5º Capitulo

-“Vens ver o jogo Inês?” – perguntou-me ele ofegante. Tinha vindo a correr.
-“Não sei João. Mas em princípio vou!” – disse-lhe eu.
-“Ok. Este jogo é muito importante para a escola, e para nós. Sendo da turma devias apoiar…” – tentou dissuadir-me ele.
-“Inês anda. Vamos ver o jogo!” – disse-me a Ana enquanto me arrastava, literalmente, até ao campo.
-“ Até já meninas!” – disse o João já contente por ter mais 2 apoiantes nas bancadas.

Já lá estavam as minhas primas com mais duas amigas. Lembrava-me vagamente dos nomes delas. Acho que a morena se chamava Jessica e a outra a seu lado, também morena, mas um pouco mais baixa e mais pálida se chamava Mónica. Sim… acho que eram esses os seus nomes.
A Carolina fez-nos sinal para nos sentarmos junto delas. O jogo estava prestes a começar, já estavam os “Audazes” no campo a aquecer. Reparei que o Sérgio estava a aquecer com o João e, quando este me acenou algo estranho aconteceu, o Sérgio nem sequer olhou para mim, nem desviou o olhar na minha direcção! Não que me fizesse diferença mas… não era hábito. Nos jogos anteriores ele já tinha vindo ter comigo pedir-me um beijinho de boa sorte e acenado e sorrido para mim. Foi simplesmente estranho.
-“Parece que o Sérgio não te viu prima!” – disse-me a Mariana com um sorriso cínico. Eu gosto muito das minhas primas, mas a Mariana desde que o Sérgio começou a falar comigo, ficou assim comigo: olha-me de lado, responde-me torto, até aposto que se pudesse evitar a minha companhia de certeza que também o fazia.
-“Mariana pára com isso. Caso não tenhas reparado ele também não te viu a ti, aliás acho que ele nunca te vê!”- respondeu-lhe a Ana. Todas se riram devido á ultima coisa que Ana disse.

Com tanta conversa nem nos apercebemos que o jogo já tinha começado.
Os jogos eram sempre uma euforia. 
Ao fim de 3 minutos os Audazes já tinham marcado o seu primeiro golo. Já estávamos em vantagem! Tenho que admitir que a equipa da escola jogava muito bem mesmo. Eram rápidos a defender e ainda mais rápidos a atacar, não perdiam tempo.
-“Estranho Inês , o Sérgio não te dedicou o golo nem nada. Estão chateados?” – perguntou a Carolina.
-" Não Carolina não estamos chateados e ainda bem que ele não fez isso. Não fazia sentido nenhum. Nunca fez!" - disse-lhe eu. 
Já irritava isto dele me dedicar golos. Nem sequer andávamos nem nada. Nem o considerava meu amigo sequer.

Os Audazes já estavam a ganhar por 2 – 0, depois do penalti marcado pelo Sérgio. Ele jogava muito bem e incentiva bastante a equipa. Não admira que fosse ele o capitão. 
-“Uau o Sérgio joga mesmo bem!”- disse a Carolina.
-“E é lindo! Oh meu deus quem me dera…”- suspiravam a Jessica e a Mónica.
-“ FALTAAAAAAAAAAAAAAAAAA! É FALTA PA! “ – gritavam os rapazes que estavam mesmo ao nosso lado na bancada. O seu grito assustou-me o que fez com que entornasse a Coca-Cola em cima de mim. Não consegui deixar de soltar um grito.
-“ Desculpa miúda. Foi sem querer” – pediu-me um rapaz super alto e loiro – tive que levantar a cabeça para o ver.
-“Tudo bem., não faz mal!” – disse-lhes. 
-“Inês e agora? ‘Tás toda suja.” – perguntou-me a Ana meio aflita.
-“Tem calma Ana. Tenho uma camisola no cacifo. Vou só buscá-la e pronto.” – descansei-a.
-“Ah ok. Mas não demores. O jogo está quase a acabar.” – disse-me ela.
Acenei-lhe e desci as bancadas até ao pavilhão B, onde ficava o meu cacifo e, onde tinha uma camisola limpa que era suposto ser para educação física – como me senti mal disposta no outro dia, não tinha feito a aula. Ainda bem! 

Versão do Sérgio

-“Passa a bola Luís!” – Gritei-lhe eu – “Aqui! Aqui!”.
Mal recebi a bola já todos sabiam o que íamos fazer. Era a jogada que tínhamos treinado esta semana. O Luís passava-me, depois eu passava-lhe a bola outra vez , ele simulava que me dava a bola a mim, passando-a ao José e depois a bola vinha para mim , onde rematava e… “ GOLOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!” – quando dei por mim tinha a equipa de futebol toda em cima de mim a festejar. Senti-me tentado a olhar para ela e dizer-lhe “este é para ti!”, mas não o fiz. Iria esquecê-la completamente.
-“Conseguimos Sérgio! A jogada saiu perfeita! “ – dizia-me o Luís eufórico.

O jogo seguia normalmente. Já estávamos a ganhar por 2-0 contra a equipa adversária – a escola secundária de Vila Real de Stº António.
Íamos fazer o 3-0 quando do nada só sinto uma grande dor. 
- “AAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII !” – foi só o que consegui soltar da minha boca.
Sentia uma dor insuportável na minha perna. Quis me levantar, mas não consegui. A dor simplesmente não o permitia. Olhava para cima e só via os meus colegas de equipa á minha volta e os socorristas mais o nosso treinador. Mas só havia uma pessoa que eu queria ver. Os meus olhos procuraram-ma mas não a encontrei em lado nenhum, o lugar ao lado da Ana estava vazio. Ela simplesmente não estava lá. Nesse momento nem sei o que me doía mais, se a minha perna ou se o meu ego. Fechei os olhos tal era a dor.

