9 Zonas escrita por Cas Hunt


Capítulo 16
Fuga




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As sentinelas sobem as escadas com passos pesados, mas fico confusa quando um passo mais apressado se precipita na frente deles. Gesabel sai correndo com a lança de um sentinela em mãos e vira-se no túnel para jogar uma faca de cozinha na direção da cabeça de um deles. Bate no capacete e cai inútil no chão.

Gesabel arregala os olhos segurando a lança com mais força ao correr outra vez. Os sentinelas a seguem com passos largos, mas o tamanho das pernas dela ajuda a manter uma boa distância entre eles.

A garota nem olha para trás. Não sei o que deu errado, mas pego a faca de cozinha do chão, desço as escadas com pressa e jogo-me contra a parede do poço fazendo esforço para abri-la. Uma senhora com chicote em mãos me olha, seu uniforme cheio de insígnias de honra brilhando contra a fraca luz amarelada de luminárias os cantos do poço.

A iluminação deixa o sangue no chão de um tom alaranjado, o cheiro metálico se espalhando pelo ar úmido e cheio de musgo com os mais diversos odores humanos acompanhando. O cabelo dela é raspado, apesar da idade parece estar cheia de músculos no corpo e sua pose acima de Jug é de superioridade.

Não presto muita atenção aos dois corpos assim que ela avança na minha direção. Seguro com firmeza a faca em mãos e rezo internamente para que minha mira tenha melhorado. Puxo o braço para trás firmando os joelhos ao lançar a lâmina na direção dela. Prendo a respiração quando acerta sua testa afundando metade do metal.

Ela cambaleia, sangue saindo da ferida aberta. Seus olhos azuis encontram os meus e a senhora perde o movimento dos joelhos caindo de costas com um baque surdo.

Geralmente não mato ninguém tão perto ou em um ambiente tão fechado. Durante a guerra já me peguei pensando em tanas pessoas que morriam pelas minhas mãos, irmãos, filhos ou pais de alguém. E pra falar a verdade, maior parte dos meus pesadelos são graças a culpa de ter conhecimento que eles não vão ser os últimos.

—Ally? — Lion resmunga, a voz rouca e preguiçosa.

Viro-me para a esquerda e ele está de costas com os punhos suspensos por correntes espessas que o deixam com as costas esticadas. Mesmo de longe meu estomago se revira com a imagem dos músculos expostos pelo chicote, algumas mais manchadas de sangue que outras, vejo até o indício de um osso ali perto. Engulo o seco tentando me concentrar para não vomitar.

—Eu vou tirar vocês daqui. — falo.

Avanço até o corpo da mulher remexendo seus bolsos até encontrar as chaves. Presas em uma argola de metal do tamanho do meu polegar, puxo as duas peças de metal.

—Ei! O que está acontecendo? — a voz de Jug é dolorosamente vívida.

Termino de soltar os braços de Lion e ele despenca em cima de mim. Esforço-me para segurar seus cotovelos tentando não encostar nas feridas do chicote.

—Lion, consegue ficar em pé?

Durão como sempre, ele firma os tornozelos me utilizando como apoio para se erguer mesmo que parcialmente curvado com a dor. Uma porção de grunhidos e caretas depois ele consegue me olhar com dez centímetros a mais que eu.

Mais inesperado que nunca, tenta me beijar.

—O que diabos! — afasto sua boca — Não é a hora, Lion!

—Al? — Jugen me chama.

Lion junta as sobrancelhas.

—Al? — repete. — Quê isso, Ally?

 O ignoro fazendo-o se apoiar na parede para disparar na direção de Jug. As costas dele estão bem menos maltratadas com três linhas superficiais e duas mais fundas marcando sua pele e deixando-a vermelha como um pimentão.

Retiro as algemas de seus pulsos largando as chaves em qualquer canto da sala para segura-lo caso se desequilibre como Lion.

Jug solta um grunhido e se vira para mim pondo as mãos em meus ombros, seu rosto uma misto de desespero com um toque de raiva.

—Que porra está pensando? Eles são malucos! Vão acabar...

Toco meu dedo indicador em seus lábios sentindo-me tentada a beija-lo. Ignoro a sensação tentando me concentrar sobre como vamos sair daqui.

—Ally — Lion chama.

Afasto-me de Jug e pego a jaqueta cheia de insígnias de honra de seu corpo morto. Assim que a giro para o lado sua boca se abre com certa porção de sangue escapando de dentro. Percebo que deve ser o primeiro corpo que Jug vê e tiro a faca da testa dela deixando-a de costas.

Puxo o braço de Lion sobre meus ombros e damos um passo na direção da saída. Pisco algumas vezes e olho na direção de Jugen. Ele encara o corpo da mulher sem nenhuma expressão definida no rosto.

—Jug? — chamo carinhosamente.

