Solo Per Me escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 5
Anéis, palavras, canções & labirintos


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas!
Bom, eu falhei feio no desafio, mas ainda quero terminar Solo Per Me.
Então espero que gostem!
Especial para Lua Scarlet que deixou uma recomendação maravilhosa. Obrigada, Sweet!
Boa leitura!



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Tudo o que poderia dar errado, deu.

Essa foi a impressão de Thalia enquanto tentava resolver todos os problemas antes da cerimônia de casamento de Jason e Piper. Problemas que iam desde um véu danificado, até a falta de algumas madrinhas que haviam se empolgado demais na despedida de solteiro. Isso tudo sem falar na chuva, claro.

O casamento estava marcado para acontecer ao pôr-do-sol no jardim da mansão dos McLeans, a família de Piper. No entanto, quando o céu da Califórnia foi manchado por nuvens densas e cinzentas, Thalia só queria acordar e descobrir que tudo aquilo não passava de um pesadelo.

— Vai dar tudo certo. — Nico entoou com uma calma que estava deixando a amiga ainda mais nervosa. — A casa é grande o suficiente pra caber todo mundo se chover, mas sei que não vai. Achei que você controlasse as tempestades, amore!

Thalia apenas revirou os olhos, lembrando das brincadeiras da infância, quando fingiam que eram super heróis e sempre brigavam pelos melhores poderes. Thalia adorava ser a “Tempestade” de X-Men.

No final, Nico não estava errado. Tudo “deu certo”, ou melhor, “tudo valeu à pena”. Foi essa a sensação que Thalia teve ao olhar para Jason no altar, os olhos azuis claros lacrimejando ao ver a noiva se aproximando com a marcha nupcial.

Thalia nunca foi de se emocionar, mas aquele casamento havia sido uma maravilhosa exceção. O amor transbordava a cada gesto e palavra de Jason e Piper, a cada olhar que trocavam e Thalia se viu tentando conter uma lágrima quando cada um começou a proferir seus votos.

Ela sentiu uma mão deslizar pela sua e seu olhar se dirigiu para Nico, ao seu lado. A tradição era que as madrinhas ficassem à esquerda, junto com a noiva, e os padrinhos à direita. Mas Jason e Piper nunca foram de seguir tradições e eles haviam dito que “se recusavam a separar Thalia e Nico”, mesmo que isso significasse “segurar vela no próprio casamento”.

Então os padrinhos entraram em casais e, mesmo que Leo fosse o par de Thalia, eles haviam se organizado para que ela ficasse entre ele e Nico.

E, agora, quando seus olhos se encontravam, Thalia não podia deixar de sentir seu coração acelerar e de sorrir, vendo o melhor amigo se aproximar mais, inclinando a cabeça.

Sposami. — Nico sussurrou em um tom doce e Thalia demorou um segundo para traduzir, surpreendo-se: “case-se comigo”.

— O que?! — Ela sussurrou de volta em seu idioma materno, surpresa demais para usar o italiano.

— Em nosso mundo. — Nico completou baixinho. — Seja minha de um jeito só nosso.

— Neeks… — Thalia o olhou nos olhos, ouvindo Jason e Piper declararem seus votos. Não sabia bem o que ele estava pedindo, não sabia bem o que viria a se tornar o relacionamento deles, mas podia ver nas írises escuras que ele a queria, que aquele era um convite para deixarem a resistência de lado. E ela queria o mesmo. — Sim.

Se viu concordar e Nico deu o sorriso favorito dela, seus olhos se fixando nas mãos próximas, roçando uma na outra, quando Nico abriu a palma antes fechada. Havia um pequeno anel ali, prata cercando uma pedrinha azul, como uma aliança.

Sii mia. — Nico pediu, “seja minha”, e Thalia sorriu, deixando-o deslizar a delicada jóia em seu dedo anelar, entrelaçando suas mãos em seguida.

Nico pôs a mão esquerda sobre as mãos unidas e o anel de prata, que ela havia lhe dado há poucas semanas, pareceu brilhar como se fosse uma aliança.

Sii mio

Thalia pediu em um sussurro, erguendo o rosto para encontrar os olhos de Nico e apertando suas mãos unidas ao receber um sorriso e um beijo no topo da cabeça, vindos de Nico.

Sono tuo. — Ele declarou, ao mesmo tempo que Jason e Piper celebravam a união com um beijo aclamado por todos.

