Solo Per Me escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 1
Mordidas, pega-pega & meu


Notas iniciais do capítulo

* Eu estou bem lascada esse mês com uma artigo científico para escrever e um aplicativo mobile para criar. Isto sem falar no final de semestre e tudo o que ele envolve. Mas estou aqui, entrando em mais um desafio que propõe postagens semanais.
* Espero que vocês apreciem "Solo Per Me" dá mesma forma como estou adorando escrevê-la!
* O tema proposto é "A primeira vez que nos falamos".
* Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/761632/chapter/1

 

Mas não pode msm?

Ele só ia de noite

 

Thalia Grace resmungou assim que leu a mensagem, nem se dando ao trabalho de responder. Era assim há mais de um mês, desde que começara a procurar um novo colega de apartamento e a única regra que parecia inviável para todos que haviam entrado em contato, era o fato de que Thalia proibia qualquer relação amorosa dentro do apartamento.

Nem namorado, nem namorada, nada que levasse a sexo. Poderiam até passar o dia juntos e tudo mais, porém, Thalia tinha como regra que, quando estivessem sozinhos, a porta do quarto deveria estar terminantemente aberta. E, é claro, ninguém aceitava.

— Que cara é essa, amore mio? — A voz carregada no sotaque italiano puxou sua atenção de volta para o notebook sobre a mesinha do centro.

Thalia só pode suspirar como resposta, observando seu melhor amigo, Nico di Angelo, se espreguiçar, levantando os braços tão alto que o suéter negro revelou a pele cor de oliva de seu quadril. Ele parecia um gatinho manhoso, Thalia pensou, com os cabelos negros sempre bagunçados como se tivesse acabado de levantar da cama, o corpo esguio se contorcendo com preguiça e o olhos escuros sempre sonolentos. Um gatinho manhoso bem sexy.

— Mais uma candidata descartada. — Thalia resmungou, deixando o celular de lado e dando total atenção ao amigo, algo que nem sempre conseguia fazer na correria que era sua vida como desenvolvedora de sistemas.

Nico, por outro lado, estava com uma rotina mais fácil: havia acabado de se formar na universidade e estava se preparando para mudar de Veneza para Nova Orleans, onde a irmã morava e ele assumiria o cargo de professor em uma escola pública.

Thalia estava louca para revê-lo depois de longos e tortuosos dez anos, que haviam sido uma soma de muitas conversas por vídeo chamadas, rápidas e caras visitas durante as férias e muitos dias sem se falar. Mas, nem isso e nem as brigas foram capazes de enfraquecer o laço de melhores amigos, Thalia sabia que nada conseguiria enfraquecer, nem o fato de que Thalia ainda ia continuar morando longe, em Los Angeles. Pelo menos, eles agora estariam no mesmo país.

— É claro, só uma freira pra aceitar essa sua regra!

Thalia estreitou seus olhos azuis irritada, lhe dando língua:

— Quero ver você dizer isso depois de começar a morar com Hazel e Frank! — Ela acusou e o amigo logo fez uma careta, gemendo em protesto.

Hazel tinha vinte anos e era a meia-irmã, por parte de pai, mais nova dele. Já não bastava a diferença de seis anos que sempre o fez vê-la como sua princesinha que ele precisava cuidar, agora ele teria que conviver com o namorado dela, Frank Zhang, e testemunhar que Hazel não era mais uma garotinha.

— Eu gosto de Frank. — Nico murmurou por fim, buscando algum argumento contra Thalia.

— E eu também amo Piper, mas isso não impediu dela e Jason me traumatizarem e me deixarem diabética.

Thalia retrucou, por fim, pensando no irmão e na cunhada que haviam, praticamente, morado juntos no último ano e se casariam dentro em três meses. Eles formavam um casal realmente maravilhoso, mas Piper era um tanto pegajosa e as paredes entre os quarto de Jason e Thalia eram finas, tornando a experiência ruim o suficiente para Thalia criar a regra.

— Mas e você, mia bella? — Nico retrucou, aproximando-se da tela e deixando em foco seus belos olhos escuros.  — E se você quiser levar um amante?

Seu tom era rouco, o sotaque italiano dando um charme especial a cada sílaba que fazia o corpo de Thalia ficar quente, mexendo com seus pensamentos. Ela se obrigou a dar um sorriso sarcástico, como se ele não a afetasse.

