Eu não queria ser um super-herói escrita por Maga Clari
Olha, eu não queria ter deixado você subir na minha moto.
Correção: na moto do meu irmão.
Tudo bem que você ficou muito mais atraente depois de ter colocado uma jaqueta de couro como as nossas.
Mas é que a moto não era minha, ela pertencia ao deus da guerra, sabe como é.
Eu não queria ser meio-sangue. E eu juro que planejava te contar desde o princípio, mas seria um pouco estranho eu, do nada, vir e dizer: “Oi, Parker, eu sou filha de Zeus”. Então, quando você me viu naquela esquina, tudo que consegui falar foi:
— Nem se atreva.
— O quê?!
— Nem se atreva a subir nessa moto.
Então você ficou me olhando esquisito, como se eu fosse uma maluca. Aí veio a risadinha. Aquela risadinha irritante de moleque com puberdade tardia.
— Estou falando sério, Parker. E de onde você brotou, afinal?
— Ah, Punk… — você encostou-se no muro de uma mercearia, procurando seu charme inexistente — Um mágico não revela seus truques.
— Mágico?
— Eu não diria que sou máááágico. Mas algo por aí.
— Sei.
— Ei, ei, ei, ei! Aonde você vai?
— Embora..?
Eu já estava colocando o capacete e ligando o motor. Então sorri. Do modo mais sarcástico que consegui. Só que você subiu na moto antes que eu percebesse. Você gargalhava de prazer, como se houvesse ganhado o dia. Já eu… Ah, eu estava puta da vida contigo. De verdade.
— Peter Parker! Eu ordeno que saia da minha moto agora! Anda, anda, anda!
— Ordena? — você continuou gargalhando — Como assim ordena?
— Sai! — tornei a mandar, ainda mais secamente — Agora!
— Ah, poxa, está tão legal! Nunca andei de moto antes!
— Você tem três segundos antes de eu arremessá-lo fora!
— Até parece…
— Três…
— Pensei que nosso relacionamento valesse alguma coisa, Punk.
— Dois…
— Aliás, pensando melhor, não é que seria legal um pouco mais de adrenalina?
— Um!
Nessa hora, não só cantei pneu pela rodovia, mas o meu mano em pessoa (ou seria em divindade?) apareceu em outra motocicleta, olhando-o de cima à baixo. Ou melhor, olhando desafiadoramente o seu corpo caído no meio da pista, como um belo omelete de pré-adolescente.
Ah, como eu adoro meu irmãozão Ares!
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