 

(...)

 

Como em toda boa mansão de astro de Hollywood — o que o pai de Piper era —, o jardim da mansão McLean possuía beleza própria e, ao se acrescentar a bela decoração de casamento, havia se tornado um dos lugares mais belos e românticos que Thalia havia estado.

Tudo estava enfeitado em azul marinho e rosa nude, incluindo o vestido claro de Thalia, um modelo longo e delicado de renda, como era o protocolo das madrinhas, e os ternos azuis dos padrinhos, acompanhados de gravatas cor-de-rosa.

O céu, felizmente, havia dissipado parte das nuvens com a presença do crepúsculo. Não havia estrelas, no entanto, toda a ausência delas havia sido suprida com as luzes coloridas e as velas sobre cada mesa, deixando o clima ainda mais aconchegante.

Pequenas lâmpadas serpenteavam o piso de pedra entre a grama recém aparada, várias iluminando o caminho até a área favorita de Thalia naquele jardim: Um labirinto de plantas vivas, cobrindo a distância de meio campo de futebol americano com paredes de dois metros de altura e lâmpadas penduradas, enfeitando e convidando os convidados a explorá-lo.

Isso fazia Thalia se lembrar do filme da Barbie Rapunzel, mas achava o labirinto estranhamente adorável, principalmente depois de tê-lo explorado e descoberto o que escondia no centro.

Jason havia dito que o labirinto foi enfeitado por dentro, com mais lâmpadas e flores guiando os casais até o meio, e Thalia fez uma nota mental de verificá-lo depois. Assim que conseguisse sobreviver à sua mãe.

Thalia amava a sua família, sempre amou, mas juntar Beryl e bebida sempre havia sido sinônimo de constrangimentos e dor de cabeça. E, no casamento de Jason, não parecia ser diferente. Felizmente, ela estava tomando poucas taças de champagne com os conselhos de Maria, no entanto, isso não significa que mediria palavras.

— O que vocês tanto cochichavam no altar?— Beryl sibilou se aproximando deles e Thalia já estava amaldiçoando o irmão por tê-la deixado na mesma mesa que a mãe e os Di Angelo, além de Leo.

— Eu só estava pedindo Thalia em casamento. — Nico disse com simplicidade, sorrindo como se não fosse nada.

— Você não deveria ficar nos iludindo assim. — Maria brigou com o filho, balançando a cabeça em reprovação. — Sabe que sonho com esse casamento há anos!

Thalia encontrou o olhar de Bianca, a sobrancelha da italiana erguida, como se perguntasse quanto daquilo era verdade. Thalia apenas desviou o olhar, sentindo os dedos de Nico a acariciarem na cintura.

— Você deveria deixar de ser tonta, Lia. — Beryl aconselhou, balançando seus cabelos dourados como os de Jason ao se inclinar mais em direção a filha. — Nico não vai ficar solteiro pra sempre e vocês teriam filhos quase tão lindos quanto os meus!

— Mãe! — Thalia reclamou, percebendo que Nico ria, ainda a abraçando pela cintura, divertindo-se. — Se quer tanto netos, vá pedir à Jason, ele quem está casado agora!

Nico apenas a beijou no pescoço, ainda rindo, e Thalia sentiu um arrepio, segurando a mão esquerda dele por baixo da mesa e girando o anel de prata. Será que algum dia teriam seus próprios filhos? O pensamento fez Thalia sorrir, idealizando as crianças de cabelinhos negros e sorrisos fofos como o de Nico.

— Você está vendo, Maria? — Beryl se virou para a amiga, todo seu talento como atriz sendo derramado ao dramatizar. — Essa vai ser sua vida também agora que Nico está em outro país: Se veem apenas três vezes por ano e ainda assim seus filhos só sabem reclamar e te rejeitar! Filhos ingratos!

Thalia revirou os olhos enquanto Maria ria, não levando nada daquilo à sério. Ela sabia muito bem como Jason e Thalia sentiam falta da mãe que passava a maior parte do tempo em Vancouver, gravando as temporadas de uma série, ou passava viajando pelo mundo, sempre em busca do estrelato.

— Nico não ousaria. — Maria replicou, seus olhos escuros numa clara ameaça para o filho mais novo. — Ele sabe que consigo arrastar ele pra Itália em dois tempos!

