Pandora escrita por Virgo


Capítulo 4
História e Divindade


Notas iniciais do capítulo

Cheguei a brilhante conclusão de que terei que reescrever minha Camus&Milo...
Para que ela realmente fique boa e certinha, preciso reescrever, perdi minha essência no meio do caminho e preciso recuperar ela de volta.

Enfim, espero que gostem do novo capítulo =3



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Quando era mais jovem, a mãe lhe contou uma história…

Bem, estava mais para um relato do que uma história, era apenas um rumor ou alegoria em certas partes do mundo.

A história dizia que os homens tinham perdido o respeito pelos deuses, agora que tinham o fogo e a imortalidade adivinha da sua criação divina não precisavam de deus nenhum para se manter. Zeus, o senhor dos deuses, ficou furioso com a afronta, não bastava torcer o braço para Prometeu e dar o fogo aos homens, agora deveria aturar desaforos dos mesmos. O todo poderoso Zeus jamais permitiria isso e, com a raiva de um pai a disciplinar os filhos, ele juntou os deuses olimpianos para que criassem o castigo definitivo para as crianças insolentes.

E assim foi criada a primeira mulher, Pandora. E de cada deus ela recebeu um dom sem igual, de um recebeu a graça, de outro a beleza, de outros a persuasão, a inteligência, a paciência, a paixão, a sabedoria, a meiguice, a resistência, a destreza na dança, o canto de sereia e a habilidade nos trabalhos manuais. Feita à imagem e semelhança das deusas imortais.

Ela então foi dada de presente ao rei dos homens e este não pensou duas vezes antes de querer tomá-la como esposa, dessa forma, como presente de casamento, os deuses lhe deram um jarro lacrado e disseram: “Não abra antes de Hades a visitar, é o único dom que lhe falta”.

Pandora não sabia, mas os deuses tinham lhe dado dois defeitos além de suas tantas qualidades. Os deuses lhe deram a curiosidade e a teimosia, que aliados só serviam para torturar sua imaginação e lhe intrigar cada vez mais com o jarro.

E Pandora, realmente, se mordia de curiosidade toda vez que olhava para o jarro e lembrava que não podia abrir antes de Hades a visitar. Hades foi o único deus que não participou de seu nascimento por não achar correto o que seus iguais faziam, não com os homens, mas com a pobre vida que criaram.

E Pandora resistiu a tentação por dias, semanas, meses e anos, até que não suportou mais. Ela achou que olhar apenas pela fresta não faria mal e, de fato, não faria se aquele fosse um presente normal.

Pandora abriu uma mínima frestinha no jarro e por ele vazou todos os males da humanidade em jorros poderosos. Doença, fome, tristeza, morte, ganância, inveja, dor, guerra, avareza, preguiça, luxúria, loucura, corrupção, preconceito, radicalismo, arrogância e centenas de outras mais. A moça correu selar o jarro mais uma vez, mas tudo o que restou dentro dele foi a esperança.

O conto de sua mãe terminou nesta parte, contado como uma história para ele e os irmãos dormirem. Mas ele não dormiu, sabia que tinha mais naquela história e sabia que perguntar para mãe seria o mesmo que tentar lutar contra uma parede.

— Cor Tauri. - chamou em tom curioso e infantil, sabia que o bom gigante jamais lhe negaria algo se pedido com jeito. - Me conta a história de Pandora?

— Sua mãe já contou… - respondeu em seu tom severo de sempre.

— Eu dormi no meio… - choramingou. - Por favor, Cor Tauri… Me conta…

E o gigante lhe contou com um leve sorriso, parecia um pai contando uma história para o filho amado. As diferenças entre as histórias quase não existiam, mas diferente da mãe, a história do gigante continuava.

Pandora podia ter fechado o jarro, mas quando o rei descobriu que a desgraça em que seu reino mergulhou foi culpa da esposa o homem se matou e seus lacaios logo descobriram tudo também. Mas ao contrário de seu rei, que foi covarde, os homens decidiram castigar a pessoa menos culpada.

