Os Elos da Corrente escrita por Janus


Capítulo 7
Capítulo 7




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 A visão não poderia ser melhor. Uma, duas... talvez cinco carroças se aproximavam da vila. Enquanto os outros moradores corriam gritando de alegria de encontro a elas, ele suspirava e fazia uma prece de agradecimento em silêncio por isso. Realmente foram salvos em cima da hora.

 As crianças estavam anêmicas, e os adultos também. Alguns idosos não resistiram a fome e pelo menos quinze dos moradores tinham desaparecido quando foram enviados até o posto comercial para descobrir o que estava acontecendo.

 Começou a caminhar lentamente em direção as carroças. Não havia motivo para andar mais depressa na sua idade. Apenas iria piorar seu reumatismo. Não fosse a bengala, seria duas vezes mais lento que agora.

 Mal deu alguns passos e já ouviu uma gritaria vinda dos que foram na frente. Eles estavam voltando arrastando algumas pessoas amarradas com cordas. Reconheceu uma delas imediatamente. Apesar de fazer mais de um mês desde que o vira, não ia esquecer facilmente o seu rosto.

 Eles eram chutados e golpeados com força pelos moradores. Mesmo as mulheres e crianças faziam isso. Sabia o que eles estavam sentindo. Imaginava que eles eram os responsáveis pelo corte de suprimentos, bem como o desaparecimento dos que seguiram pela estrada.

 - Katon, Goukakyuu no Jutsu (Técnica da bola de fogo grandiosa) – ouviu  ser dito por uma voz de mulher. Em seguida uma grande bola de fogo foi vista sendo enviada para cima, iluminando tudo ao redor. Os moradores pararam o que faziam e olhavam aquilo impressionados. Ele próprio ficou sem entender o que ocorria.

 Um segundo depois, uma mulher vestindo roupas apertadas tinha aparecido no meio deles. Seu rosto não era amigável.

 - Não os capturei para serem simplesmente linchados – gritou ela para os moradores – que tal primeiro vocês pegarem os mantimentos, darem de comer as suas crianças e depois decidirem o que fazer? Eles não vão a lugar nenhum.

 Todos a olhavam impressionados. Deviam estar pensando que era alguma feiticeira ou até mesmo um demônio. Mas ele sabia que não. Fazia muito tempo desde que tinha visto uma delas, mas se lembrava bem.

 - Façam o que a kunoichi diz – disse ele elevando a voz e se fazendo ouvir – Estamos sem ter o que comer já faz dois dias. Peguem os suprimentos e vamos fazer comida para todos!

 Silenciosamente eles obedeceram. Alguns ainda mantinham o olhar na moça de cabelo azul escuro enquanto seguiam rumo as carroças. Outros chutavam pedras da estrada mal cuidada tentando acertar os prisioneiros enquanto seguiam rumo as carroças. Algumas crianças cuspiam neles, mas seguiam de volta para a cidade sob os olhares das mães que mantinham a expressão de raiva e de vingança. Algumas ele sabia que eram esposas dos desaparecidos na estrada.

 - Obrigada – disse a kunoichi para ele quando as pessoas se afastaram.

 - Apenas fui prático – respondeu – você está certa sobre alimentar as crianças. Mas confesso que não sei porque os defendeu. A propósito, sou Yahada Shino, líder desta vila.

 - Meu nome é Ayla, Shino-sama. Fui contratada para escoltar esta caravana até aqui. E no caminho acabei cruzando com esses ladrões – ela os observou de forma fria e impessoal – mas não agiram como se fossem roubar a carga. Simplesmente tentaram matar a todos.

 Ele os observou detidamente. Estavam assustados. O líder deles parecia mais controlado, como se aceitasse o seu destino. O que devia fazer com eles agora? Não tinham prisões ali. Tudo o que tinham que podia servir para isso era o deposito com porta de ferro onde ficavam os explosivos.

 - Ayla-sama – começou ele escolhendo as palavras – estou muito grato pelo que fez. Acredito que esses assassinos foram os responsáveis pelo nosso corte de suprimentos desde o ultimo mês. Você poderia apenas tê-los afugentado ou matá-los, mas preferiu os trazer aqui.