— Vai deixar, Thalia? — Bianca piscou para a amiga que resolveu entrar na brincadeira, abraçando Nico pelo pescoço em um gesto possessivo.

— Meu Nico! — Thalia reivindicou da mesma forma como quando era criança, sendo respondida com risadas.

— Eu já disse que não é só seu. — Maria balançou o dedo indicador em negação.

— Meu Nico. — A Grace repetiu para a italiana, sorrindo antes de olhar para o amigo com uma expressão interrogativa. — Meu Nico?

Ele assentiu sorrindo, puxando-a mais para si e beijando-a no topo da cabeça, mesmo com os protestos da mãe.

— Minha Thalia. — Ele também reivindicou, apertando-a mais no abraço.

— Nove meses na barriga para isso. — Maria reclamou. — Eu já deveria ter acostumado, desde criança é assim. É sempre “Thalia pra cá”, “Thalia pra lá”. Até em Valentine’s Day, todas as crianças faziam cartãozinho para mães, mas não Nico! Nico estava lá, não sabia nem escrever direito, mas ficava desenhando corações e escrevendo o nome da Thalia!

Camomilati, mama. — Nico pediu rindo. — Não fique com ciúmes. Eu sempre fiz cartões paras as duas quando era criança. E foram vocês quem nos ensinaram a fazer uns para os outros. — fez questão de apontar para Beryl e Maria, parecendo devidamente ofendidas.

Vita mia — o pai de Nico enfim se pronunciou, chamando a esposa. —, se continuar assim vão achar que não quer Thalia como nossa nora.

— Ok, retiro tudo o que disse! — Maria exclamou exasperada, causando risos em todos. — Só me conte uma coisa, Lia. Nico ainda te escreve cartões?

— Sim. — Thalia confessou. — E eu guardo cada um deles, de cada ano. Pelas minhas contas, já tenho vinte e dois.

— Por enquanto. — Nico acrescentou com um sorriso, deixando um beijo na bochecha dela.

A conversa na mesa continuou e Thalia tentou ignorar, concentrando-se nos carinhos de Nico e nas palavras que ele lhe sussurrava em seu ouvido. Mesmo quando Jason e Piper se sentaram entre eles pra conversar, Thalia estava muito mais atenta ao seu italiano favorito do que aos noivos.

Ela só realmente prestou atenção quando as montagens de vídeos e fotos dos noivos começaram. Quando as primeiras fotos e filmagens de Jason foram exibidas, Thalia não pode deixar de rir e fazer uma nota mental para agradecer aos Di Angelo por terem fornecido a maior parte do material.

Como o pai de Nico era cinematógrafo, a mãe atriz e a irmã dançarina, toda a família adorava registrar tanto momentos importantes, quanto momentos aleatórios do dia-a-dia. E, na convivência com os Graces, em férias e nos anos que moraram em Los Angeles, muitas dessas imagens incluíam Jason e Thalia.

Aliás, era justamente uma das cenas que envolvia não só os dois irmãos, como também Nico e Bianca, que estava sendo exibida naquele momento.

As quatro crianças estavam na sala e, pela data do vídeo, as crianças deviam estar com cinco e sete anos, todas desenhando em cartões vermelhos com formatos de coração para o Valentines Day.

Quando a imagem focou em Jason, ele estava concentrado ao escrever no papel, os óculos de grau quase caindo enquanto escrevia “Te amo” em uma caligrafia forte.

Um a um, cada cartão foi exibido, desde o de Bianca copiando um pequeno poema em italiano, até o de Nico cheio de corações sorridentes e bocas com dentes pontudos.

Quando o pai perguntou o que significava, o menino retrucou que ela mordia, sem sequer parar de colorir os corações em azul. Logo depois a pequena Thalia corria para entregar um cartão para Nico, cheio de desenhos incompreensíveis, mas que deixou o menino tão feliz que entregou o cartão com desenhos de mordidas, sem nem terminar, dando um abraço na menina.

Ti amo. — O pequeno Di Angelo falou em italiano no vídeo, mesmo que a menina não entendesse.

Bianca apareceu ao lado deles, ensinando o irmão a falar “te amo” em inglês, para depois vê-lo repetir em um sotaque muito carregado, mas que fez Thalia sorrir:

— Te amo também!