Os séculos e milênios que se seguiram foram de dor e sofrimento para Pandora, que nunca conheceu a bondade humana, apenas sua crueldade. E assim ela ganhou seu último dom, dado pelo próprio Hades para que ela pudesse sobreviver enquanto os demais deuses não permitiam sua salvação, a malícia.

Os deuses à abandonaram, Zeus fazia questão de usar sua figura sofredora como exemplo de sua ira e perfeição em relação aos homens, que tentaram atingir os deuses através de uma criatura com a qual eles nem se importavam.

E a criança, o menino que ouviu aquela história com atenção, não apenas sentiu ódio do pai por tamanha crueldade, mas também jurou que livraria a “pecadora” de seu tormento quando seu poder fosse maior que os deuses.

— Você foi um criador de leis em vida, um homem justo e honrado. - dizia o deus dos mortos, seu tio.  - Sua influência ainda vigora entre os vivos e mesmo o irmão que o baniu lhe respeita como jamais respeitou nenhum outro homem. É sangue de meu sangue e um exemplo divino entre os homens. O quero como meu juiz, Radamanthys, e me sentiria honrado se aceitasse.

— Está fazendo isso porque meu pai pediu ou porque suas palavras são verdadeiras? - questionou com certa raiva.

— Sou o senhor dos mortos, Radamanthys. — respondeu com um sorriso. - Meu julgamento não é sujeito à suborno, nem mesmo do meu irmão, seu pai. Aqui não existem Deuses do Olimpo, existe o julgamento das almas e o equilíbrio do mundo. Se estou lhe convidando é por honesta admiração.

— Então será uma honra servir ao seu lado, meu senhor.

O menino agora era homem.

O mesmo homem que agora observava a mulher sentada em sua cama, limpa do sangue e vestida com tecidos novos, ela tinha o olhar de quem estava apenas esperando o momento certo de falar ou agir. Ela ouvia tudo em silêncio e não expressava nada além disso.

— Então, eu ainda não consigo acreditar. - comentou o homem com um riso divertido, realmente achando graça da situação. - Honestamente, pensei que os homens conseguiram matá-la ou os deuses já a tinham salvo há muito tempo.

A moça arrumou melhor sua postura, fazendo as correntes em seu pescoço e braços tilintarem, parecia estar um pouco receosa apesar da doce seriedade em que seu rosto estava.

— Mestre Radamanthys... - por fim se pronunciou, a voz firme e, ainda sim, afável, poderosa não em seu timbre, mas em sua certeza. - Posso falar?

— Sim. — de forma alguma queria que aquilo fosse um monólogo.

A mulher então estreitou os olhos e fechou os punhos sobre o colo, demonstrando sua força com gestos simples. Ela não era mais inocente e muito menos tola, tendo uma “mãe” como Athena seria contraditório ela acreditar em palavras doces.

— Por que você está me contando tudo isso? — inquiriu com severidade na voz. - Tenho certeza de que não estamos aqui para uma conversa.

O homem se aproximou mais da cama e se agachou para ficar na altura da moça, talvez pouca coisa menor que ela sentada. Algo que a surpreendeu, já que, além de afastar-se um pouco, suas íris se contraíram e suas sobrancelhas arquearam. De uma hora para outra aquele homem ficou muito perto.

— Espera. - pediu com um gesto. - Não me entenda mal. Mas você está ciente de quem é?

Se aproximou mais da moça, segurando seu rosto para que olhasse diretamente em seus olhos. O gesto fez com que ela endurecesse a expressão novamente, tão séria e taciturna quanto a condição exigia.

— Pandora, você é uma deusa! - exclamou revoltado com a condição em que ela se colocava. - Você é filha de deuses! Fique aqui! Aqui a vida será muito melhor para você!


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Notas finais do capítulo

Ela não tem nem ideia de como tá bem XD

Para quem não sabe:

1. Radamanthys e Minos são filhos de Zeus com Europa, enquanto Aiacos é filho de Zeus com uma ninfa.

2. Zeus, quando mandou fazer Pandora, mandou Hephaestus e Athena trabalharem juntos para darem vida à primeira mulher, por isso, tecnicamente, eles são os pais dela.



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