 - Na verdade eu não sabia bem o que fazer com eles. Imaginei que talvez houvesse alguma recompensa pelo liderzinho patético deles – olhou para ele, e este lhe devolveu um olhar de ódio – mas me parece que se existir não será nesta vila.

 - Nos sentimos gratos para recompensá-la – ele sorriu – e a recompensaremos mais ainda se capturar ou matar os que restam. Pelo que me consta, quinze ou dezesseis homens deste bando fugiram quanto tentaram tomar a vila. Os outros nós mesmos os matamos quando nos defendemos.

 - Agora entendi porque eles começaram a cortar seus suprimentos – disse ela pensativa – só se os matassem de fome teriam alguma coisa. Agiam como se segurar uma katana fosse sinônimo de habilidade...

 Shino se permitiu rir um pouco em voz baixa. Era verdade. Tivessem estes ladrões um mínimo de habilidade real em empunhar aquelas armas, teriam sucumbido logo no primeiro ataque. Mas eram claramente pessoas que agiam contando com a submissão das vitimas. Quando estas reagiam não sabiam o que fazer, e a coragem começava a fugir deles.

 Viu os homens começarem a carregar sacos de farinha e de grãos para dentro da vila. Algumas carroças moviam-se facilmente agora que eram empurradas por varias pessoas. Também notou que havia uma outra mulher com uma criança nos braços se aproximando agora.

 - Vou ser sincero, Ayla-sama. Sei que quer que eles sejam julgados por seus crimes aqui, mas precisa compreender que estamos muito rancorosos com o que houve. Quinze homens enviados ao posto comercial não retornaram, e acredito que eles mataram estas pessoas. Eles também mataram alguns dos nossos na primeira investida que fizeram. Daquela vez, se nunca voltassem estaríamos satisfeitos. Nosso mortos foram vingados pela quantidade maior de perdas que sofreram. E ademais foi quase uma guerra. Mas o que fizeram depois é bem diferente. Se me pedir para julgá-los aqui – ele respirou profundamente antes de prosseguir – o veredicto será feito assim que as acusações terminarem.

 Ela permaneceu calada, aguardando ele prosseguir.

 - Eu lhe adianto que dificilmente o destino deles será diferente do que deixar que sejam linchados agora. Sendo julgados ou não, pela justiça ou pela vingança, eles irão morrer. Ambas seguem o mesmo caminho nessa situação.

 A frente dele a mulher com a criança no colo tinha parado de andar e observava a conversa com muito interesse.

 - Justiça e Vingança as vezes podem seguir o mesmo caminho, mas não quer dizer que estejam de mãos dadas – retrucou ela com o rosto sério – considerando o que fizeram, não vou negar que sendo julgados aqui ou em outro lugar o resultado seja a execução. Mas executar de forma rápida e indolor e bater em alguém até que ele morra é bem diferente. No primeiro você cumpre com uma obrigação, no segundo o objetivo é satisfazer-se.

 Ficou pensativo nas palavras da mulher. Apesar de jovem, havia uma certa sabedoria elevada em suas palavras. Ela não questionava o que fazer com os assassinos, mas sim como isto seria feito.

 - Talvez a única forma de lhes dar uma morte indolor aqui será se você o fizer.

 - Não irei recusar se me pedir – respondeu prontamente sem demonstrar nenhuma emoção – mas agora estou mais preocupada se você vai conseguir que sua vila tenha paciência para fazer um julgamento.

 - Sendo o líder aqui, eu posso julgá-los e dar meu veredicto. Tenho provas de que são assassinos devido ao ataque que fizeram antes aqui na vila, e seu testemunho de que tentaram matar quem conduzia esta caravana.

 - Tem o meu testemunho também – disse a mulher que tinha se aproximado – e, perdão por me intrometer – completou ela em seguida.

 - Kaede-san – disse Ayla – este é o líder da vila, Yahada Shino.

 Kaede se curvou cumprimentando o idoso senhor.

 - Prazer em conhecê-la – disse observando-a cuidadosamente.

 O crepúsculo já deixava a escuridão da noite invadir o vale, e esta só era quebrada pelos postes de luz que eram acesos por algumas mulheres da vila. Eram lamparinas a óleo. A vila era muito pequena e afastada para ter eletricidade.