— Eu não me envolvo com ninguém há anos, por que começaria agora?! — Thalia retrucou, quase ouvindo senhorinhas gritando que ela já estava com seus vinte e seis anos e logo ficaria encalhada. — Além do mais, Los Angeles é sempre cheia de hotéis. Não é à toa que Lúcifer veio pra cá.

Thalia brincou, arrancando uma risada de Nico ao mencionar sua série favorita. Ela deixou de lado o fato de que sempre só se sentiu atraída por um cara, e esse cara estava do outro lado do oceano. Um dos motivos que a levou a construir a regra “sem amantes”, aliás, era o fato de se tornar uma vela-ambulante/voyeur-sem-querer só faria piorar a perpétua “fossa” que vivia.

— Cuidado, mia bella. — Nico avisou. — A língua paga, você sabe bem disso.

Ah, se sabia. Thalia já havia pago uma bela conta pelos vários “nuncas” que ela havia dito. Nunca mais deixaria seu cabelo longo de novo — e agora, a cascata negra ia até a cintura —, nunca mais tomaria álcool novamente — ela ainda sentia a cabeça doer ao pensar na ressaca que havia tido na semana anterior — e nunca mais falaria com Nico novamente — dizia isso pelo menos uma vez por mês.

— Falando nisso… — O italiano sorriu, mostrando as duas covinhas de um jeito que misturava seu lado malicioso e fofo ao mesmo tempo. — Tenho algo pra te mostrar.

— Nudes? — Thalia implicou, dando uma piscadinha enquanto Nico apenas ria mais, inclinando sobre o computador para enviar um anexo, deixando sua clavícula exposta para a câmera. A garota apenas mordeu o lábio inferior, lembrando-se de como Nico sempre arrepiava ao ser tocado naquela parte do corpo.

No, no. — Ele replicou em italiano, um impulso que várias vezes tinha, principalmente por só falar em inglês com Thalia. — Mas, se quiser, eu lhe envio mais tarde.

Ele piscou, dando seu sorriso safado, em um flerte que só fez Thalia rir. Infelizmente, todos os flertes que trocavam eram em tom de brincadeira e nunca havia dado em nada.

— Eu vou adorar ver cada pedaço dessa sua pele dourada, amore. — Ela replicou, clicando no arquivo que havia sido enviado e observando o aplicativo de reprodução de mídias abrir no computador.

— Eu não acredito! — Thalia riu, reconhecendo as filmagens feitas há cerca de vinte e quatro anos e que havia revisto várias vezes durante a vida.

Seus olhos lacrimejaram ao reconhecer sua mãe, Beryl Grace, fazendo poses no vídeo, enquanto era abraçada pela melhor amiga, Maria Di Angelo, que também era a mãe de Nico. Elas riam e faziam graça, exibindo os filhos para o vídeo.

Thalia também reconheceu Jason, seus cabelos, loiros como os da mãe, caindo sobre os olhos azuis enquanto ele tentava montar um quebra-cabeça complexo para os seus quatro anos. Ao lado dele, havia uma menina da mesma idade sentada no chão brincando com um um bebê, os cabelos negros e a pele azeitonada denunciando os traços italianos dos Di Angelo: era Bianca, a irmã mais velha de Nico, e o bebê que ela brincava era justamente Nico, enchendo seus soldadinhos de baba ao chupá-los dispensando uma chupeta.

— Ai, você era tão fofo! — Thalia exclamou, com lágrima dos olhos e rindo quando Bianca tirava o soldadinho de plástico da boca do irmão, preocupada que ele engasgasse, e o menino logo abria “o berreiro”. — E continua chorão!

Thalia alfinetou e podia dizer que o amigo deveria estar lhe dando língua, mesmo que o vídeo tampasse toda a tela de Thalia.

— Você também não mudou nada! — Nico retrucou e logo as imagens comprovavam isso.

No vídeo, Bianca estava rodeando o irmão de ursinhos de pelúcia, tudo para que ele esquecesse os soldadinhos, mas o menino continuava a chorar e espernear, mesmo quando a irmã tentava lhe enfiar a chupeta na boca. Maria foi em socorro da filha, estendendo um cachorrinho de pelúcia, todo preto, para Nico, que continuou a recusar, até que Maria apertou a barriga do brinquedo e o ruído de latidos fracos o fez se calar.

— É a senhora O’Leary! — Thalia reconheceu o cachorrinho e riu, lembrando do apego que Nico sempre teve com a pelúcia.  

