Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira
A cia de Ellie naquela tarde deu novas cores à vida de Isabelle em tons mais claros e alegres. A pequena conseguia puxá-la para fora de um mundo que havia se tornado muito nublado, como um pequeno raio de sol.
As duas brincaram de boneca, assistiram a desenhos, desenharam juntas e prepararam pizzas, as quais saborearam em seguida.
Cris foi buscar a filha à noite, após o trabalho. Ellie agarrou-se ao pescoço de Isabelle, no colo, pedindo para ficar e dormir com a prima.
— Deixa, papai – pediu a pequena em tom choroso.
— É, deixa papai – concordou Isabelle, sorrindo.
— Ela já te deu bastante trabalho por hoje, não quero que tome sua noite também – expôs Cris, pegando a filha no colo.
— Na verdade, Ellie não me deu trabalho hoje, ela só me deu alegria. Se você não se importar, eu também gostaria de ficar com ela essa noite. Podemos fazer a noite do pijama das meninas, não é Ellie?
— Eba! – comemorou a pequena, jogando-se de volta para o colo de Isabelle.
— Bom, diante disso, o que posso dizer? Apenas que vou pegar o pijama e a escova de dentes dela.
Cris voltou com todo o necessário e já vestiu o pijama na filha, perguntando para Isabelle:
— Quer que eu escove os dentes dela também?
— Não é necessário, posso fazer isso mais tarde. Ainda vamos assistir a um desenho comendo pipoca!
Cris reparou que um brilho voltou a aparecer nos olhos de sua amada. Entristeceu-se ao percebê-los tão opacos no reencontro do dia anterior. Ele sorriu e falou:
— Está bem, então. Aproveitem o desenho e a pipoca! – dando um beijo na cabeça de Ellie e preparando-se para sair.
— Assiste desenho, papai – pediu a menina.
— Não quero atrapalhar a noite do pijama das meninas.
— Só atrapalha porque não está usando um pijama. Se arrumar um, nós deixamos você participar, não é Ellie? – perguntou a loira para a pequena.
— É – concordou Ellie, rindo – Coloca pijama, papai.
— O que seus pais vão pensar me vendo entrar aqui de pijama? – perguntou à Isabelle.
— Nem vão ligar, especialmente porque estão de saída. Hoje eles têm um jantar chique de um colega de trabalho do meu pai.
— Sendo assim, estou tentando a aceitar.
— Corre lá e volta de pijama logo.
Cris estava saindo de pijama quando Carly estranhou:
— Pegou a mania do seu pai de sair de pijama?
— Vou ao apartamento da Belinha de pijama e não à padaria, como o papai – rindo.
— Vai ao apartamento da Belinha desse jeito? Isso é ainda mais esquisito.
— Eu discordo. É a noite do pijama!
Ele abriu mais um grande sorriso e saiu. Carly sorriu também, contente com a reaproximação de Celle.
Ellie já estava escolhendo o desenho na tela da TV quando Cris chegou, de pijama e animado, sentando-se ao lado de Isabelle no sofá.
— Eu quero a Bela e a Fera – escolheu Ellie.
Isabelle pegou o controle e colocou no desenho eleito. A pequena sentou-se entre Cris e a loira.
O desenho estava perto do final quando a menina adormeceu com a cabeça no colo de Isabelle e os pés no colo de Cris.
— Levamos ela para cama? – perguntou Cris.
— Tá quase no final e ela está bem acomodada. Apesar de ter assistido a esse desenho muitas vezes, gosto muito e o vejo até o final, como se fosse a primeira vez.
— Faz sentido.
— Como assim?
— Você se identifica com a personagem, até no nome – rindo.
— Isso é bom?
— Isso é ótimo! A Bela é linda, forte, independente, corajosa e muito inteligente. Mesmas qualidades que você possui.
— Você acha mesmo tudo isso de mim?
— Isso e muito mais! Belle, eu te admiro muito.
Os dois trocaram um olhar profundo, quebrado por Ellie, que começou a balbuciar:
— Mamãe... mamãe...
Cris fechou a expressão e disse:
— Ela chama pela mãe todas as noites. Mabel nem liga para saber da filha.
— Mabel foi abandonada na mesma idade de Ellie, deveria ter mais empatia.
— Mas, melhor não entrarmos em julgamento, talvez esteja internada e sem acesso ao mundo exterior.
— Talvez.
O filme finalmente acabou e Cris pegou Ellie cuidadosamente no colo para deitá-la na cama de Isabelle.