 - Você esta mesmo falando sério sobre julgar esse bando de mer... uh.. perdão Shino-sama, mas acho que era melhor tê-los matado quando eu tinha pedido. Daria menos dor de cabeça.

 - E quem enterrava os corpos? Você? – Ayla cruzou os braços e olhou para ela – ou ia deixá-los fedendo na estrada?

 - Você se preocupa muito com detalhes!

 - Eu trabalho sozinha. Gosto de zelar pela minha reputação. Não vou deixar um monte de corpos apodrecer e serem banqueteados por abutres e ficar conhecida como carniceira! Pelo menos se decidirem matá-los aqui, vão ter que enterrá-los.

 - Falando nisso – Shino se aproximou lentamente dos prisioneiros amarrados diante dele – o que aconteceu com as pessoas que enviamos e que estão desaparecidas?

 O líder daquele bando o encarou e sorriu ferinamente, sentindo uma certa satisfação.

 - Os largamos junto com a carga que não nos interessava – respondeu ele – os animais da floresta fizeram um bom proveito dos corpos.

 Ele apertou os dedos ao redor de sua bengala, resistindo a tentação de usá-la como porrete.

 - Por que? – perguntou ele lentamente e mostrando-se cansado – porque fizeram isso? Não foi o bastante da primeira vez?

 As duas mulheres ficaram cada qual ao seu lado, preparadas caso algum deles tentasse fazer algo com o idoso senhor. Podiam estar amarrados, mas ainda podiam tentar se lançar contra ele, e este sendo velho sem dúvida poderia se ferir.

 - Somos ladrões – disse ele com desprezo – o que esperava? Um pedido de desculpas?

 - Ele eu não sei – disse a mulher chamada Kaede – mas vocês deviam ser inteligentes para saber onde estavam se metendo. Ate onde achavam que iriam com isso? Especialmente sendo um bando de incompetentes sem habilidade?

 - Você teve sorte dessa shinobi ai ter aparecido, vadia. Do contrário estaria fazendo qualquer coisa para continuar viva – retrucou com sarcasmo, tentando parecer valente.

 - Ela é uma kunoichi – gritou para ele com raiva, movendo a perna que quase lhe acertou no nariz – assim como eu!

 - Calma, Kaede-san – disse o idoso senhor sem se alterar – impedi que os aldeões os linchassem, não posso permitir que você os fira estando amarrados.

 - Então me deixe soltá-los – disse ela simplesmente.

 - Não complique as coisas, Kaede-san – disse Ayla pondo a mão no seu ombro – que tal irmos até onde estão preparando a comida? – todos olharam em direção ao centro da aldeia – parece que vai acabar virando uma festa.

 Viram mesas e cadeiras sendo colocadas no pátio central de vila, bem como algumas churrasqueiras que estavam ali postas. Algumas mulheres já tinham colocado caldeirões sobre elas, e outras já lavavam o arroz para ser cozido. Em varias meses postas lado a lado outras mulheres – e também crianças e homens adultos – pareciam estar preparando alguma outra coisa. Só podiam ver que estavam usando farinha desta distancia.

 - E vai mesmo – Kaede sorriu – até que valeu a pena te acompanhar até aqui.

 - Voltando ao assunto – cortou Shino dirigindo-se para o líder agora assustado com a ação da mulher – foi só por serem ladrões? Ladrões quando percebem que suas vitimas podem confrontá-los não se arriscam tanto assim. O que temos que é tão valioso para vocês?

 - Ele nos fez desejar vingança pela derrota que sofremos com vocês – disse um dos homens, sendo fulminado pelo olhar do líder para ficar em silencio.

 Ignorando a ação dele, Shino se aproximou mais, ficando ao alcance dos outros prisioneiros.

 - Continue – disse ele – eu entendo o desejo de vingança, mas o que queriam primeiro? Porque nos atacaram?

 - Porque – ele olhou para o líder antes de responder – ele queria explorar a vila. Ameaçá-los para cobrar uma parte do que recebiam com a extração de pedras.