— Lembra que você me roubou ela várias vezes?! — O italiano acusou, mas Thalia nem se deu ao trabalho de responder, assistindo Nico, no vídeo, apertar Sra O’Leary com toda a alegria do mundo, enchendo o nariz da cachorrinha de baba.

Enfim a pequena Thalia aparecia, sua pernas gorduchas correndo e tropeçando em direção aos inúmeros bichinhos de pelúcia no chão, que Bianca havia espalhado. Ela se atirou entre os brinquedos, tentando pegar o maior número que conseguia nos bracinhos curtos, deixando a maioria cair assim que pegava. Até que ela viu Nico. Ou melhor, viu senhora O’Leary.

Ela se aproximou do menino sorrateiramente, encantada com o som dos latidos da pelúcia e com a risada de Nico. Ela esticou os bracinhos, segurando o animal e puxando.

— Me dá! — Ela ordenou, no vídeo, puxando com mais força ao perceber que o garotinho não havia soltado o brinquedo.

— Mio! — O pequeno Nico choramingou, também puxando com força e iniciando uma pequena briga em que cada um puxava de um lado e resmungava que era seu.

Bianca foi a primeira a tentar socorrer, segurando Thalia e mandando ela soltar, mas falava em italiano e, ainda se Thalia entendesse, ela não estava disposta a soltar o brinquedo. Jason logo ia socorrer também, enquanto Beryl e Maria riam ao fundo do vídeo, observando Bianca e Jason começaram a discutir, uma em italiano e o outro em inglês, cada um tentando defender seus irmãozinhos enquanto Thalia e Nico ainda brigavam pelo cachorrinho.

O pequeno Di Angelo começou a chorar de novo, puxando com mais força o bichinho de pelúcia e logo Thalia, com seu frágil equilíbrio com menos de dois anos, caía em cima do menino, ainda se debatendo e começando a chamar a mãe.

— Dio Mio! —  A voz do pai de Nico ecoou no vídeo, denunciando que ele quem estava gravando tudo. Maria e Beryl avançaram para as crianças ao mesmo tempo que Bianca e Jason, mas tudo o que se ouvia eram os gritos do pequeno Nico.

Quando a câmera chegou mais perto das crianças, foi possível ver de onde vinha todo o escândalo do pequeno Di Angelo: Thalia estava mordendo com força a bochecha do menino, os pequenos dentinhos já fortes o suficiente para machucar.

 Thalia! Solta ele! — A voz histérica de Beryl era ouvida no vídeo, enquanto ela tentava fazer a menina soltar a todo custo.

Nico ainda estava chorando quando resolveu se vingar, puxando o braço da pequena Grace até seus lábios, mordendo com força. Thalia gritou, soltando o menino e logo os adultos separavam as crianças, o vídeo entrando em uma tela preta.

— Ai, Neeks, tadinho! — Thalia pediu, fechando o vídeo e encontrando a imagem do quarto de Nico no Skype, mas nenhum sinal do italiano. — Nico?

— Espere, amore mio. — Ele resmungou e logo depois aparecia na frente da tela, dessa vez sem camisa e com uma toalha em volta do pescoço. — Si?

Thalia piscou, sentindo seu sangue esquentar e tentando não olhar para o tórax de Nico, para os músculo magros e definidos que se estendiam até a cintura fina, onde parte a barra da cueca era visível pelo cós baixo da calça jeans.

— Não me diga que tomou banho enquanto eu assistia esse vídeo! — Ela alfinetou, dizendo a si mesma que não era nada demais, já havia visto Nico sem camisa muitas vezes e nunca havia se entregado, não começaria agora.

No, no. — Nico riu, balançando a cabeça ao se sentar na cama. — Estou indo tomar, mas antes queria ver você pedir milhões de desculpas pelo o que fez comigo no vídeo!

— Desculpas? — Thalia ergueu a sobrancelha, dando um sorriso sarcástico. — Querido, eu só fiz o que você mereceu. E posso fazer de novo, se não me der o que eu quero.

Nico deu de novo seu sorriso malicioso, aproximando-se mais da câmera do notebook, seu olhos tão próximos que era possível ver o tom âmbar de suas íris.

— E o que você quer, mia bella? — Ele questionou com a voz rouca e Thalia escondeu o arrepio que sentia.

