Ele encarava aquele envelope vermelho com pouco interesse. O lacre dourado já havia sido quebrado e o conteúdo lido não só uma vez, mas pelo menos cinco. Era aniversário de Momo Yaoyoruzu, a vice-presidente de sua turma. Uma jovem dona de uma peculiaridade incrível, capaz de criar qualquer coisa a partir dos átomos de sua pele.

Por dias ele ficou confuso sobre o que poderia usar enquanto escutava seus colegas já comentando sobre suas roupas e personagens. A festa tinha um tema especial, ela era a fantasia e pedia para que todos os convidados utilizassem máscaras. Era algo tão incomodo quanto criativo, e inevitavelmente Shoto se perguntava de onde a morena teria tirado tal ideia inovadora.

Antigamente ele não teria qualquer interesse em uma festa como aquela, porém havia se tornado próximo da moça quando haviam sido obrigados a trabalharem juntos em uma estratégia de batalha, e acabou se surpreendendo com a inteligência, poder e determinação da jovem. Então, era mais do que natural que ele acabasse desejando ir para aquela comemoração.

Porém a fantasia era um problema. Ele não queria vestir algo óbvio ou que lembrasse seu dia-a-dia de super-herói. Durante os dias em que pensava em sua vestimenta, ele visitou a sua querida mãe no hospital e lhe contou sobre o convite, assim como sobre a aniversariante.

“Oh, pareces ansioso querido.” Falava a albina com um sorriso alegre, obviamente se divertindo com o desconcerto no rosto do rapaz. “Tens alguma ideia para fantasia? Eu poderia te ajudar se quiser.” Disse a mãe gentilmente.

“Não, ainda não sei o que usar.” Confessou Shoto com um suspiro cansado. “Minha mente parece estar em branco, já descobri boa parte das fantasias que meus colegas usarão e estou ficando sem opções.” Comentou o rapaz sentando-se ao lado da mãe na cama do hospital. “Por sinal, alguns dos garotos irão usar fantasias iguais sem saberem.” Adicionou já prevendo a provável confusão que isso causaria.

“Hahah.” Ria a mãe do jovem Todoroki, gentilmente acariciando os cabelos que misturavam o branco e o rubro. “Sabe, quando falastes ‘festa a fantasia’ imediatamente lhe imaginei vestido de Erik.” Disse a senhora com um brilho nos olhos, certamente ela ainda imaginava o rapaz vestido como o personagem.

“Erik?” Questionou Shoto com uma expressão confusa e curiosa. “Aquele do filme da ‘Pequena Sereia’? O príncipe?” Perguntou tentando descobrir de qual personagem sua mãe estava se referindo.

“Oh, não querido. Não esse Erik.” Falou a mulher achando graça da reação do filho. “O Erik que estou falando é da peça ‘O Fantasma da Ópera’.” Revelou rapidamente, contando para o rapaz a origem do personagem “Erik é o nome do Fantasma.” Explicou.

“Fantasma da Ópera...” Repetiu Shoto em um murmuro, permanecendo em silêncio por alguns segundos. “Oh, sim. Lembro de ter visto o filme.” Falou lembrando-se de algumas cenas do filme, assim como a música que é a assinatura da peça. “Mas ele não é o vilão?” Perguntou ligeiramente surpreso pela escolha de sua mãe. Ele desejava ser um herói, então vestir-se como vilão era no mínimo irônico ou até mesmo um insulto.

“Bom, eu não diria que ele é um vilão.” Falou a mulher pensativa, lembrando-se de toda a trama que envolvia o Fantasma. “Mas ele também não é um mocinho.” Disse achando graça, encarando o rosto confuso do filho. “Ele sofreu muito, porém nunca deixou de ter esperança por uma vida melhor, ansiando pelo belo, tornando-se um gênio da música e do teatro. É uma história incrível.” Explicou a albina. “Sei que ele não é uma pessoa exatamente boa. Mas ele possui um charme incrível, e acabo ficando em dúvida se ele realmente é alguém ruim... E no final ele se demonstra uma pessoa gentil e com compaixão...” Confessou a mãe ficando pensativa, quase séria. “Acho que ele é apenas humano.” Falou finalmente.

“Hm... Pensarei nisso.” Disse Shoto pensativo, levando em consideração as palavras gentis de sua mãe. “Certamente nenhum dos meus colegas irá se vestir assim.” Brincou relembrando da maioria dos comentários de seus amigos. “Obrigado, mãe.”

E lá estava ele, vestido como o Fantasma e certamente se sentindo como um. Havia chegado atrasado na festa, mas conseguira conversar com alguns de seus amigos enquanto procurava pela aniversariante. Enquanto procurava pela morena, escutou os palpites de seus colegas sobre sua fantasia e ninguém havia descoberto seu personagem. Podia sentir uma mistura alivio e de decepção enquanto escutava os comentários dos garotos.

Até que ele viu Momo sentada sozinha em uma longa mesa, ela estava linda e com um sorriso sutil parecia assistir as suas amigas dançarem e rirem no salão. Apertando os olhos e aproximando-se cuidadosamente da aniversariante, ele imediatamente reconheceu a sua personagem e ficou surpreso com a escolha da moça.

De todas as opções que Momo poderia escolher, ela escolhera Christine Daaé, a personagem principal da peça “O Fantasma da Ópera” e a maior paixão de Erik. Uma incrível coincidência. Um golpe do destino, o qual conseguira causar uma estranha sensação de alegria e ansiedade. Um sentimento esquisito que fazia seu coração descompassar suas batidas e fazê-lo desejar aproximar-se ainda mais dela.

Porém ele não queria ser como o Erik, acabando por se arrepender de ter escolhido aquele vilão como inspiração para a sua vestimenta. Retirando a máscara branca, ele momentaneamente desejou ser o Raoul e assim continuou o seu caminho até a donzela de branco.