 - Um ladrãozinho inútil brincando de montar uma máfia – disse Kaede zombeteira.

 - E o que houve com os que desapareceram na estrada? – Shino foi mais incisivo. Ele queria ter certeza da resposta.

 - Nós os matamos – ele tremia e chorava – mas também perdemos alguns dos nossos. Mais cinco foram mortos por eles. Só nos dez ficamos.

 Shino ficou olhando para eles intrigado.

 - Só vejo nove...

 - Então aquele que estava na arvore é o último – disse Ayla – eu vou atrás dele. Acho que volto antes da comida ficar pronta. E aproveito e mando seu marido de volta.

 Ela correu pela estrada e dando um salto desapareceu na escuridão.

 - Acredito que tenho as informações necessárias para julgá-los sem receio – fez uma pausa e olhou para cada um deles nos olhos. Via medo em alguns, resignação em outros, e um estranho ódio no líder - Espero que a última refeição que tiveram antes de serem capturados tenha sido proveitosa. Porque quando nossas crianças estiverem alimentadas, vocês serão executados. Ayla-sama já disse que aceitaria fazer isso se eu pedisse. E será de forma rápida e indolor, tenho certeza.

 - Talvez Ayla-san queria verificar se há alguma recompensa por esse daí – disse Kaede apontando para o líder.

 - Se ela quiser ficar com ele, não faço objeções. Não os teríamos se não fosse por ela.

 Deu-lhes as costas e chamou algumas pessoas que ainda empurravam algumas carroças para que os vigiassem e os matassem se tentassem fugir. Em seguida seguiu para o interior da vila, acompanhado da mulher ruiva para participar dos preparativos da refeição que o povo do vilarejo não via fazia muito tempo.

 

 

-x-

 

 

 Balançava seu filho levemente, tentando fazê-lo dormir. Coisa nada fácil com aquele barulho que estavam fazendo. As crianças faziam fila para pegar a sopa que estavam distribuindo. Era na verdade apenas uma entrada para o principal – principal para ela, pois descobriu que o que faziam naquelas mesas colocadas lado a lado era macarrão para um lamen.

 Viu os restos do javali assado ser cortado em pedaços por eles – até os condutores das carroças estavam participando da “festa” – e postos para cozinhar junto com a sopa para dar gosto a esta. Por respeito a eles que estavam há dias sem comida ela não fazia questão de pegar nada ainda – afinal, tinha comido no almoço, eles não – mas o verdadeiro motivo era poder comer lamen feito na hora! Isso era delicioso. Tinha um gosto muito melhor que aquele feito com macarrão seco.

 Ouviu um silvo no ar e olhou para cima. Duas figuras estavam descendo e pousaram cada uma ao seu lado. Deixou-se ser pega por aqueles braços fortes e beijou seu marido loucamente.

 - Eu disse que chegaríamos na hora – disse Ayla que tinha pousado do outro lado dela.

 - Se livrou dele? – perguntou enquanto cobria o rosto de seu marido com a mascara após o beijo.

 - Ainda não. Assim que me afastei percebi Kakashi-san por perto. E qual não foi minha surpresa ao saber que o ultimo ladrãozinho está rodeando a vila. Acho que deve estar procurando uma oportunidade para soltar os companheiros.

 - Que nobre da parte dele – comentou ela – e o que vocês fizeram?

 - Ayla-san prefere esperar para ver o que ele pretende – respondeu Kakashi - Ele podia simplesmente ter fugido.

 - Há quanto tempo você é mercenária? – perguntou demonstrando impaciência.

 - Prefiro o termo “kunoichi independente” – respondeu sorrindo – desde os nove ou dez anos.

 - Mesmo? Pois eu comecei aos treze e não ficava perdendo tempo como você faz. Se não quer matá-lo, o capture logo – disse de forma impaciente – ai já pode interrogá-lo para descobrir o que ele pretende.

 - Ela é sempre impaciente assim? – perguntou para Kakashi.

 - Você nem faz idéia – respondeu sorrindo e se abaixando de um soco de Kaede que ia para o seu rosto.

 - Só não gosto de perder tempo – reclamou ela.

 - Eles estão fazendo lamen? – perguntou Kakashi depois de olhar ao redor.