Então, o vídeo voltava a focar em Jason, entregando o cartão para Bianca com um sorriso enorme, dizendo o “ti amo” em italiano numa forma de agradar a amiga.

 

Thalia já havia visto a montagem de vídeos várias vezes, mas isso não a impediu de rir e nem de se emocionar com cada cena, principalmente quando as filmagens se tornaram mais recentes, com várias brincadeiras e vários beijos de Piper e Jason. Havia até mesmo trechos do dia anterior, com todos eles vestidos de noiva e Jason deixando uma pequena declaração para a noiva no final, ainda de véu e vestido.

Claro que todos se emocionaram e aplaudiram no final, no entanto, Thalia queria que os noivos tivessem ficado mais tempo na mesa. Quem sabe assim, Beryl e Maria teriam feito menos perguntas e piadinhas constrangedoras com Nico e Thalia.



— Você me chamou pra dançar apenas para fugir dos nossos pais? — Thalia perguntou, deslizando pela pista de dança, olhando para a mãe, na mesa distante, mas que ainda sorria maliciosa para ela.

— O que você acha? — Nico retorquiu, apertando seus corpos, um sorriso um tanto melancólico nos lábios.

— Levando em consideração tudo o que vivemos nos últimos meses?! — Ela ergueu a sobrancelha, afagando o pescoço de Nico.

Ele assentiu e Thalia apenas sorriu, encaixando seu queixo no pescoço de Nico e absorvendo os carinhos, a música, seus próprios sentimentos.

Mas mesmo as melodias suaves da banda tocando “Thank You For Loving Me”, ou os versos compostos por Jon Bon Jovi e Richie Sambora ocupavam a mente de Thalia por tempo suficiente para distraí-las das sensações que o toque de Nico provocava.

Eles praticamente deslizavam pela pista de dança, de uma forma lenta e delicada, a cada giro que Nico a conduzia, fazia a barra do vestido longo rodar, dando-lhe a sensação de voar.

E, a cada vez que voltava para os braços do melhor amigo, quando o sentia encaixar a mão direita acima da sua cintura e trazê-la para mais perto, a ponto de seus corpos pressionarem-se inteiramente, Thalia se sentia mais absorta em emoções e reações.

Estar tão perto do italiano a tornava cada vez mais ciente de seus sentimentos.

— Thalia… — Nico sussurrou, a voz um tanto receosa ao aproximá-la um pouco mais para olhá-la nos olhos enquanto ainda dançavam. — Você sabe que isso é real, não sabe? O que eu sinto por você… Sempre foi real.

— Sim, eu sei. — Thalia confessou com um sorriso. — Agora eu sei.

— E para você, vita mia? É real?

Vita mia”, minha vida. Ele nunca a havia chamado assim. Era a forma como Maria e o esposo se tratavam, era o termo que simbolizava o mais sublime amor para aquela família. Nico havia lhe dito que nunca havia chamado nenhum namorado ou namorada assim em toda sua vida, era um termo especial. E agora ele dava à Thalia muito mais do que um novo nome.

— É real, Nico. — Thalia confessou, mergulhando-se nas írises escuras. — Sempre foi real, eu sempre fui sua. E eu estou tão cansada de esconder isso…

— Então não esconda, meu amor. — Nico replicou, acariciando-a no queixo. — Não para mim.

E ainda se quisesse, Thalia não saberia mais como esconder. Por muito tempo havia guardado aquele sentimento e agora tudo estava transbordando. E Thalia gostava da sensação de deixar-se transbordar em amor por Nico.

Por isso, ela sorriu, pressionando suas testas e deixando que seus lábios tocassem os de Nico em um beijo leve, seus corpos movimentando-se ao ritmo da música, sua mente focando apenas um no outro.

Eles se beijaram, enfim desobedecendo uma regra há muito imposta por Jason, esquecendo-se dos medos, das provocações das famílias, do que o futuro seria. A cada beijo, a cada olhar, a cada respiração que compartilhavam, o sentimento enfim se revelava na forma mais pura, tornando a canção que Nico havia nomeado como deles, completamente obsoleta.

— Precisamos de uma música nova pra chamar de nossa. — Thalia comentou, observando como as luzes coloridas deixava Nico ainda mais bonito. — Não acho que “Do I Wanna Know” seja nossa verdade agora.

