Laura escrita por Lady Liv


Capítulo 3
We Walk Through The Fire


Notas iniciais do capítulo

A fumaça tinha um odor de mentira e morte. A fumaça estava em Laura.



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I try to understand how we’re here again

In the middle of the storm, in the middle of the storm

There’s no way to go, no way to go

But straight through the smoke, straight through the smoke

And the fight is all we know

 

A mente de Laura era um borrão. Há quanto tempo esperava que algo desse errado? Se preparando para o momento em que tudo fosse desmoronar novamente. Éden foi Charles. Charles estava morto. Éden foi Logan. Logan se foi na sua frente. A paz não era uma presente em sua vida. Éden era uma mentira.

E o momento havia chegado.

Com surpresa, percebeu que não estava preparada para ele.

— Eles estão muito perto, temos que correr. Agora.

— Tamara! Carrega a Ariel. — Erik gritou para a garota de super força. — Ninguém corre, venham todos pra cá! Eu quero todo mundo junto!

— Mas eles estão vindo! — Jackson exclamou nervoso.

— Nós temos que correr, já!

— Correr? Correr pra onde, Laura?! Floresta a dentro? De volta pras tendas? — Rictor retrucou, ela sentia o medo em sua voz e se perguntou se ela tinha o mesmo tom na sua.

— Não! — Erik o respondeu. — Vai ser a primeira coisa que eles vão cercar, e Unus sabe nossas rotas de fuga.

— Por que ele nos trairia? — os olhos de Siryn estavam cheios de lágrimas.

Laura observou uma Ariel desfalecida e ensanguentada nos braços de Tamara. A garota, que era a única que poderia explicar o que aconteceu, talvez já estivesse morta.

— E se descermos pelo rio? — Rebecca propôs nervosa.

— Pode ser, talvez a correnteza se-

— Não.

— Laura?

Ela apertou os olhos olhando para o nada, ouvindo... Estavam gritando. Um pneu tinha se atolado entre uma rocha e outra.

— Estão vindo pelo rio, por isso a demora, há muitas rochas. – a mexicana respondeu a Erik. — Tem que ter outro lugar.

— Vamos subir nas árvores. — April sugeriu.

Hello?!?!— Delilah estalou os dedos. — Eu não sei escalar!

— Podemos voltar pela trilha que viemos. — Jonah disse e todos se calaram. — Foi difícil chegarmos aqui, vai ser difícil sair também. Mas nós conhecemos a trilha, eles não.

— É! — Rictor concordou. — E Unus não tem como saber de onde viemos, ele nem estava aqui quando chegamos.

Talvez já estivesse do lado inimigo. Laura pensou com rancor.

— Certo, faremos isso. — Erik assentiu. — Todo mundo segue o Rictor! Siryn, você também. Tamara, vai na frente com ele, a Ariel ‘tá mal. — o homem olhou ao redor enquanto ditava, todos faziam o que era dito. — Os mais velhos protegendo os mais novos! Mira, Stephen, comigo! Eu tenho que pegar a Grace e a Megan.

E então todos correram, o desespero claro em suas ações, muitos segurando garrafinhas de água e pacotes de biscoito como se suas vidas dependessem daquilo. Isso fez Laura pensar nos objetos que estava deixando para trás. Não era muita coisa, droga, era quase nada. Mas era dela.

E seu arquivo estava sendo deixado para trás, assim como o de todos.

— HEY! 'Tá indo pra onde? — Rebecca exclamou quando a notou dar meia volta.

— Eu preciso pegar uma coisa.

— Espera, Laura, não-

— Depois eu alcanço vocês, vai!

A garota balançou a cabeça, antes de seguir os outros, que já estavam a certa distância.

A tenda onde dormia não era longe, e na adrenalina do momento, pareceu ter chegado lá em menos de três passos. O interior tinha lençóis enormes estendidos entre as camas como divisões para a privacidade das garotas, e sua mochila com seus pertences estava em cima de sua cama, sempre preparada para uma possível fuga. Nunca foi tão grata pela paranoia que a perseguia.