 - Sugestão minha – ela sorriu – é mais pratico e substancial. Mas tem bolinhos de arroz também. Mas como o lago está sem peixes, não vai ter sashimi.

 - Não se pode ter tudo – buffou Ayla cruzando os braços com desgosto. Pelo jeito ela era fã de sashimi.

 Kaede cheirava o ar sentindo o odor do lamen sendo feito. Era um caldeirão enorme, a verdadeira felicidade para ela. Teria de dividir com os moradores da vila, mas não se importava. Duvidava que não houvesse o bastante para todos.

 - Acabo de me lembrar que não comi nada – disse Kakashi – assim que os adultos começarem a comer vou pegar algo também.

 - Melhor eu te apresentar ao Shino-sama primeiro – disse Kaede – ele não sabe de sua participação nisto tudo.

 - Na verdade, nem eu sei. Apenas encontrei você em uma caravana e um bandido tentou usá-la como refém.

 Ela o olhou semi cerrando os olhos, mas nada disse.

 - Não acredito – murmurou Ayla lentamente. Ela fechou os olhos e Kaede sentiu como se uma brisa emanasse dela por alguns instantes. Também sentiu uma estranha pressão ao mesmo tempo, mas desapareceu em seguida – ele é um idiota.

 - O que foi, Ayla-san? – perguntou Kaede ainda intrigada com o que sentiu antes.

 - Acho que você tinha razão. Eu devia tê-lo matado.

 - Quem?

 Sem responder, ela apenas colocou a mão em sua bolsa e retirou uma kunai, deixando-a erguida diante de si. Alguns segundos depois moveu a mão com a kunai para as costas e bloqueou uma flecha que parecia endereçada a ela. Manteve a kunai assim e mais alguns segundos desviou uma segunda flecha.

 - Mas o que é isso? – disse Kaede se pondo em pé e deixando seu filho no chão, as suas costas.

 - Aquele idiota tem um arco e está tentando me acertar pelas costas – respondeu Ayla ainda de olhos fechados. E se eu for atrás dele agora, uma destas flechas pode acertar alguma destas pessoas em frente.

 Fez outro movimento com a kunai e bloqueou mais uma.

 - Acho que ele ainda tem umas dez flechas...

 - Cuide do Tsuna-kun – disse Kaede para Kakashi saltando para o lado e pegando uma kunai. Concentrou um pouco de chakra nesta e aguardou mais uma flecha ser lançada, para ter certeza de onde estava o atirador das mesmas.

 As pessoas do vilarejo estavam começando a notar o que ocorria ali e algumas se aproximavam. Seu marido – cuidando do filho – tentava mantê-los afastados. Não tinha dúvidas que Ayla podia bloquear todas as flechas, mas evitar que alguma destas fossem em direção as pessoas que estavam atrás dela era outra história.

 Assim que reparou em um brilho a distancia, arremessou a kunai naquela direção. Ouviu vários sons de impacto depois disto, provavelmente de sua kunai atravessando algumas árvores uma vez que estava impregnada com o seu chakra de elemento vento. Alguns instantes depois Ayla se levantou e aproximou-se lentamente ainda de olhos fechados.

 - Eu acertei? – perguntou quando parou ao seu lado.

 - Ele caiu quando sua kunai o atravessou. Vou dar uma olhada – respondeu ela abrindo os olhos.

 Naquele instante sentiu seu coração praticamente parar. Foi só por um momento, mas quando Ayla tinha aberto os olhos ela viu as íris dos mesmos totalmente diferentes. Mas foi muito rápido. Podia ser talvez uma ilusão causada pela iluminação fraca vinda das lamparinas nos postes.

 Observou-a se mover lentamente em direção onde tinha atirado a kunai e pensando no que tinha visto, voltou para junto de seu marido. Ficou feliz ao ver que seu filho ainda dormia tranqüilamente nos braços de seu marido.

 - Algum problema? – perguntou ele preocupado com ela.

 - Ainda não sei – respondeu – Mas minha sensação de antes está se confirmando – ela sorriu levemente ao dizer aquilo.

 - Qual sensação?

