Eu tinha que me enrolar justo hoje, nossa!

Ainda bem que falei para o Castiel ir na frente. Peguei o endereço, não era tão longe daqui, então seria fácil.

Saí meia hora depois do horário e passei no mercado para comprar o vinho que prometi. Não demorou nem quinze minutos, e quando percebi, estava descendo do táxi no endereço. Apertei o interfone do prédio e o porteiro perguntou o apartamento. Respondi e ele me deixou entrar. Agradeci quando passei perto da cabine e fui para o elevador. Subi no segundo andar e apertei a campainha do apartamento.

A porta se abriu.

— A senhorita enrolada chegou! — Castiel falou alto, e todos que estavam na sala olharam na nossa direção.

Dei um sorriso e ergui a sacola com o vinho, entrando. Castiel a pegou e a deixou em cima da ilha, próximo à entrada.

Havia a ilha, dois bancos altos e a sua esquerda, um pouco mais para trás, ficava a sala, onde todos estavam conversando e comendo petiscos da mesinha de centro. Na parede da frente tinha uma grande porta dupla de vidro, que dava para uma varanda espaçosa.

Me aproximei do grupo. Tinham umas cinco pessoas do nosso departamento, mas nada do Nathaniel. Dei uma murchada, mas acenei para todos, aproveitando e pegando uma torradinha com algum tipo de maionese.

— De quem é esse vinho? — Ouvi uma voz familiar e me virei, vendo Nathaniel ali do outro lado da ilha, secando as mãos em um pano de prato.

— A Amelie que trouxe. — Castiel respondeu, apoiado na ilha.

Nathaniel me olhou enquanto eu me aproximava. — Posso abrir?

— Claro. — Me sentei no banco.

Como se a casa fosse dele, o loiro procurou por algo nas gavetas do armário da cozinha, e quando achou, deixou a garrafa no mármore branco e tirou o lacre de plástico. Fincou o abridor de rolha ali e puxou, fazendo um “ploc”. Admirei aquela ação secretamente.

Pegou algumas taças no armário mais alto, acima da pia, e as deixou na ilha. — Vão querer?

— Sim — respondemos juntos, e ele encheu três taças até a metade.

Nathaniel tomou um gole do vinho. — Bem que você poderia me ajudar aqui.

— Eu não gosto de cozinhar, pede ajuda para ela. — Castiel me indicou com o queixo.

O loiro me olhou, querendo saber se eu ia protestar, mas me levantei e fui até o seu lado. — O que quer que eu faça?

— Pode fazer o cuscuz para mim? As coisas estão na pia. — Apontou para lá. Ele pegou uma tigela de vidro para mim e comecei a preparar, enquanto ele cuidava de outros pratos.

— Pelo jeito você sempre vem aqui — comentei, cortando algumas ervas frescas.

— Pois é, aqui é praticamente minha segunda casa. — Encostou na pia, bebericando seu vinho e olhando o que eu fazia, mas ainda de olho nas panelas.

— Então você é o chef da casa — brinquei.

— Quase isso. Castiel nunca gostou de cozinhar, então... — Deu de ombros, sorrindo.

— É legal ver que vocês são amigos há tanto tempo.

— Eu também acho, é um pouco engraçado lembrar de tudo o que já passamos. — Deu uma mexida na panela, no fogão. — Sempre temos histórias engraçadas sobre o outro.

Admirei o braço dele enquanto segurava a colher de madeira. A forma que a camisa ficava até seu cotovelo combinava tanto com ele...

— Quero ouvir essas histórias qualquer dia desses.

Ele riu. — Provavelmente vai ouvir algumas hoje. Mas posso te contar outras, outro dia. — Me lançou um olhar rápido.

Segurei o riso, percebendo aquele charme indireto e senti o rosto corar.

— Esperarei pelo convite, então. — Lancei sem pensar, sendo correspondida com um sorriso instigante.