— Não, não é. — O italiano concordou, aproximando seus rostos para dar-lhe um “beijo de esquimó”. — Tem alguma sugestão?

Thalia tentou pensar em tantas músicas que a lembrava Nico, mas nenhuma parecia a correta. Ela meneou a cabeça, sorrindo: — Acho que temos tempo para encontrar.

— Talvez nossa música seja uma que apenas nós possamos escutar. — Nico ofereceu, aproximando-a mais de si, um leve sorriso em seus lábios. Thalia o olhou nos olhos, absorvendo aquela frase tão peculiar e não podendo deixar de concordar.

— Talvez…

 

Eles dançaram enquanto os tons escuros tomavam conta do céu, enquanto a banda trocava os ritmos, enquanto os outros convidados se cansavam.

Não porque fugiam da família e dos amigos, mas porque eles haviam passado tempo demais longe um do outro e não abririam mão de se abraçarem por mais e mais músicas.

De fato, só se afastaram quando Thalia assumiu seu lugar no palco, cumprindo sua função de maid of honor e contando à todos como era o relacionamento de Jason e Piper em seu discurso.

— ...Então, apesar de vocês terem me traumatizado no último ano… — Thalia terminava sua fala, arrancando risadas dos presentes. — … e de Jason te trocar ocasionalmente por um tijolo, Pips… — mais risadas em uma brincadeira interna. —, eu só quero dizer que vocês são perfeitos juntos.

Thalia sorriu, aproximando-se dos noivos, tão nervosa e emocionada que sua mão segurava tremulamente o microfone:

— Na primeira vez que eu vi a forma como Jason olhava pra você, Piper, eu nunca tinha visto meu irmão tão feliz e tão apaixonado. Eu não sei se foi ele quem teve mais sorte por te encontrar, ou se fui eu, por ter ganhado uma amiga que é como uma irmã. E também porque eu aprendi muito com vocês.

Thalia fez uma pequena pausa, pensando em cada momento que havia presenciado daquele casal. Cada momento que, por mais embaraçoso que poderia ter se tornado, havia ensinado algo à ela.

— Com vocês eu aprendi o que é o amor, o que é uma relação de verdade. — continuou, tentando impedir as lágrimas. — Eu aprendi que está tudo bem você amar alguém. Que está tudo bem você mostrar isso pra todo mundo. E que está tudo bem você se apaixonar pelo seu melhor amigo.

Parou, lançando um breve olhar para Nico, sentindo seu coração acelerar e encontrando coragem para continuar ao observá-lo sorrir.

— Você me fizeram enxergar que o amor está por todo lado e que não precisamos esconder de ninguém. Vocês também me ensinaram a demonstrar o que eu sinto, a demonstrar quando eu amo alguém, e eu confesso que ainda estou aprendendo essa última parte. — Mais uma vez as pessoas riram e Thalia teve que limpar a pequena lágrima que descia pelo seu rosto. — Mas eu sei que vocês ainda tem muito a me ensinar e esse casamento é apenas o começo da história de vocês. Vocês me fizeram acreditar até em almas gêmeas e amor à primeira vista, porque basta olhar para vocês e todo mundo consegue ver o quanto vocês se amam…

Fez uma pausa novamente, apertando o microfone e olhando para cima para conter as lágrimas insistentes.

— Igual à você e alguém! — Jason aproveitou a deixa para brincar, olhando diretamente para Nico, que ficou vermelho ao rir e abaixar o rosto.

— Jay, por favor, não me interrompa. — A Grace brigou com o irmão, tomando o controle das emoções e se deixando finalizar o discurso com brincadeiras. — Eu estou tentando ser uma boa irmã e não é só porque tenho medo de Piper tentar te devolver!

— É sem devolução! — Jason interrompeu novamente, virando-se para a noiva com um sorriso.

— Piper, por favor, faça ele ficar calado! — Thalia pediu para a cunhada que riu e puxou o marido pela gravata, dando-lhe um beijo aplaudido por todos. — E com isso eles provam o tanto que se amam e me traumatizaram! — Thalia brincou, erguendo a taça de champagne. — A Piper e Jason!

Todos brindaram enquanto Thalia descia do palco, cedendo seu lugar a Leo e se juntando a Nico. Ela se encaixou no abraço dele, mais uma lágrima teimosa deslizando pelo seu rosto, uma lágrima apanhada pelo polegar de Nico, que a olhava fixamente nos olhos.

