Versão do Sérgio

Segunda - feira.

 Nem acredito que as minhas férias terminaram. As festas, o sol, o mar, o surf, as babes, parece que tudo isto foi há séculos. Agora espera-me um novo ano lectivo.

Levantei-me num salto (conformado com o meu destino rotineiro) e fui tomar um duche para me preparar para o meu primeiro dia de aulas - outra vez. Vesti umas calças de ganga normais e uma camisa que eu adorava, arregacei as mangas e calcei os meus ténis.

"PERFEITO! "- pensei para mim. Estava pronto para arrasar corações mais um ano. Quer dizer, eu era um tipo giro e, parece que bastava olhar para uma rapariga para que esta se interessasse por mim e quisesse ficar comigo para sempre. Claro que era impossível, e , um mês foi quanto durou a minha mais recente relação.

Hoje é o primeiro dia de aulas e mal posso esperar para me encontrar com o pessoal, contar –lhes como foram as minhas férias e as miúdas lindas. Ai minha nossa, as miúdas lindas que conheci. Há que me gabar, afinal tenho mesmo razões para isso, modéstia a parte.

Mal cheguei á escola avistei logo o João.

– “Então meu tudo bem? Essas férias?”

-“Ah já sabes como é! Foi curtir até mais não!” – Rimo-nos. Este puto era demais. Considerava-o como um amigo, um dos poucos. Tanta popularidade fez com que conhecesse muitas pessoas, mas não sei se gostam mesmo de mim ou só querem ser “os Amigos do Sérgio!”. Enfim… acho que podia viver com isso.

-“Sérgio, Sérgio, anda cá quero que conheças a minha prima, ela é nova cá!” – gritou a Mariana ao longe. Já tinha namorado com ela. Ela era uma miúda fixe, mas não era para mim.

-“Olá Mariana. Ok.ok. apresenta-me lá á tua prima!”. – Confesso que estava curioso, a Mariana era linda, como será a sua prima?

-“Inês, este é o Sérgio. Ele também é da nossa turma!” – assim que lhe vi o rosto, só um pensamento me preencheu a mente:” Uau  a miúda é mesmo linda!”

 Tentei meter conversa com ela, mas fogo… a miúda é difícil. Se duvidasse das minhas capacidades, iria pensar que não lhe despertei nenhum interesse. A nossa conversa mais pareceu um monólogo.

Graças a Deus que deu o toque de entrada.

*  *  *

Versão da Inês

Segunda-feira.
Finalmente as férias terminaram. Não iria aguentar por muito mais tempo ter que encarar a cara da minha mãe e da minha avó. O seu sofrimento deixava-me tão… tão, tão sem reacção, sem saber o que dizer ou fazer, parece que qualquer coisa só iria piorar a situação. Por isso, acabava sempre por chamar a Fá - a minha cadelinha linda: era branca como a neve e muito meiga - e ia com ela dar um passeio pela rua, ao menos sempre me distraia.
Desde que o meu pai faleceu que eu e a minha mãe já não falávamos tanto, e sem dúvida já não nos riamos como antes o fazíamos - Paula era tão divertida e agora estava sem vida. Era muito duro, ela dizia que sempre que olhava para mim, eu lhe lembrava o meu pai – os mesmos olhos, o mesmo cabelo preto e liso, até o mesmo feitio difícil. Ao mesmo tempo isso deixava-me contente, saber que tinha tantas semelhanças com a pessoa que a minha mãe mais amou na vida, mas, sei que isso também tornava tudo mais difícil para ela.
Por isso decidi ir viver com a minha tia Dalila e com as minhas primas em Tavira. Iria ausentar-me por uns tempos – achei que seria uma boa solução, tanto para mim como para a minha mãe. Ia custar-me estar ausente da casa onde cresci, das memórias que a minha casa guardava e, principalmente, iria custar-me as saudades que ia sentir da minha mãe e da minha avó, até da minha Fá, não a podia levar comigo, as minhas primas tinham medo de cães, dando preferência aos felinos caseiros – os gatos. UFF – manias!)

*  *  *

Hoje é o primeiro dia de aulas na minha nova escola – prometi a mim mesma que seria um novo começo, um novo capitulo na minha vida.
 As minhas primas – Carolina e Mariana - prometeram ajudar-me no que fosse preciso. A mariana frequentava a mesma turma que eu – 11º A , confesso que tal me deixou um pouco aliviada, ao menos iria conhecer a minha colega de carteira. Mas não me importava de ter Carolina também na minha turma, ela era uma rapariga tão querida, tão amigável, era fácil estar com ela, mesmo não falando muito, era uma companhia agradável (nunca tive grande contacto com esta parte da família, não que a viagem de Lisboa ao Algarve fosse muito longa, apenas nunca calhou, mas eu adorava a minha prima Carolina. Ela tinha 16 anos e estava no 10ºano. Era uma pena não podermos ser colegas de turma. Enfim…

A escola não era muito diferente daquela onde eu andava: pavilhões quadrados, campo de futebol, fonte com peixes, o habitual – ah e claro, muita gente.

As minhas primas fizeram-me uma visita guiada pela escola – agora eu era oficialmente a miúda nova! Apresentaram-me alguns amigos seus e alguns dos que seriam os meus colegas de turma. Claro que teria de perguntar á minha prima quais os nomes de cada um, pois já não me lembrava de todos. Lembrava-me vagamente de uma rapariga alta e loira chamada Ana, e de um rapaz chamado Sérgio, também ele era alto e muito bonito, mas isso ele já sabia, talvez por esse motivo é que fosse tão atrevido e falador.

Graças a Deus que deu o toque de entrada.

Cá vou eu para a minha primeira aula em Tavira – História! Ai ai…