9 Zonas escrita por Cas Hunt


Capítulo 21
Fique Longe




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Ainda não consegui pegar no sono. Aconteceu muita coisa para que eu consiga simplesmente apertar um botão dentro de mim e desligar minha consciência por algum tempo. Estou certa de pensar que se eu pedir Gesabel me daria um bom soco de arrasar para conseguir me dar paz por algum tempo.

Como que em concordância, as batidas na porta do quarto são pesadas. Ergo o tronco quase revirando os olhos ao levantar e abrir a mesma esperando ver a garota de cabelo azul com uma carranca e arma na mão.

—Ei — Jug diz, nervoso.

O nervosismo dele me deixa nervosa. Ignoro a sensação. Voltando ao mundo real tento decifra-lo com sua camisa limpa, o cheiro de lavanda vindo da sua pele parece invadir minhas narinas, as calças jeans e mesmas botas do uniforme.

—Foley te mandou subir? — pergunto olhando pelo corredor.

Como resposta, Jug assente. Relaxo um pouco mais. Por alguns segundos imaginei que ele estaria ali para mais um longo e desconfortável momento de descoberta sobre os sentimentos um do outro.

—Ele me mandou falar com você.

—Sobre o quê, exatamente?

—Me pediu pra te falar os pontos cegos das câmeras nas estradas.

—E você saberia deles?

—Cada um. Eu os projetei.

Também não conhecia o lado de Jug tão habilidoso com máquinas. Levando em consideração que a primeira vez que nos encontramos foi há menos de dois meses posso desconsiderar a ideia de saber tanto sobre a personalidade dele.

—Foley achou que estaria acordada?

—Na verdade eu sabia. Você têm pesadelos quando dorme sozinha.

Avalio seu olhar penetrante tentando ler as pequenas engrenagens na cabeça dele funcionando para me decifrar. Como pode ser possível saber tanto sobre uma pessoa e ao mesmo tempo não ter nada acerca de quem ela é? Sei que ele é doce, cuidadoso. Não havia conhecimento do Jugen habilidoso, observador e lutador. Na maior parte do tempo eu me via o protegendo da rebelião!

—Como sabe disso?

—Eu tenho a mesma coisa.

Jug olha para dentro do quarto, uma sobrancelha erguida. Abro mais a porta permitindo sua passagem ao mesmo tempo questionando se é uma boa ideia ficar sozinha entre quatro paredes justamente com o cara que me deixa maluca.

—Preciso saber por qual rodovia vocês vão seguir — ele diz familiar com o cômodo puxando de uma gaveta no frigobar um papel grande demais para caber ali. Um mapa.

—Pode marcar todas.

Jug ergue os olhos pra mim ao mesmo tempo que puxa um lápis de outra gaveta.

—Você mudou.

—Como assim?

—Desde que meu irmão chegou. Está desconfiada. Até de mim.

—Seu pai é o ditador e Jaspen atirou no meu amigo.

—Ele está mais para o cara que doou o esperma do que pra meu pai. E meu irmão é problemático.

—Com uma tendência incrível para investigador, também.

Jug aperta o lápis, o maxilar trincado. Devo ter cutucado alguma ferida.

—Odeio quando faz isso — confesso.

—O quê?

—Sente raiva de mim e guarda pra si, Jugen. Não é natural.

—Que...? Alya, você é maluca.

—Por você.

Ele enrubesce. Tento não sorrir ao ver o rubor lentamente subir do seu pescoço para as bochechas. É bom saber que mesmo entrando em batalhas, talvez tanto quanto as minhas, eu ainda cause nele a mesma reação que causa em mim.

—Não me chama de Alya — aviso cruzando os braços encaminhando-me até perto dele para ver os pontos que marca nas linhas suaves do mapa.

—E nem você de Jugen.

—Por que?

— Preferência. Na linguagem natural da minha bisavó significa “imperador”. Uma língua morta que nem existia antes das guerras nucleares. Só meu pai me chama de Jugen. Soa autoritário, como se todos ao meu redor devessem me obedecer.

—Isso não funciona comigo.

—Quem dera funcionasse.

—Por que? Você não faria nada.

—Mandaria que você evitasse de me deixar em estado de alerta, prestando atenção a cada droga de movimento.

—E como eu faria isso?

—Parando de ir e voltar como um maldito ioiô! Qualquer coisa que faço errada e você pode sumir por dias

Jug puxa o papel do balcão na minha frente para virar para o outro lado curvando-se sobre seus rabiscos. Percebo olhando para o mapa que Jugen marcou alguns pontos bastante aleatórios ao redor dele. Aproximo-me mais um passo dando a volta no local ficando perto das suas costas abaixadas sobre o balcão.

