Koi no Yokan escrita por LadyB


Capítulo 1
Capítulo Único




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Os passos rápidos de Karin reverberavam pelo corredor do 3° andar do prédio de ciências naturais. Ela tentava acalmar os próprios pensamentos e tomava respirações profundas enquanto tentava bloquear as imagens de Sasuke declarando-se para seu primo.

No fundo, não estava verdadeiramente com raiva. Sempre desconfiou da amizade ciumenta dos dois e, de todo modo, eles formavam um belo casal. Melhor do que ela e Saskue, pelo menos. Ainda sim, ficou brava e um tanto magoada, então se permitiu xingar e os amaldiçoar pelos sete infernos.

Karin sentia-se chorosa, embora contivesse as lágrimas com piscadas fortes e rápidas. Não podia voltar lá e exigir o amor do menino. Amor era uma das únicas coisas não podia se exigir no mundo. Não dava para controlar e...bem, pelo menos uma pequena parte do seu cérebro estava contente com a maturidade inesperada que demonstrou. Ter encontrado forças para sorrir e felicitar os dois sem demonstrar uma careta foi difícil. Apesar de sua dor de cotovelo, queria que Naruto fosse feliz.

"Tenho apenas 17 anos. Daqui a dois meses terei me interessado por outro garoto e, daqui a sete, estarei chorando outra vez.", argumentou para si mesma enquanto rumava para a parte aberta da cantina, já mais calma.

No caminho, ela pegou uma lata de refrigerante e um salgadinho na máquina eletrônica e gastou quase todas as moeda do estojo. Com um misto de tristeza e desesperança, sentou-se no banco banhado de sol e abriu o pacote.

Em sua distração auto-piedosa, Karin não notou que tinha uma companhia até uma sombra humana se formar no chão. Com um leve assombro, percebeu que um menino muito branco — a ponto de reluzir na luz —, estava ao seu lado.

Reconheceu-o imediatamente: era Suigetsu Hozuki. Ele era muito amigo de Sasuke, Naruto e dos meninos no geral. Ela não gostava muito dele por uma série de piadinhas sem graça que costumava ser alvo nas aulas de Educação física, porém não chegava a não gostar, exatamente. Inclusive, admirava secretamente as respostas sagazes e impertinentes que ele dava aos professores.

— Olá — cumprimento-o educadamente com um aceno leve.

Suigetsu apenas assentiu em resposta com um sorriso curto. Karin estava esperando uma piadinha tosca, e ficou surpresa quando isso não aconteceu.

Ela voltou sua atenção para comida, mas, conforme o barulho crocante do Doritos em contato com seus dentes parecia ser ensurdecedor, ela voltou a falar:

— Você quer? — Levantou o pacote para enfatizar a oferta. Seus pais tinham lhe dado uma ótima educação, no fim das contas.

Suigetsu olhou para o pacote e semicerrou os olhos numa tentativa vã de ler o rótulo escrito em um tamanho ridículo.

 — É de quê?  — questionou. Mais uma vez, Karin notou como a voz dele tinha uma combinação esquisita de malicia e estridência.

— Hum... — Ela conferiu o sabor. —.... De cebola e salsa.

Ele fez uma careta, mas aceitou.

O silêncio que enfatizava o barulho irritante do salgado sendo comido voltou, mas daquela vez não se incomodou. Tinha feito a sua parte.

Karin indagava pra si própria se aquele vazio que tinha sentido há pouco não era fome, pois, quando mais salgados comia, mais aquilo passava. Embora, sim, ainda estava triste e choraria assistindo a última música e comendo brigadeiro mais tarde. Depois, colocaria a verdade nua e crua e tentaria dar risada da desgraça para não acordar com a cara inchada e derrotada. Com os planos feitos, começou a procurar no celular receitas arrepunantes e gordurosas quando, em um dado momento, sua mão e a de Suigetsu se tocaram ao tentar pegar a pipoca.

Ele puxou-a rapidamente e murmurou um pedido de desculpas. Karin voltou seus olhos para ele e o observou com atenção: ele parecia um pouco envergonhando, todavia, ela sabia que isso seria muito improvável.