No momento que a pôs nas costas, Laura ouviu o enorme estrondo.

Luzes fortes fizeram sombras refletirem na tenda. Alguns tiros começaram a serem ouvidos. Os soldados vinham em jipes e outros veículos militares. Haviam chegado e estavam gritando, claramente o rio não havia os segurado por muito tempo e-

Oh.

Madeixas douradas brilharam em sua mente. Olhos azuis inocentes. Um sorriso alegre sem o dentinho da frente. Sete anos. Sete anos. Sete anos.

Ela não devia ter mais que sete anos.

— Bobby, as meninas e eu vamos caçar vagalumes perto do rio! Quer vir com a gente?”

— Megan. — a constatação fez Laura escorregar até o chão, o peso da lembrança fazendo seus olhos se encherem de lágrimas. — Ai não...

“— ...Mira, Stephen, comigo! Eu tenho que pegar a Grace e a Megan.” Erik havia dito há menos de 2 minutos.

Ele não sabia. Laura havia esquecido. E Bobby, e as meninas que estavam com eles. Dando de cara com um exército com armas e sem empatia. O que poderia ter acontecido não era difícil de imaginar e as imagens preencheram sua mente com agonia.

Colocou as mãos sobre a boca, ela prende um soluço.

Ela podia tê-los salvado.

Sim, a culpa é sua, guria. Logan acusou em sua mente. Viva com isso.

E então ela os sentiu entrando.

— Encontrem, encontrem!

No mesmo instante, deslizou por baixo da cama, imóvel. O choro sendo enterrado com um plano calculista se formando, assim como havia sido forçada a aprender. Ela não era mais Laura agora, apenas X-23. Observou os pés se movendo e os grunhidos de insatisfação com o suposto local vazio.

— Olhem embaixo das camas!

Havia um lençol bem atrás da cama onde ela estava escondida. Escorregou para fora, subindo em cima do colchão, escondendo-se nas sombras.

— Pensar que se esconderiam embaixo das camas, quase os faz parecer humanos... eles não são crianças, só se parecem com elas.

Alguns homens riram. Laura fechou os olhos e apurou os sentidos. Doze homens. Todos carregados de armas. Não havia o familiar odor de tranquilizante, apenas pólvora.

Eles haviam vindo apenas para matar.

— Não tem ninguém aqui!

— Avise ao General Stryker.

Um dos soldados tinha se aproximado o bastante. De costas, ele não a viu.

— Ala dois limpa!

Não tão limpa, babaca, pensou permitindo pela primeira vez em muito tempo as garras de adamantium atravessarem sua pele. No instante seguinte tinha pulado nas costas dele, os punhos indo e vindo em movimentos rápidos.

— GERARD! — seus companheiros reagiram ao grito do companheiro.

A menina saltou entre os lençóis estendidos no ar, se camuflando na escuridão e atacando. Não demorou muito para que os tiros começassem a lhe acertar. Só que como sempre, a dor não era maior que sua raiva. O fator de cura agia e X-23 urrava enquanto os soldados atiravam feito loucos.

— QUE COISA É ESSA!

O vermelho manchou o branco. Os corpos decoraram o chão. E as cápsulas das balas eram arremessadas contra as camas.

Quando tudo acabou, porém, os gritos não diminuíram. Tampouco as balas.

É porquê não vem daqui, Laura. Com o coração batendo fortemente no peito, a garota saiu da tenda, viva, porém não vitoriosa, dando de cara com um cenário que nunca esqueceria: um incêndio havia começado no casebre, um jipe tinha derrubando a tenda onde os meninos dormiam. O exército atirava, quebrava e chutava. Estavam destruindo tudo.

Mais uma vez, não havia Éden.

Não havia para onde voltar quando tudo acabasse.

— ARGH! — Laura caiu de lado, a mão esquerda pressionando o braço direito em instinto.