—Por que veio aqui, Jug?

Ele não responde. Vejo o movimento suave que seus ombros fazem subindo e descendo com sua respiração profunda. Ele está tentando se acalmar e penso em dar um passo para trás pensando que ele já deve estar furioso.

—Jug?

Ele se vira pra mim. Os olhos que tantas vezes julguei doces agora me encaram brilhantes, famintos por algo que desejo como ele. Sem esperar alguma reação, Jug se curva unindo nossas bocas em um beijo ardente.

Não é como a maioria dos que eu tive, apressados demais ou lentos demais. É um ritmo perfeito com movimentos impensados, desesperados para encontrarem mais. Por reflexo levo minha mão até seus cabelos, os olhos fechados conforme Jug busca a base das minhas costas como apoio.

Tenho certeza de que é um caminho sem volta. O gosto de menta em sua boca, o hálito refrescante contra meus lábios, sua boca se abrindo e a língua pedindo passagem. Passo a não saber mais quem está no controle.

Fantasiei diversas vezes beija-lo só que realmente fazer deixa meu coração bombeando sangue loucamente, meus joelhos bambos e a respiração acelerada. A boca dele, quente e úmida parece um tipo de droga que se vicia na primeira dose.

Contra a minha vontade Jugen desacelera o ritmo espalhando beijos suaves ao redor do meu rosto, suas mãos que antes subiam e desciam pela extensão das minhas costas agora pousam no meu rosto enquanto as minhas seguram sua blusa perto de mim.

—Não podia te deixar ir embora sem isso — ele fala sem afastar o rosto do meu, seu hálito fazendo cócegas nas bochechas.

—Queria que isso fosse diferente.

—Eu também.

O nariz dele encosta no meu. Nunca me senti tão quebrada e tão inteira ao mesmo tempo. Primeiro e único beijo com quem eu confio na batalha mas não na estratégia. O que diabos aconteceu comigo? Eu era corajosa, briguenta, não levava desaforo de ninguém. Pareço uma adolescente se apaixonando pela primeira vez.

—Se me ver em campo — começo e engulo o seco — Foge. Não olha pra trás.

—E por que você não foge?

Toco as mãos dele no meu rosto com um meio sorriso.

—Por que eu não vejo ninguém em campo. Só alvos.

Jug desce as mãos para meu pescoço.

—Isso significa que eu ganhei a outra aposta?

—Claro que não. Eu ainda sou melhor que você em tudo.

—E por que parece que só eu ganhei?

Saboreio em silencio o quanto o toque dele impacta no resto do meu corpo. Sinto-me quente, seus dedos fazendo uma trilha de calor que se espalha por cada nervo trazendo uma sensação nova de prazer.

—Me faz a pergunta — Jug encosta a testa na minha — Aquela que você pediu. Sem restrições. Sem mentiras. Só a verdade.

Arregalo os olhos. Preciso afastar um palmo dele para conferir se ele não está brincando. Jugen parece mais sério, outro nível de dor espelhada em sua expressão, o lábio macio levemente puxado pra baixo.

Posso fazer a pergunta que todos querem resposta. Posso perguntar sobre os soros, sobre onde eles estão. Ou fazer qualquer pergunta sobre ele que me atormente. Se for a primeira, dou uma chance para os Exilados, já na segunda deixo aberta a porta para a ditadura se manter e Jug chegar ao poder.

Nego veemente com a cabeça, o conflito entre o certo e o errado, moral e imoral se juntando em uma batalha sangrenta dentro de mim. Parece que estou com o botão de uma série de bombas sem saber quem vou acabar explodindo. O mais lógico ao receber esse botão seria recusa-lo de imediato, entregar de volta para o dono.

—Jug — sussurro ainda negando. — Não. Não, isso não. Aceito perder a aposta.

—Quer saber dos soros? Eu digo onde estão.

—Jug!

Em resposta, com algo sombrio em seu rosto, ele me puxa para seu peito encaixando seu queixo no topo da minha cabeça com os braços ao meu redor de modo protetor como se soubesse de algo perigoso.

—Não quero que me conte — falo o abraçando de volta.

—E eu não quero perder você nessa guerra. Quando invadirem o local, fique longe. Vão haver muitas mortes e por favor... Você não.

Jug se inclina depositando o mais suave dos beijos nos meus lábios. Pela primeira vez sinto que alguém realmente está apaixonado por mim. Olhando em meus olhos, ele diz:

—Base 0989, norte da Zona 1, perto do palácio do meu pai, rodeado de sentinelas. Subterrâneo. Tem uma série de senhas, maior parte se troca a cada seis horas. É tudo o que sei.


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