— Nah, tudo bem. Pode pegar, ainda tem muito.

E tinha. Pegou o maior saco que estava à venda.

Karin notou, agora que estava mais perto, que as sobrancelhas dele eram quatro ou cinco tons mais escuros que os cabelos. Tinha noção que Suigetsu descoloria o cabelo desde muito cedo, porém lembrava-se que o tom não era muito mais escuro do que o branco com que estava.

Ele pareceu em dúvida por alguns segundos, entretanto, pegou mais um punhado com a mão.

— Você foi expulsa de aula? — ele indagou com curiosidade.

Karin parou a mão na metade do caminho e terminou de mastigar antes de responder:

— Hum, não. O professor liberou mais cedo.

— Ah.

Karin não conseguiu esconder um pequeno sorriso.

— Você foi expulso por quê?

— Dormindo.

Suigetsu umedeceu os lábios e deu um sorriso largo. Sem muito interesse, Karin percebeu que ele ficava muito mais bonito sorrindo do que sério, e sentiu inveja. Definitivamente não era o seu caso.

— E não dava pra dormir aqui? Tipo, sei lá, mais fácil.

Ele resmungou alguma coisa e bufou.

— Tentei de todo jeito, mas os o gritos de Iruka me acordaram pra valer.

Karin balançou a cabeça em diversão.

Ela sabia que Suigetsu estava curioso para saber porquê ela estava ali, sozinha. Então resolveu acabar com qualquer teoria:

— Sasuke arrumou coragem para chamar Naruto para sair.

— E você ficou triste — ele completou depois de analisá-la alguns instantes.

Ela deu de ombros. Qualquer pessoa que enxergava um Palmo à sua frente — são pouquíssimas, acredite —, sabia que gostava de Sasuke. 

— Nem tanto quando eu imaginei que ficaria.

— E isso é ruim? — Suigetsu perguntou depois de um tempo.

Karin pensou sobre não ter total conhecimento sobre os próprios sentimentos e ponderou.

— Mais ou menos. — Não falou mais nada, sabia que ele tinha captado.

Um pássaro pousou em uma árvore mais a frente e cantarolou, assustando alguns pombos que comiam migalhas no chão, fazendo-a dar um leve sorriso.

— Pelo menos você ainda... — Karin olhou para ele. — Pensei em ajudar com uma frase de autoajuda, só que sou péssimo nisso. Foi mal. — Suigetsu sorriu amarelo.

Karin deu uma risada.

— O povo fala que a intenção é a que vale, certo?

Ele anuiu.

— Yeah.

— Pelo menos saí mais cedo da aula do Kakashi-sensei — ela exclamou um pouco travessa, o que fez Suigetsu gargalhar.

Os dois engataram um papo sobre matérias e professores chatos, depois falaram sobre os festivais que iriam acontecer e discutiram sobre bandas, preço da comida nesses eventos e quais os melhores salgadinhos. Karin não botava muita fé em garotos, pois eles eram geralmente imbecis, prepotentes e tinham um senso de superioridade irritante; Suigetsu parecia melhorzinho que eles pela forma como era esclarecido e parecia ter senso crítico, uma boa característica e  muito em falta, em sua opinião. E tinha um senso humor um tanto mordaz, um bônus.

Mais de uma hora se passou quando, de repente, uma informação veio na mente dela. O sol já havia mudado de lugar e o calor agradável sumiu com ele, deixando-a arrepiada de frio pelo vento do começo de primavera.

— Ei, você não estava pra ser expulso caso tivesse mais problemas na aula?

— Eles não vão me expulsar. — Ele fez um som parecido com um cavalo relinchando. — Minhas notas são boas e faço parte do time principal de esgrima.

Sim, Suigetsu fazia parte do time de esgrima. O que um encrenqueiro como ele fazia num esporte tão disciplinado como aquele era uma incógnita para Karin.

— Ah, queria ter esse poder também.

