Pandora se surpreendeu com o enorme casarão que se formava à frente. Bem largo, ocupando uma enorme área, a grama era bem aparada, com alguns estudantes do colégio e gente de outras escolas também, todos correndo com roupas de banho.

—Trouxe roupa de banho? - perguntou Ingrid.

—Não sabia que teria piscina.

—Eu sabia, mas não trouxe - Disse a amiga, sorrindo com certa malícia. - É mais divertido sem biquíni.

Pandora pensou em realizar a visão no sonho e vir com o vestido azul, mas quis ser mais clássica. Casaco, blusa por baixo e calça jeans. Ela podia mudar um sonho. Trazia a Caixa dentro de uma bolsa. Visitará aquele beco após a festa.

A entrada estava lotada, as duas meninas se espremeram entre os convidados, passaram pela sala e chegam à cozinha, recheada de copos descartáveis e latinhas abertas e amassadas. Os jovens bebiam, comiam e beijavam, uma combinação que causava estranheza para Pandora.

—Olhem quem chegou! Ingrid e Isadora - gritou Juliete. - Meu casal feminino preferido!

As pessoas ao redor de Juliete gritaram junto com a moça. Pandora fechou a cara enquanto Ingrid riu nervosa.

—Que foi, Isadora? Não faça cara feia, Leo pode não gostar - disse sarcasticamente.

—Não precisa pegar tanto no pé dela - defendeu Ingrid.

—Desculpa, vou pegar mais na mão também - retrucou, mantendo o sarcasmo. - Ou nos peitinhos, ela pode gostar.

Pandora revirou os olhos e saiu da cozinha sob risadas. Ingrid a seguiu, mas logo a perdeu de vista. Pandora se encontrava no jardim, na parte traseira do casarão. Observava os adolescentes se divertindo com mais beijos e jogos.

Ela se sentia deslocada da festa, como se este não fosse o lugar em que deveria estar. Sempre ansiou pela primeira ‘festinha adolescente’ que participaria e finalmente estava em uma, mas não era como imaginava. “E como eu imaginei que seria? Acorda, eu sou tímida demais para festas”.

—Ei. - Alguém a chamou e, de repente, o sentimento de deslocamento desapareceu. Leo a encontrou. - Que bom que veio!

—Sim - respondeu, tímida. - Precisava me divertir um pouco.

Leo estava apenas com um calção de banho e uma toalha no ombro. Ele não tinha muitos músculos, era bem magro. Pandora esboçou um sorriso fraco e sem graça.

—Que foi?

—Nada, eu costumo pensar muito.

—Leo! Pula e faz um tchibum! - gritou alguém na piscina, mas o rapaz ignorou.

—Podemos conversar agora se quiser.

—Não, eu… Preciso ficar sozinha um pouco.

—Vai ser difícil. Anime-se, é uma festa.

Com um sorriso, Leo saltou na piscina encolhendo as pernas. Recebeu aplausos.

Pandora sorriu de leve, mas logo desapareceu com o empurrão recebido por trás. Não caiu, mas sentiu o peso do braço de Juliete lhe agarrando.

—Desculpa, Isadora. Eu implico contigo, mas gosto de você tanto quanto gosto de torrada.

—Puxa, me sinto honrada - retrucou Pandora, sarcástica.

—Não sinta, eu não gosto de torrada. Enfim, sendo sincera, eu te jogaria na piscina agora, mas quero passar uma boa impressão. Então, eu te empresto um biquíni, você vai lá e se joga na piscina. Que tal?

—Não posso, sou alérgica a cloro - mentiu.

—Fala sério, que desculpa patética! - Juliete gargalhou. - Aposto que ficaria sexy num biquíni que tenho.

Ingrid se aproximou das duas, rapidamente puxando Pandora. Juliete se despediu com um aceno e mais uma provocação.

—Vamos embora - suplicou Pandora. - Preciso ir a um lugar, quero você comigo.

—Acabamos de chegar.

—É importante, Ingrid.

—Quero me divertir hoje, Pandora.

—Por favor.

Ingrid negou com a cabeça e se distanciou. Pandora ficou triste, mas não surpresa. Não podia esperar menos da amiga. “Menos amiga do que nunca”.

Pandora ergueu o capuz do casaco e caminhou para longe do jardim, rumo ao portão de entrada. O beco não era tão longe, pode chegar em uns 15 minutos andando. “Melhor do que ser uma pateta”.