Distração escrita por Jude Melody


Capítulo 1
Capítulo único




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Naquela manhã, o professor lhe perguntou por que andava tão distraída. E Rumi ficou tão distraída que quase se esqueceu de responder. Por um lado, ela adoraria se livrar do doki-doki provocado pelas brincadeiras de Seki-kun. Talvez assim pudesse se concentrar nas aulas. Por outro, não queria causar problemas ao colega, a quem se afeiçoara depois de tanto tempo. Ela ouviu os professores conversando sobre a inspeção surpresa e sentiu o coração mais leve. Yes! Desse jeito, não seria uma dedo-duro, pois Seki-kun se prejudicaria sozinho.

No final das contas, Rumi ficou tão preocupada em ver os brinquedos de Seki serem confiscados que se esqueceu do CD guardado em sua bolsa.

Em casa, recebeu a trágica notícia de que sua mãe fora convocada para uma reunião de pais e mestres. Que ódio de Seki-kun! Era tudo culpa dele! Se não ficasse trazendo aqueles brinquedos para a sala de aula todo santo dia, Rumi conseguiria prestar atenção no professor. Curiosamente, apenas ela notava as peripécias do garoto. Todos os outros alunos eram absolutamente cegos para isso. Ah! Que ódio deles também! Que ódio de toda essa gente que prejudicava a pobre Rumi!

A reunião não foi tão ruim quanto o imaginado. Pressionada pela mãe, Rumi engasgou e inventou uma desculpa qualquer sobre não conseguir ler o quadro direito a distância. O professor ajeitou os óculos, o cenho franzido.

— Por que não disse isso antes, Yokoi? Se o problema é esse, podemos mudá-la de lugar para que fique mais perto do quadro.

— O-o quê?

Rumi inspirou fundo, mal acreditando naquela simplicidade. Achava que receberia uma bela bronca ou quem sabe até coisa pior. Mas o professor parecia genuinamente preocupado com seu desempenho escolar. Ela engoliu em seco. Mudar de carteira resolveria todos os seus problemas. Nunca mais teria de se preocupar em ser distraída pelas brincadeiras de Seki-kun.

Mas... mas Rumi não estava feliz. Se outra pessoa sentasse ao lado de Seki, talvez percebesse suas brincadeiras... Talvez o dedurasse... E Seki deixaria de ser aquele garoto alegre e criativo que sempre surpreendia Rumi.

Ela balançou a cabeça.

— Não, tudo bem. Não é tão grave assim. Eu posso me esforçar mais.

— Tem certeza? — insistiu o professor.

— Te-tenho.

— Rumi, querida, se o problema for um par de óculos, nós podemos comprar — argumentou a mãe. — Eu falo com seu pai.

— Não precisa! — Rumi lembrou-se de controlar a voz. — Não precisa, mãe. Desculpe, professor. Eu prometo me esforçar mais a partir de hoje.

Ele não pareceu muito convencido.

— Está certo. Mas, se não estiver enxergando o quadro, por favor, fale comigo. Não quero que se prejudique por algo tão bobo.

Algo tão bobo... Ah, se ele soubesse!

No corredor, Rumi parecia tão amuada que sua mãe se ofereceu para comprar uma bebida. A garota ficou assim, encostada na parede, o rosto virado para baixo. Escutou uma risada conhecida e sentiu aquele doki-doki. Seki passava ali perto, acompanhado de seus amigos. Rumi fitou-o de soslaio e tomou um susto ao ver o pai robô projetando-se para fora da bolsa de Seki, o bracinho erguido como se estivesse dando tchau. Ela sorriu. Apesar de tudo, até que gostava das brincadeiras de Seki.

— Aqui está, Rumi — disse sua mãe, provocando um susto. — O que foi?

— Na-nada, mãe.

— Você está tão distraída hoje, Rumi. O que será que houve?

— Não é nada.

Rumi desviou o olhar da mãe. Encontrou a nuca de Seki, que justo nesse instante virou o rosto, rindo da piada de seu colega.

— Ah, entendi — murmurou a mãe.

— Entendeu o quê? — Rumi voltou-se para ela.

— Quem é aquele menino?

— É o Seki-kun. O garoto que senta na carteira ao lado da minha.

— Entendi. Entendi.

Rumi mordeu o lábio. O que sua mãe entendera?

— Vamos, Rumi. Vamos para casa.

Ela ainda mordia o lábio. Não gostara nem um pouco daquele sorrisinho de sua mãe. Antes de acompanhá-la até as escadas, virou o rosto uma última vez, encontrando o pai robô. O braço ainda estava erguido, despedindo-se dela.


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Notas finais do capítulo

Doki-doki - onomatopeia para o som das batidas do coração.



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