Ele não estava realmente sorrindo, mas seus olhos demonstravam toda a emoção que havia escondido por anos. Ele deixava tão claro o quanto a amava que agora Thalia se sentia estúpida de não ter percebido antes.

Fechou os olhos e pressionou suas testas, tentando entender o próprio coração, tentando colocar em palavras tudo o que sentia por Nico, tentando colocar em prática tudo o que havia aprendido com Jason e Piper.

No entanto, quando ela abriu os olhos, percebeu que Nico conseguia vê-la como ninguém e que ele não precisava de longos discursos e palavras complicadas. Eles não precisavam colocar em palavras o que sentiam porque seus olhares e seus gestos já diziam tudo.

Contudo, Thalia se aproximou mais, acariciando-o na nuca ao olhá-lo nos olhos, suas respirações lentas se misturando.

— Eu amo você. — Thalia sussurrou, vendo-o sorrir ao também se aproximar, deslizando seus narizes com cuidado em um “beijo de esquimó”.

— Eu também amo você. — Nico respondeu, dando-lhe um beijo na testa, totalmente concentrados apenas em si, alheios ao discurso de Leo.

(...)

 

— Eu realmente amo nossos pais, mas não me julgue por ficar feliz por terem ido embora agora!— Bianca pediu exasperada, encarando o único casal que ainda estava na mesa.

— Não te julgo porque, se eles fizessem mais um comentário sobre mim e Thalia, eu iria embora. — Nico concordou com um suspiro, olhando para a Grace e unindo suas mãos sobre a mesa.

— Não só com vocês. — Bianca continuou em um tom cansado. — Até papai estava me interrogando sobre Leo. Todo mundo sabe que nós vivemos em países diferentes, mas isso não vai nos impedir. Não vou desistir de Leo.

— Mesmo depois de não ter dado certo com Jason? — Seu irmão perguntou. — Justamente pela distância?

— É diferente. — Bianca sorriu olhando, por sobre o ombro, para o namorado conversando com os noivos. — Eu não sou a mesma e Leo não é Jason. O que sentimos é completamente diferente do que tive com Jay. E nós só vamos saber se vai dar certo se tentarmos.

Nico assentiu com um sorriso para a irmã, seus dedos girando o anel no anelar de Thalia de maneira quase inconsciente.

— E quanto à vocês? — A Di Angelo continuou, lançando um olhar malicioso para o casal. — Enfim estão tentando?

O italiano virou-se para a melhor amiga, olhando-a nos olhos enquanto levava as mãos unidas para seus lábios, dando-lhe um beijo sobre o anel no dedo anelar.

— Estamos conseguindo. — Nico respondeu por fim.

— É confuso e assustador. — Thalia concordou. — Mas…

Ela deixou que seu sorriso completasse a fala, seus olhos fixos em Nico, nos carinhos que ele lhe fazia no rosto.

— Então estão namorando? — Bianca perguntou, a expressão de quem via a coisa mais fofa do mundo fazendo seus olhos brilharem.

Nico ergueu a sobrancelha, a mesma expressão que fazia sempre que queria que Thalia quem ditasse as regras, no entanto, ela balançou a cabeça para ele, recusando-se a responder.

— Namorar é muito pouco… — O italiano respondeu por fim, em um tom confuso e hesitante. — É superficial demais para tudo o que temos.

— Noivos então? — Bianca sugeriu, aumentando o sorriso e quase batendo palmas.

— Ainda não me parece certo. — Nico confessou, sua atenção em parte na irmã, mas sondando os olhos de Thalia para ver se ela concordava com aquilo. Eles não estavam acostumado a colocar em palavras os sentimentos ou planos. — E se dissermos que somos noivos, mamãe e tia Beryl serão invocadas e começarão a planejar um casamento pra semana que vem.

As garotas não tiveram escolha a não ser concordar e rir, um tanto em desespero.

— E esse casamento vai acontecer? — Bianca questionou, dando um sorriso malicioso.

Nico sondou Thalia com a expressão ilegível, nada mais do que admiração nos olhos castanhos e uma expressão um tanto hesitante. Por fim, ele sorriu, virando-se para a irmã.

— Um dia. — Nico respondeu, envolvendo Thalia em seus braços. — Talvez seja em um mês, um ano ou uma década, mas será quando for o certo, quando estivermos prontos.