Ela se levantou do sofá e se aproximou da própria câmera, como ele havia feito, um rápido olhar para o quadro na lateral da tela que a exibia da forma como Nico a veria, sorrindo ao perceber que seu decote estava visível, bem como o tom escarlate de seus lábios.

Ti voglio solo per me. — Thalia sussurrou, “Te quero só para mim”, sentindo seu coração acelerar com a forma como Nico lhe sorria.

Non sono tuo?! — Ele flertou, “não sou seu?”.

Solo per me.

Repetiu as palavras baixas, seu tom rouco, seu coração acelerado. A câmera não mostrava seus olhos e ela ficou grata por isso, sabia que a veracidade das palavras devia estar exposta nas íris azuis. Para Nico, eram flertes inofensivos, uma brincadeira, para Thalia eram segredos cada vez mais difíceis de esconder.

Ele sussurrou novamente em italiano e, dessa vez, ela não conseguiu traduzir as palavras, sua mente dispersa em pensamentos que sempre envolviam Nico.

— E se não me tiver? — Nico perguntou, dessa vez em inglês, ainda sorrindo malicioso.

— Então terei que te morder novamente. — Thalia replicou, também voltando para sua língua materna, mordendo o lábio inferior.

— Você terá chance de fazer isso logo. — O italiano sussurrou, travesso, antes de se afastar da câmera. — Lembra que ainda sou um dos padrinhos? E que Jason me pediu pra ir um pouco antes?

Era verdade, Thalia se lembrou. Nico ia aproveitar que estava livre de compromissos e chegaria uns dois meses antes, acompanhado da irmã, que estava se dando uma folga da agitada carreira de bailarina.

—  Aliás, com quem vai no casamento? — Nico rompeu seus pensamentos, chamando a atenção dela.

— Com você, é óbvio. — Thalia replicou, também se afastando da câmera, sentando no chão e encostando no sofá, o notebook a uma distância suficiente para exibir seus ombros e seu rosto.

— Isso é um convite para um encontro, Thalia Grace? — Nico perguntou, o nome soando adorável no sotaque italiano e acelerando o coração de Thalia. Ele raramente a chamava assim.

— Por que não, Nico di Angelo? — Ela replicou, torcendo para que ele dissesse que sim enquanto fazia uma expressão pensativa.

— Uau, nosso primeiro encontro e você já vai me levar pra conhecer sua família.

— Você já conhece todo mundo, seu bobo. — Thalia lhe deu língua, tomando a resposta como um sim.

Nico abriu a boca para retrucar, mas se calou assim que ouviu o som de uma porta se abrindo. Thalia observou enquanto ele franzia a testa e perguntava, em italiano o que, quem quer que fosse, estava fazendo ali e logo mandando a pessoa sair, sem ter sua resposta.

Thalia já havia deduzido quem era a visitante quando uma cabeleira negra apareceu em frente a tela, o sotaque italiano ainda mais sobrecarregado que o do irmão ao chamar o nome de Thalia.

— Oi, Bia. — Thalia acenou para Bianca di Angelo, vendo a garota empurrar o irmão para deitar em cima da cama dele.

Nico protestou, mas foi ignorado enquanto Bianca e Thalia trocavam eufóricas palavras de saudade e contando as novidades, sem se importar com a presença do garoto, até que o assunto caísse justamente sobre o casamento de Jason.

— Nico está morrendo de ciúmes porque vou com Leo, mas acho que só está aborrecido porque vai sozinho.

Leo Valdez era o best man¹, o padrinho principal do casamento e melhor amigo de Jason, o que significava que Thalia, como a maid of honor², ou dama de honra, teria que passar a noite ao lado dele. Não é que Thalia não gostasse de Leo, pelo contrário, ele era como um irmão também, mas era bom saber que ele também teria um par no casamento e ela poderia dar mais atenção a Nico depois da cerimônia.

— Ele não vai sozinho não, Bia. — Thalia defendeu o amigo, que já havia desistido de permanecer na cama e saia do quarto, carregando uma toalha. — Nós vamos juntos.

Os olhos negros de Bianca brilharam, seu sorriso se tornou quase psicótico e ela uniu as mãos, como se rezasse:

Madre di Dio! — Exclamou eufórica. — Até que enfim minhas preces foram ouvidas!

— É só o casamento de Jason. — A Grace riu, sabendo que Bianca era tão doida pra ver Nico e Thalia juntos quanto Thalia.

