PARTE V – Fãs do Icha Icha não são confiáveis

Hospital de Konoha, 10:20

Em sua pequena análise aos prontuários da esposa, Sasuke identificou o tal Arataza. Aproveitando a inevitável ocupação da médica ninja, o Uchiha começou a andar pelos corredores do hospital, com Mai em seu braço, até que chegaram a uma ala mais reservada da grande construção.

O nome do dito sujeito era Arazawa Naoki, e ele tinha apenas dezessete anos. Não deveria significar nenhuma ameaça para ele, um homem com seus trinta e sete anos, mas naquele momento fervilhava de raiva diante cada relato que a pequena Mai lhe dera de bom grado.

Sua enfermidade era nada mais nada menos que alguns ossos quebrados, mas não era grande coisa a tal ponto dele se manter hospitalizada, ainda mais naquela ala reservada para famílias de grande poder financeiro. Logo o Uchiha concluiu que o garoto era rico, e pagava por aquele quarto de hospital na mera intenção de estar próximo da responsável pelo seu tratamento: Uchiha Sakura.

Apertando o punho com força, eles finalmente chegaram à porta do dito cujo. Mai pulou de seus braços, como se tivesse sido perfurada por um prego na bunda, e ostentava uma pose tão altiva que poderia transmitir todo o orgulho Uchiha existente, então seu pequeno punho foi de encontro a porta em um chamado suave.

Ele jurava que ela iria arrombá-la, na verdade.

— Pode entrar, Sakura-chan! — A voz jovem quase cantarolou aquelas palavras, e a única coisa na qual Sasuke conseguiu pensar era naquele “Sakura-chan” meloso, soando tão porcamente íntimo. Mai o fitou ao jogar a cabeça para trás, e seus olhos diziam algo como: Está vendo, eu disse a você o quanto ele era irritante!

Então, sem qualquer cerimônia ou pudor, ele mesmo fez questão de escancarar a porta. O jovem Naoki, que descansava muito bem e esperava a presença de sua bela médica, deu um pulo assustado em sua cama hospitalar, observando-o com tamanha confusão em seus olhos caramelos que chegava a ser cômico.

Então percebeu um conhecido livro de capa laranja descansando em seu colo.

Porra, era só o que o faltava. O maldito moleque era um desses fãs pervertidos daquele ridículo livro Icha Icha. Sasuke não acreditava que a situação poderia ficar pior, e diante o ódio que o dominou, o clássico do mestre Jiraya queimou nas chamas do Amaterasu.

— O que é isso? — o Arazawa berrou, pulando da cama enquanto o livro ia às cinzas, muitíssimo estável ao ficar em pé, ainda que alegasse tamanhas dificuldades em suas fraturas.

O pé enfaixado não parecia grande coisa se era capaz de se movimentar tão bem.

— Olá, Arataza! Se lembra de mim? — a voz de Mai parecia um pouco maldosa, de certo, e o rapaz crispou as sobrancelhas ao olhar para a menina, imediatamente a reconhecendo.

— Ah, pequena Mai! — ele ralhou animado — Você está tão fofinha nesse vestidinho.

Apesar do elogio, tudo o que Naoki recebeu da menina foi uma carranca de puro desprezo.

— Viemos acertar as contas, seu cretino! Meu papa e eu. — Mai apontou seu dedo curto e gorducho em direção ao homem fraturado, fitando-o com tamanha intensidade que ele poderia sentir sua própria alma arquejando.

Então Arazawa olhou para Sasuke, o homem que até o momento se mantinha calado ao secá-lo mortalmente. Fitou seu único braço, analisou os cabelos negros e deparou-se com o olho escarlate onde o sharingan brilhava, um frio lhe subindo pela espinha quando a constatação o acertou como um balde de água gelada.

 — Uchiha Sasuke! — e marido de Sakura, completou em seus próprios pensamentos. Ele estava perplexo e instintivamente deu um passo para trás, pegando o exato momento em que uma carranca mais profunda adornou as feições do Uchiha.

— Então você é o tal Arataza, o garoto que anda todo dado pro lado da minha esposa.

Sua voz era cortante e gélida, e ainda que ele não carregasse nenhuma arma, Naoki sentiu como se tivesse uma espada apontada para sua garganta. Mai sorria tão largamente com a situação que mal podia conter sua animação diante a presença ameaçadora de seu pai.

— Q-que-que — o menino gaguejou — q-q-quem disse isso, c-c-claro que não!

Então, debochada como era, Mai fez questão de o responder.

— Você é muito bela, Sakura-chan! — a menina imitou sua voz melosa, rodopiando enquanto os olhos brilhavam em uma atuação fiel. — Qualquer um teria muita sorte em a ter como esposa, seu sorriso é a coisa mais calorosa que já vi na vida. Mai, — parou dramaticamente, assumindo que ela mesma estivesse diante de si — você tem muita sorte por a ter como mãe e puxar suas mais belas qualidades!

Quando a menina terminou, o Arazawa tremia feito vara verde.

Que pestinha dedo duro, ele pensou consigo mesmo.

— E ainda anda agarrado com esse maldito livro. Me diga, garoto, o que quer com Sakura?

A presença insana de Sasuke só deixava o questionamento mais assustador a cada passo que ele dava em direção ao garoto. Naoki sentia que teria um troço a qualquer momento, e aí sim teria um real motivo para estar internado naquele hospital.

— N-na-nada, U-Uchiha-sama. — o menino travou no lugar, as pernas tremendo enquanto aquele olho se aproximava mais, mais e mais, e ainda assim, tão lentamente que poderia tê-lo levado a loucura.

— Você bate uma pensando nela, moleque?

— Claro que não, Uchiha-sama! — berrou em desespero.

— Tem certeza?

— E-eu juro com minha vida!

Então Sasuke parou diante dele, e Naoki engoliu tão em seco que sentiu um bolo preso em sua garganta. Por cima do ombro do Uchiha mais velho, pôde ver o vislumbre de uma criaturinha rosada sorrindo para ele com muita, muita satisfação.

Ponderou que ela não era tão fofa quanto aparentava.

— Bom... — Sasuke falou, pendendo a cabeça para o lado enquanto o fitava profundamente — Parece que sua vida não vale de muita coisa, afinal.

E quando Naoki desviou os olhos da terrível caçula dos Uchiha para aquele olho vermelho como sangue, estava tudo perdido. Imediatamente foi pego em um genjutsu com tamanho horror que jamais o esqueceria enquanto vivesse.