteceu com o Kyungsoo... Eu tenho medo, sabe? É bobo, mais bobo que eu, e eu sei que pessoas são diferentes e que possivelmente meus pais não vão reagir do mesmo jeito

[22/02 00:38] ~Byun: Mas, ainda assim... Assistir tudo aquilo que aconteceu com ele e não ser capaz de fazer nada me deixou com muito medo

[22/02 00:40] Channie: Seja sincero comigo

[22/02 00:40] Channie: Você seria capaz de dar uma chance pra gente se não fosse pelo seu medo?

[22/02 00:41] Channie: Você seria capaz de me amar?

[22/02 00:41] Channie: De olhar nos meus olhos, de segurar a minha mão, de me beijar e acordar ao meu lado todos os dias? De cuidar de mim e deixar que eu cuide de você?

[22/02 03:58] ~Byun: Sim

— Desculpe por não ter te contado, eu queria fazer uma surpresa.

Eu só queria abraçá-lo, sentir que ele era real, sabe? O Chanyeol é uma pessoa tão importante pra mim, e tê-lo ali bem na minha frente... foi indescritível. Sorri contra o tecido de sua roupa, sentindo algo estranho dentro de mim, algo que havia se tornado frequente nos últimos tempos. Só ele mesmo pra fazer essas coisas comigo.

Soltei-me do abraço, olhando-o de cima a baixo e tentando absorver o máximo de detalhes possíveis. Meus olhos se fixaram na rosa vermelha em sua mão, até que ele a estendeu para mim. Eu não podia vir de mãos vazias, ele disse. E, droga, era tão errado assim que havia achado fofo e que aquele simples gesto havia me feito sorrir?

Pisquei um pouco, tentando esconder meu sorriso, tentando focar em outras coisas. Meus pensamentos pareciam estar voltando ao lugar novamente.

— Como soube onde eu moro? — perguntei assim que a questão passou pela minha mente. — Você vai ficar por quanto tempo?

Ele sorriu, e, antes que eu percebesse, sua mão estava bagunçando meu cabelo tão bem penteado. Fiz uma careta pra ele, mas acabei sorrindo novamente. Era impossível ficar bravo com ele. A não ser quando ele me ignorava, é claro.

— Olha, eu... eu perguntei à sua mãe. — Suas palavras me fizeram arquear a sobrancelha. Tipo, oi? Perdi alguma coisa? Eu estou bêbado? — Eu meio que falei com ela pela internet. — Ele passou a mão no cabelo e deu um sorriso meio envergonhado.

— O que você falou com ela? — Cruzei os braços, tentando entender.

— Contei sobre os meus sentimentos por você, perguntei o que ela achava disso... Disse também um pouco do que aconteceu, sabe? Comigo, digo. E não fique bravo comigo — ele disse rapidamente —, mas eu também comentei sobre o que você me disse naquela noite. Sobre... o Kyungsoo.

Como é que é?

— Olha, Channie, eu sei que você tá aqui e tudo o mais, mas…

— Só me escuta, por favor — ele me interrompeu.

Eu respirei fundo e fiquei quieto, ainda que o encarasse ainda com um bico.

— Quando eu vi aquele sim da sua mensagem, eu não consegui ficar parado, ok? Eu tomei uma decisão. Queria te ver, queria estar ao seu lado e, droga, eu queria olhar pra você de perto e pensar “Nossa, como ele é lindo”, porque eu tinha certeza de que você era ainda mais bonito pessoalmente do que nas fotos. Queria tentar, dar uma chance. Então eu a procurei, me apresentei e expliquei a situação, contei dos meus planos, e...

Ele respirou fundo, olhando ao redor por uns segundos, antes de focar novamente em mim. Já eu não sabia como me sentir. Quero dizer, Chanyeol é a droga do meu melhor amigo virtual, ou pelo menos deveria ser, e por ser virtual, é completamente estranho e surpreendente ele estar na minha frente dizendo que minha mãe compactuou com tudo isso.

Por outro lado... conseguia sentir meu coração batendo mais forte só pelo simples fato dele estar parado à minha frente, perto de mim, e minha mãe ter aprovado de fato. Ela era diferente. Eu não passaria pelo que o Kyungsoo passou. Lambi os lábios, sentindo a vontade de abraçá-lo se tornar cada vez mais forte que a vontade de brigar com ele por fazer tudo pelas minhas costas estava sendo ignorada.