— É um encontro! — Nico gritou já fora do quarto e Thalia sentiu suas bochechas esquentarem enquanto Bianca lhe lançava olhares maliciosos.

— Se ele disse, então é. — A Di Angelo sussurrou, dando sorriso lascivos para Thalia. — Não conte para ele que eu te contei, mas Nico está negociando um emprego em Los Angeles. E sei que não é só porque não quer morar com Frank.

Bianca piscou e Thalia sentiu seu coração estremecer com a notícia. Seria possível que Nico estivesse pensando em ir morar em Los Angeles por causa dela?! Mordeu os lábios apreensiva, dizendo a si mesma que tinha certeza que Nico só a via como uma amiga.

Thalia desfez os pensamentos assim que ouviu a voz de Nico gritando com Bianca em italiano. Tudo o que conseguiu entender foi ele queria que a irmã enviasse algum vídeo para Thalia.

— Ah, eu adoro esse vídeo! — Bianca sorriu e logo Thalia recebia um anexo, que não tardou a baixar. — O começo do meu ship!

Thalia abriu o vídeo e logo entendeu do que se tratava. Era a continuação do anterior, do dia em que ela e Nico se conheceram.

Nele, Thalia estava nos braços de Beryl com um bico enorme e os bracinhos cruzados, resmungando “não” várias vezes. De frente à elas, estava Maria com o pequeno Nico encolhido em seus braços, olhando com medo para Thalia.

— Thalia, pede desculpas pro Nico. — Beryl pedia em um tom já irritado, enquanto a menina balançava a cabeça que não, os olhos azuis lacrimejando.

— Lia, você não pode morder todo mundo. — Jason tentou explicar pra irmã, mas a menina só balançou a cabeça.

— Pode. — A pequena Grace resmungou em seu escasso vocabulário, ainda com um bico nos lábios.

— Não, não pode. — Beryl reiterou. — Se você morder o Nico de novo ele não vai querer ser seu amiguinho.

A menina olhou com desconfiança para o pequeno Di Angelo, que se escondia nos braços a mãe.

— Você não quer ser amiguinha do Nico? — A voz de Maria di Angelo era calma, repleta de sotaque italiano, ao falar calmamente com a menina que balançava a cabeça que não. — Mas, por que, amore?

A pequena apenas balançava a cabeça negativamente, enquanto Nico choramingava baixinho.

— Mas ele quer ser seu amiguinho. — Maria continuou. Se dirigiu ao filho, perguntando em italiano se ele não queria ser amigo de Thalia e a resposta era apenas o menino se escondendo mais, chorando.

— Acho que ninguém quer ser amigo de ninguém. — Beryl riu, colocando Thalia no chão, ao lado do irmão. — Jason, por que não leva Thalia para brincar com você e Bianca?

— Mas eu não entendo nada que ela fala! — O menino exclamou, seus óculos quase caindo no chão com sua expressão confusa.

— É porque ela ainda é um bebê. — Beryl defendeu Thalia, repreendendo o filho.

— Não a Lia, mãe. — Jason resmungou, apontando para Bianca. — Eu não entendo nada que ela fala!

Bianca olhou confusa para a mãe, sem entender e logo Maria explicava a situação para a menina, em italiano, que balançava a cabeça concordando com Jason sobre um não entender nada que o outro dizia.

— Por que não brincam de pega-pega?

Maria sugeriu primeiro para Jason que deu de ombros, concordando. Depois, em italiano, para Bianca, que acabou aceitando, com uma careta e murmurando para a mãe em seguida.

Agora Thalia já entendia italiano o suficiente para entender que Bianca estava relutante em levar o irmão, com medo da bebê-monstro-Thalia machucar seu irmãozinho de novo. Por outro lado, Bianca ponderava, Nico seria muito bom em se esconder dela, com o tanto de medo que ele estava. Maria riu, dizendo para a filha ir brincar com os irmãos Graces enquanto Nico se acalmava. Depois, se ele quisesse, poderia ir brincar com eles.

Bianca aceitou, mas não sem antes avisar que, se Thalia maltratasse seu irmãozinho de novo, Bianca faria questão de morder Thalia com muita força.

Logo as crianças brincavam ao redor da sala, Thalia sendo a “café-com-leite” que sempre era pega pelos outros dois. Jason e Bianca estavam numa brincadeira muito mais arriscada, gargalhando enquanto se escondiam um do outro e gritando a cada vez que eram pegos.