 - A que eu senti quando soube que as tarjas explosivas dela eram na verdade fuuinjutsus. Mas acho que é ainda cedo para falar sobre isso.

 Pegou seu filho nos braços novamente e relaxou. Shino tinha se aproximado para perguntar o que tinha acontecido e ela lhe explicou calmamente. E comentou casualmente que achava que Ayla era muito piedosa considerando a situação.

 Quase trinta minutos depois, Ayla voltava carregando o corpo inerte do bandido nos ombros, feito um saco de batatas. Sem dizer nada seguiu até perto dos prisioneiros e o soltou ao chão, deixando-os tremendo de medo. Ela voltou lentamente para onde ela estava, e lhe entregou a kunai que tinha arremessado.

 - Não precisava se incomodar – disse ela.

 - Fiquei curiosa – respondeu a kunoichi de cabelos azuis. No entanto o timbre de sua voz estava diferente. Era um pouco mais impessoal.

 Não pôde perguntar nada a respeito pois ela seguiu para conversar com Shino. Depois de um bom tempo conversando, ela se afastou e foi até os prisioneiros junto com ele. Enquanto ela fazia isso, Kakashi pegou para ela uma porção de lamen e estava comendo ao seu lado. Kaede contudo observava a cena a distancia.

 Viu eles ficarem de pé, alguns sendo forçados por pessoas da vila que os estavam vigiando. Depois disso Ayla pegou algo na sua bolsa e após fazer um movimento lateral com o braço, todos menos um caíram ao chão. O que estava de pé era aquele que tentou usá-la como refém, que tinha dito que o nome era Taso. Os homens começaram a arrastar as pessoas caídas – deviam estar mortas, provavelmente atingidas na cabeça pelas agulhas longas dela, considerando como moveu o braço – e o que estava de pé foi agarrado pela camisa por Ayla e ela disse algo para ele que o deixou branco. Depois disso se afastou retornando para onde ela e Kakashi estavam.

 - É impressão minha ou você matou aqueles homens? – perguntou ela comendo seu lamen.

 - Eu os executei conforme Shino-sama solicitou. Mas Taso virá comigo. Se houver algum prêmio por ele no posto comercial ou no seu clã, eu irei reclamá-lo. Do contrário, o povo desta vila fará a sua justiça.

 Sua voz estava quase sem emoções agora. Talvez aquela kunoichi não estivesse acostumada a fazer aquilo. Seu marido não parecia ter percebido nada.

 - Vou comer alguma coisa e dormir – disse ela – eles vão manter Taso trancado em uma das casas agora abandonadas devido aos ocupantes terem sido mortos pelo bando dele. Quero partir amanhã bem cedo.

 - Boa noite – disse Kaede vendo-a se aproximar do centro da vila para pegar algo para comer.

 Era estranho, mas ela parecia muito pensativa e até chateada. Mas não se preocupou muito com isso. Dormiu junto a seu marido com o filho entre ambos duas horas depois, em outra casa agora abandonada. Enquanto aguardava o sono chegar ficou pensando em Ayla e em sua aparente habilidade em fuuinjutsus e no que lhe pareceu ter visto em seus olhos um pouco antes. Uma vez que estava reconstruindo a Vila do Redemoinho, talvez fosse uma boa idéia trazer de volta todos os clãs que lá viviam.

 No dia seguinte todos acordaram bem cedo. Kakashi estava cuidando de seu filho enquanto ela pegava alguma comida para a viagem que fariam. Sakura já devia ter chego a vila e devia estar maluca tentando saber onde estavam. Mas provavelmente Pakkun também já tinha chego lá e avisado que estariam ali naquela noite.

 Viu Ayla verificando se o seu prisioneiro estava bem amarrado a distancia e andou até ela. Kakashi a seguiu um pouco mais atrás.

 - Bom dia – disse ao se aproximar – dormiu bem?

 - Sim – respondeu simplesmente – e o Tsuna-kun?

 - Ele está ótimo.

 - Que bom. Creio que irá seguir agora para a sua casa, não?

 - Verdade. Já me afastei por demais de lá. Mas acabou sendo proveitoso. Não teria te conhecido se tivesse ficado ali esperando a ajuda chegar.