Levanta, levanta, levanta... se ordenava. Olhou para o braço, o cartucho, que era maior do estava acostumada e lhe pegou totalmente de surpresa. No momento que o arrancou de sua pele, o inimigo que havia lhe acertado estava de frente a ela com mais quinze homens atrás.

— Você já era, ratinha. — engatilhou a arma, e garota se preparou.... para um tiro que não veio.

Em vez disso, dois jatos vermelhos acertaram os soldados, os arremessando pela campina. A garota girou, olhos arregalados, dando de cara com Erik.

— É, eu sei. – ele comentou, como se dissesse “Eu também sou como você.” — Pode me chamar de Vermelho.

Um jipe atracado com uma metralhadora atravessou o fogo e veio na direção de Erik. Ele ergueu as mãos enluvadas, e uma rajada óptica saiu de seus braços cortando o veículo ao meio, lançando motorista e atirador à metros de distância.

— Agora sai logo daqui, Laura!

— Não sem você!

— Eu preciso achar a Megan!

A mente de Laura piscou.

— Vai! Grace e os outros foram com Rictor!

— Mas a Megan está...

Oh, aquilo não era a melhor hora! Erik a encarou, assustado.

— Você sabe onde ela está?! Eu voltei pra busca-la, Grace disse que-

Subitamente, o fogo apareceu diante dos seus olhos, e a mexicana foi lançada no ar, na direção do casebre. O grito ficou preso em sua garganta e ela podia jurar que tinha desmaiado por alguns segundos.

O cheiro de fumaça era forte quando abriu os olhos. Os poucos instantes em que tinha perdido a audição passaram, e sua mente constatou o que havia acabado de acontecer: uma granada havia explodido bem do seu lado.

Certo, pelo impacto, talvez duas.

— Erik! – chamou assustada. Onde ele estava? — ERIK!

Alguém tossiu próximo, e virando-se, a garota avistou o homem caído, entre os entulhos do casebre em chamas.

— Estou indo. Eu vou te tirar daí. — se levantou, aproximando-se. — Calma! Eu vou-

A voz morreu em sua garganta quando percebeu o estado em que ele se encontrava.

A regeneração de Laura tinha-a curado, deixando pra trás somente a sujeira e alguns rasgos na roupa e mochila. Erik no entanto, apesar de mutante, era um humano comum. Não tinha regeneração.

E ele estava acabado.

— Laura... Laura... — ele chamou, estendendo a mão para ela... uma mão com dois dedos faltando.

Com o coração pesado no peito, ela se agachou ao seu lado, sentindo o déjà vu querer faze-la correr para longe.

— M-Megan... Me-gan... — ele dizia, os olhos arregalados e suplicantes.

— Erik...

— Megan... — continuava a insistir, em suas últimas forças.

Como dizer à um pai que ele havia perdido uma filha? Como dizer à um homem que havia perdido tudo, que ele havia perdido mais um pouco? Como dizer que o pequeno raio de sol tinha se posto, e nunca mais nasceria?

Laura não sabia... e ela nunca queria descobrir tal sensação.

— Está bem. – a mentira escapou de seus lábios com um sorriso. — Ela está salva.

Obteve como resposta algo entre uma tosse e um riso, que fez seu coração se partir.

Desviando o olhar, viu quando as mãos dele começaram a brilhar em vermelho, cada vez mais forte. Cada vez mais quente.

— MUTANTES! – Um grito imerso em ódio ecoou atrás dela.

O marido de Grace se remexeu inquieto, soltando a mão da menina.

— Fuja. Não olhe pra trás, Laura.

Ela se levantou, hesitante.

— Fuja! — ele ordenou desesperado, as mãos em tom escarlate, em combustão. Quase como uma bomba.

Ela obedeceu. Atravessou pela cozinha do casebre, pulando a janela, no local onde todos costumavam tomar café da manhã, ignorando o forte cheiro de fumaça junto da fuligem que recaia sobre seu corpo. Ela correu através da campina, desviando dos soldados, sentindo os tiros passarem de raspão em sua pele. Correu sem olhar para trás, e quando ouviu a enorme explosão atrás de si, soube que Erik tinha partido.

