Despedida escrita por Psicopoetica


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Há momentos na vida em que não temos tempo de dizer adeus.
Rachel e Chloe foram umas dessas pessoas das quais o destino despede-se sem pedir permissão.
Involuntariamente eu desenvolvi uma identificação muito grande com a Rachel e esse foi, de muitas formas, um desabafo muito pessoal. Talvez um dos meus escritos mais íntimos nesse site. Espero que apreciem.

Boa leitura.



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Querida, Chloe Elizabeth Price.

Eu tenho más notícias. Esta é uma despedida.

Como você já deve imaginar, essa não me é uma das palavras mais afáveis, mas preciso dizê-la. Você foi a verdade da minha vida, então não há razão para escondê-la de você.

Acredite ou não, é difícil saber por onde começar...

E antes que você questione o quanto isso é estranho vindo de mim, eu quero pedir ao júri para falar em minha defesa e apresentar as melhores desculpas que tenho, antes de ser condenada.

Admita, nossas conversas nunca precisaram de um roteiro, afinal. E essa era minha parte favorita em você. Nós apenas éramos. E isso sempre foi suficiente.

Agora, no entanto, me vejo em falta. Não estou onde preciso ou onde precisam de mim. Não estou em lugar algum. E por mais que você tenha evitado esse assunto, há algumas coisas que ficaram para trás quando eu tive de ir... Coisas que eu quero que você saiba e que não pude dizer em tempo, visto que o nosso foi tão curto.

A morte é um lance estranho, Chloe... Não é emocionante como as fugas que planejávamos fazer. Não há mais shows para ir. Trens de onde pular. Ou sessões de terapia no ferro velho. Há apenas o vazio das coisas que ficaram e o buraco que elas abrem onde antes fomos tão presentes.

Depois de tudo, é só nesse momento que me vejo capaz de compreender as conversas que você tinha com seu pai e até invejá-las, de certo modo... Seria bom poder falar com você da mesma maneira. Eu percebo agora, depois de tantas palavras desperdiçadas, que quando a morte chega, a única coisa que nos sobra é o aquilo que não foi dito.

Ainda não me condene por ser tão sentimental e covarde, eu não tenho mesmo a pretensão de tomar tanto tempo. A verdade é que eu gostaria de ter te escrito isso antes. Talvez dito. Transformado em alguma piada sagaz, olhando em seus olhos em uma das nossas longas disputas sobre verdades e mentiras.

Não se preocupe, eu não vou me prolongar em dizer o quão doloroso é vê-la derramar lágrimas sobre os sorrisos largos de nossas fotos... Sei o quanto é difícil para você se sentir vulnerável e eu não quero que pense que não vejo o quão forte você está sendo apesar de tudo. Eu vi você rasgar seu coração ao ter de usar nossa foto favorita naquele cartaz pálido e ainda assistir toda a nossa alegria transformada em desespero ao ser espalhada pelas paredes corruptas daquela escola de fantasia. Sei que, apesar da vigília de David, você ainda passa noites em claro procurando por qualquer vestígio meu e que às vezes chega em casa com os olhos vermelhos, cuja origem, ao contrário do que sua mãe pensa, não vem de Frank ou qualquer outro traficante. Sei que agora você se atormenta com a ideia de eu ter deixado você... E que mesmo correndo risco, levanta a voz para qualquer um que ouse levantar essa hipótese.

Isso tudo parece bastante melancólico, eu sei... E você nunca gostou de melancolia. Nem de emoticons. Ainda assim, eu admito que daria qualquer coisa para estar por perto agora, ou te acordar de madrugada com uma mensagem com aquelas expressões que fariam você ficar de mal humor pelo restante do dia.

É, eu vejo que agora é doloroso olhar para tudo o que poderíamos ter sido... Pensar que o destino abandonou os sonhos que construímos. Tínhamos tantos planos, não é? Ah, nós íamos ser grandes, Chloe Price! Íamos explorar esse mundo. Deixaríamos nossa marca nas maiores fronteiras. E cometeríamos todos os erros que conseguíssemos, apenas para ter as melhores histórias para contar. Arcadia Bay seria uma mera recordação nostálgica, para nos lembrarmos no final de uma madrugada quente, em um daqueles bares rústicos, ao som de uma banda indie qualquer. Os cantos do mundo seriam um mero prólogo, se lembra?

Acredite, Chloe... Eu não quis partir tão cedo. Não estava nos meus planos ir sem você.

Meu mais fiel companheiro... Eu imploro que desculpe-me. Desculpe pela solidão que minha ausência te causou. Desculpe pelo vazio que eu deixei no banco da sua caminhonete e por todas as promessas que não poderei cumprir. Desculpe por todas as histórias que você ainda tinha para me contar e por todas as aventuras que não poderemos viver. Desculpe pelas roupas que esqueci no seu armário e pelas ligações que não pude atender. Desculpe por não me despedir.

E por fim, desculpe a si mesma, se puder, Chloe Price.

Sei que finais são sempre esses frios e desoladores exílios, mas por favor, não chore mais por mim. Isso não combina com você e seu coração quente, ou com todos os fios azuis da sua linda cabeça badass.

Então viva, C. Da melhor forma que puder. Faça por nós tudo o que eu não pude.

Espero por você no caminho.

Sua, Rachel.


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Notas finais do capítulo

Inicialmente eu queria agradecer profundamente pela leitura, e dizer que eu espero, sinceramente, que tenham gostado.
Também quero convidar à quem se sentir à vontade para deixar um comentário aí embaixo (da maneira que puder ou quiser) e dividir comigo a intensidade de sentimentos que esse jogo maravilhoso é capaz de causar.

Novamente, muito obrigada pela leitura.