Mesmo que ela não estivesse enrascada com a diretoria, tinha sua cota de reclamações por falar demais ou pintar as unhas na hora da explicação.

— Bem, você está convidada para entrar no time.

— A fama do professor de esgrima é de sem paciência para os que não têm talento — lembrou-o.

— Ah, então eu te ensino — ele respondeu casualmente e com um sorriso enigmático.

Por um segundo louco, Karin se perguntou se ele estava flertando com ela. Não, provavelmente não.

— E você teria paciência?

— Acho que sim. Depende. Posso ser bem paciente quando quero. — Ele sorriu outra vez e piscou.

Okayyyyyyy. Talvez ele estivesse flertando com ela. Ou talvez fosse só uma forma muito gentil de tentar animá-la. Retribuição pela pipoca?

— Uau, essa informação é nova. — Ela fingiu surpresa para mascarar o leve rubor que tomou conta de seu rosto. — Será que eu teria alguma chance?

— Você só pode descobrir se tentar.

A frase dele pareceu ambígua (o tom também) e Karin teve quase certeza que ele estava mesmo flertando. Agora que tinha parado para reparar — Depois de uma investida vem à análise da possibilidade, né? —, Suigetsu era até bastante charmoso. Embora fosse um pouco irritante, era inteligente e ela estava gostando da conversa. Era refrescante conversar com alguém que não vivia preso em uma bolha, como os amigos dela.

— Você está me paquerando? — perguntou, direta.

Ele esbugalhou os olhos por um segundo e depois sorriu, como se estivesse admirado pela atitude dela.

— E se eu estiver? O que você fará?

Karin colocou a mão limpa no queixo, pensativa.

— Bem, eu poderia levantar e te dar um tapa por sua audácia de querer se aproveitar de mim num momento tão frágil... Ou eu posso achar sua atitude singela e legal e me perguntar se você vale pena.

Ele fez uma careta engraçada, como se estivesse ponderando a resposta dela com receio de ser esbofeteado. Levantou as mãos num gesto de rendição.

— Minha mãe sempre diz que pessoas que extraem o melhor da situação são mais evoluídas.

—Oh, sim? Sua mãe diz isso? — Karin questionou seriamente, suprimindo uma risada.

Ele anuiu solenemente.

— Sim, Sim! Ela conquistou meu pai com esse pensamento.

A resposta impertinente dele a fez rir com gosto.

— E você está tentando seguir a mesma tática?

Ele fingiu estar ofendido.

— O quê? Minha mãe é melhor! Sigo os conselhos dela como os crentes seguem a palavra.

— Que profundo.

Eles se entreolharam e uma faísca de entendimento surgiu. Foi uma sensação boa, leve. Pacífica.

— Supondo que eu aceitei... Supondo, tá? O que você faria para me agradar e conquistar? Eu sou difícil, sabe? — proclamou ela jocosamente.

— Acho que uma coisa simples de primeira— Suigetsu respondeu depois de pensar um pouco. — Um filme, talvez? Batido, mas tem comida e da pra ficar em silêncio se a conversa acabar.

— Qual filme?

Karin fez uma expressão fácil e corporal que deixava claro que a resposta importaria muito.

— De super-herói. Um leve, que tenha ação, romance, piadas e diversão garantida. Mas claro que a convidada que escolhe. Só saiba que certos filmes podem querer me fazer dormir, porém vou topar por você.

Ele sorriu de modo galanteador.

Resposta certa. Suigetsu era mesmo mais entendido que as bactérias da sua série e bastante bonito — bem que suas amigas sempre falavam que ele era um pedaço de mal caminho. Por que não?

—...  Isso sooa bem. Com pipoca, sanduíche, refrigerante e muitas porcarias?

— Acho que sim. — Ele coçou o cabelo. — A pipoca vai ser por minha conta já que comi a sua quase toda agora. Os ingressos também, mas acho que não tenho muito dinheiro, então vai precisar ser em lanchonetes chinesas no meu orçamento... Meu dinheiro tá quase todo pra pagar umas dívidas e um presente para o meu irmão  — justificou no fim.