A loira acomodou-se na cama ao lado da pequena e Cris cobriu as duas, dizendo:
— Vou apagar a luz quando sair, tenham uma boa noite.
— Não vai dar um beijinho na Ellie?
Cris aproximou-se e beijou a filha, adormecida, na bochecha, depois se aproximou da face de Isabelle. A moça esperou o beijo no rosto, mas o recebeu nos lábios.
Ele foi rápido ao encostar seus lábios nos dela, não aprofundou, tampouco abriu a boca. Cessou o beijo antes que ela pudesse protestar, saindo rapidamente do quarto, após apagar a luz.
Isabelle sentiu o coração acelerar com a pequena ousadia dele. Não conteve um sorriso bobo, antes de se acomodar na cama e abraçar Ellie, adormecendo em seguida.
No dia seguinte, quando Cris foi buscar a filha para levar para a creche, Isabelle fez a proposta:
— Eu posso cuidar dela à tarde, assim sua irmã terá mais tempo para se dedicar aos estudos.
— Mas, não será muito trabalho pra você?
— Bom, estou desempregada, e Ellie torna meus dias mais felizes. Será um prazer e não um trabalho.
— Está bem, ela pode ficar com você, até que te chamem para um emprego. Tenho certeza de que uma profissional como você não vai ficar muito tempo sem trabalho.
— Valeu pela força.
— Valeu também.
Os dois trocaram um sorriso. Cris piscou para a moça e saiu levando a filha.
As semanas foram passando... Isabelle e Ellie estavam cada vez mais unidas e, consequentemente, Cris também estava mais perto, mas, nada mais havia tentado desde a noite do beijo roubado.
Certo dia, Isabelle ensinava as vogais para Ellie quando a pequena falou naturalmente:
— Eu já aprendi todas as letras, mamãe!
Isabelle sentiu os olhos encherem-se de água e abraçou a pequena comovida. Porém, voltou à realidade e sabia que não poderia encorajar a menina a chamá-la de mãe, quando Mabel era a sua mãe, dizendo:
— Eu gostaria muito que você fosse a minha filhinha, mas a sua mamãe é a Mabel, lembra?
— Ela foi embora, não gosta mais de mim. Você não quer ser a minha mamãe agora? O meu papai também gosta de você.
— Era o que eu mais queria, meu amor. Mas, Mabel será sempre a sua mamãe e mais ninguém pode ocupar o lugar dela.
— Mas, quando ela vai voltar?
— Eu não sei querida. Mas, ela vai voltar! Ela ama você, acredite nisso.
— E eu amo você – dando um beijo no rosto de Isabelle.
— Eu também te amo, bonequinha – beijando a face de Ellie.
Sam começou a se preocupar com o apego excessivo de Isabelle com Ellie, chamando a filha para uma conversa:
— Belinha, você não é a mãe da Ellie. Ela tem uma mãe e uma hora ela vai voltar.
— Eu sei disso, mãe. Eu sou só a prima que tá quebrando um galho para o pai dela, por enquanto.
— Seu racional sabe, mas seu coração não. Você cuida dessa menina como se fosse sua filha, você já a ama como filha. Imagine como irá sofrer quando tiver que se afastar dela.
— O que sugere que eu faça? Que diga a Cris que não poderei mais passar a semana com ela?
— Não. Eu mesma cuidei da Mabel quando Melanie a largou e vejo isso com bons olhos. Mas, eu senti quando Gibby a levou, mesmo sabendo que era o certo, não quero que sinta o mesmo. Você já sofreu tanto!
— Então não estou entendendo o que quer.
— Cuide da menina, mas, não faça dela o centro da sua vida, como tem feito. Você até parou de procurar um emprego.
— Eu já procurei bastante, já nem sei mais para onde mandar currículo. Uma hora vai vir uma resposta.
— Esperando sentada não acontece nada! Vá fazer uma pós, uma especialização, enfim, melhore a sua qualificação.
— Com que dinheiro?
— Seu pai pode pagar.
— Não vou pedir para o meu pai pagar alguma coisa pra mim. Sou adulta!
— Será um investimento do seu pai para que você possa ser independente e totalmente adulta.
— Entendo o que quer dizer.
— Então, chega de orgulho, aceite que seu pai lhe ajude na sua especialização. Volte a estudar e cuide de Ellie nas horas vagas, lembrando sempre que ela não é sua.
A moça sabia que a mãe tinha razão e começou uma busca na internet dos melhores cursos para especialização na sua área de formação. Mas, o fato de ter que se lembrar a todo momento de que Ellie não era sua, realmente lhe doía.
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