Versão da Inês

Já tinha vestido a camisola limpa – que alivio.
Fui ter com elas ao campo, onde ficaram a assistir ao jogo. Quando estava a chegar reparei que uma ambulância estava a partir. Comecei a correr, só pensava se teria acontecido alguma coisa às minhas primas ou á minha melhor amiga. Será que se sentiram mal? – corri ainda mais rápido preocupada.
Mas quando cheguei ao campo olhei para as bancadas e lá estavam elas a falar normalmente. Fui me juntar a elas para saber o que se tinha passado na minha ausência.

-“ Então Inês já mudaste de roupa?” – perguntou a Carolina.
-“Já prima. Tinha uma camisola limpa no cacifo, graças a Deus!” – respondi-lhe bastante aliviada – “Mas o que se passou aqui? Eu vi uma ambulância.” – perguntei curiosa e um pouco preocupada.
-“ Parece que o Sérgio se lesionou. ‘Aquele brutamontes da outra equipa…” – começou a Mariana a barafustar.
-“ O quê?!” – estava estupefacta.
-“Sim Inês, o Sérgio sofreu uma lesão mesmo grave. Até aqui em cima de ouviu o grito dele.” – contou-me a Ana mostrando compaixão para com o Sérgio.
“Oh meu Deus.” – foram as únicas palavras que me saíram pela boca. Quando a Ana me contou do seu grito, até me arrepiei, o meu estômago ficou às voltas. Por instantes pensei que fosse desfalecer ali.
-“Inês depois tenho de falar contigo.” – sussurrou-me a Ana ao ouvido.
-“Passa-se alguma coisa?” – a maneira como ela me disse aquilo deixou-me preocupada.

Continuámos a assistir ao jogo, mas eu estava mais que curiosa para saber o que é que a Ana tinha para falar comigo. O que será que ela quer falar comigo? – se curiosidade matasse  eu já estava mais que morta. Primeiro o coitado do Sérgio tinha ido para o hospital e agora ela tinha qualquer coisa para me contar, mas só depois do jogo terminar.
Finalmente acabou. Mas o resultado acabou por não ser muito bom. Com a saída do Sérgio parece que a equipa ficou perdida, desorientada. A nossa escola acabou por perder 3- 2. Resultado que ninguém estava á espera. Mas isso agora não interessava. O que me interessava era saber o que a Ana queria falar comigo.

-“Ai Ana conta lá o que me querias dizer. Vá lá” – perguntei extremamente curiosa.
-“Bem Inês… ‘tás a ver quando o Sérgio se lesionou…” – começou ela meio nervosa.
-“Eu não estava aqui Ana.” – lembrei-lhe eu.
-“Pois. É exactamente isso. Tu estavas … Bem… Tu não estavas…Olha Inês vou ser muito directa.” 
-“Ai Ana estás a deixar-me nervosa. O que se passa?” – perguntei-lhe. Estava mesmo a ficar nervosa e confusa com todo este nervosismo da parte dela.
-“Oh Inês quando o Sérgio se lesionou, eu reparei numa coisa. Ele…”
-“ Ai Ana diz!” – exigi um pouco histérica.
-“Ai. Ele procurou-te.” – disse-me ela de uma vez
-“Ana como é que ele me procurou? Não faz sentido.”
“Inês eu vi os olhos dele á tua procura. Os olhos dele finalmente encontraram-me mas tu não estavas ao meu lado e,… bem devias ter visto a cara dele. Ele ficou tão triste por não estares ali.” – disse-me ela.
-“Ana qual é o objectivo desta conversa?” – perguntei eu já um pouco aborrecida. Agora também ela ia começar com estas coisas sobre o Sérgio?
-“Eu começo a achar que ele gosta mesmo de ti Inês. Apenas isso. E o olhar dele partiu-me o coração. Com tanta gente á volta dele, ele só te procurou a ti.” – começava ela a falar muito lenta e pausadamente.
-“Ana como pode ele gostar de mim? Ele nem me conhece. E alem disso a minha prima já me avisou sobre ele. Já me disse que ele é um mulherengo. Eu não quero nada com ele e seria bom que também não começasses com gracinhas sobre o Sérgio.” – Já estava a ficar um pouco irritada.
-“Oh Inês não é nada disso. Apenas me partiu o coração ver que ele te procurava e não te encontrou. Foi horrível o grito que ele deu, ninguém estava á espera. E também não devias ir muito pelo que a tua prima Mariana diz Inês.” – disse-me .
-“Oh Ana que queres dizer com isso?” – hoje o dia estava óptimo para surpresas.
-“Toda a gente sabe que o Sérgio já namorou quase com a escola toda, mas essa lista infinita de namoradas inclui a tua prima. Se calhar ela ainda gosta dele, e por isso é que tenta afastar-te do Sérgio dizendo essas coisas. 
-“Ana a minha prima não é assim. Ela é uma boa pessoa.” – não gostava nada de suposições, muito menos sobre a minha família.
-“Ok Inês. Só te estou a dar a minha opinião. Não quero que isso interfira na nossa amizade ok? “ – perguntou
-“Ok. Vamos embora? Estou farta de escola por hoje.”