Para algumas garotas aquilo pareceria grosseiro, porém Karin era uma garota prática e realista. E foi bom saber que ele não faria de tudo — leia-se, nenhuma besteira — só para impressiona-la. Embora isso fosse errado de presumir, já que ele não estava apaixonado por ela nem nada.

— Um homem de visão. Que surpresa! — falou ela em um tom de admiração.

— Mamãe é a famosa mão-de-vaca — ele brincou, sorrindo aliviado.

— Claro que vai ser meio a meio. Não nasci pra ser bancada, não! — Karin devolveu a brincadeira com energia.

Os dois riram.

— Amanhã, pode ser?

— Amanhã? — ela ecoou, pensando nas coisas que teria para fazer.

— Sei que sábado é mais lotado e tals, só que não custa perguntar, né?

Será que aquela pergunta implicou que ele estava inseguro quanto à resposta dela? Não sabia.

— Amanhã tá ótimo. Que horas?

Eles combinaram certinho qual o cinema e a sessão que pegariam, bem sobre como chegar com antecedência para comprar as comidas e pegar assentos legais.

Karin certamente tinha esquecido um pouco sobre o drama Sasuke — ela ainda iria ficar chateada em casa quando tivesse tempo, entretanto, sua chateação dividiria atenção com a animação de sair com Suigetsu. A vida era mesmo engraçada. Se alguém disse que isso aconteceria semana passada, ela iria rir de incredulidade.

Quando terminaram de acertar todos os detalhes, o sino tocou para a hora do intervalo. A cantina começou a ficar cheia e Suigetsu avisou que precisaria ir treinar. Ele a convidou para o treino de segunda-feira, pois naquele dia teria apenas uma reunião sobre a competição que aconteceria em questão de semanas. Karin também aceitou esse convite e pensou que poderia convidá-lo para vê-la tocar violino se o encontro fosse legal.

Assim que eles se levantaram em despedida, ela escutou seu nome e viu os amigos andando em sua direção.

— Bem na hora — ele comentou, apontando com o queixo para eles.

— Yahhh.

Eles chegaram e Suigetsu falou um oi geral e engatou uma conversa com os meninos enquanto Karin dava um desculpa por ter sumido.

 — Eu já vou indo. Valeu aí. Tchau, Karin, obrigada pela pipoca.

Karin gostou do fato de ele não ter insinuado que iriam sair, principalmente porque ele não quis deixar claro para Sasuke em uma atitude infantil. Como se o fato só importasse e fosse da conta dos dois. Na verdade, Karin adorou. Mas ela não era e nunca seria do tipo discreto — ao mesmo tempo em que não seria infantil também.

— Uhum. Valeu pela conversa. E eu acho tô pensando mesmo em entrar pra o time de esgrima.

Nesse momento, todos os seus amigos a encararam como se ela estivesse louca.

— Vou falar com o treinador, pode deixar.

Ele acenou, com os lábios curvados discretamente, e foi embora.

Karin nem imaginava que as mãos dele ficaram trêmulas na hora de perguntar, nem que ele ficava rabiscando-a nas aulas entediantes. Não sabia que ele secretamente bloqueava as bolas que iriam atingi-la com muita força na aula de handball ou que a voz esganiçada dela parecia musica aos seus ouvidos; que Suigetsu pensou que poderia amá-la desesperadamente um dia, se tivesse a oportunidade de conseguir se aproximar... todavia, em breve ela iria descobrir.

Sakura, Temari e Ino ficaram perguntando incessantemente sobre o que era aquilo de entrar no time de esgrima, mas Karin só sorriu...

... E só se deu conta do fato de ele ter ficado com a pipoca horas depois, bem na explicação de química. Ela teve trabalho ao tentar justificar sua gargalhada para a professora.


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Notas finais do capítulo

♠ História não betada.

♠ Koi no Yokan é uma expressão que define a sensação de encontrar alguém e apenas saber que você está destinado a se apaixonar e ter uma grande história de amor com ela.



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