Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira
Quando Mabel retornou ao hotel, encontrou Melanie chorando e indagou:
— O que houve, mãe? Aconteceu alguma coisa com a Ellie? – sentindo o coração acelerar.
— Não, Ellie está dormindo.
— Então, o que aconteceu? – conseguindo respirar melhor.
— Se eu te contar, você nunca vai me perdoar.
— Está me deixando nervosa, fale de uma vez.
— Você ama o seu pai muito mesmo, não é?
— Claro que sim. Se está chorando pela doença dele, eu já sei. Mas, ele vai ficar bom, eu vou doar o meu rim para ele...
— Não! Você não pode doar!
— Claro que posso, sou a filha dele...
— Não é! – despejou Melanie, chorando ainda mais.
— Como não sou? Você vive jogando na minha cara que herdei o tipo físico acima do peso dele.
— Gibby foi o melhor pai que eu pude te dar, queria eu que você fosse tão boa quanto ele, que realmente tivesse herdado algo dele, nem que fosse os quilos a mais. A verdade é que você é gorda porque come demais! Nunca enquanto comia normalmente! Gibby não tem o seu sangue. Não te deu a genética, deu-te um amor maior do que eu já fui capaz de te dar.
— Você me enganou esses anos todos?
— Não! Eu não tinha certeza de nada. Havia uma probabilidade de Gibby ser mesmo o seu pai de sangue. Eu procurava semelhanças dele em você, como os quilos a mais, talvez. Eu sempre quis que ele fosse o seu pai e não o outro. Mas, hoje a sua tia me contou algo que derrubou todas as minhas dúvidas. Mabel, o seu sangue é mesmo B positivo?
— É sim.
— Gibby não pode ser o seu pai, é incompatível – tampando o rosto em prantos.
— Eu tenho 23 anos e agora vem me dizer que o meu pai não é o meu pai?
— Não, Bel! O Gibby sempre será o seu pai, isso ninguém pode mudar, nem eu com a minha conduta temerária, com o meu erro irremediável do passado. Você não poderá salvar a vida dele, mas ele será seu pai para sempre, afinal, ele fez por merecer, ele te criou com todo o amor e isso vale mais do que a genética, não é mesmo?
Mabel caiu em prantos, Melanie tentou abraçar a filha, que se esquivou:
— Não toque em mim!
— Eu te amo, Bel! Apesar do meu erro! Entendo que não possa me perdoar agora, mas espero que um dia possa me entender...
— Eu não quero cometer o mesmo erro que você!
— Você não cometeu. Nunca escondeu de Cris a paternidade da Ellie.
— Mas, eu fiz coisa muito pior com o Cris e preciso consertar.
Mabel saiu apressada. Pouco depois estava tocando a campainha do apartamento de Cris e Isabelle, e esta atendeu:
— Mabel? No que posso ajudá-la? – percebendo o semblante transtornado da prima.
— Eu quero falar com o Cris.
— Ele não está.
— É importante, não vim para brigar...
— É verdade, ele não está. Foi chamado na Marinha, parece que houve um problema com uma embarcação e ele teve que ir ajudar às pressas. Mas, você pode entrar e se sentar, esperar por ele.
Mabel aceitou o convite e caminhou até o sofá, onde se sentou sem cerimônia, inquieta.
— Quer um chá? – perguntou Isabelle.
— Não, obrigada.
— Aconteceu alguma coisa com a Ellie?
— Não.
— É assunto particular, tudo bem...
— O Cris vai demorar?
— Eu não sei. Posso tentar ligar para ele e... ai! – Isabelle se agachou sentindo uma forte dor no baixo ventre.
Mabel se assustou e foi amparar a prima, perguntando:
— Onde é a dor?
— Aqui – mostrou Isabelle apontando a parte mais baixa da barriga.
— Dói em mais algum lugar?
— As costas.
— É uma pontada contínua ou vai e volta?
— Vai e volta.
— Vamos contar. Deu pontada agora?
— Agora não.
— Diga quando der.
— Agora! Ai!
— 1, 2, 3...
— De novo! Ai!
— São contrações! Eu passei por isso no parto da Ellie. Tua bolsa da maternidade tá pronta?
— Sim, no meu quarto! Em baixo da cama.
— Vou lá buscar. Vai chamando o Uber, vamos para a maternidade.
Mabel voltou correndo com a mala da prima e perguntou:
— Chamou?
— Não. Eu posso ir dirigindo – com a chave na mão.
— Nem pensar – falou Mabel, pegando a chave da mão de Isabelle – Então, eu vou.
Mabel saiu guiando o carro da prima, enquanto esta, ao lado, gemia de dor.
— Estourou a bolsa? – perguntou Mabel, parada no sinal vermelho, preocupada.
— Não, eu ainda estou no oitavo mês, estou com medo de perder os meus filhos ou, pior, morrer e deixá-los.
— Nada disso vai acontecer. Você é uma Puckett, somos boas parideiras. Não é a sua mãe que diz isso?
— Sim.
— Vai ficar tudo bem, eu prometo, vamos chegar bem rápido ao hospital.
Assim que abriu o sinal, Mabel acelerou e Isabelle protestou:
— Com esse susto vou acabar tendo os gêmeos aqui mesmo.
— O carro é seu mesmo, se sujar nem ligo – provocou Mabel, rindo.
As duas chegaram à maternidade e a atendente pediu à Mabel:
— A senhora é a segunda mãe da criança?
— Não, é a minha prima e a madrinha – apressou-se a responder Isabelle.
Mabel olhou para ela e sorriu, tocada pelas últimas palavras da prima.
— Desculpe, é que o número de casais homoafetivos aumentou por aqui.
Mabel falou:
— Os bebês têm um pai e não sou eu - rindo.
Isabelle constatou:
— o Cris não sabe que estou aqui!
— Vou encontrá-lo nem que seja no inferno, não se preocupe.
Isabelle logo foi encaminhada ao médico, que fez os primeiros exames e constatou a gravidade da situação:
— Você tem contrações tendentes a expulsar os bebês precocemente, a bolsa vai se romper a qualquer momento, mas, não estão em posição de nascer, vai ser preciso fazer uma cesariana de emergência, porque eles podem ficar sem oxigenação.
— Salve os meus filhos, Doutor! Pelo amor de Deus!
— Vai dar tudo certo, senhorita Benson. Tem acompanhante para o procedimento?
— Só a minha prima está lá fora. Meu noivo ainda não chegou.
— Quer que ela entre?
— Sim.
Mabel entrou avisando:
— Já falei com os seus pais e estão a caminho. Cris está embarcado, mas entrei em contato com o Comando dele, ficaram de avisá-lo assim que desembarque.
— Eu sentia que Cris não estaria presente para receber os filhos.
— Ele estará, calma que dará tempo para tudo.
— Eu já vou entrar, estou com medo. Você vem comigo?
Mabel segurou a mão da prima e disse convicta:
— Vai dar tudo certo e eu estarei lá com você. O primeiro que nascer será o meu afilhado, fechado?
— Fechado!
Isabelle foi encaminhada ao centro cirúrgico, junto com Mabel.
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