Eu sentei no chão e encarei as duas peças de roupa e podes não acreditar, mas me imaginei nelas, direitinho. Fiquei horrível com ambas. Sabia que o espelho ao lado concordaria comigo.

 Podia inventar diversas desculpas que já estavam na ponta da língua de tão repetidas, mas era inevitável pensar no motivo real para tudo aquilo: não sou bonita.

Pode chamar como quiser, inclusive drama de mocinhas mimadas de filmes, falar que fico bem de qualquer jeito e mandar eu ter um pouco mais de amor próprio, mas, meu anjo, onde se compra amor próprio?

É como drogas vendidas secretamente? Objetos valiosos para quais existem grandes redes de contrabando?

Quem pode me fornecer? Você pode me dar isso ou deveria nascer com? É mais uma coisa errada em mim? Mais um defeito?

Não consigo me amar.

Porque cada vez que chego perto de fazê-lo alguém faz questão de vir e ser sincero, me lembrando que não sou bonita e nenhuma roupa mudaria isso. Nada mudaria.

É assim que não importa quantos elogios eu receba, sempre irá haver mais ofensas e então eu irei sentar e chorar vendo duas peças lindas que deixariam qualquer um bonito, mas ficariam horríveis em mim.