Nico parou de chorar ao ouvir os gritos e gargalhadas, assistindo, ainda com medo, a forma como as outras crianças se divertiam. Thalia, com suas pernas gorduchinhas, corria bem mais devagar que Jason, que logo a pegou e começou a fazer cócegas, só soltando quando Thalia começou a espernear e tentou mordê-lo no braço.

Jason correu atrás de Bianca, enquanto Thalia o seguia, ainda querendo mordê-lo e Nico começou a se agitar, querendo brincar com eles. O menino Di Angelo encostou na irmã e saiu correndo, escondendo-se atrás das pernas de Beryl antes de ser capturado e sofrer uma sessão de cosquinhas, que durou o tempo de Jason alcançar Bianca e a tocar, saindo correndo ainda mais forte.

Bianca deixou o irmão de lado e foi atrás de Jason, enquanto Thalia corria e reclamava para esperarem por ela, não demorando a alcançar Nico. Ela pegou ele no braço e saiu correndo na direção contrária, mas quando viu que Nico estava era fugindo dela de novo, parou emburrada.

— Pega eu — A menina resmungou, vendo Nico correr em direção a mãe, com medo dela. Thalia, então, correu na direção dele, se divertindo quando Nico começou a correr mais rápido, fugindo dela.

— Mamma, mamma, mamma! — Nico chamava assustado quanto mais Thalia se aproximava, se escondendo no colo da mãe.

Thalia fez um bico, percebendo que Jason e Bianca haviam corrido para fora da casa, onde ela não podia ir brincar. Emburrada, a pequena Grace sentou no chão, os olhos ficando marejados e cruzando os bracinhos.

A câmera focou no rosto de Nico, curiosos ao olhar para a menina chorando. Maria sussurrou para ele, encorajando-o e logo o pequeno Di Angelo descia do colo da mãe e ia com cuidado até Thalia. Ele abaixou o suficiente para poder ver o rosto da menina, perguntando em seu italiano de bebê, se ela estava chorando e chegando mais perto quando viu que sim.

Ele pediu pra ela não chorar e quando não teve resposta, ele passou os dedinhos sobre a bochecha molhada dela. Thalia ergueu o rosto confusa, vendo Nico se afastar com um sorriso e balbuciando palavras incompreensíveis para ela na época. Ele se escondeu atrás do sofá, ainda a encarando e Thalia fungou, escondendo o rosto. Em pouco segundos, Nico a tocava de novo, para depois fugir, se escondendo atrás do sofá de novo.

— Ele quer brincar com você, amore. — Maria explicou para uma Thalia que olhava aquilo confusa. — Ele tá brincando de pega-pega.

A pequena Thalia então sorriu, levantando-se e correndo atrás de Nico, que começou a gargalhar enquanto corria ao redor da sala.

A sequência de imagens do vídeo eram as crianças brincando e os adultos falando bobagens, Maria e Beryl traçando planos para o futuro das crianças e torcendo para que continuassem amigos.

Thalia desligou o vídeo com lágrimas nos olhos, uma saudade enorme não só da mãe, mas também de Maria. Ela fungou e observou o quarto de Nico vazio, um novo anexo havia sido enviado, mas nenhum dos irmãos Di Angelo pareciam à vista.

Thalia abriu o novo vídeo, não demorando a perceber que era o final daquele dia em que ela e Nico haviam se conhecido.

No novo vídeo, a pequena Thalia e o pequeno Nico estavam sentados no sofá, ele lambrecando-se de chocolate por todo o lado, enquanto Thalia o abraçava e choramingava, sua mãe tentando lhe acalmar:

— Thalia, o Nico precisa ir.

— Meu Nico. — A pequena Thalia exclamava a cada fala da mãe, apertando o menino como se ele fosse um dos seus bichinhos de pelúcia. — Meu, meu, meu!

Bianca chorava ao lado da mãe, não gostando nada de estarem roubando seu irmão, enquanto Maria apenas ria da situação.

— Lia, se o Nico não for, Bianca vai ficar sem o irmãozinho. — Beryl tentava explicar, seu tom cansado como quem já havia repetido isso várias vezes. Thalia olhou para a menina Di Angelo, mas não se importou: apertou mais o menino e choramingou:

— Meu Nico!