 Ela pareceu sorrir fracamente. Verificou alguma coisa na sua mochila e a prendeu nas costas.

 - As carroças irão retornar carregadas de pedras – comentou Ayla – portanto vou voltar a pé que será mais rápido. E esse bandido aqui faz algum exercício também.

 - Não tem muitos onde eu vivo – começou ela casualmente – bem menos do que os que vivem aqui.

 Ayla a observou, um pouco confusa com o rumo da conversa.

 - Talvez você possa nos visitar qualquer dia – Kakashi a olhou impressionado, obviamente imaginando se sua esposa iria convidá-la para viver na vila do Redemoinho – você disse que vive sozinha e talvez tenha um espaço para você por lá.

 - Eu não sei se é uma boa idéia – respondeu ela puxando a corda de forma a forçar Taso a ficar de pé. Ela estava muito séria e fria desde o dia anterior. Talvez ter de executar os banditos a pedido de Shino a tenha afetado um pouco.

 - Por que diz isso?

 - Lembra-se que eu disse que tem uma pessoa que estou tomando conta?

 - Sim.

 - Bem – ela a olhou diretamente nos olhos – ele é um garoto de um ano e meio, e é filho de um amigo meu. Um amigo que você matou há quase um ano atrás.

 Kaede arregalou os olhos com o que ela disse. Não havia ódio ou raiva em sua voz, mas estava muito fria e controlada.

 - O nome dele era Asuma – continuou -  Foi morto na cachoeira do rio azul por uma kunai que atravessou sua cabeça e mais duas rochas antes de parar. Isso indica que estava carregada com chakra de elemento vento. E isso aqui – ela pegou duas tarjas de papel de sua bolsa e arremessou para Kaede que as pegou facilmente – são dois conjuntos de digitais que peguei. Um é da kunai que matou Asuma, o outro é da kunai que você usou ontem para matar aquele que disparava flechas. Até onde posso provar, sua mão segurou ambas as kunais. E você usa o fuuton.

 Ela nem olhou para as digitais nos papeis, preferindo manter o olhar em Ayla.

 - Eu me lembro disso – disse ela de forma lenta e controlada – eu o matei sim. Matei um homem em uma cachoeira acertando-o na cabeça há um ano, mais ou menos. Mas nunca soube o seu nome.

 O prisioneiro que estava entre as duas mulheres se afastou um pouco deixando o caminho entre elas livre. Da forma como se encaravam parecia que iriam começar a lutar a qualquer instante.

 Kakashi deu um passo para trás e ficou observando Ayla também, preparando-se para tentar separá-las ou ao menos ajudar a esposa em um combate que parecia eminente.

 - Kakashi-kun, fique fora disso! – disse Kaede sem alterar a voz, mas plenamente consciente do inesperado rumo dos acontecimentos – se eu matei o amigo dela, esse assunto é só entre nós duas. Mas se eu morrer, ainda quero que encontre uma boa mãe para nosso filho.

 - Eu não disse que ia lutar contigo – Kaede ficou surpresa – muito menos que tenho interesse em te matar. Ao menos, não agora. Mas quero saber porque matou uma pessoa cuja arma mais perigosa que possuía era uma enxada.

 - Enxada?

 - Ele era um camponês. E estava trabalhando em uma fazenda perto de onde você o matou. Não sabia nada de arte ninja e desconheço que tenha feito algo para que alguém pusesse a sua cabeça a prêmio. No entanto, a única justificativa que imaginei para tê-lo matado seria se alguém a contratasse ou se você se enganasse de alvo.

 Kaede sentiu uma duvida crescendo dentro de si. Teria ela matado a pessoa errada? Não! Era impossível, não podia ser. Mas era verdade que um ninja teria facilmente se esquivado daquele ataque. Ficou surpresa dele ter morrido sem nem ao menos perceber a kunai se aproximando.

 Kakashi continuava em guarda. Ayla disse que não queria lutar, pelo menos ainda não. Mas agora que tinha perguntado aquilo, seria difícil  saber o que faria quando Kaede respondesse. E considerando que suas mãos estavam sobre o seu cinturão de pergaminhos, ela estava preparada para iniciar um combate.


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Notas finais do capítulo

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