Thalia concordou, pressionando seu rosto no peito de Nico e sonhando com o tal dia.

— Vocês sabem que sempre vou torcer para que seja rápido. — Bianca piscou para Thalia, sorrindo. — Mas eu entendo o lado de vocês. Podem contar comigo sempre.

— Obrigado, sorella. — Nico agradeceu, olhando para Leo em seguida. — E pode contar comigo para o mesmo.

— Ah, eu vou. — ela sorriu como uma gata, cruzando os braços sobre os seios. — À começar por me dar cobertura se nossos pais perguntarem se eu dormi em casa hoje.

— Ei! — Nico protestou em vão, pensando se valeria à pena dar uma de “irmão ciumento”. No entanto, nunca havia gostado daquele papel e não era a primeira vez que Bianca iria dormir no apartamento de Leo. E, sinceramente, Bianca era adulta e sempre soube se cuidar melhor do que Nico.

— Que tal vermos quanto tempo vai demorar esse tal casamento de vocês? — Bianca o ignorou, colocando-se de pé com as mãos na cintura. —  Piper vai jogar o buquê e, se isso realmente funciona, com certeza Thalia vai pegar!

Thalia não pegou o buquê. Ela até ficou perto da roda de solteiras, com Nico a abraçando pela cintura e repousando o queixo em seu ombro. No entanto, quando Piper atirou o arranjo rosa e azul, ele caiu direto nos braços de Leo Valdez.

Os gritos de alegria de Leo e os protestos das garotas solteiras formaram uma algazarra, mas todo mundo aplaudiu quando ele puxou Bianca Di Angelo pela cintura e a beijou, quase fazendo uma promessa de cumprir a superstição do buquê.

— Espero que essa coisa não funcione. — Nico resmungou no ouvido de Thalia.

— Não quer que Leo se case com sua irmã? — Ela questionou, estranhando o tom rabugento do italiano.

— Não quero que eles se casem antes da gente.

Thalia riu, virando-se no abraço e enlaçando o pescoço de Nico, que ainda a envolvia pela cintura.

— Achei que não íamos ter pressa… — Ela atiçou, fazendo um carinho nos fios negros.

— Não quero demorar outra década para ter você. — Nico resmungou novamente, melodramático. — Eu quero você, Thalia Grace. De verdade e só para mim.

— Quer mesmo? — Thalia sussurrou, aproveitando que todos estavam atentos demais ao cortejo de Jason e Piper se despedindo.

Thalia se aproximou mais quando Nico assentiu com a cabeça, aproveitando para mordiscar o lábio inferior dele, como havia feito no dia anterior. Deu um sorriso perverso, arquitetando uma ideia que havia tido desde cedo e decidindo colocá-la em prática.

— Então venha me pegar.

Thalia o empurrou apenas o suficiente para se soltar, correndo em direção ao labirinto, sentindo seu coração batendo forte ao olhar por sobre o ombro e ver Nico a seguindo com um sorriso.

Amore, volta aqui! — Thalia ouviu a voz de Nico, mas apenas gargalhou e apressou o passo, os saltos finos afundando na grama recém aparada, as mãos puxando a barra do vestido longo rosa e os cachos se desfazendo do penteado elaborado, caindo em uma cascata negra.

Não adiantava o quanto Nico gritava, ela entrava mais no labirinto, perdendo a conta de por quantas paredes havia passado, quantas vezes ouvia seu nome ser chamado, quantas vezes quase havia caído.

— Venha, Neeks! Não consegue me pegar?! — Ela o provocava aos gritos, esperando vê-lo há poucos metros antes de sumir em mais uma bifurcação.

E ele ia. Thalia sabia que ele poderia tê-la alcançado antes mesmo que entrassem no labirinto, no entanto, Nico parecia gostar daquele jogo tanto quanto ela. Ele parecia gostar daqueles momentos em que quase a alcançava, no entanto, o sorriso de Thalia dizia “ainda não, mas está quase” e Nico percebia que logo a teria.

Thalia sentia seu coração se acelerar a cada passo, e não era apenas pelo esforço físico. Ela estava próxima ao centro, as lâmpadas suspensas brilhavam como na véspera de Natal e se tornavam mais afastadas umas das outras, flores em tonalidades de rosa e azul desabrochavam nas paredes de planta viva, guiando-a até a clareira. O céu ainda estava escuro, as nuvens pareciam mais carregadas e o vento soprava frio, no entanto, tudo isso parecia tornar tudo ainda mais encantador, mais romântico.