Demorou mais do que o normal para encontra-los.

— LAURA! — Rebecca gritou, a vendo.

As garotas colidiram num abraço desesperado e desajeitado, Laura tirando a mochila das costas e passando para a garota.

— Leva isso pra mim.

— O que? Mas-

Alguns soldados acharam seus rastros e estavam os seguindo.

— Preciso para-los. — Laura olhou pra trás, se afastando.

— Laura, não! — April exclamou, alguns de seus amigos parando de correr e olhando pra trás confusos.

— Vocês vão na frente! Eu seguro eles.

Arregalou os olhos quando o chão tremeu sob seus pés e raízes de árvores saíram do solo, ganhando vida.

— Então eu te ajudo. — Era April, ela olhou pra trás e gritou: — Continuem e não parem!

Não a esperou, apenas liberando as garras pela segunda vez e correndo em direção aos soldados.

Era loucura.

Porém uma loucura que significava a vida dos seus amigos.

Sentia quando os tiros passavam e quando acertavam o chão. Ouvia o engatilhar de cada arma. E assim que viram-na correr até eles, tentaram acerta-la a todo custo.

Os movimentos ágeis logo a denunciaram, junto de seu grito animal, e em segundos eles gritavam seu nome.

— É A X-23!

Lançou-se sobre dois que vinham pela sua direita, arrastando-os pelo chão com suas garras. Girou pela areia e ergueu os pés a tempo de nocautear outro homem pela barriga. Viu com satisfação a carne se abrir e algum órgão atingir o solo.

Isso foi pelos meus amigos, pensou.

Um tiro foi direto no seu braço, e mais outro em seu ombro, e mais outro nas costas, fazendo-a gritar. Enquanto corria baleada, lembrou-se de quando fugia dos Carniceiros com seu avô e pai, no momento que levou a bala no braço para proteger Charles no carro. Ela estava protegendo seus amigos agora, da mesma maneira. Quantos tiros a mais teria que levar para que sua família estivesse segura?

Sério? Que tal um chá para acompanhar essa meditação?

Laura ignorou sua consciência, assim como ignorava os xingamentos que recebia dos soldados a cada nova baixa.

Devo te lembrar do risco de vida?

Um homem vinha na traseira de um veículo militar, com uma metralhadora acoplada. Urrando, Laura saltou sobre o capô, ficando as garras instantaneamente na cabeça do motorista, através do vidro. Estilhaços lhe cortaram.

O veículo bateu contra um dos galhos manipulados de April, e ela usou as garras dos pés para não ser lançada no chão. Chega de ser arremessada por hoje, pensou. O cara com a metralhadora, entretanto, foi arremessado para frente, caindo alguns metros ao lado. Surpreendendo-a, ele se recompôs rápido, puxando um revólver do coldre da calça e apontando.

— MORRE, SUA-! — atirou, falando em um idioma desconhecido. Pelo ódio em sua voz, não deveria estar a elogiando.

Geralmente X-23 nunca os respondia, dessa vez, o fez:

— Não vai adiantar. Eu me curo.

Sabe, quando eu te avisei sobre o risco de vida, não me referia a você, guria. A voz de Logan nunca foi tão clara em sua cabeça.

E foi olhando nos olhos do soldado, que ela percebeu que ele não falava dela.

O tiro atingiu April em cheio, que estava logo atrás dela. No momento que a garota caiu no chão, as raízes que saiam do solo caíram junto dela, sem vida. Laura observou a cena em choque.

Ela havia perdido dois amigos em menos de cinco minutos.

Girou, o coração acelerado batendo pesadamente contra seu peito. As garras e o olhar mortal da X-23 foram a última coisa que o soldado viu antes de ter o coração arrancado do peito.

 

I wanna know is there a way out

Is there a way out?

Show me the way out


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Notas finais do capítulo

Ainda temos muitos personagens, muitos mesmo... Qual a maneira mais fácil de se livrar de tantos personagens? Exatamente. Minha manopla já tá aqui preparada.



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