— Sério, sua mãe é incrível, uma ótima pessoa; ela realmente não se importou com o fato de um homem estar apaixonado pelo filho dela, e ainda me ajudou a tornar isso aqui possível. Ela confiou em mim, um estranho, me passou o endereço de vocês e achou um lugar que eu pudesse passar a noite enquanto estivesse aqui. Ela disse até que conversou com seu pai de antemão e ele havia reagido bem. Eu... eu sei que é muita coisa pra processar e que você pode estar querendo me dar um gelo como eu fiz com você essas últimas semanas — o que certamente não foi de propósito —, mas…

— Chanyeol — chamei sua atenção, fazendo uma cara de sério. Era mentira; eu não estava nem um pouco sério, estava eufórico, vibrando, quase me jogando em cima dele de tanta saudade que eu estava do meu Dumbo preferido.

— O quê? — Ele piscou, parecendo meio receoso.

Lentamente, um sorriso se formou nos meus lábios e eu me aproximei dele com meu coração batendo mais forte que um tambor. Olhei em seus olhos e... e foi mágico. Eu senti como se tivesse algo me puxando pra ele, algo que eu não podia controlar. Senti uma faísca percorrer o meu corpo durante os milissegundos que meus dedos levaram para alcançar sua nuca. E então, quando nossos lábios se tocaram pela primeira vez, houve uma explosão dentro de mim.

Quem se importava que estivéssemos no meio da rua? Eu com certeza não; não mais, porque as únicas pessoas que me importavam de verdade já haviam aceitado. Chanyeol... era ele mesmo, bem na minha frente. A pessoa que esteve comigo nos últimos tempos, que planejou isso tudo, que está apaixonado por mim e... aquele por quem eu estou apaixonado. Acho que eu já sentia isso há algum tempo, mas era incapaz de lidar com meus próprios sentimentos por causa de um medo bobo. Agora, não tem nada que possa me impedir de ouvir sua risada o máximo de tempo possível, de abraçá-lo, tocá-lo... amá-lo.

Não tinha sido meu primeiro beijo, mas com certeza foi o melhor. Ele fazia com que eu me sentisse vivo, com que meu corpo se esquentasse e meu coração se aquecesse com tantos sentimentos bons.

Separamo-nos alguns segundos depois. Ainda com os olhos fechados, eu enterrei meu rosto em seu pescoço e o abracei mais apertado que podia. Ele estava aqui. Chanyeol me amava, e eu sentia que podia amá-lo também. Sentia que queria amá-lo, e que aquele seria um novo começo em nossas vidas.

— Idiota — murmurei.

Ele riu e todo o meu corpo tremeu ao som de sua risada. Droga, Park Chanyeol! Isso é tudo culpa sua, sempre fazendo com que eu pareça uma colegial apaixonada. Apaixonado… Eu estou mesmo apaixonado por ele. Mordi o lábio, sentindo como se estivesse finalmente liberto, solto das amarras que me prendiam. Era uma sensação ótima.

— É ótimo escutar isso ao vivo, sabia? — Seus braços se apertaram ao redor de mim — Fiquei com medo de que você não gostasse de me ver e que achasse que eu invadi sua privacidade ou algo do tipo, falando com sua mãe e tals.

— Mas eu realmente acho que você invadiu minha privacidade falando com a minha mãe. — Afastei o rosto um pouco, apenas para olhar para seu rosto. Arqueei a sobrancelha e lhe dei um sorriso brincalhão. — Só te perdoo porque suas orelhas parecem maiores pessoalmente.

— Baek! — ele reclamou, soltando o abraço. Fiz um bico, mas acabei rindo. — Você tem cada obsessão estranha, viu. Comida, minhas orelhas... Mais alguma coisa que eu precise saber? Curte comer gatinhos?

— Ai, credo! — Bati em seu braço de leve, me fingindo de indignado. — Só pra você saber, gatinhos são deliciosos, tá?

Ele me encarou com os olhos arregalados por um instante, e isso foi o suficiente pra me fazer gargalhar.

— Eu não acredito, Channie!

Então, eu só quis viver aquele sentimento, me entregar por completo. Eu quis estar com Chanyeol, continuar sendo levado por aquela força invisível que me puxava para ele como a gravidade nos mantendo em pé.

Naquele momento, eu decidi que aproveitaria cada momento que pudesse e que não me importaria com a opinião dos outros; se minha mãe e meu pai aprovavam, era o suficiente; porque, sem ele, eu seria apenas um espaço mergulhado na escuridão. Juntos, nós éramos o céu e a lua, e eu estava ansioso para aproveitar toda a nossa eternidade lado a lado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Gravity" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.