Ele olha na minha direção, pisca como se estivesse saindo de um transe.

—Pode me ajudar?

—Não precisa — Lion apressa-se em dizer — Nem pense em me jogar em cima dele.

Não tenho tempo para discutir. Reviro os olhos e arrasto ele por um lado com Jug o puxando pelo outro para irmos mais rápido pelo corredor.

—Al! — Jug me olha por cima da cabeça de Lion.

Um sentinela está aos pés da escada, a lança em mãos encarando nós três. Antes que eu faça alguma coisa Jug dá um passo á frente soltando Lion que limpa o braço na jaqueta da oficial que puxa de mim para vestir.

—Meu nome é Jugen Baratheon, primogênito e herdeiro do ditador Cailorn Baratheon e ordeno que saia do caminho agora!

Fecho os olhos por um segundo. Os últimos resquícios de que Jug não fosse filho do ditador morre com suas palavras. A sentinela se move, como o dito, mas apenas para apertar a lança prateada em suas mãos e falar por baixo do capacete:

—Morte ao ditador.

Em um movimento rápido o sentinela avança em cima de Jug. Quase solto um grito para que ele saia do caminho, mas Jugen desvia e joga as mãos na lança do sentinela empurrando-o contra a parede em uma demonstração clara de força.

—Alya! — Gesabel grita do topo das escadas e a escuto descendo.

Empurro Lion na direção dos degraus.

—Vai até ela, agora!

Manobro a faca em minha mão indo na direção de Jug. A sentinela desvia a força dele para cima acertando um ponto sensível entre as costelas derrubando Jugen como faria com um filhote qualquer. Tomando como exemplo, acerto com a faca o mesmo ponto que ele atingira Jug.

A sentinela toma sua lança e acerta a prata em meu nariz jogando-me no chão com facilidade. Antes de mover um músculo o tiro que soa pelo corredor quase me deixa surda. Perfurando o capacete da sentinela, a bala espalha sangue e fluido cerebral para todos os lados.

—Jug!

—Estou bem.

Ele se ergue sobre os joelhos buscando-me na escuridão. Assim que encontra meu ombro puxa na sua direção e suspiro com seu abraço.

—Precisamos ir.

—Pra onde, Al?

—Fugir.

—Anda logo, Alya! — Gesabel ordena com uma arma soltando fumaça em suas mãos.

***

Foley está no portão com uma porção de máscaras no braço e olhando para o exterior com nervosismo evidente, talvez pela sirene que foi acionada após os disparos de Gesabel contra sentinelas.

—Pega! — empurro minha jaqueta nos braços de Jugen e tomo uma máscara nas mãos de Foley.

—O que aconteceu?

—Uma maluca dando chicotadas neles — balanço a cabeça para me livrar da imagem dela morta pelas minhas mãos.

—Al? — Jug pergunta baixo.

Não deixo que ele termine, ajudo-o a colocar a jaqueta — que parece gigantesca em mim e colada nele — e fechar o zíper até o pescoço. Arrumo as calças para dentro dos sapatos e a camiseta dentro das mesmas. Gesabel faz o mesmo e Foley ajuda Lion a fazer isso.

Fico em silencio colocando a máscara desesperadamente ao ouvir sons atrás de nós. Jug me dá um puxão e a lança prateada de um sentinela passa raspando pelas minhas costas. Solto um grunhido e ponho a máscara nele correndo na direção da névoa azulada.

—Matem o filho do ditador! — a voz reconhecível de Jones soa atrás de mim.

Arregalo os olhos cometendo o erro de olhar em sua direção. Ele está no encalço da tenente e do comandante com a mão ensanguentada. Logo atrás dos três vejo uma poça de sangue acompanhada de uma porção de corpos em posições diferentes.

É um ataque. E não dos Exilados.

—Os Radios tomaram o lugar — Foley solta boquiaberto.

—Parem, agora! — a tenente grita ficando em posição para atirar.

Se me lembro bem ela nunca erra. Jogo-me na direção de Lion ajudando Gesabel a carrega-lo para dentro da caçamba de metal. Jug dá o empurrão final e a garota entra logo seguida por ele e por mim.

A tenente atira e acerta a carroceria do carro. Enfio-me apertada entre Jug e fecho a porta ás pressas quando outro tiro acerta o local que estivera segundos antes. Agradeço a pistola dela estar sem uso e ficar obsoleta dando problemas com a rapidez dos tiros.

—Foley, vai! — grito.

Meu amigo pisa no acelerador o máximo que consegue. Leva menos de dez segundos para escutarmos um som alto de explosão e a massa degrade vermelha com laranja subir pelos céus escuros como um farol.

—Acho que os Radios não são nossos aliados — resmungo olhando para trás.

—Nossos? — Jug repete.

E chegou a hora de contar a verdade.


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