— Você já tem um irmão. — Beryl a lembrou. — Para Nico ficar, Jason vai ter que ir embora. Você quer isso? Quer que Jason vai embora?

A menina olhou desesperada pro irmão, lágrimas descendo pelos olhinhos azuis:

— Meu Jay! — Ela replicou, ainda apertando Nico com um braço e esticando o outro para Jason.

— Vem, Lia, vamos brincar lá no quarto. — Jason chamou, segurando na mãozinha da irmã que ainda estava apertando o pequeno Di Angelo, alheio a tudo ao saborear seu delicioso chocolate.

— Amore — Maria se abaixou na altura da menina, limpando as lágrimas do rosto já vermelho da criança. —, Nico vai voltar. Vocês agora vão ser amigos e prometo que logo-logo vão se ver. Mas nós precisamos ir.

— Meu Nico. — Thalia fungou, como seu último argumento.

— Sim, querida. — Maria concordou. — Seu Nico, mas ele  é meu também. E nós precisamos ir pra casa. Vocês vão se ver muito depois.

Thalia fungou de novo, mas deixou Maria pegar Nico no colo e logo a menina chorava de novo. Beryl a pegou no colo também, ficando de frente para Maria e tentando acalmar a filha ainda.

— Diz tchau pro Nico, Lia. — Beryl comandou e a menina fez um bico. Maria repetiu a ordem em italiano para o filho, que, enfim, percebeu que estava indo embora e fez um bico também, não querendo ir embora.

— Tiau. — Thalia fungou e Maria sugeriu pro filho dar um abraço na nova amiguinha, que logo acatava com lágrimas nos olhos.

O vídeo terminava com o rosto de Nico cheio de chocolate e com um bico de choro enorme, enquanto Maria acenava um “tchau” para os Graces prometendo que se veriam logo-logo.

Thalia olhou novamente o Skype, onde Nico aparecia sentado na cama, nada mais do que uma toalha preta em sua cintura.

— “Meu Nico, meu Nico, meu Nico”. — O Di Angelo remedou, implicando-a e Thalia sentiu as bochechas queimarem.

— Achei que já tivéssemos concordado que você é meu.

— Mas ainda não sou só seu. — Nico replicou, sorrindo malicioso.

— Precisamos resolver isso com urgência, querido.

— Em breve, mia bella. — O italiano replicou, flertando. — Muito em breve.

Ao final da chamada, Thalia nem se deu ao trabalho de desligar o computador, nostálgica com os vídeos o suficiente para alcançar a caixinha de lembranças que mantinha dentro do guarda-roupa.

Em meio a vários objetos significativos, Thalia achou uma carta escrita em papel azul, já desbotado. Ela sorriu ao abrir e observar as palavras escritas em uma caligrafia tão forte e grossa, característica de uma criança sendo alfabetizada, repleta de palavras escritas erradas, mas que também transbordavam amor.

Era a primeira cartinha que Nico havia lhe escrito, há vinte anos, em seu inglês pouco fluente. Havia sido a primeira comunicação real e completa deles por palavras, Nico tinha a pronúncia muito mais confusa do que a caligrafia naquela época. Mas a mensagem era clara para Thalia e com um significado especial:

Thalia,

Você é minha amiga.

Para de morder eu.

Beijos,

Nico.

Ela sorriu, dobrando de volta a carta e a guardando, começando a revirar as fotos, ingressos de cinema e demais objetos, quase todos ligados ao italiano. Thalia suspirou.

Mal podia esperar a hora de reencontrar Nico.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

* Em casamentos americanos os padrinhos e madrinhas que possuem um papel bem mais ativo e participativo no planejamento do casamento e todas as festividades que o envolvem.
¹ Best man: O padrinho principal, os demais são chamados de groomsmen, como o Nico.
² Maid of honor: A madrinha principal, as demais são chamadas de bridesmaid.
Fonte: https://www.westwing.com.br/guiar/casamento-americano/

* O jeito da Thalia foi inspirado na minha priminha que tem dois anos e acha que tudo se resolve na mordida. Ela é um amorzinho, apesar disso.

* Espero que vocês tenham gostado e queria saber se vocês acham que essa história vale ou não à pena ser concluída.

* Solo Per Me será pequena, cinco ou seis capítulos (dependendo de quão lascada eu vou estar com a faculdade) e se quiserem saber mais do desafio, basta acessar o grupo do Facebook "Nyah!Fanfiction Oficial".