Thalia parou por um segundo, seus olhos azuis analisando a fonte de mármore branco no centro. Havia uma estátua ali esculpida, retratando Vênus, a deusa romana do amor, derramando água de seu jarro e criando um clima ameno enquanto Thalia voltava a se aproximar, a sandália esmagando as finas pétalas de rosas cor-de-rosa que serpenteavam a fonte.

De costas, ouviu os passos de Nico se aproximando. Sua pulsação cresceu ainda mais, ao passo que buscava tranquilidade quando seus dedos tocaram as gotas d’água que jorrava da fonte.

Thalia sentiu os dedos de Nico em sua cintura, sentiu a forma como ele deslizava as mãos por seu quadril enquanto ela rodava, ficando de frente para ele.

As próprias mãos de Thalia tocaram o terno azul, apenas um pouco mais escuro que seus olhos, bem sobre o peito de Nico, as unhas pintadas de rosa-nude criando um belo contraste com o tecido fino e fazendo par a gravata que ele usava. E, tocando-o daquela forma, Thalia podia ouvir o coração acelerado dele, podia sentir a respiração ofegante, o perfume que ele tinha e ela amava.

— Consegui… — Nico sussurrou, seu sotaque italiano baixo e rouco, causando arrepios nela.

— Conseguiu. — Thalia confirmou no mesmo tom, sorrindo ao tocar-lhe os fios negros, abraçando-o. — E o que isso significa?

Nico subiu a mão direita pelo corpo de Thalia, contornando-lhe com veneração cada curva até alcançar-lhe o pescoço, deslizando o polegar em um carinho suave que provocava arrepios nela:

— Que agora eu tenho você… — Ele se aproximou mais, seu corpos encaixados na mesma sintonia que parecia encaixar suas almas, seus olhos e seus sentimentos.

— Você sempre me teve…

Suas testas se tocaram e Thalia pode ver todo o carinho e o desejo expostos em cada traço dourado das írises de Nico, antes dela fechar os olhos e absorver cada sensação que seu corpo tinha quando ele a tocou nas costas, nuas pelo decote, tracejando sua coluna com a mão esquerda enquanto a direita lhe tirava um cacho que caia sobre seu rosto.

Solo per me… — sussurrou em seu sotaque italiano.

Thalia pode ouvir seu coração bater alto quando Nico se moveu com delicadeza, os lábios enfim se encaixando em um beijo suave, que selava todas as promessas feitas nos últimos vinte anos.





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Notas finais do capítulo

Sabe quando sua vida desmorona em questão de dias? Foi o que aconteceu comigo no final de junho.
Como diz meus amigos, eu entrei numa maré de azar que parecia que eu tinha entrado num livro com um autor particularmente cruel. Enfim, na última semana de junho, tudo o que eu sentia era raiva, ansiedade e angústia, então não rolava escrever algo bonitinho. Ainda não estou 100%, mas a gente melhora, né? E um dos meus objetivos para me reconstruir era justamente terminar Solo Per Me, mesmo que fora do desafio.
Enfim, eu espero que tenha valido à pena. Ainda estou sem computador, então não consegui responder os reviews, escrevi, corrigi e postei o capítulo todo pelo celular. Perdoe os erros!

O tema desse capítulo foi: "A primeira vez que dissemos eu te amo".
Ele pode muito bem ser o fim da fanfiction, mas quero saber se vocês querem o capítulo extra, deixei pontinhas soltas o suficiente para poder escrevê-lo.

Ademais, muito obrigada a todos que leram e deixaram seus carinhos! Em especial a Lua Scarlet e a MaryDiAngelo que recomendaram! Vocês me deram força para continuar esse desafio. Obrigada meeeesmo!
Me recomendaram canções lindas, no entanto, esse trechinho deles terem uma canção que só eles podem ouvir já tava escrito. Desculpem! Mas são maravilhosas e posso encaixar no extra, se houver.


Por último (eu acho), deixo o link com as roupas e inspirações desse capítulo no Pinterest:

https://br.pinterest.com/hellynivoeh/solo-per-me/capítulo-05-inspirações-roupas/



Enfim, até os comentários!